A angústia da sobrevivência política



A angústia da sobrevivência política Candidatos em 2002 vivem dias tensos, a um semana para o fim do prazo de filiação partidária Acaba no próximo sábado o prazo para os políticos que pretendem disputar as eleições de 2002 possam mudar de partido. Até esta sexta-feira, dos 513 deputados federais eleitos em 1998, um terço deles (151) já havia trocado de legenda. No Senado, o percentual era de 15%. Em Pernambuco, dos 25 eleitos para a Câmara, oito protagonizaram mudança de partido. O principal atingido foi o PSB, que elegeu sete deputados e viu cinco deles trocarem de sigla no início do mandato. Dos parlamentares federais de Pernambuco, a única dúvida que ainda existe é com relação ao deputado Armando Monteiro Neto, que está insatisfeito no PMDB e pode migrar para o PPS ou, com menos chances, para o PTB. "Para mudar de partido é preciso levar muita coisa em consideração: o impacto que isso terá nas nossas bases, se as idéias do novo partido combinam com aquilo que historicamente vimos defendendo, viabilidade eleitoral, muita coisa", afirma ele. São vários os motivos que levam um político a mudar de partido. Na base da maioria dos casos costuma estar a motivação para levar adiante um determinado projeto político - e nesse processo entra desde aquele que sai porque considera que em em outra legenda será mais fácil colocar em prática seus objetivos, quanto aquele que sai apenas porque acha que, ficando, terá mais dificuldades para eleger-se. Como costuma dizer o deputado federal Inocêncio Oliveira, que nunca saiu do PFL: "Peça-se tudo a um parlamentar, menos que ele cometa suicídio político". DISTORÇÕES - A principal crítica que se faz ao troca-troca partidário é que ela produziria a ilegitimidade do processo eleitoral e enfraqueceria os partidos. "Precisamos de uma reforma política capaz de impedir essas distorções", afirma o deputado federal Fernando Ferro, do PT - partido que chegou à Câmara com 99 parlamentares e hoje tem 97. Diversos projetos já foram apresentados na Câmara para coibir a chamada infidelidade partidária, mas nenhum foi até agora aprovado. O que está mais avançado - já teve a aprovação do Senado - é um que estipula um prazo de quatro anos como tempo de filiação mínimo para que o candidato dispute pelo partido. O fenômeno das mudanças de partido, com a freqüência verificada nos últimos anos, não é uma constante da história eleitoral brasileira. No período de 1946 a 1964, isso acontecia raramente. O quadro mudou a partir de 1985, com a emenda constitucional número 25, que entre outras coisas extinguiu a fidelidade partidária. Depois veio a expansão do número de partidos. Os dois campeões nacionais da mudança de partido são os deputados João Caldas (AL) e Mattos Nascimento (RJ) - cada um deles já mudou sete vezes, só na atual legislatura. Mattos Nascimento elegeu-se pelo PSDB e no primeiro dia de exercício do mandato transferiu-se para o PMDB. Depois passou para o PMDB, PST, PRTB, PST, PL e PST. Caldas foi eleito pelo PMN e depois passou para o PL, onde entrou e saiu três vezes. Esteve no PST e PTB até retornar ao PL, onde se encontra hoje. No caso de Pernambuco, o campeão é o deputado federal Marcos de Jesus, comquatro mudanças: eleito pelo PTB, passou depois pelo PST e PSDB. Está hoje no PL. Estado sem pressa para liberar BR-232 Repasse de verbas federais foram suspensas no dia 6 de junho e DER ainda não contestou decisão do TCU A uma semana de completar quatro meses, a proibição de repasse de dinheiro da União para a duplicação da BR-232, não incomoda o Governo do Estado. A suspensão foi recomendada em 6 de junho último pelo Tribunal de Contas da União. O TCU detectou superfaturamento no edital de licitação da obra. Mas, demonstrando não ter pressa em voltar a receber recursos do Tesouro Nacional para a duplicação, o Estado "talvez dentro de 15 dias poderá encaminhar explicações ao TCU". O diretor geral do Departamento de Estradas de Rodagens (DER), Teógenes Leitão, chegou a afirmar semana passada ao DIARIO, que não existe prazo algum para que isso aconteça. Segundo ele, o prazo é estabelecido