Tramitação do projeto que tipifica crimes cibernéticos gera polêmica



VEJA MAIS

Com a proposta de criar uma figura nova na legislação brasileira e possibilitar a punição dos crimes cibernéticos, o Projeto de Lei da Câmara 35/2012 também teve, por acordo de líderes, assegurada a tramitação independente à reforma do Código Penal (PLS 236/2012), sob análise de uma comissão especial de senadores. Apesar de tratar de um tema previsto no texto do novo código – os crimes pela internet - a proposta chegou a ir a Plenário esta semana, mas acabou tendo a votação adiada por falta de consenso para sua aprovação.

Relator da matéria na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), o líder do governo no Senado, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), é franco defensor da aprovação imediata da proposta.

- Não acho justo a população brasileira ficar sem legislação específica sobre crimes cibernéticos enquanto a reforma do código está em andamento no Senado, o que pode levar mais alguns meses – defendeu, com o argumento de que, uma vez aprovado o novo código abrangendo o tema, a lei de crimes cibernéticos seria automaticamente revogada.

O senador afirmou que os crimes cibernéticos são um problema de enorme gravidade para o país e para o cidadão. Nas transações por meio dos sites dos bancos ou caixas eletrônicos, por exemplo, foram registradas em 2011 cerca de 1,5 bilhão de fraudes, representando 58 bilhões de operações financeiras. Daí a urgência da criação imediata de uma legislação que coíba essas práticas.

Polêmica em Plenário

Ao chegar em regime de urgência ao Plenário do Senado na quarta-feira (29), a tramitação distinta e antecipada da proposta desagradou parte dos senadores.  O presidente da Comissão Especial que analisa a reforma do Código Penal, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) foi um deles. Na avaliação de Eunício, o país já ficou sem uma legislação específica para crimes na internet por mais de uma década e não seria um grande problema esperar alguns meses para que a nova legislação possa ser discutida com atenção e incorporada ao nono Código Penal.

Autor do requerimento que deu origem à reforma do Código Penal, o senador Pedro Taques (PDT-MT) também discordou da tramitação independente da proposta. Taques disse não ter entendido a razão de o PLC 35/2012 ter sido aprovado na CCT e colocado com urgência na pauta do Plenário. Para ele, a matéria deveria estar na Comissão Especial do Código Penal, visto que trata de assunto correlato, como prevê o Regimento Interno do Senado.

No dia da votação, senadores como Aloysio Nunes (PSDB-SP), Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e Tomás Correia (PMDB-RO) também se manifestaram contrariamente à tramitação da matéria separadamente.

- Os crimes cibernéticos são muito graves, é verdade, mas os crimes contra a vida também são muito graves, os crimes contra a pessoa em geral são muito graves. Os crimes contra o meio ambiente e os crimes contra a dignidade sexual também são muito graves. E isso não é razão para que nós comecemos agora a desfazer aquilo que começa a ser concatenado na comissão do Código Penal – alertou Aloysio Nunes.

Já Ferraço, integrante da comissão que analisa a reforma do código, classificou a situação como “constrangedora”. Para o senador, os projetos estariam sendo desapensados no varejo, o que poderia enfraquecer a Comissão Especial.

Também são contrários a leis independentes os juristas que elaboraram o anteprojeto de reforma do Código Penal. Os magistrados defenderam, em audiência pública no Senado há duas semanas, que a elaboração de leis penais emergenciais, muitas vezes logo após a repercussão midiática de crimes, funciona mais como satisfação à sociedade do que como solução real para os problemas.

Tentativa de acordo

A fim de minimizar a controvérsia, o senador Eduardo Braga procurou o senador Eunício Oliveira para chegar a um acordo sobre a votação do projeto. Braga disse à Agência Senado estar otimista quanto ao entendimento dos integrantes da Comissão Especial sobre a importância de se antecipar a criação da lei. Ele também conversou com o presidente José Sarney e acredita ser possível manter o projeto na pauta de votações do Senado durante o próximo esforço concentrado, marcado para a segunda semana de setembro.



31/08/2012

Agência Senado


Artigos Relacionados


Projeto que tipifica crimes cibernéticos é retirado de pauta

Aprovado na CCT, projeto que tipifica crimes cibernéticos deve ir a Plenário com urgência

Lei de crimes cibernéticos tramitou em urgência, mas não sem polêmica

Azeredo defende projeto sobre crimes cibernéticos

Senado aprova projeto que define crimes cibernéticos

Projeto do governo não deve interferir na tipificação dos crimes cibernéticos