Versões complicam PT na CPI gaúcha







Versões complicam PT na CPI gaúcha
A CPI da Segurança Pública, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, está às voltas com um emaranhado de versões. Dois depoimentos ontem aos deputados complicaram ainda mais a apuração. O engenheiro Espártaco, filho do governador Olívio Dutra (PT), confirmou ter doado R$ 500 em dinheiro ao Clube de Seguros da Cidadania, suspeito de favorecer o PT. Já a testemunha Sílvio Gonçalves Dubal, sobrinho do diretor do Clube Daniel Verçosa, afirmou ter sido pressionado a incluir seu nome na lista de doadores sem ter dado os R$ 500 relacionados. Com isso, o relator da CPI, Vieira da Cunha (PDT), voltou a pôr em dúvida a versão do presidente do Clube, Diógenes de Oliveira, que afirma ter obtido doações de amigos para a compra de prédio cedido em comodato ao PT, em 1998.

''É um depoimento decisivo, porque um doador aparece dizendo que não doou. Quem nos assegura que outras pessoas também não tenham sido usadas? Fica caracterizado que havia um laranjal no Clube de Seguros da Cidadania'', disse Vieira da Cunha.

Lista - Para piorar a situação, oficiais de Justiça apreenderam na casa de Diógenes uma lista com nomes de pessoas que teriam contribuído para o Clube. Os oito supostos doadores - que serão convocadas a depor na CPI - assinaram o documento em julho deste ano, referindo-se ao empréstimo que teria sido feito em 1998. Os valores não atingem os R$ 80 mil que Diógenes afirma ter arrecadado - são apenas R$ 32 mil. Deputados consideraram a lista ''suspeita'' de ser uma armação para justificar a arrecadação. Secretários municipais estão na relação.

Ao mesmo tempo que acusou o PDT de fazer da CPI um ''instrumento de vingança'', o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), considerou ''graves'' as suspeitas de envolvimento do governo com o jogo do bicho, por ameaçarem ''a moralidade pública e a ética'' do PT.
Tarso não acredita em participação de Olívio, mas quer que o PT descubra por que um assessor de confiança, Diógenes, pediu a um delegado de polícia que fosse tolerante com o jogo do bicho. Diógenes está internado desde segunda-feira no Instituto do Coração.


PMDB governista quer evitar prévias
BRASÍLIA - O melhor candidato do PMDB governista para enfrentar Itamar Franco nas prévias do partido pode ser ninguém. Com poucas chances de bater o governador mineiro no voto, os aliados do Palácio do Planalto pretendem esvaziar as eleições internas, marcadas para janeiro. Deixar Itamar sozinho na disputa é uma alternativa cada vez mais atraente. ''Se só houver um candidato, não há porque fazer prévias'', diz o deputado Michel Temer (SP), presidente nacional do PMDB. Neste caso, a decisão sobre os rumos do partido passaria para a convenção nacional, marcada para junho do ano que vem. A ala governista ganharia tempo para articular uma aliança com o PSDB e o PFL.

Para isso, o primeiro passo é retirar da disputa o senador gaúcho, Pedro Simon. Esta etapa é dada como vencida pelos governistas. Simon está sendo convencido a fixar-se desde já na disputa pelo governo no Rio Grande do Sul. Uma disputa que parece cada vez mais interessante, à medida em que aumentam os problemas do principal adversário, o governador Olívio Dutra (PT). A conversa com Simon está a cargo do ministro dos Transportes Eliseu Padilha.

Nós próximos dias, Padilha vai deixar o ministério. Oficialmente, para ajudar na campanha de Simon. Na prática, para limpar o caminho. A mesma decisão foi tomada pelo assessor especial da presidência da República, Moreira Franco. Ele também renunciou, para entrar na campanha contra Itamar. O objetivo das duas renúncias é retirar o carimbo do Palácio do Planalto da atuação política da dupla. ''Seria constrangedor ficar no cargo'', diz Moreira. ''Tudo que eu fizesse seria associado ao presidente''. A opção por não lançar candidato nasceu da dificuldade em encontrar alguém disposto a enfrentar Itamar. O primeiro nome cogitado foi o do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. Depois, o do próprio Temer. Os dois hesitam, e com bons motivos. O PMDB governista desdenhou as prévias e não investiu em vencer. Agora, parece impossível reunir, em pouco mais de dois meses, as forças necessárias.
A saída para combater essa força seria usar o poder político dos cargos ocupados pelo PMDB governista. Entram nesta conta os governadores e ministros partido. Por isso, o PMDB quer indicar um substituto para Padilha.


