Tarso Genro derrota Olívio
Tarso Genro derrota Olívio
O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, venceu o governador Olívio Dutra na prévia do PT que indicou o candidato do partido à eleição para o governo estadual em outubro. Genro teve 18.366 ( 51,3%) contra 17.307 de Olívio ( 48,7%), segundo o resultado oficial divulgado ontem. Com a divulgação de resultados extra-oficiais, na madrugada de ontem os apoiadores do prefeito já comemoravam a vitória. O PT agora tentará pacificar as duas correntes. O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou:
— Acredito que os dois (Tarso e Olívio) têm consciência de que podemos ganhar no Rio Grande do Sul outra vez — disse.
A prévia provocou uma crise no PT gaúcho, mas ontem mesmo os dois candidatos fizeram questão de dizer que as divergências estão sendo superadas e que o partido ficará unido para as eleições. Como demonstração dessa unidade, Tarso e Olívio chegaram juntos à sede do PT estadual ontem e trocaram elogios ao comentar o resultado das prévias.
O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), minimizou o desgaste causado pela disputa acirrada no Rio Grande do Sul entre a corrente de Tarso, mais moderada, e a de Olívio, mais à esquerda.
— Olívio já anunciou que vai apoiar a candidatura de Tarso Genro e que permanecerá no governo até o fim de seu mandato. O PT sempre se reunifica depois das prévias. Temos os exemplos de 1998 e 2000.
Embora Dirceu garanta que a disputa não deixa seqüelas, alguns setores do partido prevêem que a direção nacional do PT ainda terá trabalho para compor os dois grupos até a eleição.
— Espero que agora tudo se pacifique e cada um vá lamber suas feridas. Mas é possível que seja necessária ainda uma ação nacional do partido para garantir a composição dos dois grupos — previu o senador José Eduardo Dutra (PT-SE).
CPI deixou governo Olívio Dutra frágil
A vitória de Tarso, porém, deixa o governador gaúcho ainda mais fragilizado. Acusado de envolvimento com o jogo do bicho pela CPI da Segurança, instalada no ano passado pela Assembléia Legislativa, Olívio perdeu o apoio agora do próprio partido para disputar a reeleição. Sua derrota respinga de certa forma na cúpula petista, que apostava que Olívio ainda detinha o controle do partido no estado e venceria a disputa. Em 1998, Tarso Genro perdeu a disputa para Olívio, que acabou sendo eleito o primeiro governador petista do Rio Grande do Sul.
Na avaliação do ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, a recomposição do PT no Rio Grande do Sul não deverá demorar.
— O PT já demonstrou que faz prévia num dia e no outro já está unido — garantia ontem.
O PT gaúcho agora volta-se para definir a escolha do candidato a vice-governador, um cargo que sempre provocou muita discussão no partido. Tarso Genro defende que o escolhido seja da facção derrotada. Em 1998, quando perdeu as prévias para Olívio, Tarso recusou-se a integrar a chapa petista, alegando irregularidades na disputa.
A definição do candidato a vice-governador está marcada para ocorrer no próximo domingo, em convenção do partido em que 600 delegados têm direito a voto, mas o presidente do PT estadual, David Stival, propõe que essa decisão seja adiada para 6 de abril.
Serão escolhidos também na convenção petista os candidatos do partido ao Senado. Pleiteiam a indicações a senadora Emília Fernandes, o deputado federal Paulo Paim, o chefe da Casa Civil, Flávio Koutzii, e a presidente do Sindicato dos Professores, Jussara Dutra. O PT tem cerca de 80 mil filiados no estado, dos quais 35. 673 compareceram às urnas.
Caetano se diz cansado da turma da USP mas diz que ela derrubou oligarquias
Até parecia que Caetano Veloso, ao receber ontem a imprensa para a audição do DVD do show “Noites do Norte ao vivo”, não ia, desta vez, falar de política. Começou de mansinho, dizendo que não vinha lendo muito jornal, está distante da TV... e, de repente, confessou que o atual momento político o excita, provoca sentimentos múltiplos...
