Turbulência no ninho tucano









Turbulência no ninho tucano
O ninho tucano está em pé de guerra. O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, reagiu ontem com indignação às cobranças que lhe foram feitas pela cúpula do PSDB e disse não reconhecer autoridade no presidente do partido, José Aníbal, para criticá-lo. Aníbal afirmou, no sábado, que Paulo Renato fora leviano ao dizer à revista “Veja” que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira teria cobrado propina na privatização da Companhia Vale do Rio Doce, em nome de tucanos. O presidente do PSDB condenou a atitude de Paulo Renato e cobrou por que o ministro não se interessou em saber que tucanos seriam esses. Segundo o ministro, a versão da propina lhe foi contada pelo empresário Benjamin Steinbruch.

— Não fiz nada de errado. Escutei uma história e confirmei que escutei. Queriam que eu mentisse? Não reconheço autoridade no José Aníbal para me criticar nem para fazer comentários a meu respeito — disse Paulo Renato.

O ministro chegou a anunciar que soltaria uma nota, mas recuou no fim do dia. Aníbal evitou dar continuidade ao bate-boca, mas estava disposto a também soltar uma nota para responder, caso Paulo Renato não desistisse da idéia. Os dois já protagonizaram uma disputa pela candidatura do PSDB ao Senado por São Paulo. Sem apoio do partido, o ministro acabou desistindo e resolveu permanecer no governo.

Ministro diz que não esperava mal-estar
Paulo Renato disse a amigos e assessores que não esperava que as suas declarações à “Veja” fossem repercutir tão mal no PSDB. Ele comentou ainda ter achado muito estranho que Steinbruch tenha relatado à imprensa, quatro anos depois do fato ocorrido, que tinha confidenciado a ele e a outros o episódio com Ricardo Sérgio. Paulo Renato reafirmou que não levou o assunto ao presidente, como fez o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, porque considerou o fato irrelevante, já que a propina não fora paga.

A cúpula do PMDB, por sua vez, confirmou apoio à candidatura do tucano José Serra, mesmo diante das denúncias contra Ricardo Sergio, seu tesoureiro na campanha ao Senado em 1994. Segundo a reportagem de “Veja”, Ricardo Sérgio teria arrecadado junto a um dos donos da Telemar, Carlos Jereissati, R$ 2 milhões para a campanha de Serra.

— O grave nessa história não é a questão do Serra. A honra dele não foi atingida. O grave mesmo é a intrigalhada tucana. Nós optamos por Serra pelos seus valores morais e intelectuais e não será um mero conjunto de suposições que vai fragilizar nossa convicção de que ele é o candidato com melhores condições de exercer o cargo executivo mais alto do país — disse ontem o presidente do Instituto Ulisses Guimarães, Moreira Franco (PMDB-RJ).

PMDB manterá calendário
Em fase de negociações para a indicar o vice na chapa de Serra, o PMDB tem dito que não tem pressa nessa escolha. O candidato e a cúpula do PMDB não estavam se afinando. Enquanto Serra defendia os nomes da deputada Rita Camata (ES) e do senador Pedro Simon (RS), o partido aposta no deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

— Esse episódio não muda o calendário das eleições. O PMDB não pode ficar sujeito à pesquisas de opinião ou a percalços de campanha. O partido decidiu aliar-se ao PSDB em função dos programas e projetos defendidos por José Serra — defendeu o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima.


Diamantes dos cinta-larga vão para o exterior
CACOAL, Rondônia. Boa parte do diamante extraído dentro da reserva Roosevelt, dos índios cinta-larga, está sendo contrabandeada para os Estados Unidos, Canadá, alguns países da Europa e Israel. A Polícia Federal descobriu a conexão internacional depois de prender, há dois meses, os israelenses Yair Asiss e Royi Menahem Riger, que estariam comprando diamante em Cacoal e Pimenta Bueno para lapidar e, depois, revender o material no exterior.

A PF suspeita que outros estrangeiros estejam atuando na região. A extração de minério em área indígena é ilegal.

— Os prejuízos são enormes. Além de perder o diamante, a União deixa de arrecadar os impostos — disse o delegado Márcio Valério, da Polícia Federal.