Juiz impede posse de Napoleão
TERESINA - O governador cassado do Piauí, Francisco de Assis Moraes Souza, o Mão Santa (PMDB), conseguiu ontem sua primeira vitória na luta para se manter no cargo. Às 19h, juiz federal Roberto Veloso suspendeu a diplomação do rival e sucessor, senador Hugo Napoleão (PFL), marcada para as 9h de hoje. Os advogados de Napoleão recorreram em seguida mas nenhuma nova decisão havia sido anunciada até as 21h.
O juiz Veloso acatou mandado de segurança dos advogados de Mão Santa. Segundo a tese deles, não pode ser diplomado um novo governador, uma vez que nem o governador cassado nem o presidente da Assembléia Legislativa foram comunicados da decisão do Tribunal Superior Eleitoral.

Os advogados de Mão Santa também entraram com dois recursos no Tribunal Regional Eleitoral do Piauí.
O secretário estadual de Comunicação, João Madison Nogueira, diz que Napoleão não assumirá. ''O governador eleito tem de ter 50% dos votos mais um. Como Mão Santa foi cassado, seus votos são nulos. Juntando-se com os votos nulos, Hugo não atingiu os 50%. Então as eleições são inválidas. Essa é a tese que usaremos'', disse Nogueira.
Hugo Napoleão chegou até a fazer discurso de despedida no Senado, mas, prudente, não assinou a renúncia. ''Só renuncio depois de diplomado governador'', disse. Napoleão teme ficar sem nenhum dos dois cargos. A preocupação tem sentido.

No centro de uma batalha judicial pelo poder no Piauí, Mão Santa (PMDB), foi recebido por milhares de pessoas no aeroporto de Teresina. Ocupou com a família e partidários a sede do governo e despachou em seu gabinete, onde chegou carregado nos ombros por admiradores.
Desceu do avião às 12h45, aclamado pela multidão que o aguardava desde as 8h, e percorreu a pé os dez quilômetros até o Palácio de Karnak, sede do governo do Estado. Caminhou por 1h45, trajando terno preto, sob o sol de 40° C. Assessores insistiram para ele subir em carro aberto, mas Mão Santa não quis. ''Vim junto com o povo porque sou um governador do povo'', disse. ''Vejam como o povo chora por mim'', disse, apontando para as donas-de-casa Francisca Maria Santana, 42 anos, e Raimunda Ribeiro, 30 anos.

Foi seguido pela mulher, Adalgisa Moraes Souza, pelo filho Francisco de Assis Moraes Souza Júnior, o Mão Santinha, por políticos locais e cerca de 20 mil pessoas que empunhavam faixas, bandeiras e cartazes. Muitos pintaram o rosto e gritavam palavras de ordem contra o novo governador do Estado, Hugo Napoleão. Entre os que o recepcionaram, representantes de quase todos os partidos de esquerda.
Dezenas de pessoas, quase todas de zonas periféricas da capital, aglomeram-se com colchonetes e marmitas no Palácio do Governo. ''Só saio daqui quando Mão Santa deixar o palácio'', disse a desempregada Cláudia Lima, 28 anos, moradora do bairro Parque Mão Santa (na Zona Leste de Teresina).


Seleção é sinuca de Roseana
Novo fracasso deixaria governadora do Maranhão com rótulo de pé-frio

BRASÍLIA - O jogo é futebol, mas, nesse caso, atende também por sinuca. Juan, Marcos e Rivaldo, em partida contra a Bolívia na última quarta-feira, esculpiram, com categoria única, um dilema político para a governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
Feliz com os quase 20% de intenções de voto para a presidência da República, obtidos na última pesquisa do instituto Sensus, Roseana encerraria o ''ano eletivo'' com uma programada festa no estádio do Castelão, em São Luís, na partida que comemoraria a classificação do Brasil para a Copa do Mundo de 2002.
Faltou combinar com o técnico Luiz Felipe Scolari. Como o Brasil espatifou cara e futebol contra a Bolívia, em La Paz, perdendo por 3 x 1, a partida do Maranhão, que era para ser uma festa, pode se transformar em tragédia. Um espetáculo tragicômico, na verdade, tratando-se deste escrete de Scolari.