Cantor exalta a ação dos tucanos no caso de Roseana
Tão múltiplos que, agora, ele se diz indeciso entre Serra, Lula e Ciro. Encontra-se, como sempre, cansado da turma da USP, mas o episódio Roseana Sarney/Jorge Murad o leva a exaltar o legado tucano que, na sua ótica, desenha-se para a posteridade:
— Não se pode negar que a passagem do Fernando Henrique, da gente da USP e do PSDB, esse pessoal que trouxe um tom mais civilizado e moderno, no final das contas derrubou Sarney, Jader e ACM! Estão deixando para trás as antigas estruturas oligárquicas. Termina por ser coerente com a imagem que se fazia desse grupo no início, e que se achou que não ia vingar. Por outro lado, há aquela sede de permanecer no poder... o medo que muita gente tem que o tucanato se transforme num PRI mexicano não deixa de ter fundamento.
Então, raciocina Caetano — que se declara preocupado com a distribuição de renda e vê no hip-hop um movimento revolucionário que vem justamente do celeiro gerador do samba — talvez seja o momento de Lula, que está aí há tanto tempo. Suspense. Será que desta vez é uma declaração de voto? Mas o compositor interrompe o silêncio com novas ponderações:
— Mas é preciso ver se estamos maduros para isso. Se vão se reproduzir aquelas pressões intrapartidárias no PT... E um presidente, para dirigir uma nação, tem que saber digeri-la.
Cantor elogia o sotaque nordestino de Ciro
Ciro Gomes, então, aparece como solução conciliatória. Mas não por muito tempo:
— Poderia votar nele. Fala bem. Gosto dos livros com o Mangabeira Unger. São densos. Se bem que pensadores e líderes políticos historicamente nunca dão certo. Além disso, o Ciro às vezes dá uma de ACM. Só que ele tem um sotaque bonito.
A partir desse momento, dissolve-se a cadeia de pensamento político de Caetano, que passa a se estender sobre sotaques. É a transição para a entrevista coletiva voltar, lentamente, ao centro de seu objetivo. Qual mesmo? Ah, o DVD de “Noites do Norte”...
PSDB diz que Serra não é imperador
BRASÍLIA. O PSDB deu início ontem a uma campanha para derrubar o que chama de mito: que seu candidato à Presidência, o senador José Serra, é o responsável pelas mazelas que se abateram sobre o PFL de um mês para cá. O PSDB está irritado com as acusações de que Serra estaria por trás da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de impor a reprodução nos estados das alianças nacionais e até da operação da Polícia Federal na Lunus, empresa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e do marido, Jorge Murad.
Isso, alegam os tucanos, seria o mesmo que dizer que Serra é um imperador, com ascendência sobre o Ministério Público, a Polícia Federal, a Justiça de Tocantins e até o TSE.
— Lula está equivocado sobre o baixo nível da campanha. E ele pode até colaborar para manter o nível não fazendo propaganda dessa idéia equivocada — disse o presidente do PSDB, José Aníbal.
O secretário-geral da Presidência, Arthur Virgilio, disse que não está havendo guerra de dossiês e que o que há, de fato, é uma ação da Justiça, sem vinculação com a campanha.
O próprio Serra já avisou ao tucanato:
— Não há quem me faça entrar em tititi.
Além disso, o tucano está incomodado com as insinuações de que teria inspirado as recentes decisões do TSE e as investigações sobre Murad. Serra tem sido irônico ao se queixar, com os aliados, dessas acusações:
— Se eu fosse mesmo responsável por tudo o que me atribuem, então todo mundo deveria votar em mim.
— Há uma idéia de que Serra tem poder sobrenatural, mediúnico, de interferir em todas as esferas de decisão. Ele não pode ser responsabilizado pelas ações do Ministério Público, da Justiça, nem por supostos dossiês que sequer sabemos se existem — disse o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).
Por orientação de Jutahy, todo dia um deputado do PSDB cobrará a apresentação do suposto dossiê contra Roseana que, segundo pefelistas, teria sido encomendado pelo secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes. A operação começou ontem.
