Supremo nega liminar e Jader já prepara renúncia



Supremo nega liminar e Jader já prepara renúncia O ministro do STF Celso de Mello manteve a votação hoje no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado do relatório que recomenda a abertura do processo de cassação do mandato do ex-presidente da Casa Jader Barbalho (PMDB-PA). Sua decisão saiu às 0h24 de hoje. Mello negou liminar em mandado de segurança movido anteontem pelo advogado Antônio Mariz de Oliveira para suspender a votação. Essa decisão reforça a possibilidade de renúncia imediata do senador. Hoje, o ex-presidente do Senado comparece à sessão do Conselho de Ética com uma certeza e uma dúvida. A certeza: não importa o que diga em sua defesa, o conselho aprovará a proposta de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra ele. A dúvida: renunciar ao mandato antes mesmo do julgamento do conselho ou esperar mais um pouco pelo resultado da perícia determinada pela Justiça paraense na auditoria que o Banco Central mandou fazer no Banpará. "Vou ficar feliz da vida de sair de Brasília", dizia ontem Jader, numa referência ao romance "O Estrangeiro", de Albert Camus, no qual o personagem Meursault, um francês vivendo na Argélia, deseja muitos espectadores no dia da sua execução, deixando entrever um grande desprezo pelos que o rejeitaram. Se o Conselho de Ética recomendar a abertura do processo, o pedido será encaminhado à Mesa, que, no máximo até a próxima terça-feira, o encaminhará de volta ao conselho para o início do procedimento legal. A pena para a quebra de decoro é a cassação do mandato e a suspensão dos direitos políticos do condenado, que pode chegar a oito anos. Assim, se Jader quiser disputar as eleições de 2002, deve renunciar antes da devolução do pedido ao conselho. Aberto o processo, ele pode até renunciar, mas o julgamento prossegue. Ataques Jader avalia renunciar antes para denunciar o julgamento do conselho como sendo "uma farsa, uma vingança" e para dizer que não teve os mesmos direitos de defesa que assegurou, quando presidia o Senado, aos ex-senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (ex-PSDB-DF, sem partido). Os dois renunciaram após serem acusados de estar envolvidos na violação do painel do Senado. ACM e Arruda, diz Jader, foram ouvidos e interrogados por todos os integrantes do Conselho de Ética. As partes apresentaram testemunhas e até uma acareação foi patrocinada. Ele, Jader, foi ouvido por uma subcomissão de três senadores, dos quais um, o peemedebista João Alberto, foi contra o pedido de abertura de processo por quebra de decoro. Jader suspeita da atuação e do parecer de Romeu Tuma (PFL-SP), um dos três integrantes da subcomissão. Diz que ele manipulou um documento enviado pelo Itaú, distorcendo o conteúdo das informações enviadas pelo banco sobre a movimentação de sua conta (de Jader) bancária na agência Jardim Botânico, do Rio. "Ex-integrante da Oban [Operação Bandeirantes, criada no regime militar para reprimir esquerdistas] e da Operação Condor [cooperação dos serviços secretos dos regimes militares sul-americanos], ele tem prática na manipulação de papéis e no desaparecimento de inimigos do regime", diz o peemedebista. Jader faz questão de ser interrogado no conselho pois considera essa a única chance de transmitir sua versão por meio da TV Senado. Ele se queixa que a imprensa só publica meias verdades. Declarações são ataque gratuito, afirma Tuma O senador Romeu Tuma (PFL-SP) considerou as declarações de seu colega Jader Barbalho (PMDB-PA) "um ataque gratuito de uma pessoa que está numa posição desesperadora", segundo a assessoria do pefelista. Tuma também disse que não comentaria as afirmações de Jader sobre sua atuação na Operação Bandeirantes, quando chefiava o DOPS (Departamento de Ordem Social e Política) em São Paulo, e na Operação Condor, nos anos 70, período em que os militares reprimiram a esquerda revolucionária. Para o pefelista Romeu Tuma, as referências feitas pelo peemedebista não passariam de "uma manobra de desespero". Depósitos ligam fraudador da Sudam a Jader Novas evidências vinculam o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) ao megafraudador da extinta Sudam José Osmar Borges. Encontraram-se seis depósitos de empresas de Borges em contas bancárias de Jader, feitos em 1996. Os lançamentos somam cerca de R$ 400 mil, em valores de 1996. Os dados começaram a vir à tona graças à quebra do sigilo bancário de Borges e de suas seis empresas, todas beneficiadas com incentivos fiscais. Além dos