Jader prepara renúncia



Jader prepara renúncia Depois de sofrer mais uma dura derrota na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), antecipando o que deve acontecer hoje no Conselho de Ética, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) admitiu ontem pela primeira vez a hipótese de renunciar ao mandato, o que pode acontecer a qualquer momento. Alguns senadores com quem Jader conversou apostam que isso pode ocorrer antes mesmo da votação do relatório que propõe a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar, hoje no Conselho de Ética. Mas ele tem ainda cerca de 15 dias para tomar essa decisão, mesmo que o relatório seja aprovado. Tentando passar-se por vítima, Jader alegou que não pôde “se defender para o Brasil”, como fizeram Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda. Mas foi massacrado pelos membros da CCJ, que deixaram claro que ele só não usou dessa prerrogativa porque preferiu apresentar a defesa a portas fechadas, proibindo até mesmo a gravação. O parecer de Osmar Dias (PDT-PR) rejeitando o direito de ampla defesa nessa fase foi aprovado por 18 votos contra uma abstenção. Os primeiros ataques de Jader apareceram antes mesmo da votação do relatório. Ao contestar o parecer de Dias, Jader lançou suspeitas sobre a imparcialidade da comissão. E classificou o processo ao qual está sendo submetido de uma farsa, uma palhaçada. O senador Romeu Tuma (PFL-SP) ficou muito emocionado ao defender seu relatório: — Não houve farsa, manipulação, nem circo. Nosso trabalho foi feito com muita angústia e empenho. Ao sair, antes da votação, Jader admitiu a possibilidade de não enfrentar o processo até o fim. — Estou meditando sobre isso sim (renúncia). A palhaçada é tão grande, que estou meditando sobre isso — disse Jader. O presidente do Conselho de Ética, Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), garantiu a Jader o direito de falar na sessão de hoje informalmente, antes da votação. O ex-presidente do Senado disse que não abre mão de participar da reunião. — Não vou fazer ataques pessoais. Todos sabem que a minha briga sempre foi com uma única pessoa: o senador Antonio Carlos. A ele não vou poupar — antecipou. Jader dedicou a tarde à preparação do pronunciamento. No fim do dia ele se reuniu com Renan, Juvêncio e o senador Nabor Junior (PMDB-AC), que apresentará um voto em separado pedindo a suspensão da votação até a conclusão da perícia nos documentos do Banco Central e do Ministério Público. No seu pronunciamento, que pode ser de despedida, Jader pretende contestar ponto a ponto o relatório, numa tentativa de comprovar que houve uma montagem. Enquanto monitorava o Supremo Tribunal Federal (STF), esperando uma decisão sobre o pedido feito na véspera para impedir a votação do relatório no conselho, Jader não se descuidou da estratégia para a reunião de hoje. Juvêncio não deverá impor limites ao tempo de defesa de Jader, embora o próprio senador tenha antecipado que não pretende gastar mais do que uma hora. O presidente do conselho planeja submeter o parecer da CCJ ao plenário e discutir o voto em separado de Nabor. Se houver sessão do Senado, os trabalhos do conselho poderão ser interrompidos e retomados à tarde. Apesar do apoio que o partido lhe tem dado, Jader não tem segurança nem de que poderá contar, na votação do relatório, com os votos dos cinco peemedebistas que integram o conselho. Pré-candidatos rebatem críticas de FH à falta de propostas de governo BRASÍLIA e FORTALEZA. Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), reagiu com irritação à afirmação do presidente Fernando Henrique Cardoso que, em entrevista ao GLOBO, disse que os pré-candidatos governistas precisam mostrar mais suas idéias e debater programas de governo. Roseana disse que não tem falado em propostas porque não é candidata. Mas lembrou que tem uma experiência administrativa conhecida pela opinião pública e pelo presidente. — O que posso dizer é o que fiz, que não é vazio. Tenho minha administração no Maranhão e uma história. E o presidente Fernando Henrique sabe o que penso. Sabe que sou sincera e que muitas vezes discordei de medidas de seu governo — disse. Roseana diz que ampliaria alcance de políticas sociais A governadora disse que, num programa de governo para o país, ela manteria a política econômica de estabilização e de controle da inflação, mas ampliaria o alcance das políticas sociais e de combate à pobreza. Feliz com seu desempenho nas pesquisas — tem entre 14% e 16% dos votos hoje — Roseana voltou a dizer que ainda é cedo para se lançar candidata, mas já admite a idéia. — O fato curioso é que nas pesquisas há a possibilidade de uma mulher ser presidente da República — disse. O governador do Ceará, Tasso Jereissati, também reagiu às estocadas do presidente, que chamou os candidatos governistas de tímidos: — Sou tímido mesmo. Tasso, porém, se comparou ao ministro Pedro Malan na defesa dos projetos do governo. —- Sou do mesmo partido dele (Fernando Henrique). Acredito no fundamental do que foi feito no governo. Agora, como todo mundo sabe, acho que ajustes importantes devem ser feitos — disse. Tasso descartou a possibilidade de ser vice numa chapa governista: — Não tenho vontade de ser vice de ninguém. Com certeza não serei vice de ninguém. O governador, porém, desconversou quando perguntado sobre sua pré-candidatura a presidente da República. — Não tenho vontade de ser presidente, embora o cargo represente uma honra para qualquer pessoa, em qualquer circunstância e em qualquer país. Mas ainda não morro de vontade, não — disse. O ministro da Saúde, José Serra, um dos pré-candidatos do PSDB, evitou comentar as críticas de Fernando Henrique: — Gostei muito da entrevista. Frases curtas, conteúdo afirmativo e informações precisas — limitou-se a dizer. Paulo Renato diz ser o pré-candidato que mais fala Já o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, disse não se considerar atingido pelas críticas. Afirmou que é o pré-candidato que mais tem exposto suas idéias: — Sou o pré-candidato que mais fala. Em resposta à cobrança de propostas de governo, o ministro disse que pretende dar continuidade à atual política: — Quero dar continuidade a tudo o que está sendo feito para mudar o país. Minha proposta será investir em educação e crescimento econômico. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), concordou com Fernando Henrique. Ele também acha que os candidatos tucanos devem ser mais afirmativos e já podem começar a apresentar seus planos de governo: — Em janeiro, o PSDB já deve estar com candidato escolhido para discutirmos alianças e palanques regionais. O presidente Fernando Henrique reforçou ontem, por intermédio do porta-voz Georges Lamazière, que o importante nessa fase é discutir programas, e que a melhor data para os partidos escolherem o candidato é janeiro de 2002: — Quem tem um bom programa tem condições de participar de uma aliança — disse o porta-voz. Governistas decidem punir deputados que xingaram Ramez Tebet no plenário BRASÍLIA. Todos os líderes governistas entraram ontem com uma representação na Corregedoria da Câmara contra os deputados da oposição que xingaram o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), anteontem à noite. Aos gritos de ladrão, rábula, larápio e Bin Laden, eles agrediram o presidente do Congresso, forçando-o a encerrar a sessão. — Isso é uma agressão, uma barbárie! E merece punição — disse o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), ao manifestar solidariedade a Tebet, em reunião de desagravo realizada no Senado. No contra-ataque, os líderes da oposição avisaram que apresentarão hoje mesmo uma representação contra Tebet por desrespeito ao regimento do Congresso. — Agressão foi o que o Tebet fez com o regimento do Congresso — reagiu o deputado Sérgio Miranda (PCdoB-MG), decidido a entrar hoje com uma representação contra Tebet. Pelo menos três deputados são acusados Miranda, Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Virgílio Guimarães (PT-MG) serão os alvos principais da representação contra a oposição assinada por todos os líderes da base. Mas o pedido, enviado ao corregedor-geral da Casa, Barbosa Neto (PMDB-GO), se estenderá a todos os parlamentares da oposição. Um dos que podem ser atingidos é o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) que, durante