Vitorioso, Tarso dá largada para 2006
Vitorioso, Tarso dá largada para 2006
Prefeito de Porto Alegre derrota Olívio Dutra nas prévias e será o candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul
PORTO ALEGRE - O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), já declarou publicamente que aspira a Presidência da República. Disse que não tentaria este ano, se o candidato do partido fosse Luiz Inácio Lula da Silva. Cumpriu a promessa, mas já começou a trabalhar para o futuro.
Neste fim de semana, ao vencer as prévias do PT para a escolha do candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso construiu o primeiro atalho na rota traçada. Em vez do caminho mais tranqüilo - tentar a reeleição na Prefeitura - confrontou e derrotou o governador Olívio Dutra.
A margem foi pequena: 18.076 votos (51.3%), contra 17.093 (48,7%). Adepto de alianças amplas com outros partidos, seguindo a linha da direção nacional do PT, Genro entrou no coro dos que criticaram o mais ortodoxo Olívio , quando explodiu o escândalo do jogo do bicho, no ano passado. Por mais light que fosse a cartilha do prefeito, certamente não estava previsto qualquer tipo de acordo com bicheiros.
Esta foi a sensação que ficou no ar, no Estado, depois que o escândalo explodiu. Surgiram denúncias de que o tesoureiro do partido, Diógenes Oliveira, teria pressionado a chefia da polícia gaúcha a não reprimir o jogo do bicho. Integrantes da CPI criada pela Assembléia Legislativa para investigar a política gaúcha de segurança, ouviram fitas em que Diógenes afirmava estar falando em nome de Olívio. O escândalo seria a origem do fracasso do governador nas prévias.
Para o PT gaúcho a situação também se tornou no mínimo incômoda, com a derrota do governador. Ao escolher o oponente, nas prévias, o partido praticamente descredencia a atual administração e deixa exposto o tamanho da insatisfação interna.
Numa legenda que se declara ética, a leniência com o jogo do bicho - tradição entre os políticos brasileiros - poderia ferir mortalmente a imagem do PT no Estado, avaliaram militantes que, na época, passaram a criticar o governo. A crise acabou acirrando antigas divergências e culminou na disputa entre Olívio e Tarso.
Depois do confronto, declarações diplomáticas. Olívio garante que trabalhará para ajudar Tarso. Acredita que passará a faixa ao companheiro do partido. ''A prévia reforçou o PT, aumentou nossas chances eleitorais e motivou os filiados'', disse, para quem quisesse acreditar.
No mesmo tom, Tarso afirmou que, independente do resultado, o PT sairá vitorioso ''pela demonstração de maturidade que candidatos e filiados deram durante a campanha para as prévias''.
Tarso Genro deixará a prefeitura em abril. Será substituído pelo vice-prefeito, João Verle. O candidato a vice-governador será conhecido no próximo dia 23, quando haverá um encontro de delegados estaduais em Porto Alegre.
Proposta cria privilégio de ocasião
O tucano Bonifácio Andrada quer estender a ex-autoridades a prerrogativa de foro especial para processo e julgamento
Brasília - A anunciada guerra de dossiês e denúncias que promete ser a tônica das eleições de outubro reacendeu no Congresso uma velha proposta. Para aliviar as implicações judiciais dos políticos eventualmente encrencados com a lei, o deputado tucano Bonifácio Andrada (MG) apresentou projeto de lei que concede foro privilegiado a ex-autoridades públicas acusadas de crimes durante o exercício do cargo.
A proposta garante a quem deixou o posto os mesmos direitos dos atuais ocupantes - não responder à justiça comum, mas a cortes especiais. Ex-presidentes, ex-ministros, ex-governadores, ex-parlamentares, ex-secretários de Estado não poderiam mais ser julgados por juízes de primeira instância, apenas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou pelas cortes de apelação. ''Acho justo. Senão, ninguém mais vai querer exercer função pública'', justifica o parlamentar mineiro.