Se o Brasil vencer, tudo bem. A viagem ao Japão fica assegurada e o vexame ficará ''apenas'' por conta de a Seleção ter garantido a vaga depois do Equador. O reggae maranhense vai embalar os sonhos de Scolari (que é continuar no cargo) e de Roseana (que é de subir mais cinco ou seis pontos nas próximas pesquisas). O problema é o time repetir a atuação de La Paz: um empate contra a fraca Venezuela em São Luís aliado a uma vitória uruguaia contra a Argentina empurra a Seleção para a repescagem, Scolari para o abismo e Roseana para o pior dos rótulos: o de pé-frio.

Consultor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e empresário do ramo de comunicação, à frente dos negócios da família, Fernando Sarney (irmão da governadora) é o responsável pelo problema de agora. Foi ele que acertou com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que ''a festa da classificação'' seria em São Luís.
Presidente da CPI do Futebol e também pefelista, o senador Geraldo Althoff (SC) prefere estimular a governadora. ''Ela costuma levar a sorte para todos os lugares que vai. Com certeza dará sorte à Seleção''. Mas na avaliação do deputado petista Pedro Celso (DF), integrante da CPI da Nike na Câmara, Roseana deve ficar longe do Castelão na próxima quarta. ''Se o time perder, ela pode levar a fama. O povo pode descarregar a raiva em cima dela'', acredita.

Alheio às maldades dos adversários, Roseana deve comparecer ao estádio, até porque o ritmo atual - tanto televisivo quanto administrativo - é de campanha. É possível que ela dê um pulo, antes, em Codó. Só para garantir. A idéia não é ruim: Codó é o município maranhense conhecido no anedotário geográfico brasileiro como a capital da macumba.


PF descobre fraude em cooperativa de agentes
Golpe na Coopercred gerou um rombo de R$ 8 milhões

BRASÍLIA - A cooperativa de crédito dos servidores da Polícia Federal - Coopercred - tem um rombo de R$ 8 milhões. Na semana que vem, ex-diretores e funcionários deverão ser indiciados por crime contra o sistema financeiro, com base no inquérito aberto para apurar o caso. Em agosto do ano passado, o presidente, Roberto Layse Costa, foi assassinado em Brasília por um ex-diretor.
Criada para atender aos servidores de órgãos de segurança no Distrito Federal, a Coopercred, funciona no prédio da Superintendência da PF na capital federal. Os problemas financeiros começaram no início do ano passado. Em agosto, instaurou-se o inquérito 023. Agora, já são 31 volumes. Auditoria solicitada à Central das Cooperativas de Crédito do Distrito Federal (Cecredif) constatou desvio de dinheiro, maquiagem de balanço e irregularidades na Carteira de Empréstimos.

Empréstimos - Laudo da PF não só comprovou as fraudes encontradas pela auditoria, como aumentou o rol de irregularidades. Os peritos descobriram na papelada a existência de um ''módulo à parte'' no sistema operacional da carteira de empréstimos. Ficou constatado também que ''diretores fizeram empréstimos altíssimos'', segundo documentação obtida pelo Jornal do Brasil.
De acordo com o resultado da perícia, existia uma carteira de empréstimos sem juros restrita a ''grupos privilegiados''. Os mutuários que não participavam do esquema pagavam taxas variáveis entre 5% e 7% ao mês. A Coopercred concedeu cheques especiais com valores de até R$ 120 mil.

Ajuda do BC - Os mais de mil cotistas tiveram desvalorização de 35% nas aplicações que confiaram à cooperativa. A documentação apreendida revelou que o Banco Central (BC) aprovou um ''plano de reestruturação''. A providência foi adotada para evitar prejuízo de R$ 8 mil para cada associado.
O BC negou ter prestado socorro financeiro à Coopercred. A interferência, informou a assessoria, limitou-se à aprovação de uma reforma do estatuto. A finalidade da mudança estatutária teria sido permitir que a cooperativa continuasse funcionando.

Investigação - A PF aprofundou a investigação sobre eventual ligação entre os desvios e o assassinato do presidente Roberto Layse Costa. O autor do crime, cometido em 4 de agosto do ano passado, foi o agente federal Ilton Almeida. Ex-diretor-administrativo, ele foi preso em flagrante.
Almeida ficou em uma cela da superintendência até dia 14 de setembro passado, quando saiu por decisão judicial. Servidores convocados a depor disseram que havia muitos descontentes com a administração de Roberto Costa.