Previsão de Lula provoca polêmica
BRASÍLIA e SÃO PAULO. A previsão do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de que a campanha eleitoral deste ano poderá ser a mais suja da História do país dividiu cientistas políticos, que lembraram ontem baixarias do passado contra o próprio petista para dizer que o Brasil já teve campanhas de mais baixo nível. Fernando Abrucio, professor de Ciências Políticas da Fundação Getúlio Vargas, diz que a disputa será tão longa e difícil quanto a de 1989 mas que, ao contrário da campanha que elegeu Fernando Collor, agora o denuncismo tem data para acabar. Segundo ele, dentro de no máximo três meses os candidatos terão que deixar de fazer denúncias e se preocupar apenas com propostas, sob o risco de serem comparados a Collor, numa estratégia suicida.
“O denuncismo cansa, não convence o eleitor”
Ele ressaltou que a campanha de 89 foi a mais suja e Lula saiu prejudicado, mas, ao mesmo tempo, nunca teve tanto apoio e união da oposição em torno de seu nome. Ou seja: o denuncismo se torna uma faca de dois gumes, disse.
— Como em 89, essa campanha começou muito cedo e será muito dura. Mas a baixaria não se sustentará porque o denuncismo cansa, não convence mais o eleitor. Com o Collor ficou claro que o denuncismo pode fazer ganhar, mas também que o autor dificilmente governará — diz Abrucio.
Já Francisco Oliveira, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo, filiado ao PT, faz coro com Lula e diz que “os próximos alvos de denúncias” serão os pré-candidatos do PSB, Anthony Garotinho, e do PPS, Ciro Gomes. Lula deve ser mais atacado na reta final da campanha, como em 89, segundo Oliveira.
Os ataques, na previsão de Oliveira, deverão partir do PSDB, mas sempre de forma indireta e nunca assumida pelo senador José Serra, pré-candidato do partido à sucessão.
— O dedo mínimo que o Lula não tem vai virar um dedão capaz de sujar a História do país. Mas eles farão isso como tomam sopa quente: vão começar pelas bordas. Começam pelos candidatos menores e só depois chegam ao Lula — disse Oliveira.
Polarização mais rápida entre PSDB e PT
Para Bolívar Lamounier, cientista político filiado ao PSDB, os dois principais fatos eleitorais do ano — a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de uniformizar as alianças e as denúncias contra a pefelista Roseana Sarney — tornaram a campanha muito tensa e vão apressar a polarização entre Serra e Lula, que estão na frente nas pesquisas. Segundo Lamounier, a polarização precipitada pode ser negativa para ambos. Para o cientista político, grampos e dossiês desestabilizam candidaturas, mas não atingem a maioria dos eleitores.
Ciro Gomes discordou de Lula dizendo que quem dá o tom nas campanhas são os políticos:
— Imundície e sujeira só reforçam o preconceito de que todo político é bandido.
Roseana: “Não faço parte da corriola”
CANTANHEDE, MA. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, cobrou ontem que seus adversários políticos na corrida presidencial também sejam investigados. Num discurso para cerca de mil pessoas no município de Cantanhede, a 150 quilômetros de São Luís, ela disse que só está sendo alvo de ataques porque é uma governadora que não faz parte da “corriola do Planalto”.
— Sou uma governadora do Nordeste, que não tem grupos econômicos fortes por trás, que não faz parte da corriola do Planalto, que só trabalha e que tem 80% de aprovação no estado. O poder se sentiu atingido. Então tinham que fazer uma grande armação. Uma armação ilimitada — disse Roseana do alto de um carro de som, depois de inaugurar uma estrada.
Sempre fugindo das incômodas perguntas sobre a origem do R$ 1,34 milhão apreendido na empresa Lunus de sua propriedade e de seu marido Jorge Murad, Roseana disse que fez um governo sério e honesto.
— É bom que saibam que não vão encontrar nada contra mim. Mas é bom também que vão atrás dos outros porque lá sim vão encontrar muita coisa — afirmou.