Bonifácio encontrará forte resistência à idéia no STF. O tribunal acabou com o privilégio em 25 de agosto de 1999, ao revogar a Súmula 324. A decisão foi tomada em resposta a um pedido do ministro Sydney Sanches, de 1997. Ele resolveu consultar o plenário quando julgava pedido de habeas-corpus do ex-deputado Jabes Rabelo, acusado de falsidade ideológica e participação no narcotráfico. Diante do voto unânime em favor da extinção do foro especial para ex-autoridades, Sanches declarou, à época: ''Os tempos são outros. Já não são raras as hipóteses de inquéritos, queixas ou denúncias contra ex-parlamentares, ex-ministros e até ex-presidente da República''.
Não é a primeira vez que o tema volta à baila no Congresso. Durante as discussões da reforma do Judiciário, em 2000, pipocaram tentativas de reeditar a norma. O então presidente do Supremo, ministro Carlos Mário Velloso, fez um ''apelo à sensatez'' dos parlamentares para não levarem a tese adiante. Foi ouvido. Uma proposta de emenda constitucional foi derrotada na Câmara.
Agora, Bonifácio apresenta um caminho mais fácil. Em vez de mudar a Constituição, o que exigiria o apoio de três quintos dos parlamentares, sugere uma lei alterando a redação do artigo 84 do Código de Processo Penal, que trata da competência para julgamento de processos para crimes comuns e de responsabilidade. Precisaria, assim, convencer apenas metade dos congressistas.
Bonifácio diz que nunca tratou do tema com o presidente da República. A aprovação, contudo, favoreceria Fernando Henrique Cardoso caso fosse alvo de processos movidos por adversários políticos ao deixar o Palácio do Planalto. Os casos seriam tratados pelo Supremo, não por juízes de primeira instância. Nos Estados Unidos, o presidente não goza dessa prerrogativa nem no exercício do cargo. O ex-presidente Bill Clinton, acusado de assédio sexual quando inquilino da Casa Branca, teve de se reportar a um júri popular, não à Suprema Corte americana.
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney reivindicou o direito de manter no STJ a investigação sobre sua empresa, a Lunus, acusada de participar de fraudes na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Perderá o privilégio, contudo, assim que deixar o cargo para disputar as eleições.
Cerca de 14 mil brasileiros recebem hoje tratamento diferenciado e não passam pela justiça de primeira instância. Além do presidente da República, ministros, governadores, parlamentares federais e prefeitos, gozam da prerrogativa do foro especial os procuradores, juízes, deputados estaduais e secretários de Estado. Trata-se de um privilégio previsto na Constituição. Entre os ministros do Supremo, contudo, é consenso dizer que a lei foi extremamente generosa. O retrocesso proposto agora deverá, mais uma vez, ser combatido pelo tribunal.
Justiça quebra sigilo de Padilha
BRASÍLIA - A Justiça Federal de Brasília quebrou ontem os sigilos bancários do ex-ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, e do ex-secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Jorge Caldas Pereira, no processo em que são suspeitos de fraudes no extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). A Justiça acatou, em parte, uma liminar requerida pelo Ministério Público, que queria, ainda, a quebra dos sigilos fiscal e telefônico de Padilha, de Eduardo Jorge e de mais 14 indiciados, entre funcionários públicos, lobistas e empresas. Outros seis diretores e funcionários de estatais e uma empresa também tiveram os sigilos quebrados.
A Justiça mandou o Banco Central apresentar em 90 dias cópia da movimentação financeira dos indiciados ''em todo o território nacional e em todas as instituições financeiras sob sua fiscalização'', entre setembro de 1997 e dezembro de 2001. Determinou ao Ministério da Justiça que solicite aos Estados Unidos informações ''referentes à possível existência de contas bancárias dos requeridos nas instituições financeiras situadas em seu território''.
