Aécio exalta coerência do avô e lamenta perda do sentido amplo da conciliação



O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, disse nesta quarta-feira (3) que a Câmara dos Deputados foi a trincheira cívica do seu avô, o ex-presidente Tancredo Neves, nos embates em defesa da democracia. "Ele amava essa Casa", afirmou. Aécio destacou a coerência do ex-presidente, seu espírito conciliador, seu estilo de ouvir mais do que falar e sua intransigência em relação aos objetivos e aos princípios democráticos que permitissem hastear as bandeiras da paz.

- Tancredo era genuinamente um democrata. Era também, na sua essência, homem do Parlamento, especialmente atraído pelo debate das ideias. Acredito que foi justamente o exaustivo exercício do contraditório que adensou suas crenças na política como espaço para o diálogo, o entendimento e a construção dos necessários consensos em torno das grandes causas nacionais. Mas, mais do que qualquer outra coisa, Tancredo era Minas. Em tudo era Minas - disse.

Aécio disse que Tancredo percebeu com nitidez que um dos maiores problemas do Brasil contemporâneo era não ter criado as condições de convivência política e de convivência coletiva compatíveis com o processo de modernização do país. O governador lembrou que seu avô dizia sentir-se mais feliz quando fazia um bom acordo do que quando derrotava um adversário.

- Sabia ele que dividir, antagonizar, aprofundar diferenças e intransigências são sempre tarefas fáceis. E também é o caminho mais eficaz para transformar dificuldades em impasses instransponíveis. O difícil é construir o rumo e as bases para o caminho comum. É conciliar as diferenças em torno de objetivos maiores. E poucos foram tão corajosamente coerentes como ele - assinalou.

O governador mineiro recordou os episódios da história política brasileira protagonizados por Tancredo, como quando permaneceu ao lado do ex-presidente Getúlio Vargas; a defesa da posse do vice-presidente João Goulart; a recusa em votar no Marechal Castelo Branco na eleição indireta; e a solidariedade prestada ao ex-presidente Juscelino Kubitschek em seus depoimentos às autoridades militares e na hora do seu embarque rumo ao exílio.

- Anos depois, foi às ruas com a Campanha das Diretas. Nela, ganhou o coração do país, ao lado de gigantes como Ulysses [Guimarães], [Franco] Montoro e Teotônio [Vilela]. Sabia que a hora era aquela. Sentia que o país estava maduro para fazer a sua travessia, ainda que o sonho das eleições diretas não se consumasse no primeiro momento. O importante era fazer a travessia. O fundamental, de novo, era garantir o essencial. E o essencial era virar definitivamente a página do autoritarismo - observou.

Aécio disse que a ida ao colégio eleitoral "violentava a alma democrática de Tancredo", mas era o único caminho possível. Ele salientou que as primeiras palavras de Tancredo como presidente da República eleito foram: "Essa foi a última eleição indireta do país". Aécio lembrou que a preocupação com a garantia do ingresso do Brasil na ordem democrática foi o que balizou suas escolhas até o final.

O governador encerrou seu discurso lamentando que esteja faltando aos políticos de hoje o desprendimento e a generosidade que aglutinaram no passado e que permitiram carregar juntos a bandeira da redemocratização.

- Esperamos - sempre, e eu de forma muito clara - que os valores e as crenças daqueles que, como Tancredo e seus companheiros, que vieram antes de nós e cumpriram os seus deveres, possam impregnar as convicções dos homens públicos de hoje. Sobre esses deveres, Tancredo nos dizia: 'a pátria não é o passado, mas o futuro que construímos com nossa ação presente. Não é a aposentadoria dos heróis, mas tarefa a cumprir. É a promoção da justiça, e a justiça só se promove com liberdade' - afirmou.



03/03/2010

Agência Senado


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