Tucanos afirmam que FHC sabia de suspeita de propina
Tucanos afirmam que FHC sabia de suspeita de propina
Ricardo Sérgio nega ter pedido comissão na venda da Vale
O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, confirmaram ontem à Folha o teor das declarações que deram à revista "Veja" deste fim de semana, segundo as quais uma suposta tentativa de cobrança de propina na privatização da Vale do Rio Doce, realizada em maio de 1997, chegou ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1998, sem que nenhuma atitude fosse tomada pelo governo para esclarecer o caso.
Os pivôs da história são os empresários Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil à época da privatização, e Benjamin Steinbruch, líder do consórcio comprador da Vale.
Segundo a reportagem, o ex-diretor do Banco do Brasil, responsável no passado pela arrecadação de fundos de campanha do atual presidenciável tucano José Serra, teria cobrado R$ 15 milhões -ou US$ 15 milhões, conforme a versão- para organizar o consórcio vencedor da privatização da Vale.
De acordo com a revista, a informação teria partido de Steinbruch, que denunciou a suposta tentativa de achaque a Mendonça de Barros e a Paulo Renato, conforme admitem ambos.
Procurado ontem pela Folha, Steinbruch não confirmou mas também não negou a história. "Não posso dizer nada agora."
Também procurado pela Folha, Ricardo Sérgio negou as informações, por meio de assessores, e não quis se pronunciar sobre o caso. À "Veja", Ricardo Sérgio disse: "É mentira grosseira e leviana".
A cobrança, que não teria sido paga, teria ocorrido pelo trabalho desenvolvido pelo ex-diretor do BB na organização dos fundos de pensão estatais em torno do consórcio vencedor, o que garantiu maior concorrência ao leilão e fez com que o preço de venda da Vale chegasse a R$ 3,3 bilhões.
Em entrevista à ""Veja", Mendonça de Barros diz que, avisado sobre o caso, relatou o episódio a FHC. ""Informei quem deveria informar: o presidente Fernando Henrique." ""O presidente falou: "Eu não sei nada disso e acho que você fez muito bem em não se envolver nesse assunto."'
Segundo a "Veja", assessores da Presidência afirmaram que FHC disse não se lembrar de ter tido esse diálogo com Mendonça de Barros. Ontem, até o fechamento desta edição, o Planalto não havia se pronunciado sobre o episódio.
Mendonça de Barros afirma também não ter se envolvido no caso por ele não estar relacionado à sua área de atuação.
Já a assessoria do ministro da Educação disse que ele não tomou providências sobre o assunto porque não houve crime, já que o dinheiro, segundo Steinbruch, não teria sido pago.
A Paulo Renato, o empresário disse que a suposta propina teria sido pedida ""em nome de tucanos". ""[Ele" Nem disse, tampouco eu perguntei [quais tucanos"", disse Paulo Renato à revista.
O ministro afirmou que, de acordo com Steinbruch, ao ouvir que Ricardo Sérgio estaria agindo em nome de integrantes do PSDB, o empresário preferiu checar a informação com o presidente.
""Por meio de um emissário, Steinbruch" me disse ter feito contato com Fernando Henrique. Como resposta, ainda segundo suas palavras, escutou que o governo não tinha nada a ver com aquilo e que ele não deveria pagar", disse Paulo Renato.
Steinbruch procurou Mendonça de Barros depois de ter discutido o caso com a diretoria da empresa, conforme a Folha apurou.
Os diretores da empresa teriam impedido
que o caixa da Vale fosse usado para o pagamento da comissão a Ricardo Sérgio. A informação foi confirmada à Folha por duas pessoas próximas a Steinbruch na época da privatização.
Segundo essas pessoas, o empresário estaria sendo pressionado a pagar a comissão que teria sido acertada na formação do chamado consórcio Brasil, integrado pela Vicunha, de Steinbruch, com apoio dos fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil, e Petros, da Petrobras, além do Bradesco.
No período que antecedeu a privatização, foram formados dois consórcios para a compra da Vale. Um era composto por Votorantim e Anglo American. O outro foi formado mais tarde por Steinbruch, que conseguiu o apoio do Bradesco após o banco ter saído do outro consórcio.