Os envolvidos são acusados de liberar ilegalmente R$ 2,3 milhões para o pagamento de dívida judicial do DNER com a empresa 3 Irmãos. O nome de Eduardo Jorge aparece em ofício dirigido a Padilha, onde solicita ''providências'' em favor de um parlamentar que estaria interessado em pagamentos do DNER. De acordo com a denúncia do MP, além de descumprir o dever constitucional de pagar precatórios sem homologação judicial nem obediência à ordem cronológica, os réus devem responder por superfaturamento e violação de dispositivos da Lei de Improbidade Administrativa.
Salários perdem para a inflação
Estudo do Dieese mostra que em 2001 menos da metade dos trabalhadores conseguiu acompanhar a alta de preços
O ano de 2001 terminou mal para os trabalhadores. Um balanço divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que menos da metade deles conseguiu ganhos reais de salários. Das 529 categorias profissionais pesquisadas pelo Dieese, 240 (45,37%) tiveram reajustes maior do que a inflação.
Outras 190 categorias (35,92%) tiveram aumentos inferiores ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano anterior, a derrota para inflação atingiu 33% dos dos trabalhadores. E 99 categorias (18,71%) obtiveram recomposição igual ao INPC. No total, 64,08% dos acordos resultaram em aumento igual ou superior ao INPC, contra 67% em 2000.
Racionamento - De acordo com o coordenador sindical do Dieese, Wilson Amorim, as dificuldades foram concentradas no segundo semestre e são resultado do impacto do racionamento, da crise argentina e da alta do dólar. Tanto que nos primeiros seis meses, 72% das categorias conquistaram um reajuste salarial igual ou superior à variação do INPC. Na segunda metade do ano apenas 46% obtiveram o mesmo sucesso.
O resultado só não foi pior porque 364 categorias profissionais (68,81% do total analisado) têm data-base no primeiro semestre. No entanto, o segundo semestre reúne as campanhas salariais de categorias importantes e numerosas como bancários, metalúrgicos e petroleiros.
O impacto no racionamento de energia nos contracheques fica claro quando se compara os resultados das negociações em diferentes regiões do país. Na região Sul, onde não houve restrição ao consumo de energia, 81,33% dos trabalhadores conseguiram pelo menos a reposição da inflação. Já no Norte e Nordeste, esse percentual foi de 54,25% e na região Sudeste, 60,75%.
Melhora - Para este ano, Amorim acredita que as negociações salariais tenham um comportamento oposto ao do ano passado: reajustes menores no primeiro semestre e maiores nos últimos seis meses do ano. ''Há uma expectativa positiva de crescimento econômico, que deve beneficiar as negociações entre patrões e empregados.''
Na visão do Dieese, o que pode complicar a vida dos trabalhadores é o projeto de lei que altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). ''Se flexibilizar ainda mais, as negociações deixarão de ser por reajustes e passarão a ser por manutenção de direitos trabalhistas'' diz Amorim.
Os números do Dieese mostram ainda que de 1995 a 1998 caiu o volume de greves por reajuste salarial e aumentou o número de paralisações causadas pelo descumprimento da legislação trabalhista. No ano passado, também foi menor o contingente de trabalhadores que recebeu abono salarial, apenas 11,15% do total. Nos anos 1999 e 2000, o abono apareceu na maioria dos acordos.
O abono é usado pelas empresas que concedem a seus funcionários um reajuste inferior à inflação. É uma forma de compensar a perda salarial do funcionário sem causar impacto nos custos sociais da empresa, uma vez que o benefício não se incorpora ao salário, ou seja, não conta para efeito de 13° salário, férias, previdência ou FGTS. '' As empresas não quiseram pagar nem o abono. Era o emprego ou o reajuste ou o abono,'' disse Amorim.
Consumidor perto da vitória contra bancos no Supremo
STF julga ação de instituições financeiras após Semana Santa
BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá indeferir a ação de inconstitucionalidade proposta pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif) para que os bancos possam driblar os efeitos do Código de Defesa do Consumidor (CDC). O julgamento será realizado logo depois da Semana Santa.