a sessão, fez o sinal de roubo. — Se xingar a mãe ou chamar de ladrão e fujão o presidente do Senado não é falta de decoro, o que mais pode ser? Nem no Maracanã as pessoas se comportam assim — criticou o líder Inocêncio Oliveira (PFL-PE). O deputado Arnaldo Faria de Sá (PPB-SP) criticou o fato de a oposição ter chamado Tebet de Bin Laden: — Bin Laden sim, ladrão não! Ao assistir às gravações da sessão, Barbosa Neto condenou os protestos: — Isso não condiz com a boa conduta exigida na Casa. Mas o autor da representação deve ser o próprio Tebet. Se ele, o ofendido, não faz isso, é porque considera o caso superado. Embora tenha reconhecido que errou durante a votação da nova redação do Plano Plurianual (PPA) — causa de toda a confusão — Tebet conquistou ontem até o apoio do presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC). — Ouvi coisas totalmente incompatíveis, que ninguém quer ouvir. Fui dormir entristecido. Mas não descerei às trevas da maledicência — disse Tebet. Petista pediu destituição do secretário-geral da Mesa Sob a ameaça de perda de mandato, os representantes de oposição reagiram. O líder do PT, Walter Pinheiro (BA), entrou com uma representação na Mesa do Congresso pedindo a destituição do Secretário-geral, Raimundo Carreiro. Segundo Pinheiro, Carreiro tem cometido erros sucessivos na interpretação do regimento, como, na noite de terça-feira, ao ignorar questão de ordem segundo o qual o PPA, depois de alterado, deveria voltar à Comissão Mista de Orçamento. Pinheiro negou que o termo ladrão fosse um insulto endereçado a Tebet, mas à suspeita de uso político do Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações (Fust) em 2002. — A expressão roubo foi sobre a inclusão do Fust no Plano Plurianual, sobre a suspeita de um caixa dois para as eleições do ano que vem — alegou o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), um dos mais ardorosos críticos de Tebet na sessão do Congresso. Além da representação contra Tebet e Carreiro, o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), entra hoje com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal pedindo a suspensão da sessão por desrespeito ao Regimento Comum do Congresso. Marco Aurélio defende cotas para os negros BRASÍLIA. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio de Mello, apoiou ontem a decisão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, de reservar para os negros 20% das vagas no ministério. Marco Aurélio compareceu à cerimônia de lançamento do programa de cotas e defendeu a medida. — Não vamos agir como computadores. O STF já teve oportunidade de se pronunciar sobre o assunto. Por acaso relatei um processo, o que cria o feriado de Zumbi dos Palmares, no Rio, um símbolo da resistência. Cumprimento todos os engajados nessa luta. E nela me incluo — disse. Jungmann fica aliviado porque temia ações judiciais O ministro se preocupa exatamente com as ações diretas de inconstitucionalidade que possam ser impetradas contra a primeira licitação para contratação de mão-de-obra terceirizada no ministério com a cláusula que estabelece cota de 20% para negros. Governo negociará com professores em greve BRASÍLIA. Líderes dos professores e dos funcionários das universidades federais em greve convenceram o Ministério da Educação a abrir negociações para pôr fim à paralisação. A greve começou há 32 dias e atinge 50 das 52 instituições federais de ensino superior. Na reunião de ontem com o ministro Paulo Renato, os líderes do movimento se recusaram a suspender a greve em troca do início da negociação. Por causa da longa duração da greve, estão ameaçados os vestibulares e até o semestre letivo. Mas o ministro disse ontem aos grevistas que não aceitará a suspensão dos vestibulares e que só pagará o salário se as aulas forem repostas ao fim da paralisação. Na semana que vem serão criados sete grupos de discussão dos grevistas com o MEC. O principal deles analisará a incorporação ao salário da gratificação por atividade especial, que representa 160% do salário dos servidores públicos. — Por enquanto não há propostas objetivas do ministério para a