SUPLICY: UM ANO APÓS MUDANÇA CAMBIAL, É POSSÍVEL A RETOMADA DO CRESCIMENTO



A mudança na política cambial, que completa um ano nesta semana, embora tenha sido tardia e realizada de forma atabalhoada pelo governo, "teve efeitos predominantemente positivos", afirmou nesta quinta-feira (dia 13) o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ao fazer um balanço sobre os efeitos da desvalorização do real e da modificação do regime cambial brasileiro. Aliados a uma queda dos juros maior do que a atingida até agora - "existe a possibilidade de que o Banco Central continue reduzindo os juros ao longo deste ano" -, o senador acredita que estarão dadas as condições para uma retomada do crescimento econômico.
A desvalorização e a adoção do regime de flutuação cambial administrada - em substituição ao regime de bandas estreitas - foram necessárias para reduzir o desequilíbrio externo, ampliar as possibilidades de crescimento e permitir maior autonomia à política monetária, justificou. Se os efeitos positivos ainda deixam a desejar, reconheceu o senador, o fato é que "a dependência nacional em relação a capitais estrangeiros está diminuindo, ainda que lentamente". Além disso, observou, houve redução considerável na quantidade de bens importados e as exportações aumentaram, ainda que menos do que era esperado, devido à retração de importantes mercados no exterior e à queda dos preços da pauta de exportações brasileira.
Outro efeito positivo da desvalorização, na avaliação de Suplicy, foi a redução nas despesas com viagens internacionais, assim como de outros itens da conta corrente do balanço de pagamentos, o que, no acumulado de janeiro a novembro de 1999, reduziu o déficit em conta corrente em cerca de 30%, em dólares, comparativamente ao mesmo período de 1998.
O impacto das mudanças cambiais sobre as finanças públicas foi negativo em 1999, mas não totalmente negativo, na opinião de Suplicy, porque o abandono da âncora cambial permitiu a redução gradativa da taxa de juro real, como aconteceu com a taxa de juros Over-Selic, de 31,24% para 19,03%. A dívida líquida do setor público consolidado aumentou de 42% do PIB em dezembro de 1998 para 49% em outubro de 1999, dado que o governo transferiu para o setor público a maior parte dos custos da desvalorização cambial, explicou o senador.
Mais do que uma socialização de prejuízos, Suplicy afirmou que o governo, ao permitir uma redução de mais de US$ 30 bilhões nas reservas internacionais do Banco Central, ao acumular dívidas no exterior, ao vender títulos dolarizados no mercado interno e ao assumir compromissos onerosos no mercado futuro de câmbio, na verdade proporcionou oportunidades extraordinárias de lucro ao sistema financeiro privado.
Para Suplicy, esse quadro geral da economia do país exige agora medidas que alterem a péssima distribuição de renda e riqueza e viabilizem um crescimento a taxas de 6%, "à altura da potencialidade da economia brasileira".

13/01/2000

Agência Senado


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