Roseana continua disposta a disputar a eleição presidencial, mas em outro discurso, no município de Pirapemas, a governadora acabou se traindo e falou de sua participação na campanha como se fosse passado.
— Graças ao meu trabalho o povo brasileiro tinha me colocado acima de 20% nas pesquisas. Isto é, tinha chances de alcançar se fosse candidata.
Roseana percorreu 180 quilômetros ontem para inaugurar a estrada de 40 quilômetros que custou R$ 9,6 milhões e liga os municípios de Matões do Norte a Pirapemas. No caminho, ela parou cinco vezes para cumprimentar a população que carregava faixas com seu nome.
Oposição apresentará pedido de impeachment
Hoje, o líder da oposição na Assembléia Legislativa, deputado Aderson Lago (PSDB) vai apresentar pedido de impeachment de Roseana. O deputado disse que não acredita que a governadora deixará o cargo em abril.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) deverá analisar, no próximo dia 1, o recurso de Roseana contra a decisão judicial que amparou a operação da Polícia Federal no escritório da Lunus, em que foram apreendidos documentos e R$ 1,34 milhão.
Ciro faz críticas às candidaturas de Lula e Serra em programa de TV
O candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, fez duras críticas aos adversários José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista ao programa “Roda viva”, exibido ontem pela TV Cultura. Ciro afirmou que o PT “não detém a hegemonia moral da oposição” e que Lula está “sendo engordado pela situação” para perder no segundo turno.
Ainda segundo o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda, Serra teve um efeito devastador na base do governo Fernando Henrique.
— O Serra conseguiu, em 60 dias, destruir a coligação que o Fernando Henrique manteve durante sete anos. Se ele for eleito, será péssimo para o Brasil: ninguém consegue governar sendo alvo de tanto ódio — disse Ciro.
Na opinião do presidenciável do PPS, a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), foi irreversivelmente abalada pelas denúncias de envolvimento com fraudes contra a Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia). Ciro disse ainda que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de uniformizar as alianças atingiu seriamente um outro candidato:
— A candidatura do governador Anthony Garotinho (PSB) foi atingida de proa pela decisão do TSE. Sem alianças, a situação do partido fica difícil — analisou o ex-governador do Ceará.
Candidato diz que antigos aliados abandonaram o PT
As críticas ao PT permearam toda a entrevista. Ciro disse que, desta vez, o partido de Lula estará sozinho, já que tradicionais aliados — como o PDT, o PPS, o PSB — “foram embora constrangidos e falando mal do PT”. O ex-governador acrescentou que o PT “é muito menor que Lula”.
— Não dá para o PT malversar o sentimento de oposição do Brasil, sempre dando respostas contraditórias para questões graves — disse.
Ao falar das contradições do PT, Ciro lembrou um episódio ocorrido na madrugada da votação do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello na Câmara, em 1992. Segundo Ciro, ele jantava com os tucanos Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati quando foram chamad os à casa do então vice-presidente Itamar Franco. Ao chegarem lá, Itamar fez um anúncio.
— Ele disse que não iria assumir a Presidência. E justificou contando que o Quércia estava exigindo nomear o ministro da Fazenda e o PT avisara que iria para a oposição. Naquela noite, o Brasil correu o risco de o PSDB também partir para a oposição e o Itamar ficar sem condições de governar — contou Ciro no programa, acrescentando que tanto o PMDB de Orestes Quércia quanto o PT haviam apoiado o impeachment de Collor.
Artigos
Não vai por decreto
Jorge Aquino
Desde janeiro de 2000, o Programa Rio Transplante, órgão da Secretaria de Saúde responsável pelas atividades de captação e distribuição de órgãos e tecidos no Estado do Rio de Janeiro, vem trabalhando com o objetivo de aumentar a identificação de potenciais doadores nas principais unidades hospitalares. Em 1999, a média mensal de notificações de morte encefálica era de 24 potenciais doadores. Em 2000, esse número pulou para 36 notificações/mês. No ano de 2001, a média mensal foi de 39 potenciais doadores.
