Tasso Jereissati: Governo age com deboche diante da crise financeira global



O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ocupou a tribuna nesta quarta-feira (8) por duas vezes - antes e depois da ordem do dia - para criticar duramente as declarações que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito sobre a crise financeira internacional em entrevistas à imprensa. Ele lamentou que a atual crise financeira venha sendo tratada em "tom de deboche, na brincadeira e na base da bravata" pelo governo brasileiro. Durante quase três horas na tribuna, o senador foi aparteado por diversos senadores.

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- A crise chegou ao Brasil de maneira violenta. O dólar foi valorizado em 40% na ultima semana. As conseqüências de um acontecimento como esse para o Brasil são gravíssimas e imprevisíveis - afirmou.

No câmbio, disse Tasso Jereissati, a desvalorização "é muito maior do que o maior dos pessimistas já imaginou". Segundo ele, "o crédito secou, não existe mais crédito, não existe mais dinheiro para ser emprestado nem pelos bancos nem dinheiro para ser captado pela maioria dos bancos.

Para Tasso, "ou o presidente Lula não está entendendo a gravidade desse problema ou, simplesmente, está levando com uma certa irresponsabilidade as questões que envolvem a economia brasileira e podem refletir nos próximos anos".

O senador do PSDB lembrou que o Brasil está inserido em uma economia globalizada, o que significa que, se o país em um determinado momento foi beneficiado pela prosperidade mundial, também poderá ser arrastado para baixo, em função das turbulências que atingem os mercados financeiros e de capitais em todo o planeta.

- Agora já não se trata mais de discutir se isso vai acontecer ou não. Já está acontecendo. A crise definitivamente chegou ao Brasil. Não é mais o momento para discussões, para fantasias, para ficar na televisão levando na brincadeira, fazendo gaiatice, quando a crise, que é muito grave, chegou ao Brasil. O dólar chegou a R$ 2,50, o que é insustentável para muitas empresas, para muitos bancos, para o consumo e para a capacidade de pagamento da maioria da população brasileira - afirmou.

Tasso Jereissati também criticou o apelo ao consumo feito por Lula à população. Na avaliação do senador pelo Ceará, a atitude do presidente da República pode prejudicar a economia e desequilibrar o orçamento doméstico das famílias brasileiras.

Em seu discurso, o senador criticou ainda o projeto do Executivo que prevê a recuperação de bancos em dificuldades, enviado à Câmara pelo governo. Ele comparou a proposta ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), adotado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, e disse que a iniciativa é prejudicial porque não exige transparência na aplicação dos recursos públicos.

- Ele não exige transparência, não exige a troca do banqueiro, não exige que o banco que necessite desses recursos caia fora do mercado. Ele simplesmente autoriza que recursos sejam destinados aos bancos que venham a ter problema sem nenhuma regra e sem nenhum programa definido. Então, o Proer do Lula é muito pior - avaliou.

Para Jereissati, o ideal seria que o atual governo reeditasse o Proer adotado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, com alterações eventuais para enfrentar a crise financeira internacional.

Paulo Sérgio Vasco / Agência Senado



08/10/2008

Agência Senado


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