Os dois consórcios disputavam o apoio dos fundos de pensão, principalmente a Previ. Na ocasião, Ricardo Sérgio tinha grande influência sobre a Previ. O fundo era comandado por Jair Bilac, na época presidente do fundo, e João Bosco, então diretor de investimentos. Bosco era considerado braço direito de Ricardo Sérgio na Previ e responsável por indicações sobre onde o fundo deveria investir. Os dois haviam trabalhado juntos no Banco do Brasil.
Insinuação de caixa-dois é "maluca", diz Serra
O pré-candidato do PSDB à Presidência, senador José Serra, classificou como "maluca" a insinuação de que sua campanha ao Senado em 94 foi beneficiada por doação ilegal do empresário Carlos Jereissati.
"A insinuação de que houve doação não registrada para minha campanha, oito anos atrás, é inteiramente maluca. As doações feitas na época estão registradas no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Qualquer um pode comprovar isso", disse à Folha.
De acordo com a revista "Veja", o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio, um dos encarregados da arrecadação de fundos para a campanha do ex-ministro ao Senado, teria conseguido uma doação de R$ 2 milhões do empresário Carlos Jereissati.
Irmão do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), Carlos é um dos proprietários da empresa de telefonia Telemar e tido como amigo de Ricardo Sérgio. ""Foram quatro ou cinco prestações, não me lembro exatamente", declarou o empresário à ""Veja". Procurado pela Folha, Jereissati não foi encontrado.
Segundo a revista, na lista do TRE de São Paulo onde estão registradas as contribuições oficiais para Serra à época aparecem apenas três doações do empresário. Nenhuma nesse valor.
Conforme os registros do TRE, teriam sido feitas três contribuições a Serra em nome de empresas do grupo La Fonte, pertencente à família de Carlos Jereissati: uma no dia 11 de julho, de R$ 15 mil, outra em 9 de agosto, de R$ 30 mil, e uma terceira em 27 de setembro, de R$ 50 mil.
Não é a primeira vez que esse tipo de acusação é feita em relação a um integrante do alto tucanato. Em novembro de 2000, a Folha demonstrou que pelo menos R$ 10 milhões foram parar num caixa-dois em 1998 e, no mínimo, outros R$ 8 milhões também deixaram de ser declarados ao TSE em 1994, pelo comitê eleitoral das campanhas de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. O expediente é ilegal pela legislação brasileira.
Conduta de FHC e ministros será investigada
O Ministério Público Federal vai investigar se houve improbidade administrativa na conduta do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro Paulo Renato Souza (Educação) e do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.
À luz do direito penal, a improbidade guarda paralelo com a prevaricação. Mas, nesse caso, uma investigação sobre FHC e Paulo Renato só poderia ser feita pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
Segundo o procurador Luiz Francisco de Souza, FHC, Paulo Renato e Mendonça de Barros tiveram notícia de um crime e nada fizeram acerca disso. "Não importa -e não vou entrar nesse mérito- se houve pagamento de propina. Houve o pedido do dinheiro, que é crime. Depois, eles souberam e se calaram", afirmou.
A investigação será aberta por conta da reportagem publicada ontem pela revista "Veja". Segundo relatos da publicação, Paulo Renato e Mendonça de Barros teriam ouvido do empresário Benjamin Steinbruch, que comprou a Companhia Vale do Rio D oce, que o empresário Ricardo Sérgio de Oliveira teria pedido a ele R$ 15 milhões para reunir em seu benefício o poder financeiro dos fundos de pensão na privatização.
Ricardo Sérgio e o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira, que já são investigados pela Procuradoria, agora terão sua conduta analisada em um novo procedimento, cujo alvo é avaliar se eles cometeram crime de corrupção ativa.
Segundo Luiz Francisco, os relatos apresentados na revista sugerem que EJ seria o braço político da manipulação dos fundos, enquanto Ricardo Sérgio operaria as manobras financeiras para favorecer determinados negócios.
"Isso reforça a nulidade da privatização da Vale e das telefônicas e reforça as investigações sobre a atuação de Ricardo Sérgio e EJ nesses negócios e nas arrecadações de caixas dois para campanhas políticas e agora com o conhecimento do tucanato", diz.