Outro dado que aponta para o sucesso dessa organização é o aumento das comunicações espontâneas ao Rio Transplante, que em relação às comunicações rastreadas, através de telefonemas a 72 hospitais do estado, aumentou 100%, o que significa que os profissionais estão mais sensíveis à possibilidade de doação de órgãos em suas unidades.
Apesar do aumento do número de notificações de potenciais doadores e dos transplantes, ainda estamos muito longe de reduzir drasticamente o tempo de espera para a realização das cirurgias. As dificuldades que enfrentamos para superar mais esse obstáculo já são conhecidas: a falta de manutenção hemodinâmica do doador e as negativas familiares.
Em agosto de 2000, o Ministério da Saúde publicou a Portaria n 905, que estabelece a obrigatoriedade da existência e funcionamento da Comissão Intra-Hospitalar de Transplante nas Unidades de Terapia Intensiva. Essa medida visa à capacitação e à atuação de profissionais de saúde das próprias unidades hospitalares, tanto públicas quanto privadas, para a identificação e manutenção de prováveis doadores de órgãos e tecidos.
A tecnocracia do poder público legitima e regula práticas sanitárias que trazem em seus dispositivos a transformação estrutural do modelo assistencial, mas não é determinante para a construção de regras e valores que se encontram em nossa formação cultural. A solidariedade presente no processo de doação de órgãos é um valor que deve ser construído e investido permanentemente entre profissionais e toda a sociedade.
Chamam a atenção as recentes críticas que o Rio de Janeiro vem recebendo devido ao seu desempenho no segmento de transplante, como se em outros estados brasileiros as dificuldades não fossem semelhantes. Em São Paulo, estado que faz o maior número de transplantes no país, a porcentagem de exclusão clínica chega a 60% dos motivos de não doação, e a negativa familiar é de 40%. No Distrito Federal, onde há a melhor relação transplante por milhão de habitantes, a exclusão clínica é de aproximadamente 45%, e a negativa familiar de 40%.
Esses dados apontam para o mesmo problema em todo o país: a falta de uma cultura de transplante. Neste sentido, o Programa Rio Transplante está iniciando, mais uma vez, uma estratégia de mobilização e treinamento das comissões intra-hospitalares de transplante e dos profissionais de saúde atuantes em setores estratégicos das unidades hospitalares, tais como: emergência, unidade de terapia intensiva, unidade coronariana, neurologia e neurocirurgia. Iniciamos esta ação nos hospitais de emergência da rede estadual, ao mesmo tempo que se observa o começo da campanha de incentivo à doação de órgãos patrocinada pelo governo do estado.
É importante ressaltar que apesar da necessidade de órgãos para transplante e da angústia de quem está na fila de espera, não podemos abrir mão da seriedade e dos critérios para identificação de prováveis doadores, que envolve desde o diagnóstico de morte encefálica até a observação de condições de viabilidade de órgãos e tecidos para a proteção e respeito às famílias de doadores e também aos pacientes que aguardam um transplante que lhes traga, com segurança, esperança e qualidade de vida.
Entre as ações desenvolvidas para assegurar a estabilidade das atividades de captação e distribuição de órgãos, a Secretaria de Estado de Saúde promoveu o primeiro concurso público do Brasil para uma Central de Captação de Órgãos. Desde dezembro de 2001 o Programa Rio Transplante funciona com uma equipe de profissionais concursados e treinados para atuarem nessa área. Além disso, durante todo o ano de 2001, a coordenação do Rio Transplante trabalhou na consolidação das Centrais Regionais de Busca, principalmente nas regiões sul e norte fluminenses, descentralizando a detecção de prováveis doadores e oferecendo treinamento para profissionais de saúde nessas regiões.
É dever do estado assegurar a transparência e a seriedade das atividades de captação e distribuição de órgãos e tecidos para transplante, sem abrir mão, em momento algum, de sua responsabilidade de prover os meios gerenciais e institucionais necessários para dar acesso a toda população que necessite desse procedimento.