pelo próprio DER. "Estamos juntando todas as explicações para enviar ao TCU, que deu um parecer sem ter acesso a documentos do DER. Tudo será explicado à sociedade na hora certa", completou. Leitão minimiza a análise do Tribunal, que, segundo ele, recomendou o cancelamento de verba apenas por precaução e por não dispor de dados suficientes. "Suspeita quem quer suspeitar. A obra é polêmica e cara para o cidadão do Nordeste. Sou um homem polêmico, um polemistas por conviccão, mas garanto que não existe nada de irregular". Os questionamentos do Tribunal de Contas da União dizem respeito a valores individuais de materiais usado na obra. Ficou constatado que os preços contratados encontravam-se incompatíveis com os praticados pelo mercado. Ao detectar o superfaturamento, o Tribunal recomendou, automaticamente, o cancelamento do envio de R$ 21 milhões do Governo Federal previstos para a BR este ano. A obra, cujo custo é R$ 297 milhões, não recebeu, dos cofres federais, nada além de R$ 11 milhões que constam no Orçamento Geral da União de 2000. A decisão do Tribunal de Contas atendeu a uma representação da Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicom), que denunciou, além do suposto superfaturamento de preços, restrições de caráter competitivo, divergências na quantidade de lotes do edital e na contratação de projetos básicos.Também foram relacionadas como suspeitas a limitação de empresas na constituição de consórcio, a exigência de quantidade de mínima de obras e serviços e as ausências de projeto básico da licitação como anexo do edital e de critério de aceitabilidade dos preços das propostas. Guilhotina : Jader tenta se safar da cassação iminente Senador articula candidatura a governador pela terceira vez BELÉM - A um passo da renúncia para evitar a cassação de seu mandato, o senador Jader Barbalho (PMDB) começou a arregimentar políticos que lhes são fiéis no Pará visando consolidar o lançamento de sua candidatura ao Governo do Estado. O alvo preferencial de Jader é o PFL, partido que no Pará foi transformado em satélite do PMDB, desde a última eleição majoritária. O apetite aguçado do senador para devorar de vez o PFL foi testado em Santarém, no oeste paraense, onde foi programada uma festa de adesões ao PMDB e da qual o convidado de honra foi o próprio Jader. O senador desembarcou no aeroporto da cidade e seguiu em carreata até a sede do partido para abonar a ficha dos novos peemedebistas. O filiado mais festejado foi o ex-governador e ex-prefeito de Belém, Hélio Gueiros, presidente estadual do PFL. Gueiros, na verdade, apenas retorna ao PMDB, que ajudou a fundar no Estado e do qual se afastou depois de desavenças políticas com Jader. Além de Gueiros, quem também se filiou ao PMDBo foi o pefelista LiraMaia, prefeito de Santarém, a segunda maior cidade do Estado. Maia, como anfitrião da festa levou consigo vereadores santarenos e de outros municípios daquela região. Foi com o apoio de Maia que Jader, na eleição de 1998, impôs fragorosa derrota em Santarém ao governador Almir Gabriel, que acabou reeleito. Segundo o deputado Antonio Rocha, líder peemedebista do oeste paraense na Assembléia Legislativa, vereadores e lideranças políticas de Itaituba, Óbidos, Terra Santa, Novo Progresso, Oriximiná, Faro, Juruti e de 14 municípios da Transamazônica e do Xingu irão transferir-se do PFL para o PMDB. Ele disse que durante a permanência de Jader em Santarém a população do oeste do Estado demonstrou sua "solidariedade às provações políticas" que o senador está enfrentando. "Se não querem ele em Brasília, o povo o quer governando o Pará pela terceira vez", resumiu. O deputado Bira Barbosa, líder do PMDB na Assembléia Legislativa é quem está articulando o pacote de adesões ao partido em outras regiões do Estado.Ele evitou declinar nomes, porém estima que cerca de 28 prefeitos assinaram a ficha de filiação ao PMDB. O partido elegeu 37 prefeitos no ano passado e outros 19 em coligação. PESQUISAS - Jader disse estar "liderando com folga" todas as pesquisas de intenção de voto para 2.002 no Pará. Ele não revela quais institutos teriam feito as