ABDIAS RELEMBRA REVOLTA DOS MALÊS CONTRA A ESCRAVIDÃO



Evocando a proteção de Olorum, como sempre inicia seus pronunciamentos, o senador Abdias Nascimento (PDT-RJ) relembrou hoje (14) a Revolta dos Malês, ocorrida em 1835, na Bahia, na luta pela libertação dos escravos empreendida pelos povos afrodescendentes no país. O discurso teve como objetivo marcar criticamente a data comemorativa da Abolição da Escravatura, ocorrida ontem (13), e "arrancar de um esquecimento injusto as figuras heróicas de cinco mártires, executados dia 14 de maio em Salvador".

Para Abdias, um dos muitos subprodutos perversos da escravidão foi a elaboração teóricavoltado para a desumanização dos africanos e dos negros em geral como forma de justificar um domínio que não encontrava eco no fundamento religioso da elite da época. Assim, segundo o senador, hoje as pessoas se espantam quando averdadeira históriado negro vem à tona.

Com intuito de derrubar essa falsificação histórica, Abdias fez questão de relataras numerosas civilizações avançadas existentes no continente africano, antes da chegada dos europeus à região, com estados poderosos, dotados de aprimorada infra-estrutura, poderio bélico e cultura requintada.

- Em meados do século XV, com a derrota de Songhai ante os exércitos marroquinos, esse período brilhante da história africana chegou ao fim. Foi assim que os malês, nome atribuído aos africanos islamizados, vieram parar no Brasil, especialmente na Bahia, região de maior concentração das etnias negro-muçulmanas no país - completa o senador.

Abdias Nascimento explica que a Revolta dos Malês em 1835 foi o ponto máximo de uma série de rebeliões iniciadas no princípio do século XIX. Segundo registros, a primeira delas eclodiu em 1807.Mas a Revolta dos Malês foi considerada pelos poderosos a mais grave dessa série de insurreições.

Os revolucionários foram delatados por Guilhermina Rosa de Sousa, mulher nagô emancipada, que permitiu ao inimigo uma ação vitoriosa contra a revolta. "A intensa repressão então desencadeada provocou enfrentamentos mortais, ensangüentando os becos, as ruas, os largos e a própria memória da Bahia", disse.

Mais de 280 pessoas foram acusadas, 194 das quais da etnia nagô. Os réus Jorge da Cunha Barbosa e José Francisco Gonçalves, alforriados, ao lado dos escravos Joaquim, Gonçalves e Pedro foram condenados à morte por enforcamento, outros como Pacífico Lucitan, uma espécie de mentor dos revoltosos, recebeu uma pena terrível: mil chibatadas em praça pública. "De acordo com seus preconceitos, as autoridades da época imaginaram que não passavam de bruxaria documentos apreendidos, escritos em árabe, incluindo trechos do Corão", informou o senador.

Em aparte, o senador Lauro Campos (PT-DF) elogiou a trajetória de lutas de Abdias Nascimento, como historiador e político, pela afirmação do homem negro e ressaltou que estudos atuais revelam que a vida humana começou na África. "Somos, então, todos africanos", disse o senador. Ao concordar com o senador petista, Abdias disse que causa choque quando se diz que nascemos na África, concluindo-se com isso que a "raça branca é apenas uma degradação do negro", acentuou.



14/05/1998

Agência Senado


Artigos Relacionados


ABDIAS ELOGIA INICIATIVA DO OLODUM DE COMEMORAR A REVOLTA DOS BÚZIOS

Alvaro Dias relembra os 50 anos da Revolta dos Posseiros, no Paraná

Arthur Virgílio diz que há a escravidão óbvia e a escravidão subterrânea

Revolta contra Garotinho

Justiça suspende advertência contra males do fumo em maços de cigarro da Souza Cruz

Revolta contra ataque ao Cristo e polêmica na bienal de arte