ACM CONFIA EM SOLUÇÃO PARA BANCO ECONÔMICO



O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) manifestou hoje (dia 23)sua confiança em que o governo logo encontrará uma solução final para o Banco Econômico, ao relatar em plenário os acontecimentos que culminaram na intervenção do Banco Central.

Ele responsabilizou o Banco Centrale os próprios dirigentes do Banco Econômico pela situação difícil vivida pela instituição. Segundo o senador, muitos recursos seriam economizados se o Banco Central tivesse instaurado o regime especial de administração temporária meses atrás, com a desapropriação das ações a preço simbólico.

Antonio Carloslamentou que não tenha sido cumprido o acordo feito entre ele e o presidente Fernando Henrique Cardoso para que esse regime fosse instaurado no banco. Ele reclamou do vazamento de informações do Banco Central sobre a intervenção noEconômico, o que levou os correntistas a esvaziarem suas contas-correntes, prejudicando ainda mais a instituição.

O senador reclamou, ainda, do tratamento que qualificou de desigual dado pelo governo ao Banespa e ao Banco Econômico. Ele lembrou que a lei não estabelece tratamento diferenciado entre bancos públicos e privados e muito menos entre os correntistas de uma e de outra instituição. Ressaltou que sua reação diante da intervenção foinatural e que, "se ela foi excessiva, como baiano, não tenho do que me arrepender".

Antonio Carlos Magalhães também dirigiu críticas à revista Veja, que teria provocado a corrida de saques que precipitou a intervenção.Para ele, o público não tem meios de fiscalizar ativos e balanços bancários, delegando essa tarefa ao BC, "que não pode se comportar como médico dedicado a assinar atestados de óbito". Ele leu trechos inteiros de artigo publicado na revista Exame pelo economista Mário Henrique Simonsen, para quem deve ser atribuída ao Banco Central "pelo menos a responsabilidade por omissão".

- O Banco Central fiscaliza ou não. Quem fez vazar um relatório secreto para uma revista? Por que ele não fez a intervenção antes, quando a agência Broadcast já estava divulgando a situação do banco? Por que deixou haver a corrida? - questionou ele. - Perguntas que não têm resposta.

Antonio Carlos Magalhães considerou-se agredido pela revista semanal e anunciou que moverá processo na Justiça contra ela. Suas relações com a Veja, segundo disse, "eram da maior intimidade e, de um momento para outro, inexplicavelmente, ela passou para o lado oposto". Dos elogios ao político merecedor de quatro capas ela teria passado a "atender o Olimpo", disse ele.

Quanto à "verdade inteira", o senador relatou que, em maio, o presidente do Econômico, Ângelo Calmon de Sá, procurou-o para que falasse com o então presidente do Banco Central, PersioArida, sobre a situação do banco. A solução de mudar o controle acionário teria surgido em conversa com Arida, quando ele garantiu a disposição do BC em "financiar o grupo que assumisse o banco para soerguê-lo". A sugestão de colocar o economista Daniel Dantas como intermedidor entre o governo e grupos privados foi-lhe feita pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, que insistiu na urgência de mudar o controle e a direção do Econômico, para privatização em "no máximo 60 dias". Foi então que, segundo o senador, o artigo da Veja sobre a situação do banco provocou saques em massa.

Na sexta-feira em que ocorreu a intervenção, continuou Antonio Carlos,o presidente da República lhe deu a garantia, por telefone,de que os depósitos e as aplicações seriam honradas pelo Banco Central. A desapropriação do banco pelo governo da Bahia, por R$ 1, teria ocorrido para evitar o que aconteceu com outras instituições financeiras: "Não haveria pagamento algum. Todos os acionistas, inclusive eu, não poderiam reclamar", como o fizeram na Justiça os proprietários do Comind, entre outros. O regime de administração temporária teria resolvido tudo, afirmou ACM, inclusive com a punição dos culpados.

Ao finalizar seu relato, ele afirmou que, "apesar de tudo que se falou, apesar das mágoas de parte a parte, acho que uma solução será encontrada". Hoje mesmo ela poderiavir a público, antecipou.

O pronunciamento de Antonio Carlos reuniu no plenárioboa parte da bancada federal da Bahiae foi recebido como "uma oração de serenidade" pelo líder do governo, senador Élcio Álvares (PFL-ES). O senador gaúcho Pedro Simon (PMDB) lembrou que Antonio Carlos, como o ex-senador Nelson Carneiro,assumepersonagens diferentes conforme o momento: "Hoje fala o Antoninho Ternura, não é o Malvadeza". Fosse o senador baiano, disse Simon, sempre encarnaria o personagem de hoje. Para o líder do PPS, senador Roberto Freire (PE), o discurso de ACM "conseguiu desnudar o conluio entre o Estado e o sistema financeiro privado".



23/08/1995

Agência Senado


Artigos Relacionados


MAURO PEDE SOLUÇÃO RÁPIDA PARA O BANCO BRASILEIRO COMERCIAL

Osmar Dias defende solução para problema gerado pela privatização do Banco do Paraná, há dez anos

Banco Central divulga balanço econômico do País

LAURO CAMPOS: GOVERNO ESTATIZA PREJUÍZO DO BANCO ECONÔMICO

Banco Mundial prevê queda em crescimento econômico da América Latina e do Caribe em 2012

Banco de dados de DNA pode ajudar na solução de crimes, afirma Ciro Nogueira