pesquisas, mas garante que sua suposta supremacia seria a demonstração de que o povo paraense entende ter ele sido vítima de uma "sórdida vingança política" para forçá-lo a renunciar à presidência do Senado. O futuro de Jader Barbalho (PMDB-PA) estará a partir desta semana nas mãos de Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Ele deverá ser nomeado pelo presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), relator do pedido de abertura de processo contra Jader, na Mesa. Aos 57 anos e exercendo o primeiro mandato, Valadares é integrante do bloco de oposição, mas nem sempre foi visto como de esquerda. Em 1986, elegeu-se governador de Sergipe pelo PFL. Ele adiantou que não recusaria a espinhosamissão. "Vou agir com independência e ética garantiu". A composição da Mesa dá poucas esperanças a Jader. O PMDB tem a presidência. A primeira vice-presidência é de Edison Lobão (PFL-MA) e a segunda é de Valadares. A primeira secretaria pertence a Carlos Wilson (PTB-PE). O segundo secretário é Antero Paes de Barros (PSDB-MT), a terceira secretaria é de Ronaldo Cunha Lima (PSDB-PB) e o quarto secretário é Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR). Tebet não pretende votar. Os dois pefelistas, o tucano e o petebista devem ficar a favor da abertura de processo. Cunha Lima pode votar contra. ACM contribuiu para o fim de Barbalho Ex-presidente do Senado e Antônio Carlos passaram um ano trocando insultos na tribuna do plenário Até eleger-se presidente do Senado, no dia 14 de fevereiro, Jader Barbalho enfrentou a oposição do então senador Antonio Carlos Magalhães. Xingaram-se e denunciaram-se durante um ano. Acusado de violar o sigilo do painel de votações, ACM renunciou ao mandato para evitar a cassação. Mas as denúncias que fez renderam investigações. Agora, Jader segue o adversário: tem uma semana para renunciar e escapar à cassação e perda dos direitos políticos. Governo abre campanha pelos genéricos BRASÍLIA - A partir desta segunda-feira o Governo federal vai fazer uma intensa campanha publicitária e de marketing, por meio de televisão e rádio, e também em farmácias, consultórios médicos e hospitais públicos. O objetivo é chamar a atenção de médicos, farmacêuticos e consumidores para os remédios genéricos vendidos com o nome do princípio ativo, sem marca comercial e, em geral, mais baratos. As farmácias e hospitais vão receber cartazes com fotos das embalagens dos genéricos. O material será distribuído gratuitamente pelo Ministério da Saúde com a ajuda da Abrafarma, da ABCfarma e da Associação Pró-Genéricos. Os comerciais de televisão e rádio trarão artistas conhecidos falando sobre a importância dos genéricos. Os custos da campanha ainda não foram calculados porque os valores estão sendo negociados com as agências de publicidade. Segundo a gerente-geral de genéricos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Vera Valente, o Governo continuará incentivando a fabricação destes medicamentos, com oapoio da pressão popular. NOVA FASE - A Anvisa vai obrigar as farmácias de todo o país a deixarem a lista dos genéricos em lugar visível. "Primeiro fizemos investimento na oferta de genéricos. E agora, sem deixar isso de lado, começamos a investir na informação a consumidores e médicos", disse Vera. Além da ofensiva publicitária, a Anvisa vai prorrogar por mais um ano o regime especial de registros para genéricos importados, para tentar aumentar a participação desses produtos no mercado, que hoje é de 3%. Com o registro especial, os laboratórios podem importar genéricos que já passaram por testes de bioequivalência em outros países e fazer com que cheguem às farmácias em menos tempo. Em troca, as empresas têm um ano para iniciar a produção nacional destes remédios. A Anvisa vai distribuir cartilhas informativas sobre os genéricos para a população carente e entregar aos médicos do SUS uma lista com os medicamentos já registrados. As cartilhas vão explicar o que são os genéricos, como eles podem ser identificados nas farmácias (as caixas dos produtos têm uma tarja amarela) e por que eles podem substituir os medicamentos de marca. "A população