Israelense foi preso com 44 pedras tiradas de reserva
Yair Asiss foi preso no dia 25 de fevereiro em Pimenta Bueno, em companhia dos brasileiros Carlos César Manhas, Francisco Sales Santana e Paulo Henrique dos Santos. O grupo estava com 44 pedras de diamante extraídas, segundo a PF, da reserva Roosevelt. Pelas investigações iniciais, Asiss trocou cerca de US$ 100 mil numa casa de câmbio do Rio de Janeiro e, com a ajuda de Manhas, estava fazendo negócios com garimpeiros que invadiram a reserva dos índios cinta-larga.

Autoridades israelenses já solicitaram a deportação de Asiss. Mas a Polícia Federal se opõe ao pedido e defende que Asiss fique detido em Porto Velho até o fim da apuração do caso. Ele não tem endereço fixo no Brasil.

Desde que foi preso, Asiss responde a inquérito por receptação de material roubado. Duas semanas antes do flagrante, a Polícia Federal prendeu no noroeste de Rondônia Royi Menahem, que também estaria negociando diamantes com os garimpeiros.

Royi foi indiciado por receptação de produto de origem ilícita. Porém, como mora em Curitiba e tem um filho brasileiro, foi solto e terá direito a responder ao inquérito em liberdade. Segundo Márcio Valério, a venda de diamantes para estrangeiros é facilitada por Manhas.

PF suspeita do envolvimento de ex-senador com garimpo
A PF também abriu inquérito para apurar a denúncia de que o ex-senador Ernandes Amorim (PRTB) está incitando os garimpeiros expulsos de Roosevelt a voltar à reserva. A polícia suspeita que Amorim tenha interesses financeiros no garimpo.

O inquérito foi aberto depois que Amorim foi flagrado numa reunião de garimpeiros em 24 de abril, em Espigão do Oeste. Candidato ao governo de Rondônia, ele teria orientado um de seus advogados a dizer aos garimpeiros que, se quisessem, poderiam retornar ao garimpo na reserva.

A partir daí, a reocupação do garimpo voltou a crescer, apesar do bloqueio montado pela Polícia Federal, com a ajuda das polícias Civil e Militar, nas principais entradas da reserva indígena.

— Estamos num ano eleitoral e alguns políticos tentam tirar proveito do garimpo. Mas não vamos permitir que se cometam ilegalidades — disse o superintendente da PF em Rondônia, Marcos Moura.

Onze caciques enriqueceram com garimpo ilegal
O garimpo ilegal dentro da reserva de Roosevelt transformou 11 dos caciques da tribo cinta-larga em barões do diamante, conforme foi publicado em reportagem de O GLOBO de ontem. Com vastos poderes sobre uma legião de mais de três mil garimpeiros, os caciques têm o controle das máquinas de extração e uma fortuna em pedras.


Vereador que votou contra Marta pode ser suspenso
SÃO PAULO. O diretório do PT de São Paulo decide hoje se aceita ou não o recurso do vereador Carlos Giannazi para anular sua expulsão do PT. A punição fora determinada pelo diretório municipal e causou uma crise na administração da prefeita Marta Suplicy. Para tentar evitar que o assunto atrapalhe candidatos petistas nas eleições, dirigentes do partido cogitam suspender o vereador, e não expulsá-lo.

O destino do vereador está nas mãos dos 61 integrantes da executiva estadual. Giannazi, que é diretor de escola municipal, foi expulso em 16 de abril por não seguir a orientação do diretório. O partido determinara que os vereadores aprovassem o projeto de lei de redução de 30% para 25% do orçamento do município destinada à área de educação. Giannazi discordou da proposta, alegando que o projeto era contrário ao programa do PT, que sempre defendeu os 30%.

— O P T não pode ter um discurso na oposição e outro no governo. Marta prometeu em campanha aplicar 30% em educação e não cumpriu. O partido condenou o ex-prefeito Celso Pitta por investir verba da educação em política social. Esse será o meu argumento — afirmou Gianazzi.

Deputado afirma que a expulsão será anulada
Segundo o deputado estadual Wagner Lino, a expulsão deverá ser anulada:

— Giannazi foi afastado antes de ser julgado pelo diretório municipal. No máximo, haverá uma suspensão.

— Espero que esta história de punição acabe logo. O episódio é desgastante até para as disputas do José Genoino e do Lula — completou Giannazi.

A tentativa de expulsão provocou uma confusão no PT. No dia em que o diretório se reuniu para discutir o assunto, a sede do partido, na Vila Mariana, foi invadida por 300 pessoas, que quebraram móveis e vidros, além de agredir o secretário municipal de Transportes, Carlos Zarattini, e o vereador João Antônio.