Indiciados - Ex-diretores e pessoas ligadas ao esquema da Coopercred tiveram o sigilo bancário quebrado. Mais de dez deverão ser indiciados por crime financeiro. A família de Almeida informou que ele se recusa a falar sobre o assassinato de que é acusado.
Em novembro do ano passado, o delegado aposentado Paulo Watanabe foi convocado pelos cooperativados a assumir a presidência. Procurado três vezes pela reportagem, ele se negou a falar. Em entrevista publicada no boletim dos servidores da PF, Watanabe afirmou que ainda considera viável a recuperação da Coopercred.


Professores em greve vão ser pagos
BRASÍLIA - Enquanto o Ministério da Educação e professores ainda tentam uma solução para a crise com os professores universitários, a Justiça continua a garantir o pagamento dos grevistas. Ontem, o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou o repasse às universidades federais dos recursos necessários para o pagamento dos salários de outubro. Cabe a cada reitor, recebido o repasse, determinar que os salários sejam efetivamente pagos.

Com mais uma batalha perdida, o Ministério da Educação vai esperar até segunda-feira para enviar ao Congresso o Projeto de Lei que reajusta em 34% as gratificações recebidas pelos professores federais. A secretária de Ensino Superior do MEC, Maria Helena Guimarães, retomou as negociações com os docentes e disse que ainda precisa de mais tempo.
O pedido para que o projeto seguisse para o Congresso somente na próxima semana teria partido do Andes. Os professores não concordam com os termos do projeto. Pela proposta do governo, a Gratificação de Estímulo à Docência (GED) - paga aos professores universitários - e a Gratificação de Incentivo à Docência (GID) - recebida pelos docentes de 1° e 2° graus - sofreriam alterações. De acordo com o ministro Paulo Renato, os rendimentos finais teriam um aumento real de até 13%.


Garotinho condena homossexualismo
Declaração de governador em programa de TV provoca reação de entidades que defendem os direitos dos homossexuais
Mais do que nunca o governador Anthony Garotinho (PSB) vai precisar dos votos evangélicos se quiser chegar ao Palácio do Planalto. Ontem o pré-candidato do PSB perdeu os da comunidade homossexual. Em entrevista ao vivo para o programa ''Em Questão'', da TV Gazeta de São Paulo, o governador se declarou contrário ao homossexualismo. ''Eu sou contra (o homossexualismo) porque eu não gostaria para os outros, o que não desejaria para mim.''

A declaração do presidenciável evangélico foi uma tentativa de corrigir o que havia dito antes, ao ser indagado por um telespectador sobre o que achava da união entre pessoas do mesmo sexo. ''Uma coisa é o homossexualismo, outra coisa é o homossexual. Uma coisa é o pecador, outra é o pecado. Sou contra o homossexualismo. Abertamente contra'', disse usando uma passagem da Bíblia. Diante de um fax enviado por outro telesp ectador, impressionado com as enfáticas afirmações, o socialista tentou contemporizar: ''Algumas pessoas exercem (o homossexualismo) até de uma forma tão elegante que eu admiro''.

A retórica de Garotinho soou mal aos ouvidos do teólogo e pastor luterano Mozart Noronha. ''Se você vai ler a Bíblia sob uma perspectiva fundamentalista pode tirar essa ou aquela parte para justificar seus conceitos. Julgar atitudes à luz de textos bíblicos isolados é uma coisa perigosa'', disse o pastor evangélico. Noronha lembra que a grande conquista do Reforma Protestante, no século 16, foi o livre exame da sagrada escritura. ''Jesus Cristo não interpretou o antigo testamento. Nem o governador nem ninguém pode usar a Bíblia para condenar uma pessoa.''
A comunidade homossexual reagiu com indignação. ''Como é possível dissociar a homossexualidade do homossexual? É uma visão ignorante e estúpida'', acusa Cláudio Nascimento, presidente do grupo Arco-Íris - ONG defensora dos direitos dos homossexuais. Em maio do ano passado, o governador sancionou a lei 3.406, que proíbe a discriminação nos estabelecimentos comerciais e por agentes do Estado. ''Isso mostra a total incoerência dele''. Nascimento não descarta um boicote da comunidade gay ao governador. ''Ele pode perder 15 milhões de votos''.