pode ajudar a determinar que produtos são oferecidos no mercado. Se o consumidor chegar a uma farmácia que não vende genéricos, ele deve procurar outra loja. Só assim, os donos desses estabelecimentos vão perceber que não é possível oferecer apenas produtos de marca", disse Vera. Ministérios recebem verbas e não gastam BRASÍLIA - A apenas três meses do fim do ano, os dois principais ministérios da área social, Saúde e Educação, só conseguiram aplicar 5% dos recursos destinados a novos investimentos autorizados no Orçamento de 2001. Com R$ 1,01 bilhão, o Ministério da Educação aplicou até agora apenas R$ 52,8 milhões. O da Saúde tem R$ 2,9 bilhões, mas só foram comprometidos R$ 154,7 milhões. No Ministério do Desenvolvimento Agrário, a destinação de recursos para novos programas também é baixa: dos R$ 382 milhões autorizados, foram utilizados R$ 11 milhões. Entre todos os ministérios, o maior índice de execução é o da Defesa, que ganhou R$ 1,9 bilhão e usou R$ 337 milhões (17,7%). Transportes fica em segundo lugar, tendo gasto R$ 702 milhões, ou 16,9%, dos R$ 4,1 bilhões autorizados - este ministério gasta mais em projetos novos do que em manutenção. Os números, fornecidos pela Comissão de Orçamento do Congresso, foram retirados do Sistema Integrado de Administração Financeira e referem-se aos pagamentos feitosaté 6 de setembro. Os recursos orçamentários destinados à manutenção da máquina administrativa e à execução dos programas já existentes têm sido liberados pela área econômica no cronograma. "Todo ano é assim. O Governo gasta pouco em investimentos novos para garantir o pagamento da dívida e o cumprimento das metas do FMI", disse o líder do PT na Câmara, deputado Walter Pinheiro (BA). "É a necessidade de fazer superávit que leva a essa baixa execução. O Governo faz gastos seletivos, atendendo apenas àqueles projetos que não podem mais ser adiados", observou o deputado Sérgio Miranda (PCdoB-MG), concordando com Walter. As justificativas do Governo são técnicas. A equipe econômica e os ministérios alegam que todo ano só é possível gastar mais com investimento a partir de outubro. E que questões burocráticas, como não-prestação de contas, dívidas com FGTS e INSS e pendências judiciais, impedem a execução de convênios com estados e municípios. "Não há falta de dinheiro. O que há são restrições burocráticas, técnicas e legais para o pagamento do que está no Orçamento", explicou o secretário de Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, José Silveira. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Barjas Negri, garante que aquilo que já estiver empenhado (comprometido) será liberado. Dos R$ 2,9 bilhões autorizados para investimento, R$ 310 milhões estão empenhados e R$ 153 milhões pagos. O secretário-executivo do Ministério da Educação, Luciano Patrício, é otimista quanto à execução dos investimentos. Do total de R$ 1 bilhão, R$ 250 milhões são executados pelas universidades e outras unidades de ensino. "O problema é que existe grande dificuldade para elaboração de projetos de investimento. Muitas vezes um projeto leva oito meses para ser aprovado", disse Patrício. Na verdade, o Governo deverá repetir este ano o que fez nos anteriores: deixar para o exercício seguinte a liberação de recursos já empenhados. São os chamados restos a pagar. As emendas de parlamentares ao Orçamentodeste ano, por exemplo, nem começaram a ser liberadas. A maior parte deve ficar para 2002. Artigos Trágica colheita Clóvis Cavalcanti Adágios populares são inegáveis fontes da verdade. Sei de experiência própria. Nunca me esqueço, por exemplo, da ocasião em que estava com um grupo de pessoas, aí pelo ano de 1969, e dei uma versão não muito exata de alguma coisa (nem lembro bem o que foi). Depois de algum tempo de conversa, regada a bom vinho, na casa de Dirceu Pessoa, grande amigo de saudosa lembrança, terminei contando a coisa como fora realmente. Estava no grupo outro amigo, César Garcia, que logo assinalou: “In vino, veritas” (no vinho, a verdade). Esta observação vem a propósito da trágica colheita que os Estados Unidos estão fazendo da capacitação em