USP: Seqüenciamento genético de fungos permitirá avanços na Medicina
Pesquisa foi financiada pela Fapesp
A última edição da revista científica Nature traz os mapas genéticos de três fungos: Aspergillus fumigatus, Aspergillus nidulans e Aspergillus oryzae. "O fumigatus foi identificado como a causa de uma infecção em 1848 e é agora o principal responsável pela morte de pacientes vulneráveis com leucemia e transplantados de medula óssea", relata o professor Gustavo Henrique Goldman, professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.
Goldman é o único pesquisador da América Latina que participou do consócio internacional, liderado pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, que decifrou o código genético desses fungos. No Brasil, a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que implantou a cultura do genoma no País.
Para o professor Julio César Voltarelli, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), especializado em transplantes de medula óssea, por meio do conhecimento do genoma desse fungo, será possível produzir drogas mais eficientes para combatê-lo, evitando a sua multiplicação. Secundariamente, sabendo quais são os seus genes poderão ser produzidos "kits" para a detecção mais precoce do fungo.
A presença do fumigatus no paciente depende de vários fatores, segundo Voltarelli, principalmente de quanto tempo ele ficou com as defesas baixas. "Quando ainda não havia filtros de ar nas enfermarias a grande maioria dos pacientes com leucemia morria em função desse fungo. Essa situação melhorou muito com a filtragem do ar, mas ainda existe e é uma das principais causas de morte de pacientes submetidos à quimioterapia e ao transplante de medula óssea", diz.
O desvendamento do genoma vai permitir encontrar aquilo que torna o microorganismo agressivo, facilitando assim a descoberta de novos medicamentos para combatê-lo, avalia o professor Roberto Martinez, do setor de moléstias infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC/FMRP). "Esse genoma abre caminhos para se trabalhar grupos de genes úteis para diagnósticos e combater aqueles mais resistentes. No caso do Aspegillus procuramos fazer o diagnóstico muito rápido, pois pessoas com baixo índice de glóbulos vermelhos estão mais susceptíveis a esse fungo, e quanto mais precoce esse diagnóstico mais chance para o paciente. Abrirá caminho também para, no futuro, termos idéia se o fungo é sensível ou não às drogas que estarão sendo usadas, o que já vem acontecendo com a tuberculose", afirma Martinez.
Segundo o coordenador do projeto, professor David Denning, da Universidade de Manchester, "os fungos representam um papel crítico nos ecossistemas da Terra, sendo responsáveis pela quase totalidade da degradação de resíduos vegetais e pela reciclagem de nitrogênio. O Apergullis fumigatus é o maior constituinte dos processos de compostagem e fungos filamentosos têm sido importantes fontes de drogas, incluindo a penicilina e a ciclisporina (para transplantes)."
Sequenciamento
Goldman participou do seqüenciamento de dois desses fungos, do fumigatus e do nidulans. Este último, um fungo que tem sido um dos principais sistemas-modelo, ajudando nos últimos 50 anos na descoberta de diversos processos celulares. Já o oryzae, de cujo seqüenciamento Goldman não participou, é usado no Oriente há 2000 anos para a produção de sake (vinho de arroz), miso (pasta de soja) e shoyu (molho de soja).
De acordo com o pesquisador, apesar de serem da mesma família, Aspergillus - um patógeno comum disseminado pelo mundo por meio do ar na forma de esporos - eles demonstraram ser tão geneticamente diferentes entre si como o peixe e o homem. "As três espécies possuem somente em torno de 68% das mesmas proteínas, uma percentagem semelhante àquela encontrada entre mamíferos e peixes que divergiram a 450 milhões de anos. Eles também diferem consideravelmente no tamanho do genoma. O fungo oryzae é 31% maior que o fumigatus e 24% maior que o nidulans. Mais de 30% dos 9500 a 14000 genes identificados são novos para a ciência e possuem função e estrutura desconhecidas", relata. O resultado dessas pesquisas está publicado em três artigos diferentes na Nature.
Rosemeire Talamone, do Serviço de Com
12/26/2005
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