TÁVOLA ELOGIA AULA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA SOBRE ÉTICA



O senador Artur da Távola (PSDB-RJ) elogiou hoje (dia 17) a aula magna sobre Ética ministrada pelopresidente Fernando Henrique Cardoso para alunos de pós-graduação em Ciência da Reabilitação, na semana passada, no Hospital Sarah Kubitschek.

Para o senador, Fernando Henrique abordou um dos aspectos mais difíceis vividos pelos governantes: a relação entre dois pólos éticos que se chocam - o do pensamento e o da responsabilidade. A aula do presidente, assinalou, trouxe para o debate político uma linguagem nova que deve servir de reflexão para o Senado e os políticos de modo geral.

A questão central abordada pelo presidente, destacou Artur da Távola, foi a ação de um governante, resultado de sua vontade, do que deseja fazer, e do que é possível fazer dentro da realidade do país. Para o senador, Fernando Henrique falou mais como professor do que como presidente, demonstrou que está em plena lucidez e que exerce o poder com "visão pragmática".

- Imaginem um presidente com a história de Fernando Henrique Cardoso e a realidade de um país como o nosso. Há uma luta permanente entre a necessidade de o presidente ser compreendido e todas as distorções existentes em nossa realidade. Grande parte da população e também da mídia fica presa a esses aspectos polarizados - disse.

Artur da Távola citou alguns trechos da aula do presidente, repetindo pensamentos do sociólogo Max Weber e também do psicanalista Gustav Jung. Numa das reflexões feitas na palestra, o presidente disse:

- Em política, quem proclama o que quer, perde. Em certos momentos, o homem de Estado não deve dizer tudo que sabe, sob pena de prejudicar o Estado, a nação e o povo.....Isto significa que, na ética da política, ambigüidade e mentira são partes constituintes? Não. A ambigüidade, talvez, a mentira, não.

Em outro trecho, citado por Artur da Távola, o presidente assinalou: "A dificuldade de quem tem conhecimento e poder é que ele tem, simultaneamente, convicções e uma ética de responsabilidade, do ponto de vista do exercício da política. Para uns, isto é uma tormenta; para os que têm força interior e capacidade intelectual é um desafio".

O senador disse que Fernando Henrique foi corajoso ao abordar essas questões e que "é um privilégio para o país ter um presidente dessa envergadura". É muito fácil julgar a todo instante as ações de políticos e governantes, destacou Artur da Távola, acrescentando que é bom lembrar que há toda uma realidade rica, complexa e dinâmicaque precisa ser levada em conta.

No caso brasileiro, o senador disse que a maior intolerância contra a ação do presidente parte justamente dos setores que se dizem de esquerda - a chamada esquerda estatizante. Os avanços, que ele destacou como ações na pasta da educação, estão partindo de setores provenientes do pensamento liberal, que compõem o governo.

- É fácil calar diante do esforço que está sendo feito para o fortalecimento do ensino básico do que compreender o sentido progressista dessas ações. É mais fácil excitar pessoas marcadas pela fome e pelas necessidades. O presidente do PT já falou de ação mais violenta - lembrou o senador.

Há políticos dominados por verdades, são os polarizados, que permanecem com suas verdades absolutas. E há os dialéticos, que não abrem mão de suas verdades mas vão adaptando, aos poucos, aquilo que pensam com a realidade e o processo político. Esses não são onipotentes, explicou. Artur da Távola repetiu trecho da aula do presidente, em que falou:

- Política é a arte da união do possível com o necessário.

Em aparte, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) qualificou de "interessante" a aula do presidente, mas observou que essas reflexões sobre dizer ou não a verdade foram feitas por Fernando Henrique logo após ter concluído uma polêmica reforma ministerial.

- Eu fiquei preocupado. O presidente parecia estar em dificuldade de revelar uma verdade muito importante ao povo brasileiro, no momento em que completava uma reforma ministerial. Parecia que ele não podia revelar os fatos. Mas acho que Fernando Henrique teria muito mais condições de defender seu governo se revelasse toda a verdade sobre pressões políticas e econômicas. Ele teria maior resguardo e força para fazer as mudanças - afirmou o senador petista.

Evitando confrontar-se com Suplicy, Artur da Távola disse apenas que o senador do PT enquadra-se no discurso do presidente e está dentre aqueles que detêm toda a verdade. O senador do PSDB disse que o império e a arrogância do saber também foram pontos abordados por Fernando Henrique, e que os políticos perderam a noção da pedagogia.

- Política não é só luta pelo poder, é talvez a mais alta forma de pedagogia - afirmou Artur da Távola. Ele lembrou que o próprio PT deixou de lado a defesa do parlamentarismo para apoiar o presidencialismo em virtude da candidatura de Lula à presidência da República. E completou: "Hoje o presidencialismo é o regime que tanto criticam".

O presidente concluiu sua aula fazendo um apelo à criatividade, lembrou Artur da Távola.

- Fernando Henrique citou o acaso e a criatividade para a ação do homem político. Aqui, a política se aproxima da arte. Infelizmente a oposição não ajuda o governo a superar nossos problemas - disse.

17/04/1998

Agência Senado


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