Adesão da Venezuela provoca mais de três horas de debates
Os senadores presentes à primeira audiência pública para se debater a adesão da Venezuela no Mercosul na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta quinta-feira (16), concordaram sobre a importância estratégica da entrada do novo sócio no bloco econômico. Mas discordaram, durante mais de três horas de debates, em relação ao momento político da adesão e à necessidade de cumprimento imediato das condições técnicas para o ingresso do país.
Logo no início da reunião, o senador Fernando Collor (PTB-AL) - um dos signatários, como ex-presidente da República, do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul - condenou as palavras "extremamente ofensivas" utilizadas há dois anos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, quando chamou o Senado brasileiro de "papagaio" dos Estados Unidos. Ele disse temer que Chávez use o Mercosul como plataforma de um "projeto pessoal de poder".
- Chávez não atua pela união e pela integração, mas como elemento de discórdia - afirmou Collor.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) discordou de Collor e previu que, no caso de ser rejeitado o pedido de adesão ao Mercosul, aí sim poderia haver uma reação do presidente venezuelano. Por sua vez, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) previu que o ingresso da Venezuela será benéfico para o Brasil, que tem obtido resultados favoráveis com o comércio bilateral.
O senador Heráclito Fortes (DEM-PI), ao contrário, previu que o Brasil terá problemas logo após o ingresso da Venezuela no bloco. Isto porque, a seu ver, Chávez teria a intenção de transformar o Mercosul em uma "tribuna do proselitismo bolivariano". Favorável à adesão do novo sócio, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) pediu que se "dissipe o passionalismo" no debate sobre o tema, uma vez que, com a atual crise econômica, a região precisa de mais integração.
O senador João Tenório (PSDB-AL) disse não haver dúvida em relação aos benefícios econômicos da adesão, mas advertiu para o risco de dificuldades nas relações do governo da Venezuela com os governos dos demais países do bloco. Por sua vez o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) defendeu o ingresso do país vizinho, ao recordar que a economia de seu estado, Roraima, está bastante ligada à venezuelana. Esta ligação também foi ressaltada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que defendeu a "rápida aprovação" do protocolo de adesão.
A frequente menção ao nome de Chávez durante o debate surpreendeu o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), para quem o ingresso da Venezuela poderá dar um novo ímpeto ao Parlamento do Mercosul, onde os parlamentares venezuelanos só têm direito a voz, mas ainda não a voto. Em posição oposta, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) afirmou que seu voto, no momento, seria contrário ao "ingresso de Chávez no Mercosul".
Ao recordar as origens do bloco, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) pediu que se deixem de lado "questões secundárias" e se aprofunde o processo de integração. Por sua vez, o senador José Nery (PSOL-PA) criticou os que identificam a existência de um regime ditatorial na Venezuela. Ele recordou que Chávez participou de 12 eleições nos últimos anos. Ao final da audiência, o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, recordou que a "Venezuela é perene, mas Chávez não é". Ele pediu à comissão que mantenha a serenidade e promova uma análise técnica das informações a serem enviadas pelo governo a respeito das negociações com o país vizinho.
16/04/2009
Agência Senado
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