Silvio Pereira diz que não se lembra de nada da entrevista e afirma que tem medo de si mesmo



Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, nesta quarta-feira (10), o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira afirmou, ao responder às perguntas do relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que já não sabia mais o que tinha falado na entrevista para o jornal O Globo. O relator perguntou sobre sua declaração a respeito da pretensão do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza de arrecadar R$ 1 bilhão com o PT no governo.

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- Não sei mais onde está a verdade nessa entrevista, o que é verdadeiro, o que não é. Acho que o PT, a partir desse episódio, deve mudar a forma de atuar. Podia ser inverossímil, mas era a verdade - afirmou, de forma contraditória.

Depois, reforçada a pergunta sobre o dinheiro que Marcos Valério pretendia arrecadar, Silvio disse que não lembrava se isso era verdade ou não.

- Não sei de onde tirei isso, se foi da imprensa, se foi da minha cabeça, não me lembro - disse, afirmando sequer ter lido a entrevista publicada.

Silvio Pereira disse que pensou que a repórter de O Globo iria fazer seu perfil, pois foi isso que ela teria alegado quando chegou ao seu apartamento, em São Paulo. O ex-dirigente do PT disse também que está muito abalado emocionalmente e tomando medicamentos. Ele reafirmou que, para ele, não teria havido uma entrevista.

Garantia de vida

No decorrer da reunião, o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), anunciou que a CPI vai tomar providências para formalizar garantia de vida para o ex-secretário-geral do PT. O pedido de garantia de vida para Silvio Pereira foi feito pelo líder do PFL, senador José Agripino (RN), após Silvio ter-se negado a responder a várias perguntas relativas à entrevista que concedeu ao jornal O Globo.

Silvio Pereira havia dito que vai depor na Polícia Federal, que está sendo investigado e que está abalado emocionalmente. Voltou a dizer que não estava e não está em seu "estado emocional tranqüilo".

Foi quando Agripino observou que ele não estava contribuindo em nada para o esclarecimento dos fatos porque precisava de garantias de vida. Agripino elogiou a entrevista dada por Silvio, afirmando que foi "corajosa".

Antes de fazer tais declarações, o ex-dirigente do PT negou-se, por orientação de seu advogado, a assinar o termo de compromisso para falar a verdade na comissão. A decisão dele foi tomada após o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), adotar a mesma interpretação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio, que negou a concessão de liminar ampliando um habeas corpus para que Silvio tivesse o direito de permanecer em silêncio durante seu depoimento, concedido em novembro de 2005. Mas, em seguida, o ex-secretário-geral do PT começou a falar.

Pouco antes, Efraim Morais leu o atestado médico trazido pelo advogado de Silvio, assinado pelos médicos Ricardo Nepomuceno e Charles Pillari, comprovando que ele está em estado de estresse e com depressão moderada/grave, além de distimia (humor cronicamente deprimido).

Outra CPI

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse ao ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira que era melhor ele falar o que sabia, pois não adiantaria fugir da verdade, já que a oposição está pensando em organizar uma nova lista de parlamentares para formar outra CPI com o objetivo de apurar os fatos envolvendo a corrupção no governo.

Arthur Virgílio perguntou a Silvio sobre sua declaração feita ao O Globo de que queriam matá-lo. Ele respondeu, como nas demais perguntas sobre a matéria jornalística, que não se lembrava de ter falado isso. Observou que não significa que não fez tal afirmação, mas que não se lembra do fato.

Também perguntaram a ele se teme por sua vida. Sua resposta foi:

- Eu tenho medo de mim mesmo.

Helena Daltro Pontual / Repórter da Agência Senado



10/05/2006

Agência Senado


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