Garotinho vai em busca dos votos do Nordeste
Preocupado com seu desempenho no Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do Brasil, onde estão cerca de 29,5 milhões dos cerca de 110 milhões de eleitores do país, o pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho, começa hoje, em Salvador, uma ofensiva sobre os votos nordestinos durante todo o mês de maio.

Uma pesquisa do Ibope, feita entre os dias 18 e 21 de abril, mostra que Garotinho, que tem 16% das intenções de voto em todo o país, tem 12% na região.

Lula é o favorito também entre os nordestinos
No Nordeste, seus adversários no PSDB e no PPS, José Serra e Ciro Gomes, têm percentuais semelhantes aos nacionais: respectivamente 17% e 10%. Segundo a pesquisa, pela média nacional, Serra tem 18% das intenções de voto e Ciro, 11%. Só o petista Luiz Inácio Lula da Silva tem mais votos na região do que no resto do país. Lula tem 39% no Nordeste contra a média de 35%.

Além de iniciar a semana na Bahia, Garotinho, segundo assessores, vai passar praticamente toda a semana que começa em 13 de maio em campanha pelas capitais nordestinas. Sua agenda prevê visitas a São Luiz (MA), Fortaleza (CE), Teresina (PI) e Natal (RN).

Esta será a segunda investida de Garotinho pelo Nordeste. Em janeiro e fevereiro, o ex-governador do Rio — que, na época, tinha apenas 5% das intenções de voto na região — deu prioridade à região. Assessores de Garotinho acreditam que as visitas são produtivas para a campanha. Um dos exemplos citados é o de um showmício gospel feito em Vitória da Conquista, na Bahia, em fevereiro. Depois da participação no evento evangélico, os índices de Garotinho na região subiram.

Nas visitas, o ex-governador dá entrevistas nas rádios e jornais locais e inaugura as sedes regionais do partido, que estão sendo estruturadas para dar ajudar na campanha nacional. A estratégia do governador também prevê o lançamento de candidaturas em todos os estados. Mesmo sem grande viabilidade eleitoral, algumas dessas candidaturas têm como objetivo garantir ao partido espaço nos horários eleitorais regionais da TV.

Ciro fará palestra na universidade de Columbia
Enquanto Garotinho visita o Nordeste, o ex-ministro Ciro Gomes vai dar hoje uma palestra na Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos.

Em São Paulo, o Diretório Nacional do PT realiza o primeiro briefing do porta-voz da campanha de Lula, André Singer. Este será o primeiro de uma série de encontros semanais com a imprensa para que Singer fale sobre os principais assuntos relacionados à campanha e forneça a agenda do candidato. Segundo Singer, neste primeiro encontro os assuntos previsto para ser comentados são as avaliações do risco da economia brasileira feitas e a política de alianças do PT.


PL gaúcho discorda de aliança com PT
A executiva do PL no Rio Grande do Sul divulgou ontem uma nota anunciando não concordar com a aliança do partido com o PT. Segundo a nota, a coligação fará o PL implodir em diversos estados e beneficiará apenas os petistas. No texto, assinado pelo presidente estadual do PL, deputado federal Paulo Gouvêa, pelo presidente do diretório metropolitano, Valdir Caetano e pelo pré-candidato ao governo do estado, Aroldo Medina, os liberais defendem o apoio ao ex-governador Anthony Garotinho, candidato do PSB à Presidência da República.

Segundo o texto, “o PL gaúcho não está sozinho nesta trincheira”. A nota cita que em Santa Catarina, Pernambuco, Espírito Santo e Acre os liberais também discordam da aliança, por não querer “abrir mão de sua liberdade estadual, princípios éticos e morais para se aliar com um partido oportunista que se diz dos trabalhadores”.

Liberais dizem que petistas são “amigos de ocasião”
No documento, os liberais gaúchos também classificam o PT de “amigos de ocasião, inimigos da fé, da propriedade privada e do empresariado, parceiros de guerrilheiros narcotraficantes colombianos e amigos de ditadores como Fidel Castro”.

A nota também critica o governo do petista Olívio Dutra, sem citá-lo. Os liberais afirmam que a criminalidade cresce sem parar no Rio Grande do Sul e que a proposta deles é “resgatar as empresas que foram embora do estado nos últimos oito anos, além de garantir a todos os cidadãos deste estado um sistema de segurança pública eficiente e modelar que resguarde a vida e o patrimônio das pessoas”. A nota diz ainda que o interesse do PT no PL é “pessoal e meramente eleitoreiro”.

