Trechos da entrevista do governador Mário Covas após anúncio de investimentos da Basf no Estado
Última Parte
Última Parte (Continuação da resposta sobre acusações ao Governo) Covas: Não sei por quê. É o que eu vejo. É o que eu abro o jornal e leio. As notícias de hoje estão assim: “Promessa de Covas para o Metrô não foi cumprida”. Ninguém lembra que o programa de Metrô, que se chama Pitu, transforma as linhas de estrada de ferro – que eram uma bagunça, que matavam 300 a 400 pessoas por ano e que hoje não matam ninguém – foram transformadas em Metrô de superfície. Só aqui se inauguraram seis estações novas. Ontem tinha um artigo bem interessante, dizia assim: “o desenvolvimento do seqüenciamento do Xilella, feito pela Fapesp, com cientistas de São Paulo, com dinheiro garantindo por lei e sem influência política é que deu esse resultado”, ou seja, o Governo de São Paulo não tem nada com isso, nada. Se uma coisa deu bom resultado então a gente não tem nada com isso. Tudo bem, ninguém foi me pedir para ser candidato. Eu é que quis sair candidato, portanto tenho de agüentar isso. Mas olha, eu não agüento de graça, não. Tenho o meu limite. Eu briguei muito na vida, estou com 70 anos de idade, de decência e dignidade, para ver certas coisas. Mas como a gente não consegue provar isso. E vão mudando as gerações com quem a gente fala. Repórter: O senhor acha que é pessoal? Covas: Eu não sei se é pessoal ou não. Sei que acontece com alguns. Comigo acontece, com o presidente Fernando Henrique acontece. Acontece tanto que arrumaram US$ 280 milhões para a gente numa conta no exterior. Eu até digo que se tiver e alguém quiser ficar com a metade da minha parte, pode ir lá buscar. Eu dou a metade, basta me trazer a outra metade porque aí eu, pelo menos, fico com 50%. Mas esse assunto rendeu, rendeu, rendeu, falaram, falaram, falaram. Volta e meia sai nos jornais sobre a tal conta que temos lá fora, os US$ 280 milhões. É duro a gente ver isso. É duro, pelo amor de Deus. E aí vem que 51% dos policiais matam pelas costas. Digo em nosso favor, a Folha de São Paulo sabe disso porque a Secretaria de Segurança Pública é que deu esse relatório. No passado vocês não tinham acesso nem à Secretaria, muito menos aos dados. Repórter: Foi determinada alguma medida para mudar isso ou isso é normal? Covas: O fato de estarem fazendo esse levantamento tem como objetivo justamente mudar isso. Não é razoável esse número, 51% das pessoas serem mortas pelas costas ... Repórter: Vai ser modificada alguma coisa? Covas: Hoje se tem treinamento para que o policial seja preparado para acertar em partes do corpo que não sejam letais. Até o treinamento de tiro é feito dessa maneira, não é coronel Olavo? (dirigindo-se ao Chefe da Casa Militar, Cel. Olavo Sant’anna.) Eu nem sabia disso, foi ele quem me falou há algum tempo. Repórter: O que faz então com que 36% dos tiros sejam na cabeça? É o que diz esse mesmo relatório? Covas: Bom, também depende do que esteja ocorrendo. Onde é que o bandido atira? Não dá para falar hoje, no clima de insegurança que a gente tem, não dá para falar em violência policial. De qualquer maneira, 51% de morte pelas costas é uma coisa que se precisa ver. E vocês sabem por quê? Porque hoje tem Ouvidoria da Polícia, criada por mim, transformada em lei e com indicação do ouvidor pela Assembléia Legislativa. E a Secretaria fez as estatísticas e dá para vocês dizendo: olha aqui, nós precisamos consertar isso, é o que nós apuramos. E damos conhecimento público do que apuramos. Agora, você tem toda razão. Está errado. Não dá para manter essa situação em que 51% das pessoas morrem pelas costas, nem que estivessem fugindo, não é razoável isso. Se está fugindo, dá um tiro nas pernas, se não houver outra alternativa. Agora, é obvio que se esta estimativa foi feita é exatamente para que a gente possa mudar uma situação dessas. O que eu tenho a favor do Estado e da Polícia é que isso só hoje é conhecido, e a gente pode avaliar que isso é um escândalo, sem saber se no passado eram 90% mortos pelas costas? Porque hoje a Polícia faz isso e torna público, porque hoje o Governo é transparente. Mas o Governo transparente é isso, é07/17/2000
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