Ricardo Sérgio é apresentado pela reportagem como arrecadador de fundos para as campanhas de José Serra e FHC.
Na semana passada, Luiz Francisco recebeu um dossiê intitulado "Os Porões da Privatização", que enumera quais seriam as principais irregularidades nas privatizações. O conjunto foi entregue ao procurador por um emissário do banco Opportunity.
PSDB vê campanha "infamante" contra Serra
Presidente do partido diz que Ricardo Sérgio não fala por tucanos; Serra e FHC não se manifestaram
O presidente do PSDB, o deputado federal José Aníbal (SP), diz que o empresário Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, não fala em nome de tucanos. Ele vê campanha "infamante" contra o partido e o pré-candidato ao Planalto, José Serra.
Anibal afirma que o presidente Fernando Henrique Cardoso não mandou investigar o suposto pedido de propina porque era "um rumor". Diz que Serra não desistirá da candidatura. Por último, separando o pré-candidato de seu antigo arrecadador de recursos, declara que Serra e Ricardo Sérgio não têm relações faz tempo.
Até as 13h de ontem, Serra e FHC não se manifestaram sobre a reportagem da revista "Veja" segundo a qual o ex-diretor do BB pediu 15 milhões de reais ou de dólares para ajudar o empresário Benjamin Steinbruch a formar o consórcio que comprou a Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.
Descolamento
Segundo o presidente do PSDB, Ricardo Sérgio, arrecadador de recursos de campanhas políticas de FHC (94 e 98) e de Serra (90 e 94), "não tem autoridade moral para falar em nome de tucanos".
Aníbal afirma que "nunca o PSDB pediu propina" para favorecer empresários com interesses no governo. "Esse sr. [Ricardo Sérgio" negou ter feito pedido de propina em nome de tucanos, mas, se o fez, pode perfeitamente ter mentido", diz Aníbal, referindo-se à reportagem de "Veja"
Segundo Aníbal, FHC não mandou investigar o suposto pedido de propina "porque se tratava de um rumor".
Indagado se o fato de em 1998 o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, ter relatado a FHC a existência do suposto pedido, citando que ouvira a história de Steinbruch, não exigiria providências, Aníbal afirmou:
"O presidente não podia agir em cima de rumores, em cima de boataria. Sempre que teve indício de algo, mandou apurar com todo o rigor. Nunca um governo investigou tanto e combateu tanto a corrupção. Por que a palavra desse Mendonça vale mais que a palavra do presidente? O que o presidente diz? Que não se recorda de ter tido esse diálogo com o Mendonça. Pronto. Esse Mendonça de Barros é um celerado. É um lingueta, já falou essa história de Steinbruch para todo o lado."
Campanha
"Existe uma campanha infamante de certos setores da política e da mídia contra o PSDB e o Serra. Há uma recusa desses setores em aceitar que o PSDB faz governo limpo, sem mancha moral. Esses não aceitam que o projeto de modernização do país avance", diz o presidente do PSDB.
Segundo Aníbal, Serra não será substituído pelo ex-governador do Ceará Tasso Jereissati ou pelo presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), devido a eventuais pressões desencadeadas pela repercussão da reportagem da revista. "Serra é o candidato do PSDB e ponto. Não será substituído. O Serra é honesto."
"Que apresentem provas e saiam de insinuações sobre a conduta moral e ética de dois homens públicos exemplarmente honestos como o Fernando Henrique e o Serra", disse Aníbal.
O presidente do PSDB afirma que Ricardo Sérgio já saiu do governo e que, se tiver feito algo errado, deverá ser investigado. "Não temos nenhuma complacência com pedido de propina ou qualquer outra forma de corrupção", declarou.
Aníbal foi enfático ao ressaltar que o pré-candidato e o ex-diretor do BB não têm mais relações. Indicado para o governo pelo ex-ministro da Casa Civil Clóvis Carvalho, Ricardo Sérgio recebeu aval de Serra para ocupar uma diretoria no banco.
