USP recomenda controle em postos de gasolina para diminuir riscos de vazamentos



Álcool misturado à gasolina aumenta a corrosão nos tanques e tubulações e faz combustível espalhar mais rápido

Ao mesmo tempo em que torna a gasolina brasileira uma das que menos emite poluentes tóxicos na atmosfera, o álcool também a transforma na que mais se espalha pelo solo em caso de vazamento dos tanques de postos de combustíveis. A conclusão é de uma pesquisa realizada para uma dissertação de mestrado, apresentada pela química Renata Silva Trovão, no Dapartamento de Engenharia de Minas e de Petróleo (PMI), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Ela analisou a contaminação do solo e águas subterrâneas ao redor de cinco postos de combustíveis na cidade de Guarulhos, mas os resultados podem ser extrapolados para a maior parte do Brasil.Segundo a pesquisadora, existem no país mais de 30 mil postos de combustíveis, dos quais cerca de 3.000 na Região Metropolitana de São Paulo.

“Na década de 70 houve um aumento considerável no número desses estabelecimentos”, diz ela. “Os equipamentos, tanques e tubulações destes postos tinham uma vida útil de projeto de 25 anos. Assim, é natural que esses empreendimentos sejam considerados hoje potencialmente poluidores, podendo causar acidentes ambientais.” Sabendo-se que o álcool é mais corrosivo do que a gasolina pura, tem-se uma idéia melhor da gravidade desse problema.

A pesquisadora lembra que a gasolina brasileira possui na sua formulação 20% em média de álcool (teor este que varia de acordo com a política energética momentânea) para aumentar a octanagem e reduzir a emissão de monóxido de carbono na atmosfera. “Esta adição, no entanto, aumenta a solubilidade do combustível, pois o álcool é solúvel em água e na própria gasolina”, explica.

“Conseqüentemente espalha mais facilmente os chamados compostos BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno, xilenos) e outros compostos como hidrocarbonetos, presentes na gasolina e altamente nocivos à saúde humana.”Para o orientador da pesquisadora, José Renato Baptista Lima, professor do PMI, o principal resultado do trabalho é a comprovação da imperiosa necessidade de controle e monitoramento de postos de combustíveis, especialmente quanto a vazamentos de tanque e demais situações que possam provocar o espalhamento da gasolina, seja na terra ou em cursos d´água.

“A pesquisa é de grande relevância, pois demonstra o cuidado redobrado que se deve ter com os combustíveis armazenados em postos no Brasil”, diz. “

O problema é mais grave, porque este tipo empreendimento se instala justamente próximo aos núcleos urbanos, expondo as pessoas a riscos de intoxicação.”Danos ambientais – Segundo a pesquisadora, as conseqüências de entrar em contato com combustíveis são as mais diversas, uma vez que a gasolina, diesel e outros derivados de petróleo são tóxicos para o homem e demais seres vivos, podendo acumular-se na cadeia alimentar. 

Desta forma, pode direta e indiretamente afetar a saúde das pessoas. “Por causa da presença dos contaminantes BTEX, a intoxicação com o combustível pode levar a problemas no sistema nervoso central”, alerta a pesquisadora. “Além disso, há risco de incêndio e até explosões nas áreas contaminadas.”Para realizar seu trabalho, a pesquisadora não analisou diretamente nenhuma das áreas pesquisadas. Ela escolheu os cinco postos do município de Guarulhos aleatoriamente, a partir do cadastro de áreas contaminadas da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).

“A idéia não era encontrar um culpado pela contaminação, mas analisar a situação e propor, do ponto de vista conceitual, uma solução para remediar as áreas”, diz.Depois de estudar todos os cinco casos, a pesquisadora elaborou duas propostas de remediação das áreas contaminadas, com base em técnicas conhecidas, que podem ser ex-situ e in-situ.  “Na primeira, o solo é retirado do local, passa por um processo de limpeza que extrai a substância contaminante”, explica.

“A terra contaminada é aquecida numa máquina, o que faz com que o combustível se desprenda das partículas do solo e escorra para um local adequado. Depois a terra é recolocada de volta no mesmo lugar. Esta é a técnica que oferece a descontaminação mais eficiente, apesar de ser o método mais caro.”O método in-situ é mais barato, mas é mais demorado e menos eficiente. “Por esta técnica são feitos buracos no solo contaminado, nos quais são colocados tubos”, explica.

“Por uns se injeta ar, que faz a gasolina e os gases sair pelos outros. É a técnica recomendada quando não se pode remover a terra, como ocorre quando há contaminação do solo embaixo de residências.Neste método a remoção dos contaminantes não é total.  Mas os microorganismos presentes naquele meio se encarregarão de consumir o restante do combustível”, diz a pesquisadora.

“É necessário, no entanto fazer o acompanhamento constante da área para saber se a gasolina desapareceu totalmente do local.”

Da Poli/USP



05/06/2008


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