Ciro também enfrenta problemas no estado
Foi também no Rio Grande do Sul que começou um problema que ameaça outro pré-candidato a presidente de esquerda — Ciro Gomes, da Frente Trabalhista (PDT, PPS e PTB). O ex-governador Antônio Britto foi indicado para disputar o governo do estado representando a frente, mas seu nome foi vetado pelo PDT. O veto a Britto criou um impasse ainda não resolvido.


Ex-ministro acusa Steinbruch de tentar fazer chantagem com queixa
O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros prometeu ontem, no site da revista “Primeira Leitura”, fazer novas revelações sobre a história divulgada pela revista “Veja”, de que o empresário Benjamin Steinbruch o procurou para reclamar do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, por ele ter ido cobrar uma comissão de R$ 15 milhões. Em entrevista ao “Jornal Nacional anteontem, Mendonça de Barros já havia dito que teve a impressão de que o empresário lhe contara a história na esperança de conseguir apoio do governo em uma briga contra seus sócios, para não divulgar publicamente o caso.

Na versão que dará sobre o caso, Mendonça de Barros afirma que Ricardo Sérgio extrapolou suas funções como diretor do Banco do Brasil e acusa Steinbruch de querer obter o monopólio do aço no Brasil.

Mendonça de Barros promete dar sua versão do episódio em uma entrevista exclusiva para a revista eletrônica, de sua propriedade. A entrevista está programada para ser divulgada às 22h de hoje, de acordo com o aviso que desde ontem é divulgado no site: “Luiz Carlos Mendonça de Barros, publisher do Primeira Leitura, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), conta em entrevista exclusiva na edição desta segunda, que entra no ar às 22 horas, qual foi a real atuação de Ricardo Sérgio, ex-vice-presidente do Banco do Brasil, nas privatizações da Vale do Rio Doce e da Telebrás”.

FH nega conversa
As acusações vêm em seguida: “Veja como Ricardo Sérgio extrapolou suas funções institucionais. Saiba por que Benjamin Steinbruch, somente em 1998, mais de dois anos depois da privatização da Vale do Rio Doce, pressionou membros do governo FHC usando como arma o suposto pedido de propina de R$ 15 milhões, que teria sido feito por Ricardo Sérgio. Saib a ainda como o atual controlador da CSN tentou criar, sem êxito, um monopólio do aço plano com recursos públicos. A questão que não quer calar: por que a história da suposta propina vem a público a cinco meses das eleições?”.

Ao “Jornal Nacional”, Mendonça de Barros contou que foi procurado há três anos por Steinbruch. Segundo o ex-ministro, os dois conversaram no apartamento de Mendonça de Barros.

— Entendi que fosse assim (o teor da conversa): ou vocês me ajudam, ou solto este boato na praça — afirmou o ex-ministro ao “Jornal Nacional”.

O empresário Benjamin Steinbruch informou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria comentar o assunto.

Mendonça de Barros também reafirmou ao “Jornal Nacional” que não quis se envolver com a história e que chegou a comentá-la com o presidente Fernando Henrique. O presidente, de acordo com Mendonça de Barros, disse que o então ministro agiu bem em não levar o caso adiante. Mas Fernando Henrique negou ontem, por sua assessoria de imprensa, que tenha tido uma conversa com Mendonça de Barros nos termos publicados pela “Veja”.

O ex-ministro saiu do governo após a divulgação, em 1998, das conversas por telefone que teve às vésperas da privatização da Telebrás, que foram gravadas ilegalmente na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.