suspensão da greve. Se houver, podemos rever nossa posição — disse o presidente da Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes), Roberto Leher. Em Brasília, confronto entre estudantes e policiais Ontem de manhã, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) entraram em choque com a Polícia Militar. Alunos que queriam assistir às aulas de professores que não aderiram à greve insistiram em furar o bloqueio na porta da universidade, provocando tumulto. A PM foi chamada para ajudá-los a enfrentar o piquete. No confronto, a PM usou gás de pimenta. Jovens ficaram com os olhos irritados. Alunos da UnB ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE) mantêm um acampamento na universidade como forma de protesto contra o governo e em solidariedade à greve. Apesar de não obter, como queria, uma promessa de suspensão da greve, Paulo Renato considerou a reunião um avanço. O ministro afirmou que acredita num desfecho em breve para o caso e acrescentou que, em relação aos servidores de apoio das universidades, há grandes possibilidades de se chegar a um acordo. A greve dos servidores das federais já dura dois meses, quase o dobro do movimento dos professores. — Na negociação com os funcionários temos avançado e estamos perto do entendimento — disse o ministro. Paulo Renato está inclinado a aceitar a incorporação da gratificação ao salários dos funcionários das federais. No caso dos professores, o ministro ainda insiste em que a incorporação da gratificação deve estar vinculada à avaliação por desempenho. O ministro se comprometeu a adiar o envio ao Congresso de projeto de lei que regulamenta o emprego público, uma nova forma de contratação que acaba com a estabilidade dos servidores. No empenho para pôr fim à greve, Paulo Renato se mostrou disposto a atender até mesmo às reivindicações da UNE. A entidade quer mudar a medida provisória que acabou com o seu monopólio na emissão de carteiras de estudante. O assunto será discutido por um dos grupos que serão criados na próxima semana. MST bloqueia rua em frente ao Planalto BRASÍLIA e RECIFE. Uma manifestação de cerca de 400 integrantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) bloqueou ontem a rua em frente ao Palácio do Planalto. Eles queriam marchar até o Palácio da Alvorada, onde estava o presidente Fernando Henrique, mas foram cercados pela polícia. O presidente precisou entrar pela porta dos fundos do Palácio do Planalto. O protesto terminou às 20h, quando os manifestantes receberam a confirmação de que serão recebidos hoje pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann. Para impedir que os manifestantes chegassem ao Alvorada, foi montado um grande aparato policial, com cerca de 200 homens. A polícia interrompeu o trânsito em parte da Esplanada dos Ministérios e nas proximidades da Praça dos Três Poderes. O esquema foi mantido por toda a noite. O governo ficou irritado com a radicalização do MST, que, ontem, promoveu atos e invasões. Em Buritis (MG), cidade onde fica a fazenda da família do presidente, o MST invadiu a agência do Banco do Brasil. No município de Vitória de Santo Antão, a 50 quilômetros de Recife, o líder do assentamento Pedreira, Pedro Miguel Demésio, de 46 anos, foi assassinado ontem. Segundo o MST, Demésio vinha recebendo ameaças há mais de um mês. MP intima ex-diretor a explicar anúncio cifrado SÃO PAULO. O Ministério Público Estadual recebeu ontem um documento comprovando que Roberto Figueiredo do Amaral, ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez, é mesmo o autor do anúncio cifrado publicado anteontem em jornais do Rio e de Minas Gerais. Com base nesse documento, os promotores Sílvio Marques e Marcelo Mendroni, que investigam a existência de depósitos ilegais do ex-prefeito Paulo Maluf no exterior, decidiram intimar Amaral para depor. Os promotores estudam a convocação também do presidente da empreiteira, José Rubens Goulart Pereira. — Queremos que Amaral decifre o anúncio. Aparentemente, o texto dá a entender que é uma ameaça. Se for o caso, ouviremos também José Rubens — disse Marques. Sócio não comenta publicação de anúncio O documento é um termo de