Para o antropólogo Luiz Mott, presidente da ONG Grupo Gay da Bahia, o governador foi intolerante. ''A posição dele reflete a mesma intolerância da Igreja católica e das denominações protestantes, que interpretam erradamente a Bíblia para justificar a condenação dos ''pecadores''. O vice-presidente da organização, Marcelo Cerqueira, foi mais radical: ''Para o inferno ele e sua piedade. Nas eleições de outubro, Garotinho vai receber o troco''.
Essa é a segunda vez, em menos de um mês, que o governador do Estado do Rio provoca polêmica com suas declarações. No dia 17 de outubro passado, Garotinho acusou a vice-governadora Benedita da Silva (PT) de ter desviado uma doação de R$ 500 mil. O dinheiro seria usado na construção do Restaurante Popular Betinho, para ONG Ação da Cidadania. Dias depois, veio a público dizer que não chamara a petista de corrupta, mas de omissa, pois ela era a responsável pela fiscalização e aplicação da verba.

No debate político durante o programa, Garotinho reforçou a disposição de disputar à Presidência da República. E garantiu que o primeiro escalão do governo estadual deixa o cargo em abril. ''Vai ser a grande oportunidade de o PT mostrar que sabe fazer além de falar''. O governador voltou a descartar uma candidatura única das esquerdas no primeiro turno da eleição presidencial, como havia proposto, o presidente de honra do PT e provável candidato do partido à Presidência, Luiz Ignácio Lula da Silva. ''O Lula está sonhando''. E ironizou o adversário: ''Eu já votei nele (Lula) duas vezes e ele perdeu as duas vezes. Espero agora que ele retribua.''


Presidência proíbe entrada de lobistas
BRASÍLIA - O governo tentará proibir o lobby, pelo menos dentro do Palácio do Planalto. O chefe da Casa Civil, Pedro Parente, anunciou que autoridades com sala no Planalto estão proibidas de aceitar pedidos de audiência feitos por lobistas ou escritórios de consultoria. Quem quiser ser recebido vai ter de marcar hora pessoalmente. E com documento impresso que registre o motivo da audiência. ''Em hipótese nenhuma serão aceitas solicitações por intermédio de representantes comerciais ou de relações públicas'', reforça a portaria assinada ontem por Parente.

Além de criar barreiras no acesso aos gabinetes, o governo solicitou à Comissão de Ética Pública a regulamentação da atividade dos lobistas. Um projeto redigido com essa intenção se arrasta há mais de oito anos no Congresso.

Agendas - As autoridades instaladas no Planalto deverão anotar nas agendas os temas tratados com os visitantes e as providências necessárias a cada caso. Terão ainda de escrever os nomes das pessoas que participaram da audiência. Para isso, um assessor receberá a incumbência de anotar os dados.
A portaria impede os 2.146 mil servidores lotados na Presidência da República de aceitar propostas de trabalho fora do governo, em empresa ou associações de classe. Além dos bicos, ficam proibidos convites para almoços, jantares e festas de empresas, associações de classe, representantes comerciais e relações públicas. Convites nessa linha só serão permitidos em eventos amplos, como seminários. Quem tiver contrato de trabalho em vigor fora do governo terá de prestar informações sobre os últimos dois anos.

Lobista - Segundo Parente, a decisão de adotar as restrições foi ''provocada'' pela descoberta das ligações do lobista Alexandre Paes dos Santos com servidores administrativos do Planalto e do Ministério da Saúde.
Feito às pressas, o texto da portaria considerou a necessidade de regulamentar o trabalho realizado fora do horário de expediente ''por funcionários da Presidente (sic) da República.'' Chega-se ao óbvio de proibir que servidores revelem informações de caráter confidencial, secreto ou sigiloso.

Código - A presidência passará a ter normas de conduta. Os ocupantes de cargos de confiança terão de aderir ao Código de Conduta da Administração Pública. São mais 347 servidores que estarão obrigados a apresentar declaração de renda ao governo. Quem não se enquadrar nas novas regras será forçado a pedir exoneração.
Parente afirmou que o governo não considerou ilegalidade os serviços de tradução que uma funcionária da Casa Civil prestava ao lobista Alexandre Paes dos Santos. Mas, disse ele, concluiu que ''não é cabível''. O ministro disse desconhecer se as audiências no Planalto eram agendadas por escritórios de lobby.

