Trabalho da PF foi dificultado por trocas trimestrais de delegados, acusa deputado



Os delegados da Polícia Federal Euclides Rodrigues da Silva Filho e Paulo Roberto Falcão Ribeiro informaram, na CPI do Banestado, que o trabalho de investigação do esquema de evasão de divisas por meio de contas CC-5 a partir da cidade de Foz do Iguaçu foi muito prejudicado pelo rodízio de delegados encarregados do caso desde a abertura do primeiro inquérito, em 1997. Segundo eles disseram nesta quinta-feira (17) em audiência na CPI, há limite de tempo e de diárias para que um funcionário permaneça fora de sua área de lotação. Euclides, o delegado encarregado do primeiro inquérito, afirmou que sempre teve que lutar contra a má vontade do Banco Central em fornecer documentos e informações.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) classificou como "vergonhosos e humilhantes" para o Brasil o volume do crime que se cometeu, de dezenas de bilhões de dólares, por um tempo prolongado, e o descaso com que tudo foi tratado pelas autoridades brasileiras.

- É evidente que o rodízio de delegados encarregados do caso era uma forma de abafar tudo, de impedir a investigação - disse Simon.

O deputado federal Sérgio Miranda (PCdoB-MG) disse que cerca de 200 delegados se alternaram nos inquéritos, permanecendo cada um apenas 90 dias no trabalho.

- Um assunto de tamanha complexidade, com o volume de dinheiro envolvido, exigia que um delegado que viesse do Norte do país, por exemplo, e não conhecesse o inquérito, levasse dois meses para se inteirar de tudo. Quando estivesse pronto para levar à frente a investigação, seria substituído. Ou seja, a intenção era não permitir o bom curso da investigação - acusou.

Euclides Rodrigues da Silva Filho disse que só em 1997 o Banco Central encaminhou ao Ministério Público denúncia sobre evasão de dinheiro do Brasil pelas contas CC-5. O Ministério Público pediu à Polícia Federal abertura de inquérito. Em março de 1998, havia 25 correntistas no Banestado acusados de evasão. Houve indiciamento de 17 pessoas, entre laranjas, agenciadores, contadores, gerentes e diretores dos bancos.

- Quando saí de Foz do Iguaçu, havia 300 inquéritos em andamento - afirmou o delegado. A equipe encarregada do caso calculou que seriam necessários mais de 2 mil inquéritos para apurar todo o esquema.

Os delegados disseram ainda que as investigações concentram-se na agência Banestado de Nova York, mas que já se sabe que o dinheiro retirado ilegalmente do Brasil seguiu para cerca de 90 países, inclusive Líbano, Paquistão, Bolívia, Uruguai e Ilhas Cayman. O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), presidente da CPI, disse que pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que peça o envolvimento do Itamaraty no trabalho de investigações, e obteve do ministro a promessa de que isso será feito.



17/07/2003

Agência Senado


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