responsabilidade no qual Reynaldo Andrade Costa, sócio de Amaral na RV Consultoria e Participações Ltda, assume "integral responsabilidade penal e cível pelo anúncio". Reynaldo se recusou a falar sobre o caso dizendo que qualquer comentário deveria ser feito pelo próprio Amaral, que estaria viajando da Europa para os EUA. No falso anúncio fúnebre, Amaral comunica a realização de uma missa “pelo qüinquagésimo dia da morte de José Rubens (Dolly)”. O texto cita Maluf, seu filho Flávio, o ex-governador Orestes Quércia e o pianista João Carlos Martins, dono do empresa Pau-Brasil, que financiou ilegalmente campanhas eleitorais do ex-prefeito. Mas o que chamou a atenção dos promotores foi uma referência ao "Banco Helvético (suíço) Cordier". A suspeita é de que, na verdade, Amaral estivesse se referindo ao Bordier, especializado na gestão de grandes fortunas. Outro motivo para a investigação é a participação da Andrade Gutierrez em obras suspeitas de superfaturamento. Segundo a CPI que investiga o Tribunal de Contas do Município, Maluf gastou R$ 5,7 bilhões em seis obras superfaturadas durante sua última gestão na prefeitura. A Andrade Gutierrez está envolvida em pelo menos duas delas: o Mini-Anel Viário (Cebolinha) e a passagem Tom Jobim, no Vale do Anhangabaú. Em nota divulgada ontem por sua assessoria, Maluf nega qualquer envolvimento com empreiteiras e acusa o Ministério Público de perseguição política. Os promotores decidiram também solicitar informações ao governo dos EUA sobre possíveis investimentos ilegais do ex-prefeito naquele país. Quércia se diz intrigado com a inclusão de seu nome Já Quércia, que durante anos foi ligado a Amaral, disse apoiar a investigação que o Ministério Público fará sobre o anúncio, que envolve seu nome: — Não falo com Amaral há cinco anos. Não sei por que ele me citou no anúncio. A Andrade Gutierrez informou que não vai comentar a briga. Assessores de Sergio Andrade, dono da empresa, disseram não entender as razões que levaram o ex-diretor a tornar públicas ameaças contra José Rubens, casado com uma sobrinha de Amaral. Até porque, dizem, Amaral se desligou da empresa em maio de 1998 ao completar 60 anos, a pedido dele próprio, num processo de transição iniciado em 1996. Ao sair, deixou uma carta elogiando a conduta da empresa no desligamento. Fontes da empreiteira confirmam que alguns benefícios que eram concedidos a Amaral, como carro com motorista e seguranças particulares, foram cortados em função da reestruturação pela qual a Andrade Gutierrez passou. Os donos da empresa acompanham a briga com preocupação, mas desconhecem eventual descumprimento de acordos políticos que teriam sido feitos pelo ex-diretor e não honrados pelo atual presidente. — Não sabemos nada a respeito. O teor da carta publicada por Amaral nos jornais revela coisas de ciúme de homem — diz uma fonte ligada à presidência da empreiteira. Quando Amaral era diretor, em 98, a empresa teve lucro de R$ 69 milhões. Em 99, já sob comando de José Rubens, o lucro saltou para R$ 263 milhões Artigos A saúde avança ANA GORETTI KALUME MARANHÃO e TÂNIA LAGO Em 1990, mais de 160 países acordaram na Reunião de Cúpula Mundial em Favor da Infância metas ambiciosas para 2000 nas áreas de saúde, educação e direitos humanos. Onze anos depois, os resultados alcançados constam do documento “Situação Mundial da Infância-2002”, publicado pelo Unicef. E neste período, o Brasil apresenta significativos avanços. Considerando todas as nações avaliadas, a redução da mortalidade foi de apenas 14%. A redução brasileira foi de 31% na mortalidade de menores de um ano, e de 29,5% nas mortes de menores de cinco. Isso evitou 230 mil óbitos de crianças menores de 1 ano. O Brasil conseguiu erradicar a poliomielite e diminuir drasticamente todas as principais doenças imunopreveníveis. Os casos de tétano neonatal sofreram substancial redução (87,7%) na década. Além disso, conseguimos imunizar 90% das crianças menores de um ano com BCG, tríplice e contra poliomielite. Detectou-se ainda declínio expressivo em relação à desnutrição na infância. De 1989 até 1996, o país apresentou uma redução de 33% do déficit de altura em crianças