terrorismo que deram a Osama bin Laden no início dos anos noventa, capacitação que bem reflete o provérbio de que “Quem semeia ventos colhe tempestades”. A esse respeito, a vetusta revista The Economist, que simpatiza completamente com os EUA, diz em seu número de 15 de setembro último: “Na sua compreensível cólera por justiça, a América pode ser tentada a fazer vista grossa de um fato desconfortável. Suas próprias políticas no Afeganistão, mais de uma década atrás, ajudaram a criar tanto Osama bin Laden quanto o regime fundamentalista talibã que o abriga”. Sobre o assunto têm se referido os meios de comunicação, comentaristas de todo tipo e até gente do povo. Nada de novo existe aqui. Entretanto, vale a pena insistir nesse ponto, porque ele revela uma enorme miopia ianque quando se trata de defender seus interesses, uma miopia que leva o grande país a cair em ciladas lamentáveis. Em 1965, eu estudava na Universidade Yale, nos Estados Unidos, quando assisti ali a uma conferência do então subsecretário de Estado para a América Latina, Thomas Mann (homônimo do escritor). Pouco antes, os EUA haviam invadido a República Dominicana - que fora triste feudo de um dos mais abjetos caudilhos que a América Latina já conheceu, Rafael Trujillo, assassinado em 1962 -, para impedir que um coronel nacionalista e íntegro, Caamaño Deñó, empalmasse o poder. Alegaram defender a democracia e a liberdade em face da ameaça do surgimento de uma nova Cuba, que já era então motivo do ódio de Tio Sam. Thomas Mann, indagado na hora dos debates por um estudante sobre se, na República Dominicana, os EUA não estariam defendendo seus próprios interesses, com a transformação de sua embaixada de Santo Domingo em um ninho de conspirações contra as tendências populistas do país, respondeu que sim. E que, se as embaixadas fossem só para processar burocracia, bastava usar os serviços da Western Union (então, a empresa de telegrafia mais confiável do Mundo). Para jovens idealistas e confiantes em princípios éticos, foi um golpe duro escutar essa manifestação eloqüente da forma como se faz política internacional. Na ocasião, já era grande, entre os estudantes, o mal-estar que a guerra do Vietnã causava. Pois assim agia uma grande potência e um seu dirigente não se pejava de reconhecer os métodos sujos que poderia empregar. No caso de bin Laden, convém recordar um fato, que a própria revista The Economist sublinha. A noção de jihad, ou guerra santa, tinha praticamente desaparecido do mundo muçulmano desde o Século X. Seu reavivamento se deu exatamente com incentivo americano, visando à deflagração de um movimento pan-islâmico que fizesse face à invasão soviética do Afeganistão (verificada em 1979). Durante todo o período de ocupação da antiga URSS, que durou dez anos, a CIA (Central Intelligence Agency), junto com o serviço saudita de inteligência, não cessou de despejar bilhões (isso mesmo, bilhões) de dólares em armas e munições para grupos - chamados de mujahedin - que lutavam contra os soviéticos. Acontece que o fazia através do sistema de inteligência Paquistão (ISI), que recrutava no mundo árabe homens dispostos a tudo, gente destemida e cruel. Os americanos terminaram derrotando a União Soviética, que amparava, por sua vez, um governo socialista laico, desprovido de sinais de fundamentalismo religioso. Na verdade, tratava-se de regime que se impusera através de um golpe, mas que adotava parâmetros relativamente modernos de direcionamento da sociedade. Em 1999, conheci na Inglaterra uma engenheira afegã, que havia fugido de seu país e que tinha tido, segundo me contou, uma educação semelhante à que seu pai dera aos filhos homens. Nunca havia sido discriminada, o que bem prova a culpa americana na criação do regime talibã. No rasto da jihad do Afeganistão, espalhou-se um movimento voltado para a limpeza religiosa e o combate à corrupção que grassa em muitos países árabes apoiados totalmente pelos EUA, como é o caso de reinos fechados do Golfo ou de estados repressivos do sul do Mediterrâneo. Osama bin Laden foi recrutado pelo príncipe saudita Turki al Faisal, inicialmente, devido