SUPLICY AVALIA OS QUATRO ANOS DO PLANO REAL



Mesmo reconhecendo que os resultados alcançados em matéria de controle da inflação foram muito importantes para o país, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse hoje (dia 1o.) que, após quatro anos, o Plano Real apresenta muitos problemas e lacunas e "deixou muito a desejar" quanto ao desenvolvimento econômico, ao desemprego, à distribuição de renda e à redução da miséria. "Num país que apresenta índices elevadíssimos de concentração de renda e da riqueza, que estão sempre entre os mais altos do mundo, como imaginar que o mero controle da inflação possa ser suficiente para resolver a questão?", questionou o senador.

Para Suplicy, a política econômica adotada ao longo dos últimos anos pelo governo Fernando Henrique Cardoso apresenta diversos elementos que produzem concentração da renda e da riqueza, neutralizando e até desfazendo os efeitos positivos iniciais decorrentes da estabilização da moeda. O senador citou como exemplo o Proer que, à custa de incentivos fiscais e expansão da dívida mobiliária federal, socorreu bancos, investidores e correntistas.

- Menos comentado tem sido o caráter concentrador da política do BNDES, que nos anos recentes tem dado grande ênfase ao financiamento das privatizações e de empresas de grande porte. Em 1997, por exemplo, 95% dos desembolsos do BNDES foram para médias-grandes e grandes empresas e apenas 2% para micros, pequenas e médias empresas. Em depoimento recente na Comissão de Assuntos Econômicos, o presidente do Banco Central defendeu a política do BNDES, alegando que o que interessa é saber se a empresa é ou não boa, não importando se é grande, média ou pequena. Disse, também, que há evidências de que as grandes empresas são mais eficientes do que as empresas menores - lembrou Suplicy.

O senador acredita ser difícil justificar essa concentração dos empréstimos do BNDES, uma vez que as empresas de maior porte são justamente aquelas que têm mais facilidade de acesso ao crédito da rede bancária privada e ao crédito no exterior. Suplicy defendeu o favorecimento de empresas nacionais de médio ou pequeno porte pelos bancos públicos. "Por outro lado, levanto aqui a dúvida sobre se as grandes empresas são de fato tão mais eficientes a ponto de justificar a extraordinária disparidade apontada", disse o senador.

Outro ponto criticado por Suplicy foi a falta de determinação política do governo em resolver com maior rapidez os problemas sociais. Segundo ele, o empenho em coordenar esforços para aprovar a proposta de emenda à Constituição que estabeleceu a reeleição, e a criatividade e rapidez que caracterizaram a criação do Proer através de medida provisória contrastam com a lentidão e a má vontade com que o governo trata os instrumentos que poderiam contribuir para a criação de empregos, melhorar a distribuição de renda e erradicar a miséria. Entre eles o senador citou a reforma agrária, o crédito popular, o orçamento participativo, o programa de renda mínima e uma política de requalificação profissional.



01/07/1998

Agência Senado


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