Artigos

Um dom completo
D. Filippo Santoro

“A vida do homem consiste no afeto que principalmente o sustenta e no qual encontra sua maior satisfação” (São Tomás de Aquino). O que na nossa vida procuramos é a satisfação mais completa possível dos anseios do coração e das perguntas da nossa razão. Quando acontece um encontro que carrega o indício de uma resposta real e plena, nós, particularmente nos anos da nossa juventude, dedicamos a este encontro a vida toda. O celibato, que normalmente é entendido no sentido negativo de não se casar, está ligado a uma paixão dominante, que é suscitada por um encontro excepcional e fascinante. Trata-se da experiência que os apóstolos fizeram quando encontraram a pessoa de Jesus pelas estradas da Palestina, e que nós podemos fazer encontrando hoje o seu anúncio e as suas testemunhas. A Igreja chama essa experiência de doação total a Cristo, que inclui a forma concreta de não contrair matrimônio. Esta experiência entra no mundo não por razões éticas ou sociais, mas como fascínio pela pessoa de Cristo e como desejo de segui-Lo plenamente. Ele chama alguns para que testemunhem no mundo a sua própria maneira de amar: um amor gratuito e não possessivo. Isso implicou o sacrifício e a cruz. A virgindade, assim, não é uma experiência de frustração, de medo, ou de renúncia a amar; é, pelo contrário, o relacionamento com as pessoas e a posse das coisas segundo o estilo e a sensibilidade de Cristo. A virgindade comporta um desapego e um sacrifício, mas, na sua raiz, é uma posse nova das coisas; é a maneira de amar própria de Cristo. O celibato dos padres se fundamenta sobre essa experiência de vocação e de doação, e é uma profunda escolha de liberdade, de resposta ao dom que Cristo faz por meio do seu chamado. A Igreja dá o sacerdócio ministerial a pessoas que livremente escolhem dedicar-se a Cristo e à felicidade dos irmãos com toda a sua vida. Celibato e ministério estão intimamente unidos na pessoa de Cristo.

A relação entre ministério sacerdotal e celibato, portanto, apresenta-se não apenas como disposição eclesiástica, mas como uma profunda conveniência de ordem substancial e teológica que, por sua vez, deu origem à própria decisão eclesiástica. Quem quer rever esta decisão simplesmente está retrocedendo no tempo, pagando uma inadmissível dívida ao exasperado permissivismo sexual da nossa sociedade secularizada. Nesse contexto, é claro que é necessária uma formação adequada que cultive a afetividade e a própria sexualidade como elementos essenciais da pessoa, e valorize a capacidade de doação total e gratuita.

Os deploráveis desvios, mesmo limitados em número, solicita os pastores a uma maior vigilância e a uma total clareza, sem encobertar os fatos.

Por tudo isso, diante das “opiniões” sobre o celibato sacerdotal do cardeal Arns e de d. Angélico Sândalo (que não representa o pensamento da CNBB) e as orientações de João Paulo II, prefiro, por razões substanciais, estar com o sucessor de Pedro.


Colunistas

Ilimar Franco

Tiro no candidato
O estrago na imagem do governo já está feito, com a divulgação de nova denúncia envolvendo o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira e a cobrança de propina na privatização, desta vez no processo da Vale do Rio Doce. O tiro atinge o governo e o presidente, mas quem tem mais a perder com o episódio é o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra (SP).

A intriga entre os tucanos foi retemperada com pitadas amargas do ministro Paulo Renato Souza e do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.

Os fatos são esses e, sem dramas, o secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco, trata de minimizá-los. Para Scalco, o governo vai absorver mais esse desgaste, e não adotará nenhuma atitude que faça o bolo crescer. Mas outros integrantes do governo não compartilham desse otimismo e calculam o risco de desdobramentos. O presidente do PSDB, José Aníbal (SP), que se exaltou na primeira hora, ontem dizia que o momento era de decantação, de deixar as coisas esfriarem.

A oposição esfrega as mãos com o constrangimento do governo. E, sem muita convicção, começará a colher assinaturas para a criação de uma CPI destinada a investigar a participação de Ricardo Sérgio e dos fundos de pensão nas privatizações ocorridas no período em que ele foi diretor do Banco do Brasil. O líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP), reconhece que a criação da CPI depende da rebeldia do maltratado PFL.

Os pefelistas também estão satisfeitos com o embaraço que a denúncia trará para a candidatura de Serra. Avaliam que, com o governo em baixa, mais difícil ficará para ele se destacar do pelotão de candidatos que disputam o segundo lugar nas pesquisas.

Mesmo que alguns, notadamente do Maranhão e da Bahia, venham a apoiar uma CPI, os líderes do partido dizem que o momento é de cautela. Dizem também que não seria o caso de apoiar uma investigação que beneficiaria a oposição. Ainda mais porque nutrem uma vaga esperança de que Serra seja substituído.

