Távola diz que classe política está se tornando escrava da mídia e das pesquisas



O processo político das campanhas eleitorais está saindo do controle dos partidos e passando para as mãos dos veículos de comunicação de massa e dos institutos de pesquisa de opinião pública, que estão ditando as regras. O alerta foi feito nesta segunda-feira (26) pelo líder do governo, senador Artur da Távola (PSDB-RJ), ao comentar discurso sobre o mesmo tema feito na última sexta-feira (23) pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ele defendeu o retorno a um modelo mais simples de programa, onde o candidato se apresente sobre um fundo neutro e fale. "Estamos vivendo como servos dessa relação entre mídia e pesquisa", afirmou Távola.

Segundo o senador, os políticos estão sendo convencidos a trocar o horário eleitoral de 20 minutos por spots de 20 ou 30 segundos, sob o pretexto de serem "menos chatos" e não provocarem queda na audiência. Ele observou, no entanto, que os spots retiram o conteúdo do discurso político e igualam os candidatos a produtos de consumo como o sabão. Távola disse que esse processo leva, inevitavelmente, ao populismo, acrescentando que isso só acontece porque o sistema de governo no Brasil é o presidencialismo.

- Isso é uma falácia do presidencialismo. No parlamentarismo isso não aconteceria porque o primeiro ministro sai da articulação da classe política - explicou.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) assinalou que mesmo num modelo simples de programa, com o candidato em frente a uma câmera de TV, ainda assim ganharia aquele que tivesse maior capacidade histriônica, um ator profissional. Requião sugeriu a criação de "uma espécie de Roda Viva", composta por entrevistadores escolhidos de forma independente que sabatinariam os candidatos. Ele disse ainda não entender como foi possível burlar a lei eleitoral para transformar um programa de 20 minutos em spots de 20 ou 30 segundos.

O senador Lauro Campos (PT-DF) concordou com Távola e lembrou ter escrito livro (Entre a Mentira e o Silêncio) em que previa a falta de conteúdo político na próxima campanha eleitoral.

- Receio que os candidatos comecem a apresentar receitas de doces e quitutes por absoluta falta de idéias - disse.

O senador Edison Lobão (PFL-MA) concordou com a necessidade de aperfeiçoamento da lei eleitoral e assinalou desconhecer qualquer candidato, eleito ou não, que não tenha se submetido à mesma lei e às mesmas regras que os outros candidatos.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que se for analisado tudo o que se diz sobre corrupção na política, percebe-se "que tudo começa lá na campanha política". Simon defendeu o financiamento público das campanhas eleitorais, o parlamentarismo como sistema de governo e programas mais simples com o candidato diante da câmera, sem nenhum efeito especial e cenas externas.

Távola disse ainda que considera um absurdo que as pesquisas de opinião voltadas para a campanha presidencial do próximo ano não tragam o nome de Simon. Ele lembrou que Simon é um político com currículo extenso, que faz parte da história política brasileira, é pré-candidato declarado e deveria ser tratado com mais respeito.

26/11/2001

Agência Senado


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