menores de 5 anos, e de 21% das crianças com baixo peso para a idade, nesta mesma faixa etária. O Brasil tem hoje o reconhecimento internacional pela sua política de promoção do aleitamento materno. A duração média da amamentação elevou-se de 5,5 meses, em 1989, para 9,9 meses em 1999. O país conseguiu que mais de 95% dos domicílios consumissem sal iodado. E mais: reduzimos o número de crianças que nascem com menos de 2,5kg - de 10,1%, em 1989, para 7,8% em 1998. Com relação à saúde da mulher, a meta acordada na cúpula foi extremamente ambiciosa. Tanto que o documento do Unicef mostra que nenhuma mudança ocorreu no conjunto dos países em relação a este tema. A média dos países é de 400 mortes maternas por cem mil nascidos vivos. No Brasil, esta taxa é de cerca de 60 óbitos maternos por cem mil nascidos vivos. Desde 1998, a letalidade materna no parto no Sistema Único de Saúde foi reduzida em 25%. Por último, mas não menos importante, o Brasil tem uma política de prevenção e controle da Aids reconhecida internacionalmente como uma das melhores do mundo. São conquistas incontestáveis. O saque de Roma Quid salvum est si Roma perit? São Jerônimo — 410 a.D. ROBERTO PAULO CESAR DE ANDRADE No outono do ano 410, São Jerônimo, um dos grandes doutores da Igreja, encontrava-se em Belém, na Palestina, imerso na gigantesca tarefa de produzir a primeira tradução latina da Bíblia, quando recebeu a notícia da queda e do saque de Roma pelos visigodos comandados por Alarico. Chocado pelo evento, marco inicial do fim da civilização greco-romana que há mil anos dominava o Mediterrâneo, enviou carta a um amigo com a pergunta angustiada: o que será salvo se Roma perecer? A aflição que assaltou o mundo ao ver, em tempo real, a demolidora ação dos novos bárbaros sobre o coração da nova Roma conduz a uma indagação de suas causas mais profundas e das possíveis conseqüências para a civilização ocidental. Não se trata somente da ação de um homem, ou de um punhado de homens, contra dois prédios monumentais e alguns milhares de inocentes. Nem se trata de uma guerra, no sentido clássico da política conduzida por outros meios, de que fala Clausewitz. O problema evidenciado pela ação suicida não se resolve pelo método do far west , em que o xerife de chapéu branco prende e enforca o bandido de chapéu preto. Nem, tampouco, arrasando as favelas de Cabul e matando, como vingança, alguns milhares de outros inocentes. A História está repleta de instâncias de choque entre civilizações e os que delas estão excluídos, com resultados que vão da conquista e absorção dos “bárbaros” pelos “civilizados” até a queda dos impérios diante da pressão avassaladora dos desprezados. No início do século XV — 50 anos antes de Vasco da Gama dobrar o Cabo da Boa Esperança — o imperador da China proibiu a construção de navios capazes de navegação oceânica, e mandou queimar os existentes, por ter concluído que além-mar só existiam a barbárie e a ignorância, que nada poderiam acrescentar à cultura e à civilização superiores do Império do Meio. Quatro séculos depois, os bárbaros europeus, armados com o produto da Revolução Industrial, invadiam e saqueavam a China, levando-a a uma humilhação cujas conseqüências duram até hoje. A lição que o passado nos traz é a do enorme risco das alturas e da falsa tranqüilidade a que elas induzem, pois são os cumes que atraem os raios. Em seu tratado sobre a Idade da Informação, Manuel Castells lembra que “nosso mundo e nossas vidas estão sendo moldados pelas tendências conflitantes da globalização e da identidade”. Os excluídos hoje são os que não se enquadraram nos moldes da globalização. Uns nem bem se apercebem do fato e continuam a se matar em guerras tribais sangrentas, substituindo as setas e as bordunas por metralhadoras e minas terrestres. Outros, com uma percepção do mundo bem maior, encontram no fundamentalismo religioso a resposta à exclusão, muitas vezes associada à demonização dos incluídos. Os aviões atirados às Torres são exemplos do segundo tipo. Declarar a guerra; trazer um de seus líderes “morto ou vivo”; mobilizar contra eles todo o poderio da maior potência militar do globo não