VALADARES: AJUSTE COM JUROS ALTOS CRIARÁ "CENÁRIO DANTESCO"
As medidas do Programa de Estabilização Fiscal, combinadas com a manutenção das altas taxas de juros, "não passam de um remendo" que aponta para um "cenário dantesco, negativo para o país", disse nesta terça-feira (dia 3) o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE). Esta também é a conclusão de Michael M. Weinstein, autor de artigo intitulado "Um remédio caro que não cura o Brasil", originalmente publicado no jornal The New York Times e traduzido por O Estado de S. Paulo, acrescentou.O artigo, na opinião do senador, "é um libelo acusatório contra o pacote do governo Fernando Henrique Cardoso, engendrado nos gabinetes do FMI e do governo Bill Clinton". Conforme trechos do artigo destacados por Valadares, ao contrário do que se divulga no Brasil, as medidas de ajuste fiscal apresentadas pelo governo no último dia 28 vão prejudicar principalmente os mais pobres. As medidas, citou o senador, vão "tratar brutalmente os mais pobres e esmagar as aspirações da classe média. (...) Os únicos entusiastas do plano são os profissionais de Wall Street".Para o senador, os atuais problemas brasileiros não podem ser explicados apenas pelo impacto da globalização financeira e a difusão da crise asiática ou russa, mas por erros cometidos "aqui dentro mesmo". Nesse sentido, Valadares enfatizou a necessidade de o governo abandonar seu "comportamento discricionário, orgulhoso e prepotente", buscando o Congresso Nacional apenas quando pretende ver suas decisões homologadas.Em aparte, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) concordou com Valadares e salientou a "insignificância desses 30 dinheiros", referindo-se aos prováveis US$ 30 bilhões que seriam emprestados ao Brasil pelo FMI. Pelos cálculos do senador, se do total de R$ 304 bilhões da dívida mobiliária interna forem descontados cerca de R$ 100 milhões de créditos do Banco Central, restarão mais ou menos R$ 200 bilhões a serem rolados a juros de 41% ao ano, ou seja, "82 bilhões ao ano, muito mais de 2 bilhões ao mês só em pagamento de juros".Na opinião de Requião, não há sentido em discutir pontualmente as medidas do ajuste fiscal, pois o que as lideranças políticas deveriam estar discutindo é "a política de dependência de FHC, que coloca o país de joelhos". Todos os outros países, presidentes e equipes econômicas pautam suas decisões em função da defesa dos seus respectivos mercados produtivos e consumidores, acrescentou. Ao Brasil de 1999, enfatizou, resta a continuidade da "vertente pessimista", com crescimento da violência urbana. "E, talvez, dentro de um ano o Congresso esteja discutindo o impeachment de Fernando Henrique Cardoso".O senador Lauro Campos também insistiu na insignificância de um ajuste de R$ 28 bilhões - "uma facada em cima de um povo já depauperado" - frente ao aumento exponencial da dívida pública interna, via taxa de juros elevada. Além disso, o senador lembrou que o governo paulista precisou de R$ 60 bilhões para equilibrar suas finanças, total dos recursos injetados no Banespa e na federalização da dívida estadual. "Agora querem equilibrar o Brasil com R$ 30 bilhões", o que demonstraria, segundo o senador, como muitos economistas "teimam em não enxergar o óbvio ululante".
03/11/1998
Agência Senado
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