A construção de uma cultura de doação de órgãos depende da organização conjunta de ações governamentais, órgãos de classe, associações de pacientes, imprensa e da sociedade organizada, entendendo o transplante de órgãos como um ato que se inicia na sociedade, na forma de doação, e retorna a ela como qualidade de vida que o transplante proporciona.
Não bastam decretos, portarias e leis para o exercício da cidadania. Precisamos de ações que se traduzam numa mudança de comportamento e na consolidação do direito à vida e à liberdade.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
TSE sem desculpa para a demora
Conflito aberto entre o TSE e o procurador-geral eleitoral, Geraldo Brindeiro. A explicação dada pelo TSE aos partidos, de que a resposta às consultas sobre aplicação da regra de coligações dependia do parecer do procurador deixou Brindeiro extremamente irritado. Só ontem ele recebeu consultas e promete respondê-las ainda hoje para que o tribunal tome logo sua decisão.
— Não posso ser usado como desculpa para o atraso do TSE em esclarecer as dúvidas suscitadas por sua decisão. Se quiserem, dou até parecer oral. E se não quiserem, nem precisam me consultar — dizia Brindeiro ontem.
Na coluna de ontem ele tomou conhecimento do que os partidos vêm ouvindo quando pedem pressa nessa decisão que ditará o rumo de muitos deles. Há até quem dependa dela para decidir se deixa ou não um cargo executivo no próximo dia 5. Como não tivesse recebido pedido algum de parecer, Brindeiro tomou satisfações com o tribunal, que lhe respondeu estarem as consultas a caminho. Às 11h elas chegaram, conta ele.
Além da que foi mencionada, a do PPB, do dia 6 de março, há mais duas. Apresentam perguntas diversas sobre a aplicação da verticalidade das coligações, mas a pergunta que se repete e a todos angustia diz respeito aos partidos que não tenham candidato a presidente nem participem de coligação nacional. Podem se coligar à vontade nos estados ou só com os seus semelhantes? Ou com ninguém, quem sabe? Essa é a questão central neste momento.
O parecer de Brindeiro é coerente com sua posição anterior, contrária ao que foi decidido pelo TSE.
— Continuo achando que a autonomia dos partidos e as particularidades da Federação devem ser respeitadas. Logo, acho indevida qualquer restrição aos partidos que fi carem fora da disputa nacional.
Do esclarecimento dessa dúvida depende o jogo de muitos partidos, até o do PFL, que deverá rever seu projeto depois do que houve com Roseana Sarney. A delonga do TSE parece decorrer da falta de consenso entre os ministros, explicitada logo depois da adoção da simetria entre coligações nacionais e estaduais. Sepúlveda Pertence, voto vencido, declarou que para ser coerente o TSE deverá exigir que os partidos sem candidato a presidente também obedeçam à regra da monogamia partidária. Mas essa imposição seria a gota d’água, poderia desencadear no Congresso uma reação mais agressiva contra o TSE, por intermédio da aprovação de um decreto legislativo anulando a primeira decisão. Aécio Neves, presidente da Câmara, tem segurado os mais exaltados advertindo sobre a inconveniência desse conflito de poderes.
Mas pelo menos com a Procuradoria-Geral ele já existe. O TSE tem sessão hoje à noite. Não será por falta do parecer de Brindeiro que adiará a decisão.Hoje em Haia o Brasil não só votará contra a tentativa americana de destituir da presidência da Opaq o embaixador Maurício Bustani. Aliciará insatisfeitos com os EUA para sua posição.
Promessas de água suja
Se no discurso que agora deve fazer amanhã o senador José Sarney disser tudo o que anunciam seus amigos, devemos mesmo nos preparar para uma campanha difícil. No triste vaticínio de Lula, agora candidato de fato do PT, será a mais suja da história eleitoral recente. As preliminares indicam pelo menos que todos usarão armas pesadas.