depósitos, Jader está vinculado a Borges por uma transação imobiliária sob investigação da Receita e pela troca de mais de 300 telefonemas. O Ministério Público acredita já ter material suficiente para oferecer denúncia não só contra Borges, mas também contra Jader. No quadro atual, a denúncia seria remetida ao STF (Supremo Tribunal Federal), por meio do procurador-geral Geraldo Brindeiro. Se renunciar, Jader perderá o foro privilegiado. Nesse caso, a denúncia independeria da vontade de Brindeiro. Os procuradores poderiam se dirigir diretamente à Justiça comum, a mesma que se encarregará de julgar Borges. Em 1996, ano em que Borges carreou depósitos para contas de Jader, suas empresas já se beneficiavam de recursos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), mas ainda não estavam sob investigação. O primeiro inquérito do Ministério Público para investigar as atividades de Borges foi aberto em 1997. O caso vem sendo conduzido desde então pelo procurador José Pedro Taques, de Cuiabá. Estima-se que Borges tenha desviado mais de R$ 100 milhões da Sudam. Para acobertar o desvio, o empresário levou à contabilidade da extinta autarquia notas frias. A apuração de Pedro Taques foi corroborada por inspeções da Secretaria Federal de Controle e do Tribunal de Contas da União. Além dos telefonemas que trocou com Jader, Borges discou para Maria Auxiliadora Barra, ex-funcionária da Sudam que se notabilizou por intermediar projetos para fraudar a Sudam. Auxiliadora é contadora do ranário da mulher de Jader, Márcia Centeno. Os telefonemas de Borges estão sendo desvendados graças à quebra do sigilo telefônico do celular que ele usava. O empresário discou também para José Artur Guedes Tourinho, que presidiu a Sudam por indicação de Jader. "Radicais do PT não apitam nada", diz assessor de Lula O economista Guido Mantega, principal assessor econômico do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva, classificou como "minoria inexpressiva" as alas radicais do PT. Em palestra promovida pelo banco Lloyds TSB para 200 empresários, no Hotel Meliá, zona sul de São Paulo, Mantega disse que "há muito tempo que eles [os radicais" não apitam nada em matéria econômica". Mantega expôs o que, segundo ele, serão as diretrizes da proposta econômica de Lula para 2002. No início do discurso, disse que "a divulgação do programa econômico ajuda a dissipar os preconceitos" e que, para o PT, "o empresariado é um ator importante". Defendeu a necessidade de negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Mantega, é necessário negociar condições melhores para o Brasil junto a esses organismos internacionais. "Quando eu era estudante, dizia: "Fora FMI!". No governo, nós evidentemente temos que negociar com o FMI e a OMC. Nossa questão não é quanto a empréstimos, mas às condições que eles costumam impor", disse. Mantega defendeu ainda o aumento de crédito para as exportações e melhores condições para que as empresas brasileiras possam competir no mercado externo, sem excluir das prioridades a substituição de importações. Disse que o PT não tem a intenção de mexer no câmbio e que não pretende "dar calote" nas dívidas. Declarou que o partido não reveria as privatizações. "Não seria factível do ponto de vista financeiro porque não teríamos como pagar. A burrada foi feita e não pretendemos revê-la. Somos contra a privatização no setor elétrico." O economista disse que o capital estrangeiro é necessário. Pobreza Mantega afirmou ainda que é preciso recuperar o dinamismo da economia e defendeu o resgate dos 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza. Na avaliação do anfitrião e presidente do Lloyds TSB no Brasil, Roberto Paschoali, a platéia gostou do que ouviu. "Acho que os empresários que estavam dentro dessa sala saíram mais tranquilos do que quando entraram. O discurso dele foi muito moderado", declarou Paschoali. "Acho que os radicais do partido estão perdendo espaço. O PT está indo mais para o centro e isso é muito bom, porque, pela primeira vez na história, o partido tem chances de chegar ao poder justamente porque está dando ouvidos à sociedade", completou o presidente do banco. Fernando Xavier Ferreira, presidente da Telefônica, classificou de "moderado e equilibrado" o programa exposto por Mantega. "Não observei nenhum pecado grave", afirmou. Após uma exposição inicial, Mantega respondeu às perguntas encaminhadas pelos empresários. Como a proposta econômica apresentada por Mantega foi preparada para o Instituto Cidadania, uma organização