à sua posição opulenta, para a captação de recursos que alimentassem os guerrilheiros do Afeganistão. Mais tarde, bin Laden passou a cuidar de tarefas como o recrutamento e treinamento de mujahedins. Seu radicalismo anti-americano pós-saída humilhante dos soviéticos do Afeganistão resultou de sua ojeriza à presença ianque em solo islâmico sagrado (como a Arábia Saudita, terra do profeta Maomé). Foi aí que - outro adágio que se aplica ao caso - “o feitiço virou contra o feiticeiro”. Não é à toa que bin Laden conhece tão bem as vulnerabilidades americanas e como alcançá-las com cirúrgica precisão. Terrível, trágica colheita de monstros semeados com descuido norte-americano e que hoje nos assustam! Colunistas DIARIO Político Sem emoções fortes A semana que está começando é decisiva para quem deseja mudar de partido porque o prazo estabelecido pela legislação eleitoral termina no dia 6. Até agora, os únicos políticos que ousaram seguir outros caminhos foram Roberto Magalhães, José Múcio e Gilberto Marques Paulo, que trocaram o PFL pelo PSDB , e Carlos Wilson, que abandonou o PPS pelo PTB. O maior insatisfeito da legenda de Marco Maciel, Joaquim Francisco, que passou cinco meses ensaiando sair do PFL, surpreendeu meio mundo quando anunciou que permaneceria no mesmo lugar, ou seja, extremamente desconfortável no exíguo espaço que o partido reservou para ele. Mas aí explicar essa charada deve ser muito complicado, uma coisa além da imaginação. No PMDB, o suspense responde pelo nome de Armando Monteiro Neto, que tem dito várias vezes que está desgostoso com seu partido em Pernambuco e promete uma decisão na segunda-feira. Como José Chaves e Joca Colaço também andaram ensaiando uma rebelião mas ainda são peemedebistas, é possível que Armando faça a mesmocoisa. Principalmente depois dos afagos que recebeu do presidente Michel Temer, na última quinta-feira, que fizeram muito bem ao deputado. E, como todo mundo sabe, os políticos, sem exceção, adoram ter o ego massageado. Portanto, o troca-troca de partidos, aguardado na maior expectativa por muita gente, não deverá trazer grandes surpresas para o quadro político que está aí, muito menos emoções fortes. Roberto Magalhães faz palestra sobre "A nova ordem internacional", segunda-feira, às 10h, na Câmara de Vereadores de Jaboatão dos Guararapes, em comemoração ao Dia do Vereador. Família Os deputados continuam divididos quanto à instalação da CPI da Telemar, proposta por Antônio Morais (PSDB). Agora, Gilvan Costa (PTN) exagerou, semana passada, ao exaltar a importância dos trabalhos feitos pela empresa no Estado: "O telefone virou um membro da família". Parecia Magri. Mudanças Jarbas Vasconcelos e Fernando Rodovalho poderiam conversar mais sobre administração. Pois enquanto o governador tem uma dificuldade imensa para fazer mudanças na equipe, o prefeito de Jaboatão não tem qualquer cerimônia: já trocou o secretariado três vezes em apenas nove meses. Encontro O PHS promove um encontro com seus filiados, nesse domingo, com a presença do presidente nacional, Paulo Roberto, e do prefeito de Jupi, padre Ivo Francisco da Silva. O presidente estadual, Raimundo Araruna e o vice, Raimundo Ferreira, coordenam o evento às 11h, na sede do partido. Rua Altinho, Madalena. Candidato 1 Waldemar Borges (PPS) não decidiu se disputará uma vaga na Assembléia e o motivo não é falta de vontade não. O PPS é que não se pronunciou ainda sobre o assunto, apesar de o vereador ser considerado candidato natural do partido. Candidato 2 No PPS todos negam mas, o boato é que o partido rifou Borges porque ao assumir a secretaria de Desenvolvimento Econômico da PCR de João Paulo (PT), o vereador ficou mais para Luís Inácio Lula da Silva do que para Ciro Gomes. Troca Os políticos que vão trocar de partido não precisam comunicar a mudança ao Tribunal Regional Eleitoral. Somente ao partido que está deixando e ao juiz do cartório eleitoral onde está inscrito, segundo o TRE. Salário A Addepe está convocando os delegados de polícia para uma assembléia geral segunda-feira, no auditório do Sindifisco. Na pauta do encontro um único item: encaminhamento