A expectativa é de que, na linha do parecer do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, o tribunal declare possível a ''coexistência'' de uma lei complementar reguladora do Sistema Financeiro e o CDC (lei ordinária). Ao código, devem sujeitar-se as instituições financeiras, ''como todos os demais fornecedores, em suas relações com os consumidores''.
''Segurança jurídica'' - O ministro Carlos Velloso, relator da ação dos bancos, solicitara prioridade para o julgamento, por considerar a questão de interesse social relevante e importante para a ''segurança jurídica''. Na sexta-feira - já de posse do parecer do Ministério Público e das informações da União -, pediu a inclusão da ação em pauta. A publicação da pauta no Diário da Justiça está prevista para o dia 26, segundo a Secretaria do STF.
Caso o STF acolhesse a ação da Consif, os cidadãos burlados nas agências bancárias não poderiam mais recorrer aos Procons e enfrentariam dificuldades para reclamar direitos previstos no CDC, como abatimento de juros no pagamento antecipado de dívidas e tempo de espera na fila. A Advocacia-Geral da União já encaminhou ao ministro-relator o seu ponto de vista: não há ''imunidade'' do sistema financeiro às normas de proteção do CDC.
Obrigações - O Ministério Público, no parecer enviado por Brindeiro no dia 6, ressalta que ''inúmeros outros diplomas legais, de índole ordinária, acabam por criar atribuições para as instituições financeiras'', como as legislações sobre o Imposto de Renda, a Previdência e os direitos trabalhistas. Assim, ''não seria sequer sensato que os integrantes do Sistema Financeiro Nacional, pelo só fato de terem sua atividade regulada por lei complementar e fiscalizada por um banco central, postulassem eximir-se do dever de obediência às demais leis do país''.
A Consif, através dos advogados Arnold Wald e Ives Gandra, alega ser a Constituição bem clara em seu artigo 192: somente lei complementar - e não ordinária - pode dispor sobre o Sistema Financeiro Nacional.
Soluções para as pequenas empresas
As estratégias para superar os obstáculos e crescer no mundo dos negócios, a expansão do crédito e as experiências de outros países - ricos e pobres - são alguns dos temas abordados no seminário A Vez da Pequena Empresa, que será realizado hoje, a partir das 8h30, na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
O evento, promovido pelo Jornal do Brasil com apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas (Sebrae), reunirá especialistas como o representante-adjunto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Henry Jackelen, e o economista André Urani, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets). Em pauta, problemas e soluções para as pequenas empresas, que respondem por 20% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas pelo país) e empregam 44% dos brasileiros que têm carteira assinada.
Programação - A abertura ficará a cargo do presidente do Sebrae, Sérgio Moreira, do vice-presidente-executivo da Firjan, Luís Chor. O mediador será o jornalista Augusto Nunes, vice-presidente do JB. O primeiro painel, que leva o nome do seminár io, terá como debatedores o economista Ricardo Henriques, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o deputado Osmar Terra (PMDB-RS).
No segundo painel - intitulado ''Pequenos negócios no mundo: experiências bem-sucedidas na Itália, na Índia e no México'' -, o conferencista será o ex-ministro da fazenda Paulo Haddad. Já o terceiro painel, ''Formalidade e informalidade: burocracia e legislação'', terá André Urani, com os economistas Helena Lastres e José Cacciolato, da UFRJ, como debatedores.
À tarde, será a vez do painel ''Microcrédito e outras formas de financiamento para pequenos negócios'', que contará com a presença de Henry Kackelen, do Pnud, e do deputado Gerson Gabrielli (PFL-BA). Em seguida, o secretário do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, José Eli da Veiga, falará sobre ''Pequenos negócios no setor rural'' - neste painel, o debatedor será o presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal.
Artigos
Quem pode salvar a TV a cabo
Nelson Hoineff
A polêmica injeção de capital na Globocabo ganhou nos últimos dias as páginas dos principais jornais e revistas brasileiros e colocou em pauta os aspectos éticos e políticos do aporte de R$ 284 milhões pelo BNDES, o que equivale a mais de 28% dos recursos do aumento de capital, quase seis vezes o que a estatal detém de ações da empresa socorrida.
