TÁVOLA: "EM MATÉRIA DE DIREITOS HUMANOS, NINGUÉM DÁ LIÇÃO A ESTE GOVERNO"



O presidente Fernando Henrique Cardoso, porque respeita o Estado de Direito, toma decisões com a prudência e cautela exigidas por seu cargo e, quanto mais grave e complexo seja o problema, "é característico do presidente o caráter colegiado de suas decisões", afirmou nesta segunda-feira (dia 14) o senador Artur da Távola (PSDB-RJ).- Em matéria de direitos humanos, ninguém dá lição a este governo - disse Távola, ressaltando que foi este mesmo governo que responsabilizou o Estado por mortes decorrentes de torturas ocorridas em dependências policiais no período militar.O senador discordou da interpretação de que os problemas em torno da nomeação do novo diretor-geral da Polícia Federal seriam devidos ao fato de que Fernando Henrique Cardoso não toma as providências exigidas pelo cargo que ocupa. No presidencialismo, em que há uma concentração de funções nas mãos de uma única pessoa, "melhor a prudência, uma conselheira adequada", ponderou o senador. Para Távola, o presidente está sendo incompreendido porque "a tecitura da política, nos dias de hoje, acompanha a tecitura da mídia", daí a cobrança de decisões imediatistas. A seu ver, é preciso confiar em que, confirmado o fato de que João Batista Campelo teria participado de sessão de tortura, "as providências serão tomadas", como o foram no caso do médico militar que, indicado para uma diretoria do Exército e também denunciado como torturador, teve a indicação retirada. Em aparte, Jefferson Péres (PDT-AM) contestou que tenha atribuído falta de autoridade ao presidente da República, pois afirmou "que ele passa essa imagem". Como a simbologia do poder é importante, é preciso que Fernando Henrique Cardoso "tome medidas que afastem essa imagem", recomendou. Tião Viana (PT-AC) reiterou que o impasse político criado na base partidária do governo "corrói a imagem do presidente". Pedro Simon (PMDB-RS) concordou que ninguém pode dar aulas ao governo em matéria de direitos humanos, "mas o caso da Polícia Federal é diferente". Cabe ao presidente nomear o diretor-geral, "mas o assunto passa pelo ministro da Justiça", disse. Este, continuou, teria sugerido um nome ao presidente, que não decidiu sobre a nomeação durante 45 dias. Luiz Otávio (PPB-PA) salientou que a PF está dividida em pelo menos três grupos, daí o teor da entrevista concedida pelo ex-diretor-geral Vicente Chelotti ao Jornal do Brasil de domingo, considerada "grave" também por Simon. Maguito Vilela (PMDB-GO), por sua vez, atribuiu a morte de um motorista de kombi goiano ao "poder de indecisão" característico do presidente e do PSDB. Governar é antecipar, prevenir, segundo afirmou. Iris Rezende (PMDB-GO) cumprimentou Távola por defender o presidente das críticas e por fazê-lo no plenário do Senado, o espaço público adequado a essa discussão. Para ele, FHC "é um homem prudente, sobretudo equilibrado" e governar, a seu ver, exige principalmente equilíbrio. "A prudência de Fernando Henrique me conforta, pois indica que seu governo não comete desatinos", disse.Heloísa Helena (PT-AL) insistiu em que, no caso da nomeação para a PF, não há uma suposta vítima e um suposto torturador: "Há uma vítima e há um torturador".

14/06/1999

Agência Senado


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