"Repito: o Serra não tem relações com esse sr. Ricardo Sérgio". Ele participou do governo, já saiu e não tem procuração para falar em nome de tucanos, se é que falou."
Aníbal diz desconhecer a suposta contribuição de campanha de R$ 2 milhões feita pelo empresário Carlos Jereissati que não teria sido registrada oficialmente, o que seria um caixa dois.
"Desconheço. Se alguém provar algo, Serra terá como explicar. O nosso candidato tem uma vida marcada pela honestidade. Isso é algo que jamais vão tirar dele", afirma o presidente do PSDB.
Presidente e presidenciável adotam silêncio
O presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, decidiram não se manifestar imediatamente sobre a suposta propina pedida pelo empresário Ricardo Sérgio de Oliveira para tentar dar uma resposta coerente e que não caia no dia seguinte.
Um membro do governo comentou que a cautela de FHC e de Serra é uma tentativa de evitar o "efeito Roseana Sarney", numa referências às seguidas versões que se desmanchavam no dia seguinte a respeito do R$ 1,34 milhão apreendido na empresa da ex-governadora.
FHC deverá tentar dar uma explicação para não ter mandado investigar Ricardo Sérgio depois que Luiz Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações em 1998, lhe dera conhecimento da suposta propina.
Por enquanto, a resposta tucana é que FHC não podia agir baseado em um rumor.
Um ponto crucial para Serra será a explicação para os supostos R$ 2 milhões doados pela empresário Carlos Jereissati à sua campanha para o Senado. Não há registro dessa quantia na prestação de contas oficial.
Logo, ou Carlos Jereissati mentiu, ou Ricardo Sérgio não repassou todo o dinheiro doado, ou a campanha teria tido caixa dois.
Ou seja, FHC e Serra deverão se preparar para responder com maior detalhe as dúvidas, sob pena de apresentarem versões tão frágeis como as da ex-governadora pefelista no episódio Lunus.
PT pede CPI e prepara ação contra pré-candidato
O presidente do PT, José Dirceu, disse que o suposto pedido de comissão feito por Ricardo Sérgio de Oliveira durante a privatização da Companhia Vale do Rio Doce "é um caso de polícia" e defendeu a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o caso.
"O Brasil tem dois instrumentos: um procedimento investigatório do Ministério Público e o Congresso Nacional, que deve fazer uma CPI. É gravíssimo porque envolve ministros e ex-ministros", disse Dirceu. O presidenciável petista, Luiz Inácio Lula da Silva, não quis comentar o assunto ontem.
Dirceu disse temer que o governo federal dificulte a investigação do caso. "Eu temo que a história fique de novo embaixo do tapete e a história não seja investigada."
O partido prepara uma série de ações para apurar as atividades de Ricardo Sérgio.
A principal é a retomada na coleta de assinaturas para instalação da CPI das Privatizações, desta vez com novo foco. Em vez de apurar o tema de forma genérico, o PT propõe que a investigação se restrinja à atuação da área internacional do BB e do papel dos fundos de pensão nas privatizações.
Aproveitando o racha na antiga base governista, o PT espera convencer parlamentares de PMDB, PFL e PPB a incluir seus nomes no requerimento. Faltam ainda cerca de 30 assinaturas na Câmara e 5 no Senado para reunir o mínimo necessário.
"Pretendemos aprovar uma CPI mista, de imediata instalação. Focar a investigação é o melhor caminho", disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha.
Mas o senador José Eduardo Dutra (PT-SE) admite que a criação de uma CPI a poucos meses das eleições é muito difícil. "Eu sou cético. Não sei se o Congresso terá disposição para investigar."
Outra ação dos petistas será uma representação na Justiça Eleitoral pedindo a abertura e investigação das contas da campanha de José Serra para o Senado em 1994. Segundo reportagem da "Veja", o atual presidenciável teria recebido, com intermediação de Ricardo Sérgio, o equivalente a R$ 2 milhões do grupo La Fonte, do empresário Carlos Jereissati. O valor não consta da prestação de contas do tucano.
O PT também fará representação no Ministério Público Federal pedindo a investigação das privatizações e da ação de Ricardo Sérgio no processo.
