ABDIAS: FIM DO RACISMO NO BRASIL ESTÁ LONGE
O senador Abdias Nascimento (PDT-RJ) chamou a atenção hoje (dia 6) para relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), publicado em dezembro, sobre a discriminação racial no Brasil. No entender do senador, o reconhecimento e a valorização da diversidade ética "estão longe de se concretizar neste país, que ainda encontra argumentos em favor de uma suposta singularidade em matéria de relações raciais".
Ele disse que o atual governo foi o primeiro a admitir a existência de racismo no Brasil, mas lamentou que a versão oficial transmitida ao relator dessa comissão tenha atribuído unicamente a problemas de classe as desigualdades existentes. "Para nós, que vivemos essa questão no dia-a-dia, chega a ser patética a afirmação de um funcionário da Ministério da Educação de que a expressão 'negro' não tem conotações negativas", completou.
Conforme Abdias Nacimento, o relator especial, que percorreu o país com autorização do governo, estranhou o fato de não ter encontrado negros ou mestiços em posições de responsabilidade, "exceto no Parlamento e na Fundação Cultural dos Palmares". A situação do negro no mercado de trabalho, ressaltou, também foi abordada no relatório, que tratou do salário diferenciado e das formas indiretas de excluir o afro-brasileiro de certas funções como, por exemplo, a exigência de "boa aparência".
O senador destacou trecho do relatório em que a discriminação racial no setor educacional foi "adequadamente percebida" e considerada obstáculo à mobilidade social. Conforme Abdias Nascimento, o documento esclarece que a impossibilidade de acesso à moderna educação tem privado os afro-brasileiros de instrumentos intelectuais com os quais poderiam afirmar-se.
06/02/1998
Agência Senado
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