Regulamentação - Na carta enviada à Comissão de Ética Pública, Parente diz que o presidente Fernando Henrique Cardoso gostaria de ver regulamentada a atividade do lobby. Lembra existência de projeto sobre o assunto em tramitação no Congresso. O chefe da Casa Civil solicita ao presidente da comissão, João Geraldo Piquet Carneiro, a análise a respeito da elaboração de um novo projeto de lei, para inclusão do Poder Executivo nas normas.


Artigos

Não há comparação
Alcides Amaral

Dando continuidade à cruzada para recolocar a economia norte-americana nos trilhos, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) reduziu as taxas de juros para 2% ao ano, o nível mais baixo dos últimos 40 anos. Nem mesmo no começo da década de 90, quando a recessão bateu forte na maior economia mundial, as taxas chegaram a níveis tão baixos. Os 3% da época foram mantidos por pouco tempo, pois já em 1995 o nível era de 6% ao ano, após sucessivos aumentos de 25 e 50 basis points.

O que mais chamou atenção, entretanto, não foi o corte adicional de 0,5%, mas o fato de os agentes e analistas econômicos internacionais acreditarem que ainda não será suficiente para o fôlego de que a economia precisa. Novos cortes de 25 basis points deverão levar ao nível de 1,5% ao ano já em janeiro de 2002. Essa foi a leitura do pronunciamento do todo-poderoso Alan Greespan, para quem a atividade econômica está deprimida pelas incertezas, embora mantidas as condições favoráveis de longo prazo. Indaga-se até onde essa agressiva politica monetária terá a eficácia necessária para retirar o país da recessão e, o que é pior, se não haveria uma repetição do longo ciclo negativo do Japão.

Os ataques terroristas de 11 de setembro são, com certeza, responsáveis pelo agravamento da situação e pelos últimos números altamente negativos. O desemprego em outubro saltou para 5,4% (0,5% acima do índice anterior), afetando mais 415.000 postos de trabalho (há três anos, havia falta de braços para atender a demanda de mão-de-obra). A queda dos estoques no terceiro trimestre, da ordem de US$ 50,4 bilhões, atingiu níveis sem precedentes. O resultado acumulado dos últimos três trimestres representa a maior liquidação de estoques do pós-guerra. A confiança do consumidor caiu novamente em outubro.
Mesmo antes dos episódios do Pentágono e do World Trade Center o Federal Reserve já vinha executando política agressiva na redução da taxa de juros, trazendo-a de 6,5% ao ano, em dezembro de 2000, para 3,5% em agosto de 2001. Era sinal de que as coisas já não iam bem.

Diante desse quadro sombrio não foram poucas as tentativas de comparar os Estados Unidos ao Japão, que hoje não tem mais como reduzir as taxas de juros e precisará injetar dinheiro na economia para que ela possa começar a reagir ninguém sabe exatamente quando. Não é por outra razão que o secretário do Tesouro norte-americano, Paulo ONeill, em recente entrevista ao Wall Street Journal, dizia que ''é fácil levantar suspeita de que as economias americana e japonesa têm algumas semelhanças''. Mas destacava que ''o Japão não tem uma economia aberta'', o que não lhe permite utilizar-se de todos os benefícios da globalização.

É verdade. Se a triste realidade é que a economia norte-americana levará mais tempo para recuperar-se, é muito cedo para desenharmos um cenário de fim de mundo. Não bastassem as ponderações de ONeill, não podemos esquecer que a tecnologia hoje existente é muito superior àquela que prevalecia há 10 anos, propiciando ganhos de produtividade jamais vivenciados. Melhores sistemas de gerenciamento de estoques possibilitam a redução de produtos armazenados, assim como a qualidade das informações permite decisões mais rápidas e com muito melhor embasamento. Como, ainda, o Estado norte-americano é superavitário, o presidente Bush acabará conseguindo do Congresso as aprovações necessárias para que cerca de US$ 70 bilhões sejam injetados na economia - na forma de incentivos e redução de impostos - sem criar indesejadas pressões inflacionárias.