O líder do PPS na Câmara, João Herrmann (SP), disse que o partido não vai propor a criação de CPI. "O PPS vai deixar a lama para o Ministério Público e o Judiciário."
Deputados de SP usam despesas particulares para justificar verba
Cada parlamentar recebe R$ 13.150 por mês
Deputados estaduais de São Paulo usam despesas particulares para justificar os R$ 13.150 da verba pública que recebem por mês para manter seus gabinetes na Assembléia. A prática, considerada abusiva pelo Ministério Público Estadual, é aprovada pela Casa.
Em fevereiro deste ano, o presidente da Assembléia, Walter Feldman (PSDB), anunciou que todos os deputados estariam obrigados, pela primeira vez, a prestar contas dos gastos públicos. A principal mudança é que, no lugar de receberem a verba integral no início do mês, os deputados teriam seus gastos restituídos mediante notas fiscais.
A Casa, no entanto, abriu um leque de opções que permite ao parlamentar incluir em suas despesas públicas contas particulares de funcionários, como gastos com celular e combustível, e até aluguel de escritórios políticos, incluindo condomínio, água, telefones, gás e energia elétrica.
Ao permitir o pagamento das despesas de imóveis políticos -definidos pela Assembléia como "projeção do gabinete"-, o parlamentar tem a permissão para manter escritórios em qualquer lugar do Estado.
Isso porque na regulamentação aprovada pela Casa não consta especificação quanto à localização do imóvel, o que dá brecha para que deputados tenham escritórios ao lado da Assembléia.
O promotor de Justiça da Cidadania Saad Mazloum, que investiga gastos dos deputados paulistas, disse que servidores não podem ter contas particulares pagas pelo erário. "Qualquer juiz, promotor ou oficial de Justiça paga suas contas de telefone e de combustível. Não existe nenhum outro Poder onde isso não ocorra."
O promotor solicitou à Assembléia um informativo sobre o ato regulador das despesas que podem ser abatidas como verba de gabinete. Os dados ainda não foram enviados pela Casa. "Se houver irregularidade, cabe uma ação civil pública por improbidade."
A pedido da Folha, outros três promotores analisaram os documentos, mas pediram para não ser identificados porque não atuam no caso.
Segundo eles, a verba de gabinete pode ser usada apenas para despesas públicas decorrentes do exercício do mandato, e nunca para custeios particulares.
Artigos
O verdadeiro risco Brasil
Clóvis Rossi
SÃO PAULO - Transcrevo a seguir trechos de e-mail recebido de leitor que mora nos Estados Unidos, mas cujo nome sou forçado a omitir por se tratar de um imigrante ilegal.
Sua história: "Quando tomei a decisão de vir para os EUA, a minha situação era a da maioria dos brasileiros: desempregado, casado, milhares de contas a pagar e a pressão aumentando todos os dias. Minha mulher tem curso superior e tinha de trabalhar em três turnos diários para compensar a minha situação".
A virada: "Hoje, vivemos uma vida maravilhosa. Eu, mesmo nunca tendo estudado inglês, estou me virando bem e já tenho o meu próprio negócio, já saldei minhas contas no Brasil, tenho empregados, carros, cartões de crédito, minha esposa está grávida, enfim, muito mais do que eu sempre sonhei em 38 anos de vida e nunca consegui".
O medo: "Então por que o medo e a angustia? Simplesmente porque me encontro no meio dos milhões de indocumentados que moram aqui e que podem ser despachados de volta para seus respectivos países. Até aí, tudo bem, eu sabia que isso fazia parte do jogo. Mas, no meio do caminho, teve um 11 de setembro e a situação mudou, as regras do jogo também, o cerco aos imigrantes se fechou e está cada vez mais apertado".
O paradoxo: "Tive de escutar de uma advogada que não existe a menor possibilidade de um brasileiro na minha situação conseguir asilo, permanência ou trabalho regular pelo simples fato de o Brasil ser um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Não está em guerra com ninguém, tem um povo ordeiro e trabalhador".
O risco Brasil: "Como você bem disse, a Palestina vive uma guerra às claras, e com motivo. O Brasil vive no engano de se alegrar ao perder um olho e não perder a vida. E eu sonho acordado com o dia de ter os meus papéis americanos, não para poder ir ao Brasil, mas para não precisar sair daqui".