não-governamental coordenada por Lula, os empresários quiseram saber como ele poderia garantir que ela faria parte do programa de governo do PT para as eleições presidenciais de 2002. O economista respondeu que integra a corrente do deputado José Dirceu (SP), provável presidente nacional do partido reeleito - ainda não foi divulgado o resultado final das eleições do PT. "Todos os mais proeminentes líderes do partido estão nessa corrente. Há muito tempo que essa corrente controla o partido." Segundo Mantega, "90% do programa apresentado será aprovado, porque esse programa está sujeito a críticas da sociedade. Com certeza, não será modificado por nenhum radical do partido". A diretoria do Lloyds TSB pretende convidar outros presidenciáveis para apresentar seus programas econômicos aos empresários. Os próximos devem ser a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) e Ciro Gomes (PPS). Tasso pede política industrial ao país Com discurso de candidato à Presidência, o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), disse ontem que falta política industrial, um projeto mais definido de desenvolvimento e uma política de segurança, entre outras mudanças de rumo que seriam necessárias ao país. Tasso aproveitou a filiação do ministro do Planejamento, Martus Tavares, ao PSDB, ontem em Fortaleza, para defender uma redefinição das atribuições da pasta. "[O Planejamento" teria um papel de planejamento estratégico, em que a economia seria parte desse grande projeto", disse. Tasso defendeu o que chamou de "ajustes" um dia depois de afirmar que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), não é mais uma promessa, mas uma realidade no quadro sucessório, em função de sua boa colocação nas pesquisas eleitorais. "[O Estado tem que" realmente interferir, como, por exemplo, num projeto de política industrial", disse. "Os objetivos econômicos têm que obedecer a essa visão do que estamos querendo". As mudanças propostas pelo governador são bandeiras também de seu maior rival hoje no PSDB, o ministro José Serra (Saúde), outro presidenciável. Tasso e Serra discordam nesse aspecto decisivo da política econômica de Pedro Malan (Fazenda). Segundo Tasso, o governo federal acompanhou uma tendência mundial, o que teria sido importante no primeiro momento para a estabilização da inflação, mas depois deveria ter se "ajustado". As declarações foram feitas um dia depois de o presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao jornal "O Globo", dizer que aqueles que discordam da política do governo atual não poderiam ser candidatos da base aliada à sua sucessão. Apesar do tom crítico, Tasso afirmou que tem defendido o governo FHC. "Sou daqueles que fizeram a campanha dele desde o primeiro momento". Tasso recusou a hipótese de vir a ser vice de Roseana numa composição para 2002. "Eu não tenho nenhuma vontade de ser vice. Não é por causa da Roseana, mas não serei vice. Eu não levo jeito." Gregori solicita quebra de sigilo de Maluf O ministro José Gregori (Justiça) deverá encaminhar nos próximos dias à Suíça e ao Reino Unido dois pedidos de quebra de sigilo bancário internacional do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB) feitos pela Justiça Federal em São Paulo. Cópias dos pedidos estão na assessoria jurídica do Ministério da Justiça, que providencia sua tradução para o inglês. Gregori só espera receber os pedidos originais da Justiça para encaminhá-los ao exterior, por meio do Ministério das Relações Exteriores. A determinação de que sejam enviados os pedidos de informação é do juiz Fernando Moreira Gonçalves, da 8ª Vara Criminal Federal, que deferiu uma petição do Ministério Público Federal. Os procuradores da República esperam ter acesso aos extratos das movimentações financeiras de Maluf no exterior para poderem comprovar o eventual vínculo entre o dinheiro ilegal depositado em nome dele no exterior e os desvios de verbas públicas ocorridos quando o ex-prefeito ocupou cargos na administração. Na edição de 10 de junho, a Folha revelou que as autoridades de Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha, bloquearam mais de US$ 200 milhões (R$ 546 milhões, pela cotação de ontem) depositados na ilha em nome de Maluf e seis parentes dele. Segundo ofício enviado pelo governo suíço ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, Maluf teve contas na Suíça de 1985 a 1997, quando transferiu o dinheiro para Jersey. Outro pedido de informações às autoridades de Jersey (território pertencente ao Reino Unido, que tem independência