O debate surgido daí tem levantado importantes questões técnicas, principalmente sobre a viabilidade de uma empresa com dívidas de R$ 1,6 bilhão, R$ 530 milhões dos quais com vencimento até o fim do ano. Executivos de outras empresas da área, ironicamente, pedem para si a mesma generosidade demonstrada pelo acionista público da Globocabo.
A questão, no entanto, estimula outras reflexões, menos presentes nos cadernos de economia em que o assunto vem sendo tratado. A mais importante delas não diz respeito às relações entre os sócios e investidores, mas à química natural que deve haver entre qualquer empresa e o seu público, entre o ofertante do produto e o seu consumidor.
A Globocabo viu suas ações perderem 60% no período de um ano. Mais importante do que isso, no entanto, é que viu também sua base de assinantes cair de 1,47 milhão para 1,28 milhão. Os economistas inferem daí que o poder de compra dos brasileiros está caindo. Pode ser. Mas vale a pena cogitar, também, que o produto vendido não esteja sendo exatamente o que o consumidor esperava.
Se a industria de TV por assinatura no Brasil se dispuser a examinar suas próprias fraquezas, certamente a análise dos problemas por que vem passando se tornará bem mais palatável. Não se pode esquecer, por exemplo, que a delicada situação da Globocabo é também compartilhada por suas competidoras - em nível menor porque são menores seus investimentos e também suas participações no mercado.
O que a TV por assinatura vende são três categorias de produtos: qualidade de recepção, serviços on-line e programação de televisão. É consensual na indústria que o item programação tem no momento um impacto bem maior do que os anteriores sobre a decisão do consumidor de assinar o sistema.
A base de assinantes no Brasil, de cerca de 1,8 milhão de domicílios, foi atingida há mais de dois anos. De lá para cá estagnou. O MMDS encolheu e o DTH (satélite de alta potência), apesar de mais moderno, não sai do lugar. A forma mais popular de TV por assinatura no país é o cabo. Sua penetração é inferior a 2%. Nos EUA, para que se tenha uma idéia, é de 69%. As agências de publicidade são também um termômetro antecipado da crise. Em 2001, elas geraram para a atividade um faturamento de míseros 142 milhões de reais - 11,7% a menos que no ano anterior. Isso é a terça parte do que os anunciantes investem no radio e menos do que aplicam em outdoors e até mesmo em publicidade no exterior. É evidente que alguma coisa está errada - e não é só com a economia do país.
O que está errado é que a industria de TV por assinatura não está oferecendo ao assinante a pluralidade de opções que dela se esperava. Há grande oferta de material importado em canais básicos (filmes, infantis, esportes, documentários) e uma produção ou empacotamento local altamente concentrados numa única programadora (no caso da distribuição pela Globocabo/NET). São bons canais, mas que sozinhos não tem como entregar a diversidade de propostas artísticas e a difusão de valores plurais que a industria de TV por assinatura promete e da qual vive em larga escala.
Não é de se estranhar, então, que, no caso da NET, dos 6,4 milhões de residências por onde passa o sistema, menos de 1,3 milhão se anime a assiná-lo. O que a indústria está propondo ao assinante é que ele compre mais da mesma coisa. O assinante está respondendo que não está disposto a fazer isso. Tirar sua razão é o mesmo que repetir uma das metáforas favoritas dos detratores do cinema novo: os filmes são populares, o público é que é burro.
O público não é burro, e talvez ele queira se ver um pouco mais nas dezenas de canais que circulam pelos lineups dos operadores que ele está abertamente rejeitando. Talvez ele queira ver menos do mesmo e mais do que é diferente, do que simplesmente não lhe é oferecido. Talvez ele esteja dizendo que gostaria de opinar, não apenas sobre o que está vendo, mas sobre o que gostaria de ver.