Colunistas
PAINEL
Peso tucano
O Planalto e o PSDB avaliam que a acusação de que Ricardo Sérgio teria tentado extorquir R$ 15 mi na privatização da Vale não será o caso Lunus de Serra, destruindo sua pré-candidatura. Mas gera suspeitas sobre o tucano que poderão prejudicá-lo nas pesquisas e reforçar o barulho em favor de sua substituição.
Arestas internas
O caso Ricardo Sérgio reforça a impressão de que os "inimigos" de Serra estão no próprio tucanato. Paulo Renato e Mendonça de Barros confirmaram a denúncia. Carlos Jereissati, irmão de Tasso, coloca lenha na fogueira ao tratar de um dinheiro de campanha que sumiu.
Dia seguinte
A publicação das acusações contra Ricardo Sérgio, que foi caixa de campanha de Serra, fez o PMDB colocar um pé no freio nas negociações para apoiar o tucano. O partido vai esperar a repercussão do caso antes de fechar a coligação. A reunião prevista para terça entre tucanos e peemedebistas pode ser adiada.
Segunda opção
Se o PMDB ficar mesmo com José Serra e Henrique Alves (PMDB-RN) for confirmado para a vice do presidenciável tucano, o governador do Rio Grande do Norte, Fernando Freire (PPB), será o candidato da família Alves no Estado.
Desejo pefelista
Questionado na semana passada pelo senador Bornhausen (PFL-SC) se aceitava apoiar José Serra (PSDB), o deputado Thomaz Nonô (PFL-AL) reagiu com ironia: "Está louco? No [navio" Titanic, eu não quero suíte nem no primeiro andar!".
Imagem externa
O núcleo agrário da esquerda no Congresso está preparando um dossiê com denúncias sobre a maquiagem de números da reforma agrária para ser entregue à FAO, da ONU. O objetivo é criticar FHC onde ele mais detesta: os organismos internacionais.
Disputa polarizada
A lista de 2002 dos cem parlamentares mais influentes do Congresso, realizada pelo nono ano pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), reproduz a disputa presidencial: PT e PSDB lideram entre os partidos, com 23 e 19 nomes, respectivamente.
Profissional liberal
O Diap revela que, entre os cem parlamentares que se destacaram, a maioria é de advogados (26). Somente 12% dos mais influentes estão na categoria "empresários". Para o Diap, isso indica que "os agentes econômicos preferem financiar representantes" a disputar mandatos.
Telefone público
Cinco senadores tiveram seus celulares clonados ao mesmo tempo: Eduardo Suplicy (PT-SP), Roberto Requião (PMDB-PR), Siqueira Campos (PSDB-TO), Marina Silva (PT-AC) e Moreira Mendes (PFL-RO). Suplicy é campeão no quesito: seis clonagens desde janeiro de 2001.
Ondas cariocas
A equipe da Telebrasília que atua no Senado identificou a origem da clonagem de todos os cinco celulares dos senadores: Rio de Janeiro. Os parlamentares querem agora saber se isso pode indicar também grampo.
Óbvio esquecido
Miguel Reale Junior (Justiça) diz que a redução da violência entre os jovens -a taxa de homicídios passou de 30 (em 1980) para 52,1 (em 2000) em cada grupo de 100 mil habitantes -passa obrigatoriamente pela prevenção. "Medidas repressivas não bastam", diz.
Problema regional
O Pará é um dos Estados em que PSDB e PMDB enfrentam as maiores dificuldades para fechar a aliança. Jader Barbalho (PMDB) temer perder prestígio. José Aníbal deverá encontrar-se (fora do Pará) com o governador Almir Gabriel (PSDB) para tentar resolver o impasse.
TIROTEIO
Do ex-governador do MT Dante de Oliveira (PSDB), defendendo que Serra adote um discurso mais identificado com FHC na campanha presidencial:
- A única chance que o Serra tem de vencer é colar nos feitos do governo FHC e mostrar que irá avançar. Se ele quiser disputar votos no campo da oposição, estará liquidado.