administrativa) deverá ser enviado a Gregori nos próximos dias pelo juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais de São Paulo, Maurício Lemos Porto Alves, que deferiu petição do Ministério Público do Estado de São Paulo. Em 5 de setembro, Porto Alves recebeu um ofício de Jersey no qual o procurador-geral da ilha pedia que todos as requisições de informação destinadas ao local fossem encaminhadas por meio do Ministério da Justiça do Brasil. Porto Alves determinou o envio desse ofício para Jersey há quase um mês, mas a tradução do texto só ficou pronta na semana passada. Além disso, o juiz espera que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) fixe a competência do caso. Estados Unidos Os procuradores Pedro Barbosa e Denise Abade entraram ontem com um pedido para que a Justiça Federal peça informações ao governo norte-americano sobre eventuais transações financeiras internacionais de Maluf registradas na sede do Citibank, em Nova York. O juiz Gonçalves não se pronunciou sobre o assunto. Anteontem, o promotor Marcelo Mendroni também fez um pedido sobre Maluf ao governo dos Estados Unidos. O pedido de Mendroni é genérico e questiona a existência de transações do ex-prefeito naquele país. Promotoria quer ouvir empresário sobre anúncio que cita políticos O Ministério Público de São Paulo vai intimar o empresário Roberto Amaral, ex-diretor da Andrade Gutierrez em São Paulo, a depor sobre o falso anúncio fúnebre publicado na edição de anteontem de três jornais. Os promotores querem que Amaral, a quem o anúncio é atribuído, decifre o texto em que insinua ligações escusas da empreiteira com o ex-prefeito Paulo Maluf, seu filho Flávio e o ex-governador Orestes Quércia. Querem saber também quem é o citado banqueiro suíço "Mr. Swenka". No anúncio está dito que, numa missa, os donos da empreiteira, Gabriel e Sérgio Andrade, entoaram um salmo "em louvor e solidariedade ao doutor Paulo Maluf e ao seu filho Flávio" pelas agruras que enfrentam. Diz ainda que pediram "perdão a Quércia". A promotoria suspeita de chantagem e vê no depoimento de Amaral a possibilidade de avançar nas investigações sobre contas de Maluf no exterior. A publicidade é o segundo capítulo de uma briga na empresa que ganhou ares de escândalo com a publicação de um anúncio, em julho, também atribuído a Amaral. Nele, o executivo informa a "morte" de José Rubens Pereira, que o sucedeu no comando da empreiteira. Pereira é casado com uma sobrinha de Amaral. A Folha apurou que a briga entre os dois surgiu por divergências financeiras. No anúncio publicado anteontem, "Roberto Amaral e família" dizem que José Rubens era seu "sócio minoritário por 17 anos (até 2001, ano em que não prestou contas, como fazia, rigorosamente, todos os anos)". Diz ainda que José Rubens "deixou patrimônio real considerável". A empreiteira também teria cortado o pagamento de funcionários do haras de Amaral. Ele chegou a pedir a Sérgio Andrade a demissão de Rubens. Não foi atendido, e prometeu se vingar. Na ocasião do primeiro anúncio, a empresa decidiu ignorar. Desta vez, ao ver citados os nomes dos donos e dos políticos, mobilizou seus executivos para apagarem o incêndio. Eduardo Andrade, primo de Sérgio Andrade, já tentou contato com Amaral. A Folha apurou que o próprio executivo ficou assustado com a entrada do Ministério Público no caso. O jornalista Giba Um, apontado como redator dos anúncios, disse a interlocutores que, se for chamado a depor, Amaral pode dizer que estava brincando. Lobista Pouco conhecido do público, Amaral é tido como um dos mais influentes lobistas do Brasil. Era a ponte da empresa com governos. Na gestão de Orestes Quércia, por exemplo, a Andrade Gutierrez saltou de um faturamento de US$ 196 milhões em São Paulo para US$ 939 milhões. Quércia frequentava seu haras e sua casa em Ilhabela, no litoral paulista. Foi amigo do ex-prefeito Jânio Quadros, em cuja gestão a Andrade Gutierrez fez grandes obras, como o túnel do Anhangabaú. Tido como leal, sustentou Jânio no fim da vida. Pagou o aluguel do flat em que o ex-presidente morava e o tratamento médico numa clínica geriátrica. Era chamado de "mestre" por PC Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e também foi conselheiro da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Para provar que tratava bem a todos, governo e oposição, mostrava a interlocutores uma lista em que constavam aqueles que já tinham viajado gratuitamente em jatinhos da empreiteira. Nela estavam sindicalistas e políticos célebres do PSDB