Embora, pois, não seja possível negar que a maior economia mundial enfrentará dias e meses de grandes dificuldades, não há por que temer o pior. Compara-lá com o Japão pode ser um bom exercício acadêmico, nada mais do que isso.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER

Tucanos em pé de guerra
Pergunte-se a algum tucano se há briga no partido por causa da sucessão presidencial e a resposta será negativa, fidalga mesmo: no máximo divergências pontuais de fácil solução. Porém, observem-se os tucanos em movimento, nos bastidores e fora deles, e a visão que se terá é a de uma briga de grupos que envolve de discordâncias sérias entre os dirigentes, à guerra aberta entre concorrentes à vaga de candidato a presidente, passando por uma disputa pelo controle do marketing do partido.

Além de contestações ao modo como o deputado José Aníbal está exercendo a presidência do PSDB - absolutista é o adjetivo que se emprega a ele, acoplado à análise de certa falta de noção de que o comandante deste processo é o presidente da República e as decisões da executiva partidária são colegiadas. Um batalhão avançado já está conversando com Aníbal, a fim de acalmá-lo e pedir-lhe que não tome certas críticas políticas como ataques pessoais.
Colaborou bem para a elevação da tensão no PSDB, o noticiário de alguns jornais de ontem, que reproduziam ironias pesadas do governador Tasso Jereissati ao ministro José Serra, o qual, segundo ele, quer impedir os outros pré-candidatos de aparecer nos programas gratuitos a que tem direito o partido, mas não se furta a aproveitar toda e qualquer oportunidade para ocupar espaço na mídia. Travestido de ministro, mas, na verdade, vestido de candidato, é o que insinua Tasso.

Para agravar um pouco mais o problema, em uma dessas entrevistas o governador do Ceará cobra caráter e firmeza de seu partido e do Palácio do Planalto. Posição que obviamente desagradou sobremaneira o presidente do PSDB e, sem perigo de errar, podemos supor que não agradou nada ao presidente Fernando Henrique, informado de tudo, nos EUA.
Ele, FH, era e é firmemente contrário à apresentação de pré-candidatos agora. Preferiria que o programa de TV ficasse como havia sido combinado há três meses, apresentando as realizações do governo e ligando-as a posições do PSDB - logicamente para justificar que o partido tenha a cabeça da chapa presidencial.

O que surpreendeu e tensionou o tucanato foi que na reunião da executiva do partido, na terça-feira à noite, tinha-se chegado a um meio termo: o programa mostraria suas principais lideranças, mas como quadros qualificados e não como pré-candidatos.
Ficou assim tudo acertado, até mesmo com a anuência do representante do governador do Ceará, senador Lúcio Alcântara. Os partidários de Serra até estranharam a versão que saiu na imprensa, segundo a qual o ministro havia saído vitorioso nessa decisão, porque consideram que foi Tasso quem ganhou. Serra continua achando ''estapafúrdia'' a estratégia de querer imitar o que fez o PFL com Roseana, pois acha que não há possibilidade de se conseguir o mesmo efeito.

Mas isso tudo são posições manifestadas pelo ministro, antes da viagem ao Catar para a reunião da Organização Mundial do Comércio. Está claro que, mesmo longe assim como FH, Serra foi informado sobre os ataques de Tasso e consta - por relatos de quem falou com ele ao telefone -, que ficou surpreso. E mais não comentou.
Quanto à irritação dos dirigentes partidários com Tasso, em princípio a decisão seria a de não responder, porque existe a desconfiança de que o governador do Ceará esteja querendo criar algum fato que aumente o seu cacife ou que lhe permita não participar da campanha, se o escolhido for Serra. Na questão de ''falta de caráter do PSDB'' surgiu uma proposta de que se respondesse que o partido melhoraria de qualidade quanto mais próximo e integrado a ele Tasso estivesse.

Já com relação ao programa de 20 minutos no horário gratuito que vai ao ar na semana que vem, a cúpula quer decidir coletivamente a moldura em que aparecerão as lideranças. Uma certeza é a de que Serra não será representado por uma cadeira vazia, como chegou a circular. E uma dúvida é se será integrado ao programa o spot que Nizan Guanaes produziu para Tasso Jereissati. Caso o conteúdo seja eleitoral, haverá veto. Até porque, diz um dos dirigentes, o publicitário contratado pelo partido é Paulo de Tarso Santos e não Nizan.
Deu para o leitor dimensionar o tamanho da confusão? Pois é.