soluciona, e talvez exacerbe, o problema que deu origem à tragédia. É importante, sem dúvida, fazer justiça aos perpetradores imediatos e seus mandantes; procurar desarticular as máquinas mortíferas. Trata-se, entretanto, de um trabalho mais para os serviços de inteligência e pequenas unidades de comandos do que para frotas de porta-aviões atômicos e centenas de milhares de soldados. Mais importante ainda será desarmar a exacerbação dos excluídos, fortalecer as alianças com os países islâmicos globalizados ou semiglobalizados, o Egito, a Indonésia, a Arábia Saudita e a Turquia. No caso em tela, esvaziar a “umma”, o paraíso dos verdadeiros crentes, impedindo que se concretize a substituição da neocomunidade pela necrocomunidade de que nos fala Khosrokhavar ao afirmar que “a exclusão da modernidade assume significado religioso: assim, a auto-imolação se transforma em modo de lutar contra a exclusão”. O problema evidenciado pelos atentados de auto-imolação só será resolvido quando a maioria dos que se sentem hoje excluídos se inclua, ainda que de forma imperfeita, à nossa civilização globalizada. Só assim o Grande Satã perderá o seu simbolismo diabólico e voltará a ser, para todos, o que a Estátua da Liberdade procurou representar: o símbolo da esperança de uma vida melhor. Finalmente, caberia lembrar a nossos amigos americanos as palavras de uma poesia de Maya Angelou, lida na primeira posse de Bill Clinton, em 1993: “History, despite its wrenching pain/cannot be unlived, and if faced/with courage, need not be lived again.” (A História, a despeito de suas dores angustiantes, não pode ser anulada, e, se encarada com coragem, não precisa ser vivida outra vez.) Colunistas PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL De mal a pior Posta a premissa de que um atentado não justifica outro, viu-se na noite de anteontem que a beligerância não só continua no Senado como agora chega à Câmara. Presidindo pela primeira vez uma sessão conjunta, o novo presidente do Senado, Ramez Tebet, atentou duas vezes contra o regimento, ignorando as questões de ordem da oposição, que, por sua vez, atentou contra a civilidade. Mudando o ditado, onde não vale a regra todos gritam e ninguém tem razão. Mais ainda nos parlamentos, onde convivem frações — maioria e minoria — da vontade popular representada. Tebet assumiu o cargo na semana passada prometendo banir o clima de conspiração e revanchismo instalado no Senado desde o início da guerra ACM-Jader. Encerrou a primeira sessão bicameral sob vaias e apupos e ontem recebeu calorosas manifestações de desagravo. Mas o erro inicial, por inexperiência, desconhecimento do regimento ou onipotência, foi dele. Votava-se um projeto polêmico, a inclusão no Plano Pluri-Anual dos recursos do Fust com que a Anatel comprará 290 mil computadores para a informatização de escolas, ao custo aproximado de R$ 1,5 bilhão, estando a licitação embargada na Justiça pela oposição. O dinheiro não está incluído no PPA e o edital contempla como participantes apenas quatro operadoras de telefonia. O erro de Tebet talvez tenha sido o de se deixar guiar pelos líderes governistas e não por um servidor experiente como o secretário-geral, Raimundo Carrero. Ao encaminhar a votação do Senado, Tebet negou uma verificação de quorum que o PT dizia procedente. Aprovado o projeto, anunciou a votação imediata da redação final. O deputado Sérgio Miranda fez outra questão de ordem, lembrando que o artigo 51 do regimento e o 32 da resolução número 2 reservam a redação de todo projeto orçamentário para a Comissão Mista de Orçamento. Decisão antiga, posterior ao escândalo dos anões do Orçamento, para evitar enxertos de redação. Tebet ignorou, mesmo quando o líder do PPS, Rubens Bueno, reiterou a questão lendo o texto do artigo 51. Concluiu a votação sob protestos, que depois se alastraram pelo plenário. Ontem reconheceu que a segunda questão de ordem era cabível. A oposição pedirá a anulação da votação e denunciará Tebet ao Conselho de Ética por abuso de poder. Os governistas, por meio do deputado Wagner Rossi (PMDB-SP), pediram à corregedoria da Câmara a punição dos deputados da oposição. — Hoje