Valadares defende ações duradouras contra a seca no Nordeste
- Não podemos admitir a existência de dois "brasis"; um, industrializado e moderno, e outro dos excluídos, onde impera a fome, principalmente no Nordeste, com os 19 milhões de pobres e 9 milhões de indigentes - repetiu Valadares, lendo seu antigo discurso. O senador destacou que essa situação agrava-se ainda mais na zona rural, onde metade da população é composta por pobres e um terço por indigentes. Ressaltou que a pobreza não decorre do clima da região e sim da forma como os meios de produção são apropriados e utilizados pela minoria, em uma economia estruturada em bases conservadoras.
No pronunciamento, Antonio Carlos Valadares historiou o problema da seca, lembrando que a primeira menção ao fenômeno, feita pelo missionário Loureto de Couto, que se deparou com a falta de água em suas andanças pelo Nordeste, data de 1564. A partir daí foram registradas três secas no século 16; sete secas no século 17; quatro secas no século 18; e três secas no século 19.
- No século 20, o número sobe assustadoramente para 19, dando margem para o que se convencionou chamar de "indústria da seca" - disse o senador.
Valadares lembrou que o primeiro órgão público criado para cuidar do problema foi a Comissão de Apoio de Desenvolvimento de Estudos e Obras de Engenharia Contra os Efeitos da Seca, em 1904. Vários outros órgãos foram criados até o advento da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959, que elaborou quatro planos diretores para o desenvolvimento da região. A partir de 1967, afirmou o senador, foram adotadas medidas paternalistas e de fundo político eleitoreiro.
- No Nordeste, os recursos são aplicados com uma visão paternalista e, na maioria das vezes, segundo prioridades políticas que não se compatibilizam com os anseios da comunidade - disse ele.
Em aparte, o senador Bernardo Cabral (PFL-AM) hipotecou sua solidariedade ao povo nordestino, citando Euclides da Cunha ao afirmar que o nordestino é, acima de tudo, um forte. Valadares lembrou a Cabral que há seis anos, quando fez o discurso que relia agora, o senador também fizera um aparte para se solidarizar com o povo nordestino.
O senador Alberto Silva (PMDB-PI) lembrou que ele e Valadares, que governaram seus estados no mesmo período, estiveram no estado do Arizona, nos Estados Unidos, onde conheceram soluções competentes para o problema da seca. Alberto Silva sugeriu que o governo incentive a cultura de mamona, que seria mais viável que o feijão e o milho, culturas tradicionalmente plantadas na região. O óleo de mamona, ressaltou, pode ser utilizado como combustível, em substituição ao diesel, o que garantiria uma elevada renda para os agricultores. Valadares comentou que esse projeto pode ser um fator decisivo para o desenvolvimento do Nordeste.
Valadares encerrou seu pronunciamento defendendo a importância de se manter os incentivos que eram administrados pela Sudene antes de sua extinção, para garantir os investimentos produtivos no Nordeste. Ele informou que apresentou emenda nesse sentido ao projeto que está tramitando na Casa.
31/05/2001
Agência Senado
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