e do PT. Maluf disse, em nota, que "nunca teve ligações com empreiteiras e não teme investigação sobre isso". Quércia, por meio de sua assessoria, disse que quer saber por que está citado no anúncio. Artigos Wall Street e Casa Branca CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Quer dizer, então, que esse perigoso comunista chamado Alan Greenspan quer torrar US$ 100 bilhões de dinheiro público para reanimar a economia? Quer dizer, então, que gasto público pode ser parte da solução, em vez de parte do problema? É uma pena que tantas pessoas tenham morrido para que ficasse escandalosamente cristalino o que deveria ser óbvio desde sempre: se o Estado é ineficiente muitas vezes, a iniciativa privada também pode ser ineficaz, aliás mortalmente. A privatização dos serviços de segurança nos aeroportos norte-americanos provocou tal lassidão que foi possível sequestrar quatro aviões em um único dia. Não, não se trata de pedir que o Estado passe a intervir sempre na economia. Trata-se apenas de parar com a satanização do que é público. Na hora da agonia, para onde o cidadão olha? Para Wall Street ou para a Casa Branca? O herói da hora nos Estados Unidos é o CEO de alguma corporação ou George Walker Bush? Para quem vão os aplausos dos nova-iorquinos? Para as j.p.morgans da vida ou para o prefeito Rudy Giuliani, para bombeiros e para policiais, todos funcionários públicos? Alguém honestamente acha que essa gente pode trabalhar bem, no dia-a-dia, sem um mínimo de reconhecimento, um salário digno e um pouco que seja de carinho? Veja-se o que ocorre no Brasil. É também hora de crise, mas o público olha para o governo e nada vê. A equipe econômica nunca mais agiu desde o lançamento do Plano Real, faz já a eternidade de sete anos. Reagiu apenas. Parece paciente comatoso, que se conforma em recorrer periodicamente a uma transfusão de sangue no hospital FMI. Será que agora o pessoal se convence de que fundamentalismo de mercado pode ser tão mortal quanto fundamentalismo religioso? Colunistas PAINEL Pressão interna Candidatos a governador pelo PMDB começaram a defender uma punição exemplar a Jader Barbalho: sua expulsão da sigla. Temem que a imagem do paraense, que deve renunciar ao mandato de senador, prejudique suas campanhas em 2002. Longo prazo Na noite de ontem, peemedebistas se reuniriam na casa do senador Amir Lando em Brasília para discutir a situação de Jader. A cúpula do PMDB, porém, diz que só abrirá um processo interno contra o senador se ele vier a ser condenado pela Justiça. Dois pesos Enquanto Jader é preservado pela cúpula do PMDB, Damião Feliciano, suspeito de extorquir empreiteiros na CPI das Obras Inacabadas, deve responder a uma sindicância no partido. Aprovação difícil Aécio Neves discute hoje em almoço com líderes das bancadas a proposta que modifica a imunidade parlamentar. O projeto em tramitação, de Nelson Pellegrino (PT), prevê o fim da imunidade para crimes anteriores ao início do mandato. Cara a tapa A proposta autoriza também o STF a abrir processo, sem permissão do Congresso, para investigar crimes cometidos durante o mandato. Para sustar a ação, seria preciso o apoio da maioria absoluta dos parlamentares em votação aberta. Dança da chuva Francisco Gros (BNDES) não conseguiu passar de carro por um bloqueio de assentados, que protestavam em frente ao Planalto. Foi obrigado a chegar a uma audiência com FHC a pé, protegido da chuva por uma sombrinha prateada. Cofre fechado A Comissão de Orçamento do Congresso bloqueou ontem a liberação de R$ 29 mi para a obra do Aeroporto de Salvador, considerada irregular pelo TCU. Linha de defesa Paulo Maluf gravou ontem os comerciais de TV que serão exibidos a partir da semana que vem no horário do PPB em SP. O ex-prefeito vai dizer que as acusações contra ele fazem parte de uma campanha do PT e do PSDB para prejudicá-lo na eleição estadual de 2002. Última tentativa FHC não desistiu de tentar convencer Pedro Malan a filiar-se ao PSDB. Apesar das insistentes negativas do ministro, o presidente pretende conversar com ele mais uma vez nesta semana. Pela divisão Diferentemente do que faz o PT, Ciro Gomes vai incensar Roseana Sarney (PFL). O candidato do PPS avalia que o crescimento da governadora nas pesquisas desarticularia a base governista e aumentaria sua chance de chegar ao segundo turno. Governo da reconstrução Aliados de Pitta se dizem empolgados com a gestão Marta. Aos poucos, ela tem reabilitado decisões do antecessor, como a inclusão dos inativos na conta da educação e a adoção de