Sobrevivente do Holocausto divide com estudantes sua história de vida
O Auditório Petrônio Portela recebeu nesta sexta-feira (19) mais de 200 estudantes, que compareceram ao Senado para ouvir Moisés Jakobson, de 86 anos, um sobrevivente do Holocausto. Durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), ele era apenas um adolescente, como muitos dos jovens da plateia, quando iniciou uma perambulação por três campos de trabalhos forçados até o momento da libertação, com a chegada do exército da União Soviética à Polônia dominada pelos nazistas.
- Saí do horror com a responsabilidade de testemunha, sabendo que é impossível transmitir tudo o que vi e vivi, e que os que me ouvem também não poderão compreender totalmente – afirmou Jakobson.
Alunos de escolas de ensino médio do Distrito Federal, os ouvintes participaram de ação educativa que integra programação realizada este ano no Senado para lembrar o Holocausto, em parceria com o Museu do Holocausto, de Curitiba. Um dos componentes são as palestras especiais com sobreviventes do Holocausto, convidados a contar suas histórias e experiências aos alunos. Na próxima sexta-feira (26), virá George Legman, que nasceu num campo de concentração.
Moisés Jakobson, o convidado do dia, vive em Curitiba desde 1952. No Brasil, casou e teve três filhos, que já lhe deram quatro netos. Filho mais jovem de uma família judia de Lazzy, pequena cidade polonesa, ele ficou órfão aos 7 anos. Eram cinco irmãos, todos criados pela mãe. A irmã mais velha, já casada, era mãe de duas crianças e estava grávida do terceiro quando as tropas alemãs estabeleceram um gueto na cidade, em 1940, para onde transportaram judeus de outro lugar.
Na escalada de violência, dois anos mais tarde, quando Jakobson já completara 16 anos, sua casa foi invadida por soldados alemães. Deram apenas cinco minutos para que a família deixasse o local. Junto com toda a população de Lazzy, cerca de 60 famílias, eles foram colocados em um vagão de carga de trem e transportados para um gueto sete quilômetros adiante.
A mãe e as duas irmãs, incluindo os sobrinhos, foram separadas. O destino delas foi a morte no campo de extermínio de Auschwitz. Ele foi encaminhado para campos de trabalho forçado. No último, chamado de Makstat, reencontrou o irmão mais velho. Com o terceiro irmão, a reunião só aconteceu depois do fim da guerra.
- Passamos então de uma tragédia para outra – contou o palestrante, ao lembrar que somente ao fim da guerra os sobreviventes conheceram a dimensão de toda a tragédia.
Depois de morar algum tempo na Alemanha, Jakobson decidiu deixar a Europa, pela dificuldade em viver numa terra “encharcada de sangue”. Viveu curto período na Bolívia antes de chegar ao Brasil, aonde ingressou como clandestino, num período em que vigoraram restrições à entrada de judeus no país, impostas pelo governo do presidente Getúlio Vargas.
Durante a palestra ele foi perguntado se nutria “raiva” do povo alemão. Jakobson que não, mas sem negar que houve uma situação histórica de “culpa coletiva”. Porém, assinalou que segmentos da população alemã foram também perseguidos e dizimados pelo regime comandado por Hitler, como aconteceu com sindicalistas, socialistas e vários outros grupos. A seu ver, o fundamental agora é aprender com o passado.
- Holocausto é palavra cujas letras vertem eternamente lágrimas e sangue e deve servir de alerta para o potencial humano para cometer práticas genocidas – assinalou.
Exposição
O Yom HaShoá, ou "Dia da Lembrança do Holocausto", ocorre em 8 de abril, data em que foi inaugurada uma exposição no Salão Negro do Congresso Nacional e, em Plenário, realizada sessão solene em homenagem às vítimas. A exposição, no Salão Negro, segue aberta ao público até 28 de abril.
Intitulada “Tão somente crianças: infâncias roubadas no Holocausto”, a mostra focaliza o impacto da tragédia sobre a vida das crianças. Foi criada com um acervo especial do Museu do Holocausto, que recebeu contribuições de sobreviventes e instituições ligadas à memória do Holocausto em todo o mundo.
19/04/2013
Agência Senado
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