Valadares alerta para a escalada inflacionária dos alimentos
O senador esclareceu que veiculava ponto de vista expresso pela Comissão Econômica para América Latina (Cepal). Segundo aquela agência da Organização das Nações Unidas (ONU), todas as políticas de distribuição de renda podem vir a ficar comprometidas diante da crescente onda já batizada de "inflação dos alimentos".
Como a própria ONU não tem uma receita para evitar que a pobreza aumente na América Latina, o quadro na região pode tornar-se gravíssimo. Se não houver mudança no atual modelo, o que se espera é que nos próximos dez anos a crise atual pode evoluir para o que os estudiosos vêm chamando de "choque alimentar", uma crise alimentar em grande escala, em função da qual milhões de pessoas poderão enfrentar "fome aguda".
Valadares se disse espantado com a ironia contida nessas previsões, já que a América Latina está entre os principais produtores de alimentos do mundo. O dilema vivido pela região é o crescente abismo entre o volume da produção de alimentos e o nível de consumo da população mais pobre.
Valadares citou matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre estudo realizado por pesquisadores do governo norte-americano: "A diferença entre o que a América Latina produz em alimentos e o que é consumido pela classe mais pobre cresce ininterruptamente, apesar do cultivo recorde no continente. (...) A diferença entre oferta e demanda seria três vezes maior na América Latina do que na Ásia e na África."
- A explicação para isto é a distribuição de renda injusta - advertiu o senador.
Os primeiros sintomas do "choque alimentar" já estariam se fazendo sentir no Haiti e em El Salvador, por exemplo. Neste último, a população, hoje, só consegue comprar metade dos alimentos que conseguia comprar há pouco mais de um ano e meio. Na Nicarágua, o preço da tortilha (alimento tradicional à base de milho) sofreu um aumento de 54% em um ano. Na Guatemala, aumentou 17%. A alta é conseqüência da inflação de 100% que atingiu o preço do milho em toda a América Central.
Em outras áreas do planeta, o problema também se agrava, segundo os estudos mencionados pelo parlamentar do PSB. O governo da Índia está propondo a suspensão do mercado futuro de alimentos em seu país e enfrenta a disparada nos preços das commodities. Os países árabes analisam criar um fundo de emergência para que as nações mais pobres da região enfrentem a inflação de alimentos.
- Temos de apelar aos governos para que ajam agora, antes que o problema se agrave. É um problema em escala continental e que cobra soluções continentais - alertou Valadares.
O senador aconselhou o governo brasileiro a ter cautela com declarações que nos colocariam em situação privilegiada, como o "grau de investimento" conferido ao país pela agência de classificação de riscos Standard & Poors. Repercutindo editorial do jornal paulista, Valadares disse que se faz urgente adotar medidas como a redução do endividamento público, a da simplificação do regime tributário, a diminuição da taxa de juros e a criação de barreiras contra o capital especulativo. Acha ainda o senador que o produtor rural deve ser direcionado ao mercado interno.
- São medidas simples e ao mesmo tempo estratégicas, que se forem tomadas a tempo, poderão evitar o desastre - recomendou o parlamentar.
Para ele, o Brasil não está imune à crise. Prova disso é o aumento médio de 40% observado entre junho do ano passado e abril deste ano nos preços do feijão, do arroz, da carne, do macarrão, do leite, do pão, dos biscoitos e do óleo de soja. O aumento reduziu o poder de compra das camadas mais pobres da população, em especial do universo das 11 mil famílias beneficiadas pelo programa Bolsa-Família.
14/05/2008
Agência Senado
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