Ouvir, simplesmente, o que o consumidor está claramente reiterando, já é um bom início para o enfrentamento das verdadeiras questões da indústria de TV por assinatura no Brasil. A natureza desse enfrentamento escapa aos economistas e administradores de empresas, porque passa pelos produtores e empacotadores de conteúdo televisivo - e pelos seus estrategistas, dos quais a área anda bem carente. O BNDES pode ser chamado 100 vezes a aportar capital ao setor e até aliviar a situação das empresas. Mas o problema da indústria não compete a ele resolver.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
De olhos bem abertos
Político é bicho esperto. Costuma-se dizer que no Congresso não há tolos, pois o mais bobo deles por algum motivo chegou lá. Pois eis que uma pesquisa do Instituto Vox Populi, divulgada na última edição da revista Veja, nos mostra que quem não tem nada de bobo é o eleitor, cujo julgamento a respeito do episódio Roseana Sarney e alguns desdobramentos sobre o comportamento de candidatos reflete não a versão que se procurou dar, mas uma visão realista dos fatos.
Vamos a eles: a despeito de toda a carga do PFL ao tentar desviar o foco daquelas cédulas em cima da mesa da empresa Lunus para uma conspiração maléfica objetivando derrubar a candidatura Roseana, 59% das pessoas consultadas responderam que a descoberta foi resultado de investigação séria do Ministério Público e de ação independente da Polícia Federal. Apenas 28% acreditaram na versão de que se tratava de dinheiro arrecadado para campanha e 55% manifestaram certeza de que era produto de corrupção.
São dados que indicam como a reação da candidata e do partido foi apressada e revelou-se em dissonância com aquilo que pensa a opinião pública. Outro exemplo relevante é a rejeição do argumento apresentado por Roseana, segundo a qual ela foi vítima de preconceito contra a mulher. Simplesmente 78% das pessoas discordaram. E, ainda que acreditassem que o dinheiro era mesmo para a campanha, 62% dos pesquisados afirmaram que o interesse das empresas ao contribuir é ''poder exigir vantagens futuras''.
Na pesquisa não consta a pergunta, mas essa última resposta pode ser indicativa de que, por mais difícil que seja convencer o cidadão a aceitar que parte do Orçamento da União seja destinada aos partidos, existe argumento forte e popularmente palatável para a aprovação do financiamento públi co de campanhas eleitorais.
Até porque, voltando à pesquisa, 78% acreditam que o dinheiro de doações saia dos caixas 2 e não sejam donativos legais de pessoas físicas ou jurídicas.
Depois desse episódio, simplesmente 74% das pessoas disseram que aumentaram suas preocupações com a vida pregressa dos candidatos e 83% delas manifestaram a certeza de que, se forem procurar bem, algo parecido será encontrado sobre todos os outros candidatos. Veja o leitor a ênfase no ''todos''. Ou seja, não escapa ninguém.
Apesar disso, o eleitorado divide-se quanto ao uso de dossiês para prejudicar adversários: 47% acharam legítimo, mas 53% classificaram o uso desse instrumento como ''sujo e intimidatório''.
Diante desse quadro, poder-se-ia lamentar o ceticismo que toma conta do eleitor com a política. Mas ele também nos permite concluir, por aquilo que de próximo as respostas guardam com a realidade, que o cidadão está mesmo é de olhos e ouvidos bem abertos.
Pelo menos bem mais atentos que o governador do Rio, Anthony Garotinho, que acusou e depois ''desacusou'' o deputado Márcio Fortes de ter tentado entregar a ele dossiê contra Roseana. Ficou ruim para o governador que, em outra ocasião, também acusou sua vice, Benedita da Silva, de desviar dinheiro e depois recuou.
Nesse caso agora, levou ao pecado da leviandade o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira, que deu fé à denúncia, pediu a cassação do mandato do deputado e agora precisará de boa história para contar ao eleitorado.