CONTRAPONTO
Sinceridade à mesa
Na campanha presidencial de 1998, o candidato do PPS, Ciro Gomes (CE), teve um encontro com o representante do Partido Verde, Alfredo Sirkis (RJ), no restaurante do hotel Ca'd'Oro, em São Paulo, para tratar do apoio do PV à sua candidatura.
Após alguma conversa, Sirkis revelou a Ciro que o partido já havia definido apoiar o candidato. No entanto, decidira que ele, Sirkis, deveria ser o vice de Ciro.
O ex-governador do Ceará, surpreendido com a notícia, começou a falar sobre as responsabilidades de um vice.
- Sirkis, e se me acontecer alguma coisa, se houver um infortúnio e você tiver de assumir a Presidência? Você estaria preparado para administrar um país?
Sirkis hesitou por instantes e, por fim, comentou, entre gargalhadas:
- Não se preocupe, Ciro. Você não vai ganhar mesmo a eleição presidencial...
Editorial
LULA E OS FUNDAMENTOS
Houve mudança de humor nos mercados financeiros, o que levou o dólar a nova alta e pressionou o índice Bovespa para baixo, tudo embalado por relatórios pessimistas de bancos estrangeiros.
A incerteza eleitoral explica em parte as apreensões dos investidores. O mais forte candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, registra ganhos nas pesquisas eleitorais. Enquanto isso, o "anti-Lula" ainda não surgiu, diferentemente do que ocorreu nas duas eleições que consagraram Fernando Henrique Cardoso.
O risco econômico associado à incerteza política seria muito menor, entretanto, fossem sólidos os fundamentos da economia brasileira. O longo ajuste ultraliberal aprofundado por FHC provocou uma fragilidade econômica, fiscal e financeira que se tornou ainda mais aguda num cenário de crise internacional.
Dizendo-se sempre a favor de modernizar a economia e estabilizar a taxa de câmbio, as equipes se sucederam no Banco Central, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, bateu o recorde de permanência no cargo. Mas o apego a uma mesma receita foi insuficiente para dar solidez e sustentação aos fundamentos.
Na última batalha retórica contra analistas e organismos estrangeiros, o presidente do BC, Armínio Fraga, tentou descartar a tese de que a dívida externa brasileira é preocupante; FHC disse que o Brasil é uma espécie de ilha de tranquilidade. Preocupa o Banco Mundial que a dívida externa brasileira represente 10% do total dos débitos dos países emergentes. Fraga argumenta que a dívida é de "só" 40% do PIB.
Há outros indicadores do preocupante endividamento externo, incentivado pelo governo federal para fazer perdurar a sensação do real forte. Um deles é o que relaciona a dívida externa às exportações, esboçando a capacidade de o país captar dólares sem aumentar a dívida externa nem depender de privatizações e investimentos diretos. O passivo externo líquido - soma da dívida externa e do estoque de investimento estrangeiro, deduzidas as reservas cambiais e os investimentos e créditos de brasileiros no exterior- representava 394% das exportações em 1994. Essa relação atingiu, em dezembro de 2001, os 712%. As reservas internacionais, que eram 28% desse passivo em 1995, chegaram no ano passado a apenas 8,6%.
Uma lição da crise cambial é que não basta desvalorizar para exportar mais. O real perdeu valor, mas os saldos comerciais vêm sobretudo da contenção das importações. FHC anunciou a meta de US$ 100 bilhões de exportações, a ser atingida em 2002. Em abril, o montante das vendas externas foi de US$ 56 bilhões (acumulado de 12 meses). Sem exportar o suficiente, o país não pode crescer para não importar demais. O governo segura o crescimento com juros estratosféricos. E não há desenvolvimento possível com juros escorchantes e fragilidade fiscal.
Está em questão a política econômica centrada no otimismo quanto à liberalização dos mercados globais. As ilusões desse modelo camuflaram a precária base da política econômica sob FHC. Com Lula ou sem Lula, o próximo governo estará aprisionado num modelo inadequado do ponto de vista econômico e financeiro.
A percepção dessa incerteza estrutural tem levado bancos e investidores a subir a guarda.
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05/05/2002
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