da negociação salarial junto ao Governo do Estado. Categoria e assunto complicadíssimos. Comemoração O Dia do Vereador será comemorado segunda-feira, em sessão solene da Assembléia, às 15h30. A União dos Vereadores de Pernambuco aproveita a data para iniciar um debate sobre as dificuldades das câmaras municipais, por conta das restrições financeiras impostas pela emenda Amim. O comentário entre do deputados, é que Inocêncio Oliveira, do PFL, deseja fazer dobradinha com Eudo Magalhães na zona da Mata Sul, em 2002. Por isso, estaria torcendo para que a Assembléia não consiga suspender, na Justiça, a liminar que anulou a cassação do deputado. Editorial Pernambuco e a Alca Ao lado da produção de informações nas suas edições diárias, o DIARIO DE PERNAMBUCO mantém tradição de se meter nos assuntos que interessam ao Estado. No sentido elevado do termo. Essa prática leva o jornal a promover debates sobre temas ligados à economia local. Busca sempre levantar soluções e alternativas para problemas que nos afetam. Renovando compromisso que temos com nosso povo. Pois bem: na manhã da última quinta-feira, reuniram-se em nosso prédio-sede, na praça da Independência, dois professores, um da Universidade da Flórida e outro da Universidade Federal de Pernambuco, um empresário e um diretor da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe). A questão discutida foi o acordo de livre comércio proposto pelos Estados Unidos sob o nome de Alca, que já integra a nação norte-americana, o Canadá e o México. O PIB deste último país, por sinal, acaba de ultrapassar o PIB brasileiro. A idéia de colocar em torno de uma mesa profissionais com vida acadêmica e com experiência empresarial traz muitas vantagens. Porque se obtém visão complementar a respeito de questões que exigem abrangente compreensão. É o que terminou ocorrendo. Comentários foram feitos, informações de bastidores foram trazidas, sugestões e críticas apresentadas. Do conjunto dessas contribuições ficaram claros consensos. Em primeiro lugar, Pernambuco está perdendo posição relativa quanto ao volume de valor exportado no Nordeste. Até 1999, as exportações pernambucanas alcançavam mais de U$ 500 milhões/ano. Em 2000, caíram para U$ 283 milhões. Ao lado da queda, observou-se que essas exportações continuam monotemáticas. Só se exporta praticamente açúcar. Não temos sido capazes nem de aumentar o volume, nem de diversificar a pauta de produtos exportáveis. Em segundo lugar, os exportadores pernambucanos permanecem sofrendo da ausência de financiamento para capital de giro, em quantidade e a custo apropriado à competição internacional, especialmente agora que os governos de outros países oferecem suporte institucional importante para empresas exportadoras. E da falta de uma logística ágil de transporte marítimo que seja adequado tanto em termos de freqüência de navios no Porto de Suape, quanto de custo de operação em relação a outros portos brasileiros. Na verdade, o que ficou evidente é que Pernambuco ainda carece de política pública articulada com o setor exportador. Trata-se de garantir às empresas que atuam na exportação crédito diferenciado, a ser arrancado de programas federais por nossos representantes políticos, em face da prioridade à atividade anunciada pelo próprio presidente da República. E assegurar logística para transportar com rapidez e custo mais competitivo, a partir das taxas alfandegárias de Suape, os produtos que temos a oferecer aos mercados lá fora. Com a palavra a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Esporte. Em terceiro lugar, é necessário que as empresas pernambucanas incorporem o conceito de que sozinhas elas não irão muito longe. Torna-se urgente que os empresários locais reconheçam que esta é uma época de alianças. As maiores empresas do Mundo estão trabalhando nesse sentido. Nós continuamos fechados no círculo cego de empresas familiares sem visão externa. É uma questão de enxergar: a exportação não é apenas uma via de escoamento de bens. É igualmente uma abertura de espaços mentais. Topo da página

09/30/2001


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