vi a oposição ter saudades de ACM. Brigavam, mas sempre dentro do regimento — dizia José Carlos Aleluia (PFL-BA). A beligerância chegou à Câmara enquanto no Senado um Jader Barbalho acuado por seus pares ainda pode renunciar dando tiros. Em alvos muito certos.Novo líder tucano O senador Geraldo Melo (RN) é o novo líder do PSDB no Senado. Foi eleito ontem à noite por aclamação, depois de uma articulação do presidente do partido, José Aníbal, para acabar com a acefalia da bancada criada com a saída do ex-líder Sérgio Machado, em trânsito para o PMDB por incompatibilidade com o governador Tasso Jereissati. Melo é um senador bem articulado e de bom trânsito, mas, quando foi lembrado para líder do governo, avisou que tinha uns probleminhas. Dívidas não pagas. Do jeito que as coisas andam, pecado venial. Como no roque do xadrez, as peças foram trocadas. Romero Jucá, ex-líder interino do governo, passa a ocupar a vice-presidência do partido no lugar de Geraldo Melo. Pelo menos entre eles, as disputas agora cessam.Na trilha de FH As cobranças do presidente Fernando Henrique aos presidenciáveis governistas, feitas na entrevista publicada ontem pelo GLOBO, assanharam os postulantes. Roseana Sarney, indignada, disse que o presidente conhece bem suas idéias. Paulo Renato, não citado por FH, avisou que é candidato de continuísmo, para manter todas as políticas do governo atual. O próprio presidente disse na entrevista: “Não desgosto da expressão continuidade sem continuísmo. O que é preciso é dizer o que vão fazer”. Referia-se a uma expressão usada por Serra. Seus aliados, como o líder Jutahy Júnior, acham que quem ficou melhor no retrato traçado por FH foi ele. Por instrução ou não de FH, os governistas agora falam como papagaios sobre algo a que ele deu muita ênfase: a rede de proteção social criada por seu governo, por meio dos programas de renda-mínima, como bolsa-escola, bolsa-alimentação e bolsa-renda. Vamos ter bolsa a tiracolo agora.O SENADOR Amir Lando faria ontem um discurso sobre o pensamento de Alberto Pasqualini, fundador do trabalhismo. Desistiu. “Não há clima para esse tipo de fala na Casa. Só para troca de farpas”. FERNANDO GABEIRA observa a importação da intolerância: “O presidente chamou a oposição de Talibã. E alguns membros da oposição, revoltados com o senador Tebet (de origem libanesa), o xingaram de Bin Laden”. DO SENADOR José Alencar (PMDB-MG), preterido para a presidência do Senado, sobre o chabu na sessão de ontem: “Conseqüência da intervenção do Planalto no Senado. O Tebet disputou comigo na bancada no cargo de ministro. Talvez ainda esteja se sentindo ministro”. Editorial Êxitos parciais Os progressos são incontestáveis, tanto em educação quanto em saúde. O Brasil cumpriu oito das 23 metas de melhoria da qualidade de vida das crianças com que se comprometeu na Cúpula Mundial pela Criança do Unicef, em 1990; e se não atingiu as demais metas, fez avanços significativos em direção a elas. No entanto, assim como não se pode ignorar que a situação melhorou, é preciso reconhecer que ainda há muito a ser feito — porque muito deixou de ser feito. Exemplo crucial é a mortalidade infantil, que teve uma queda de 46 por mil, há 11 anos, para 36 hoje; uma redução de 27,6%, não muito distante da meta de 33%. Mas basta saber que nos países ricos a taxa é de seis por mil para compreender como ainda é longo o caminho a percorrer. O governo, no relatório que enviou ao Unicef, admite que cumpriu apenas parcialmente 15 das metas, e uma das justificativas que apresenta é que as disparidades regionais dificultam, por exemplo, o acesso universal a água potável e a saneamento básico. É razoável, e é verdade também que poucos países são capazes de apresentar melhorias tão significativas como as que o Brasil conseguiu: na saúde, no combate à Aids, redução da mortalidade materna (relacionada a partos) e prevenção da poliomielite; na educação, em termos de acesso universal ao ensino básico. Mas é preciso redobrar esforços para transformar os êxitos que hoje são parciais em histórias de pleno sucesso. Topo da página

09/27/2001


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