Os tucanos e seu candidato enfrentam acusações diversas de jogo bruto: uso de arapongas, grampos, monitoramento da ação policial no Maranhão e tráfico de dossiês. Sobre o falado dossiê contra Roseana Sarney, ontem mesmo o PSDB pôs em prática sua tática. Todo dia um deputado irá ao microfone da Câmara pedir que o dossiê seja apresentado. Ontem o escalado por Jutahy Júnior foi B. Sá (PI). Hoje será outro.
Se fizeram tudo de que são acusados, é de esconjurar. Mas se o PFL e os aliados de Roseana fizerem o que prometem, teremos um banho de lama. Discurso, ameaça de CPI ou de não votar a CPMF são nada diante das vinganças conjuradas. No justo momento, virá a parte da oposição.
Vitória dupla
Para Lula e a direção do PT, a derrota do governador Olívio Dutra por Tarso Genro nas prévias do Rio Grande do Sul será sinal da hegemonia dos moderados sobre os radicais. Ainda que a decisão tenha sido ditada por razões locais, como o desgaste de Olívio.
Fortalecido pela vitória expressiva numa disputa em que não pediu voto nem foi a debates, Lula parte agora para a busca de aliados e mesmo da improvável unidade das oposições. Mas já começou, no partido, a corrida pelo lugar de vice em sua chapa. O senador Eduardo Suplicy acha que a votação obtida o credencia. Cristovam Buarque devolveu ao partido a candidatura a senador, alegando a perseguição do TRE do Distrito Federal, que insiste em sua inelegibilidade por propaganda de suas políticas quando governador. Está aí o governo federal celebrando os oito anos de FH. Mas esse lugar não é para petistas, é para os aliados.
O TRATAMENTO que o governo dispensará ao PFL daqui para a frente dependerá do comportamento do partido na votação de hoje, da CPMF. Mensagem de FH nesse sentido chegou aos interessados em cargos e emendas.
Editorial
AO TRABALHO
As pesquisas de opinião pública não costumam ser benevolentes com políticos. Em geral, eles são considerados pessoas egoístas, apenas preocupadas com projetos pessoais ou partidários, sem levar em conta a realidade do cidadão comum e, em última análise, do país.
Muitos são os casos e situações que terminaram por sedimentar, na opinião pública, essa má imagem de uma categoria da qual depende o próprio funcionamento da democracia. Agora, por exemplo, temos um Congresso praticamente paralisado pelo “problema do PFL”. Pode-se entender o trauma provocado no partido pela crise que acometeu seu projeto de candidatura própria e viável à Presidência da República. Mas daí a socializar os efeitos do problema partidário, e ameaçar a votação de itens importantes da agenda parlamentar, vai uma imensa distância.
A prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) é emblemática. Polêmica, criticada por propagar-se pela economia de maneira perniciosa, a CPMF, queiramos ou não, tornou-se essencial para fechar as contas públicas. Cada semana sem arrecadação representa R$ 400 milhões a menos no Tesouro Nacional — ou R$ 80 milhões por dia útil. Equivale, a CPMF, a cerca de 10% do total de tributos federais. Não é pouca coisa. Até que se faça uma verdadeira reforma tributária, o país terá de conviver com as distorções desse imposto disfarçado de contribuição.
Todos sabem disso, inclusive o PFL. Como sabem, também, que a emenda constitucional de prorrogação da CPMF, por não ter sido aprovada ontem em segundo turno de votação na Câmara, já está com um dia de atraso no calendário de tramitação regimental do Congresso. Isto é, no mínimo, já custou R$ 80 milhões ao Tesouro; que, sem dúvida, irá buscar esse dinheiro de outra forma -— aumentando provavelmente o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e retendo repasses para estados. E no final da linha desse novelo está um cidadão que será forçado a pagar por uma desavença político-partidária. Pagará de várias maneiras. Não apenas porque poderá haver descompassos no repasse de recursos públicos, mas também pelo fato de também atrasar a votação de outros projetos importantes. Por exemplo, de leis contra a criminalidade e para a flexibilização da CLT. Se não mudar essa postura, o PFL pode ser acusado de chantagista e, ainda, perder argumentos que tenha eventualmente a seu favor nos recentes conflitos com o governo.
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03/19/2002
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