Ciranda
Ciro e Garotinho a partir de agora querem atacar Lula, que elegeu como seu alvo preferencial Serra, que anda dando uma boiada para não ser ferido de morte pelo PFL, cuja preocupação é encontrar a saída do labirinto em que se enfiou.
Tarso contra PL
Vencedor das prévias do PT para o governo do Rio Grande do Sul, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, tem como um dos objetivos - de campanha e, se ganhar, de governo - inserir o Estado no debate nacional. Muito provavelmente porque, eleito, torna-se um dos nomes presidenciáveis do partido.
Tarso começa essa inserção no debate dando sua opinião sobre possível aliança do PT com o PL: é contra. Não fará grande carga de público, pois teme, com isso, provocar desgaste na candidatura de Lula. Mas, na sua opinião, o acerto soa a oportunismo e confere mais perdas que ganhos ao partido.
Rock eleitoral
Sábado à noite, show de Rita Lee em Brasília. Lá pelas tantas ela resolveu fazer enquete eleitoral na platéia, citando os candidatos nome a nome e pedindo vaias ou aplausos.
Rita incluiu Itamar Franco que, assim como Ciro, Garotinho e Roseana, levou unânimes vaias. José Serra, se não chegou a dividir o público, pelo menos conseguiu alguns aplausos que, na quase totalidade, foram mesmo para o candidato do PT.
Donde ''tia Rita'' concluiu: ''A coisa vai ser mesmo entre Lula e Serra.''
Editorial
BANDEIRA DE SEMPRE
A prévia do PT para escolha formal do candidato à eleição presidencial deste ano não teve, nem era esperada, qualquer surpresa: Luiz Inácio Lula da Silva vai pela quarta vez tentar a proeza. O senador Eduardo Suplicy, que disputou contra ele a indicação, não alterou as expectativas. Também não apresentou novidade a declaração do vencedor que anuncia uma campanha de ''enfrentamento de projetos com o governo federal'', porque não teria como fazer ''confronto de resultados''.
O confronto por enquanto é de plataformas eleitorais, mas também destituído de novidades. O PT optou pela proposta que encampa várias posições de divergência frontal com o governo em matéria de dívida externa, privatização e reforma tributária. Reforma agrária e plano de casas populares figuram há meio século em todas as plataformas de candidatos - do governo ou de oposição - mas a anunciada denúncia do acordo feito com o FMI restabelece a tradicional disposição bélica do PT. A dívida externa será negociada levando em conta que é eminentemente privada. Ou seja, o governo brasileiro não se sente responsável por dívidas que não lhe dizem respeito.
Não chega a ser novo, mas o que dará colorido histórico à campanha do PT é a suspensão do programa de privatizações de companhias de eletricidade, Furnas e empresas geradoras de energia bem como serviços públicos estatais. Antes de mais nada, na hipótese de chegar ao Planalto, o PT vai reavaliar politicamente todo o programa de desestatização. A reforma tributária terá como ponto de partida a taxação das grandes fortunas. No mais, a natural rejeição da Alca.
Pelo dedo se reconhece o gigante. Com essas ressalvas o PT faz um agrado à facção descontente com a ênfase de moderação impressa pessoalmente por Lula, no combate sem trégua ao radicalismo de esquerda que trinca a ação eleitoral do partido. O grupo descontente com a procura (fora do partido) de um candidato a vice foi agraciado com a proposta de rompimento com o FMI, a renegociação da dívida externa e a suspensão - na prática, o fim - das privatizações. A direção do PT vai retomar a identificação de um companheiro de campanha para Lula, como resultado do reconhecimento de que sozinho o partido não elegeu nem elegerá o presidente.
O PT quer temperar o tônus revolucionário do passado com uma aliança conservadora. No mais, o próprio candidato externou receio de que a campanha desça ao ''baixo nível'' que vem a ser a campanha do adversário principal. A rigor, não há campanha eleitoral considerada limpa. A que elegeu o presidente Abraham Lincoln até hoje é apontada como a mais baixa registrada nos Estados Unidos.
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03/19/2002
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