uma margem de remanejamento do Orçamento de mais de 10%, práticas que a sigla condenava. Caminho livre José Roberto Arruda (ex-PSDB), que renunciou ao Senado no escândalo da violação do painel, filiou-se ao PFL. Na semana passada, esteve aconselhando-se com FHC. Na berlinda Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), presidente do Conselho de Ética do Senado, responde a 27 ações de execução fiscal em Campo Grande por demandas salariais- abertas por servidores na época em que ele era prefeito. "A dívida total não passa de R$ 30 mil", defende-se. Visita à Folha Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), visitou ontem a Folha. TIROTEIO De Inocêncio Oliveira (PFL-PE), sobre os ataques feitos pela oposição ao presidente do Congresso, Ramez Tebet: - Se xingar o presidente do Congresso de ladrão e de Osama Bin Laden não é quebra de decoro, não sei mais o que é isso. Nem em geral de campo de futebol se ouve tanta baixaria. CONTRAPONTO Ao pé da letra Então prefeito de Curitiba, Maurício Fruet esteve certo dia numa reunião com moradores da periferia. Ao chegar, um velhinho se aproximou: - Lá onde moro a cachorrada da vizinhança late a noite inteira. Ninguém consegue dormir. - O senhor sabe que eu tinha o mesmo problema? - devolveu o prefeito. O eleitor quis saber como Fruet resolvera o problema. - Assim que eles começavam a latir, eu soltava rojões. O problema acabou. Há três anos os cães não latem mais à noite. O velhinho foi embora feliz da vida. Dias depois, Fruet recebeu uma ligação de um oficial da PM, dizendo que um senhor, preso por soltar rojões de madrugada, afirmava seguir a "ordens do prefeito". Sem outro remédio, Fruet mandou o oficial levar o velhinho para casa e pedir-lhe desculpas formalmente. Editorial VOZES DA INTEGRAÇÃO A edição de ontem desta Folha registrou duas manifestações contrárias às forças que empurram as nações a concederem menos atenção a debates e negociações que envolvem a globalização. Trata-se da "Carta aberta aos antimundialistas", do primeiro-ministro da Bélgica e presidente em exercício da União Européia, Guy Verhofstadt, e do discurso radicalmente favorável ao "livre comércio já" da mais importante autoridade do governo norte-americano para o setor, Robert Zoellick. Zoellick se dirige aos congressistas de seu país, que há muito se recusam a conceder ao Executivo o mandato para negociar com mais credibilidade acordos de comércio internacional. A fim de tentar superar o obstáculo parlamentar, se vale do clima de união em torno da Presidência de Bush após o ataque terrorista. Já o premiê belga se dirige aos movimentos antiglobalização que têm sistematicamente conturbado o ambiente de toda e qualquer reunião de entidades globais desde Seattle em 99. O representante europeu entende como justa a maioria dos questionamentos dos manifestantes, mas afirma que apenas no âmbito multilateral se poderão encontrar fórmulas para tornar a integração internacional mais harmônica, beneficiando as populações e as nações mais pobres. Verhofstadt chega, de forma ousada, a propor a instauração de um novo G-8 que, em vez de reunir as nações mais ricas do planeta reafirmando a barreira entre pobres e ricos, fosse composto pelos agrupamentos multilaterais de comércio mais importantes -entre eles UE, União Africana, Mercosul e Nafta. É evidentemente baixa a viabilidade de uma proposta como essa. Registre-se que, no mesmo discurso aberturista de Zoellick, o representante norte-americano não abre mão dos recursos extratarifários que têm sido usados para proteger setores ineficientes da economia dos EUA. Também é possível supor que a opinião manifestada pelo representante europeu sobre as assimetrias do comércio mundial não chegue ao ponto de questionar os subsídios concedidos pela UE à sua agricultura. Mas não deixa de ser positivo o fato de o representante máximo da UE propor reforma substantiva no mecanismo global de tomada de decisões. A esse tipo de idéias a diplomacia brasileira deveria aliar-se num momento em que a conjuntura parece também propícia às posições de força da maior economia do planeta. Topo da página

09/27/2001


Artigos Relacionados


Jader prepara renúncia

Plenário do Supremo confirma liminar em favor dos Capiberibe

STF nega liminar contra parcelamento do IPVA

Liminar do Supremo reacende discussão sobre ICMS no comércio eletrônico

Randolfe: liminar concedida ao Ecad pelo Supremo não vai impedir indiciamentos

Recurso contra liminar que suspendeu sessão dos vetos já foi protocolado no Supremo