Sindicalistas cobram mudanças na MP dos Portos



A Medida Provisória (MP) 595/2012, que estabelece a exploração indireta dos portos pela iniciativa privada, foi criticada nesta terça-feira (5) por lideranças sindicalistas, que em audiência pública apontaram riscos de privatização, redução dos postos de trabalho, achatamento salarial e perda de direitos.

A proposta, no entanto, foi defendida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), para quem a medida combate a ineficiência atual do sistema portuário, contribui para o aumento da competitividade no setor, favorece a geração de empregos e consolida a inclusão do Brasil no mercado internacional.

A MP 595 estabelece que a exploração indireta do porto organizado e das instalações portuárias nele localizadas ocorrerá mediante concessão e arrendamento de bem público. As instalações portuárias localizadas fora da área do porto organizado serão exploradas mediante autorização. A medida determina também que os serviços serão outorgados a pessoa jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

Críticas

Para o presidente da Federação Nacional do Portuários, Eduardo Lírio Guterra, a MP 595 esvazia as competências administrativas da autoridade portuária, ao não fazer menção à guarda portuária, atividade imprescindível para a segurança nos portos, e possibilitar a privatização de empresas do setor. Segundo ele, o país tem hoje 34 portos públicos marítimos e 102 terminais de uso privativo, entre os quais 96 de uso misto, que movimentam carga própria e de terceiros.

Guterra também lamentou que a MP 595 torne dispensável a contratação de trabalhadores para os portos privados por meio do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), previsto na legislação atual revista pela medida provisória. Ele negou que o órgão gestor encareça o setor portuário e afirmou que a movimentação de carga nos portos cresceu a uma taxa mensal de 6,17%, nos últimos 12 anos.

Já o presidente da Federação Nacional dos Estivadores, Wilton Barreto, disse que alguns portos brasileiros vêm batendo recordes sucessivos na movimentação de contêineres, a exemplo de Paranaguá (PR) e Santos (SP). Em relação à contratação de mão de obra, relatou que os trabalhadores da estiva “vem sofrendo diuturnamente, pois tem operadores que querem negociar, outros, não”.

Por sua vez, o presidente da Federação Nacional dos Conferentes e Consertadores de Carga e Descarga, Vigias Portuários, Trabalhadores de Bloco, Arrumadores e Amarradores de Navios na Atividades Portuárias (Fenccovib), Mário Teixeira, disse que a proposta é inconstitucional, visto que serviços públicos devem ser delegados por concessão ou permissão, e não por meio de autorização, como previsto na medida provisória.

Para Mauricio Coentro Pais de Melo, representante do Ministério Público do Trabalho que defendeu o aprimoramento da matéria, a MP 595 pode provocar problemas de gestão de pessoal nos portos, além de atrapalhar o controle de entrada e saída de pessoas e mercadorias nessas unidades. Ele observou que a fiscalização é prevista em normas e convenções internacionais que não podem ser desconsideradas pelo país.

Defesa

Em sua exposição, Kátia Abreu contestou as lideranças portuárias. Ela ressaltou que o artigo 175 da Constituição incumbe o poder público de explorar, mediante concessão ou permissão, e sempre por meio de licitação, a prestação de serviços públicos. Ao mesmo tempo, o inciso XII do artigo 21 da Carta dispõe que cabe à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de portos marítimos, fluviais e lacustres, entre outros.

Kátia Abreu observou ainda que, se há agências reguladoras para todas os serviços públicos, não faria sentido a atividade portuária ficar submetida às companhias das Docas e órgãos estaduais, “que são conflitantes em regras e impostos”.

A senadora observou que 24 tributos são pagos dentro de um porto organizado e que os preços dos produtos são pautados no exterior.

- Ninguém quer saber do custo brasileiro, tudo é baseado em mercado. Quanto mais tributos tivermos, mais fora do mercado estaremos. O importante é fazer com que o Brasil seja competitivo - afirmou.

A senadora citou dados de ranking internacional segundo o qual o Brasil ocupa o 130º lugar de 142 países no que diz respeito à eficiência. Ela acentuou ainda que sua crítica não se referia aos trabalhadores ou empresários, mas a um “conjunto de ineficiências”.

Kátia Abreu também mencionou o nível de movimentação de carga nos portos, que, segundo ela, tem crescido a um ritmo anual de 10,5%.

Além da MP 595, Kátia Abreu defendeu a redução de tarifas e a desburocratização nos portos e dos "30 órgãos públicos" presentes no sistema. Lembrou ainda que a emenda apresentada à medida provisória prevendo a extinção do Ogmo não é de sua autoria, embora tenha questionado as lideranças portuárias sobre seu funcionamento como órgão gestor. Os representantes dos trabalhadores explicaram que a gestão de mão de obra é definida em negociações coletivas entre empregados e operadores dos portos.

O debate sobre a MP dos Portos terá continuidade nesta quarta-feira (6), às 14h30, com representantes dos portuários do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. As audiências visam a fornecer subsídios à comissão mista que vai emitir parecer sobre a matéria, que já recebeu 645 emendas, e tem como relator o senador Eduardo Braga (PMDB-AM).



05/03/2013

Agência Senado


Artigos Relacionados


Sindicalistas creem que MP contribui para desenvolvimento dos portos, mas querem mudanças no texto

Sindicalistas demonstram preocupação com mudanças na CLT

Senadores cobram mudanças em funcionamento de comissões

João Durval defende mudanças nos portos de Salvador e Aratu

Cristovam e Cyro pedem que governo reenvie mudanças nos portos como projeto de lei

Kátia Abreu defende gestão de portos marítimos e fluviais pela Secretaria Especial dos Portos