O governo entra a semana na defensiva e a oposição, batendo bumbo. Na semana anterior, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, teve de espantar as catastróficas previsões dos analistas de bancos internacionais. Agora chegou a vez de o presidente Fernando Henrique e de seu candidato à sucessão sacudirem a bruma moral.

O PTB encontrou um jeito de destinar seu programa nacional de TV à campanha de Ciro Gomes. Convidou a atriz Patrícia Pillar para defender a candidatura do marido.


Chávez vem aí
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, virá ao país ainda este mês. Ele vai discutir com o presidente Fernando Henrique Cardoso a adoção de posições comuns sobre três assuntos que interessam ao Brasil: a implantação da Alca, o fortalecimento do Mercosul e a Colômbia.

Nesta semana, o líder do governo no Congresso, Arthur Virgílio (PSDB-AM), fará um relato a Fernando Henrique da audiência com Chávez na última quinta-feira em Caracas. Virgílio integrou a missão oficial do Congresso, da qual participaram os deputados Eduardo Campos (PSB-PE), Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e o senador Arlindo Porto (PTB-MG).

Na conversa com os parlamentares, Chávez elogiou a posição do Brasil contra a tentativa de golpe de estado. E demonstrou que a democracia na Venezuela continua precisando do apoio brasileiro. Os brasileiros voltaram convencidos de que ainda há muita instabilidade política no país vizinho. Chávez está enfraquecido no poder, e sua grande preocupação é sobreviver até o fim do mandato.

Constrangimento
O TSE divulga hoje decisão dispensando os presidentes da Câmara e do Senado da obrigação de substituir o presidente da República em viagens e impedimentos. Dessa maneira, não ficarão inelegíveis. Mesmo assim, o presidente da Câmara, Aécio Neves, vai se ausentar do país quando Fernando Henrique viajar. Foi alertado por juristas de que poderia responder a processo de perda da função por descumprir dever constitucional.

O cofre
A base aliada está em polvorosa cobrando a liberação dos restos a pagar do Orçamento de 2001. Os líderes governistas, incluam-se os do PFL, não param de telefonar para o ministro Euclides Scalco. A última notícia é de que os recursos começam a ser liberados nos próximos dias. O drama é que estão pendurados R$ 3,9 bilhões de emendas parlamentares, dos quais só R$ 540 milhões tinham sido pagos. Tempo de eleição, hora de agradar às bases.

ENCONTRO: O governador Almir Gabriel chega amanhã a Brasília para conversar com os presidentes do PSDB, José Aníbal (SP), e do PMDB, Michel Temer (SP), sobre a sucessão no Pará. Acordo à vista.

COMPROMISSO: O presidente Fernando Henrique prometeu à candidata do PSDB ao governo de Mato Grosso do Sul, deputada Marisa Serrano, que não fará mais elogios ao governador Zeca do PT.

DISSÍDIO: O governo está preocupadíssimo com a pressão sobre a Câmara para aprovar projetos que concedem aumentos salariais a servidores públicos. Só os aumentos do Judiciário consumiriam R$ 3 bilhões.


Editorial

QUESTÃO ABERTA

Os sucessivos escândalos de natureza sexual envolvendo padres católicos puseram em discussão o celibato eclesiástico, visto por alguns como causa parcial ou fundamental daqueles desvios. No Brasil, manifestaram-se a favor de uma flexibilização do celibato figuras como o cardeal d. Paulo Evaristo Arns, de São Paulo, e o bispo d. Angélico Sândalo Bernardino, apresentado como porta-voz da CNBB.

É um assunto que pode ter infinitos desdobramentos, quase tão complexos quanto o próprio fenômeno religioso. Os que se opõem ao celibato clerical lembram que, no início da Igreja, as coisas não se passavam como agora, inclusive no círculo dos apóstolos. Argumentam, também, com tradições como a do cristianismo ortodoxo, presente em países como a Grécia e a Rússia, onde os padres se casam. Em sentido contrário, lembram os defensores do celibato que ele está longe de ser invenção da Igreja Católica, praticado em tradições importantes como a dos budistas e hinduístas. A discussão promete continuar — tanto mais quanto a Igreja de Roma, em conseqüência dos problemas físicos do Papa João Paulo II, parece viver definitivamente um período de transição. Enquanto essas dúvidas não se esclarecem, entretanto, o que está na ordem do dia é a necessidade de transparência e franqueza na administração de um problema que só se agravou por ter ficado tempo demais no âmbito interno da Igreja.


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05/06/2002


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