Vítimas não denunciam crimes contra conhecidos
Pesquisa da Unesp mostra que um dos motivos seria a falta de confiança na Justiça
A omissão de denúncias contra pessoas conhecidas está ligada à falta de confiança no sistema de justiça criminal, ao medo de represálias por parte do autor do crime e dos seus amigos e familiares, além da própria exposição da vítima perante a sociedade. Foi o que revelou a pesquisa Denunciar ou não: O dilema da vitimização, realizado no interior do estado, pela docente Sueli Andruccioli Felix do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), câmpus Marília e coordenadora do Guto (Gestão Urbana de Trabalho Organizado).
“Os resultados indicaram, que no município de Marília, 85,7% dos casos de lesão corporal dolosa foram cometidos por pessoas próximas das vítimas. Por motivos de medo do autor do crime ou descrença na polícia, 53% dos delitos não foram comunicados e, a subnotificação, no caso de violência sexual foi de 100%”, revela a coordenadora do Guto. Apoiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a pesquisa visa demonstrar que esses resultados devem ser enfrentados para a melhoria das políticas públicas, como segurança, saúde e política urbana. “Os resultados da pesquisa configuram-se em uma forma de superar essas cifras e, conseqüentemente, nortear políticas preventivas, implementadas por meio do Comitê Gestor em diversas campanhas e ações comunitárias, tornando-se modelo para pesquisas e políticas públicas em outras cidades médias”, diz Márcio Ricardo de Carvalho colaborador da pesquisa e doutorando do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
A iniciativa da pesquisadora deve-se as omissões dos órgãos de segurança que representam grandes problemas no desenvolvimento de políticas públicas e, para a ciência, compromete o desenvolvimento de hipóteses e teorias que poderiam levar à compreensão de muitos crimes, especialmente os sexuais.
“Por registros oficiais é impossível saber quantos crimes ocorreram de fato e, com isso estabelecer políticas de planejamento preventivo que abranja toda a criminalidade. Para a pesquisa acadêmica não existe a possibilidade de conhecer a dinâmica de alguns crimes apenas pelas informações oficiais, diante de tanto sub registro, principalmente os crimes sexuais”, explica a docente.
As entrevistas foram realizadas por membros do Guto no terminal rodoviário urbano e em dois shoppings centers de Marília, em 2001 e 2003. Na primeira etapa foram aplicados 828 questionários e encontradas 240 vítimas (29%). Já na segunda, o objetivo foi atualizar as informações referentes aos perfis das vítimas e seus comportamentos diante de um contexto geral de prevenção criminal. “Os resultados subsidiaram diversas campanhas de prevenção do Guto em parceria com a Polícia Militar, especialmente em regiões onde foram detectados maiores problemas devido a carência de policiamento”, acrescenta a pesquisadora.
Guto – O Grupo de Pesquisa e de Gestão Urbana de Trabalho Organizado iniciou seus trabalhos em 2001, focado em debates sobre violência, segurança e qualidade de vida em escala global, além de ser um suporte científico aos órgãos de segurança e às políticas públicas na área. O grupo é formado por docentes e alunos dos câmpus de Marília, Assis e Araraquara.
Da Unesp
07/15/2008
Artigos Relacionados
Vítimas de intoxicação por agrotóxico denunciam falta de assistência
Comissão quer classificar crimes contra pessoas com deficiência como crimes contra os direitos humanos
Projeto de Cristovam inclui crimes contra a administração pública no rol de crimes hediondos
Projeto garante direitos a vítimas e testemunhas de crimes
ESTADO PODERÁ PROTEGER TESTEMUNHAS E VÍTIMAS DE CRIMES
ESTADO PODERÁ PROTEGER TESTEMUNHAS E VÍTIMAS DE CRIMES