Itamar contra-ataca
Por meio de seu secretário de Governo, Henrique Hargreaves, o governador de Minas, Itamar Franco, reagiu contra as declarações do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, publicadas ontem aqui. Jarbas defende que as lideranças partidárias lancem um manifesto contra a candidatura de Itamar na prévias e oficializem uma dissidência.
Hargreaves atribui esses movimentos críticos a três pessoas: ''Jarbas, cujos limites não vão além de Pernambuco e faz qualquer coisa para ser vice de alguém; Moreira Franco, que não fala em nome do partido nem no Rio de Janeiro; e Geddel Vieira Lima, que nunca gostou do governador.''

Na opinião dele, esse grupo não é representativo do PMDB, ''muito menos dos 200 mil filiados que votarão nas prévias''. Hargreaves disse que usará contra eles a admissão de que só concordaram com a tese da candidatura própria para não perder a convenção de setembro. ''Falam em traição, mas quem mentiu para o partido foram eles. Vamos cobrar do presidente Michel Temer se foi falso o discurso dele na convenção.''


Editorial

Crise e Realismo

Diante de insistentes rumores, o presidente da Transbrasil, Antônio Carlos Cipriani, voltou a afirmar, na manhã de ontem, que a empresa ''não vai fechar''. Segu ndo ele, ''a Transbrasil vai continuar operando com prejuízo, aguardando a oportunidade de voltar ao mercado mais forte e com mais aviões''. Seria muito bom que o otimismo de Cipriani se confirmasse. Mas há motivos para concluir que a Transbrasil está no limite de suas resistências. Opera com apenas cinco aviões, suspendeu as operações no exterior e carrega dívidas de R$ 900 milhões. Na semana passada, a parada para manutenção de um Boeing provocou o cancelamento de seis vôos diários. É difícil acreditar na recuperação da empresa, em meio ao forte impacto dos atentados de 11 de setembro sobre o fluxo de passageiros. Tudo indica que só os mais fortes sobreviverão à crise da aviação comercial.

A retração do mercado é tão violenta que sequer os países da Europa conseguem assegurar a sobrevivência de suas companhias aéreas. Apesar dos esforços do setor público, os prejuízos se avolumam e as quebras parecem inevitáveis. A Suíça continua a fazer das tripas coração para manter a Swissair. Mas a Bélgica entregou os pontos com relação à Sabena: a justiça belga acaba de decretar a falência da maior companhia aérea do país e a segunda maior da Europa. Pela primeira em 78 anos, os aviões da Sabena não levantaram vôo. Em Londres, a poderosa British Airways anunciou que a ocupação de seus vôos caiu mais de 40% nos últimos dois meses. Os prejuízos alcançam cifras históricas.

A crise é mundial. Mas, no caso brasileiro, deve passar ao largo dos cofres públicos. Não cabe à União solucionar problemas de âmbito privado. Falências não são purificadoras (ao contrário do que disse um ministro nos anos 60), mas fazem parte da vida empresarial. O que não significa que o governo deva deixar as companhias aéreas ao léu. A aviação comercial faz parte da infra-estrutura do país, como os transportes rodoviário, ferroviário e marítimo. Pelas cargas e passageiros que movimenta, é um setor crítico para o desenvolvimento econômico.

Mesmo sem injeção direta de recursos (prática que o país felizmente abandonou), o governo tem o que fazer. Além da renegociação das dívidas com a Infraero, pode pensar seriamente na redução do ICMS que incide sobre o litro de combustível (25% em alguns Estados contra 5,5% nos EUA). Também pode rever a tributação do setor: não faz sentido tomar por renda as despesas com leasing. E, pelo menos no pico da crise, a Infraero trataria de tornar mais suaves as taxas aeroportuárias. São demandas justas que não chegam a ferir as leis do mercado. São medidas tópicas que não impedirão a falência de quem não tem forças para sobreviver.

Quanto às empresas, só há um plano de vôo a obedecer: enxugar custos operacionais para enfrentar a turbulência. O mercado passa por forte transição e a estrutura deve ser compatível com o período de vacas magras. No rumo certo está a Varig que tomou a decisão de suspender seis horários Rio-Miami, dois Rio-Paris e a rota São Paulo-Los Angeles. No programa de cortes, é compromisso da empresa demitir 1.700 funcionários (num total de 21 mil) e tirar de circulação 10 aviões 737-200. O enxugamento em nada deprecia a maior companhia aérea brasileira. É sinal de que a Varig está se adaptando à demanda. É sinal de boa administração. Vence-se crise com realismo, não com sonhos.


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11/09/2001


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