Agenda de lobista envolve tucano e assessora da Saúde







Agenda de lobista envolve tucano e assessora da Saúde
As anotações da agenda de Alexandre Paes dos Santos, o maior lobista de Brasília, revelam dois nomes que ele teria usado para defender interesses de seus clientes da indústria farmacêutica.
São eles: Debora (Alves), secretária de Gonzalo Vecina, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e Sebastião Madeira, deputado federal pelo PSDB do Maranhão.
A Anvisa controla todo o mercado de medicamentos, cosméticos, derivados de tabaco, produtos para saúde em geral, entre outros. É de Gonzalo Vecina a decisão sobre os produtos a serem vendidos e em que condições.

Como sua secretária, Debora sabia com quem Vecina falava e para onde ia. Ela tinha acesso à agenda de Vecina, informação valiosa para quem, como o lobista, precisava antecipar para seus clientes eventuais mudanças nas regras de comercialização.
Na agenda de APS, nome pelo qual o lobista é conhecido em Brasília, o nome de Debora aparece inúmeras vezes, e em várias ocasiões há registro de almoços, como os indicados nos dias 25 de julho e 7 de agosto.
O mais surpreendente é que a agenda de APS também aponta o número da conta de Debora na agência 3413-4 do Banco do Brasil. A Folha apurou que o número está correto. Os telefones pessoais dela também estão entre as anotações: o celular e o da residência, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. A secretária deve depor hoje na Polícia Federal.

A Anvisa abriu ontem uma sindicância para apurar o envolvimento de Debora no fornecimento de informações ao lobista. A funcionária será afastada de suas atividades no Ministério da Saúde até o final das investigações.

Deputado
Tão frequente quanto o nome de Debora é o do deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA). São telefonemas, audiências e até o registro do endereço residencial completo do congressista, na Asa Norte, no dia 16 de agosto.

Mas o que intriga mesmo são dois registros da agenda que associam o nome de Madeira à cifra de R$ 25 mil. As anotações de APS na agenda são as seguintes:
1) Em 22 de agosto: "Madeira/ PSDB - R$ 25.000";
2) Em 2 de setembro (domingo): "Ag. 460-0 - C/C 41.829-3 - S. Madeira";
3) Ainda em 2 de setembro: "LS Distribuidores de Produtos Alimentares - R$ 25.000 OK."
A Folha apurou que a conta pertence de fato a uma distribuidora, cujo nome correto é LF Distribuidora de Produtos Alimentícios Ltda., sediada em Imperatriz (MA), base eleitoral do deputado.
A troca de letras é frequente nas anotações de APS, que costuma escrever reproduzindo os sons exatamente como os ouve. Foi assim que, no dia 14 de agosto, registrou em sua agenda um suposto jantar no restaurante "Trasteveri", pivô de uma denúncia de extorsão que se transformou em inquérito na Polícia Federal. O nome correto é Trastevere, frequentado pelo alto escalão do governo federal em Brasília.

O deputado Sebastião Madeira, que é médico e está em seu segundo mandato parlamentar, fez discursos e concedeu entrevistas defendendo a inclusão, no sistema público de saúde, do medicamento Glivec, utilizado no tratamento da leucemia mielóide -tipo de câncer na medula óssea.

Produzido pelo laboratório Novartis, para o qual APS trabalhava até 2 de outubro, o Glivec se transformou no fio condutor das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal depois que a agenda do lobista revelou o conhecimento sobre a realização de reuniões, viagens e toda a tramitação burocrática do medicamento.
Só não registrou a oficialização do contrato, no dia 20 de setembro, que levará o ministro José Serra a investir U$ 8,2 milhões por ano no Glivec.


Funcionária e deputado negam as acusações
Debora Alves, funcionária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, disse que não conhece Alexandre Paes dos Santos. "Eu nunca vi esse Alexandre na minha frente. E não era só o meu nome que estava na agenda. Tinha o de mais gente".

Surpresa com as perguntas sobre os almoços registrados na agenda do lobista, bem como das anotações sobre sua conta bancária e seus telefones, Debora disse: "Como vou te explicar uma coisa dessas?"
Em seguida, disse que iria ligar para seu chefe, Gonzalo Vecina, presidente da Anvisa, para saber o que estava acontecendo. Vecina está na Espanha.

Já Alexandre Paes dos Santos afirmou que conhece Debora, mas "pouco". "Ela é a pessoa para quem a gente liga quando pede audiência com o Vecina. Nas audiências, a agente passa pela porta da sala dela. Agora, se eu almocei, que eu me lembre, não. O fato de estar anotado não quer dizer nada", disse.
Sobre as anotações na agenda, ele negou ter feito qualquer pagamento ao deputado Sebastião Madeira (PSDB): "Cifras? Isso não tem". Santos disse que intermediou contatos entre Madeira e diretores do Novartis para falar sobre a "demora para disponibilizar" o Glivec.

"Ele [Madeira" ficou a favor dos pacientes, não dos laboratórios e fez pronunciamentos na Câmara sobre esse assunto." Santos negou ter enviado R$ 25 mil à empresa LS Distribuidora de Produtos Alimentícios. O dono da LS, Luiz Andrade, disse que conhece Madeira só de ouvir falar, e que nem votou no deputado: "Sou de Tocantins".

Sebastião Madeira disse que conhece o lobista Santos, que o recebeu em seu gabinete e que falou em defesa do Glivec por ser médico e acreditar se tratar de uma droga revolucionária no combate ao câncer de medula. Negou ter recebido pagamento por isso: "Agora, se teve depósito para a empresa de Imperatriz, isso não é comigo".
Disse não conhecer a LS nem o seu dono, Luiz Andrade. "Só se ele tem um "nickname" [apelido". O que se diz em Imperatriz é que eu sou besta, porque, na política, tô ficando é pobre."


Gregori será embaixador em Lisboa
O governo português concedeu o agrément (concordância) à indicação do ministro da Justiça, José Gregori, para embaixador do Brasil em Lisboa. A saída de Gregori da Justiça abre espaço para Fernando Henrique Cardoso recompor a base de sustentação política do governo no Congresso.
Para o lugar de Gregori na Justiça, o nome mais cotado é o do atual secretário-geral da Presidência da República, ministro Aloysio Nunes Ferreira. Isso permitiria a FHC levar para a Secretaria Geral um dos atuais líderes no Congresso, abrindo espaço à indicação do deputado Heráclito Fortes (PFL-PI) para líder do governo na Câmara ou no Congresso.

O líder no Congresso, Arthur Virgílio (PSDB-AM), leva certo favoritismo sobre o líder na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP). O deputado paulista não quer deixar a Câmara para ocupar um ministério por alguns meses: em abril, ele teria de se desincompatibilizar para disputar as eleições de outubro de 2002. E FHC considera-o mais importante nas articulações na Câmara.
O Planalto gostaria de sacramentar as mudanças previstas no ministério até quarta-feira, para que FHC possa viajar à Espanha, no dia seguinte, junto com os presidentes do PSDB, PFL e PMDB, com a situação já resolvida.

O problema está na nomeação do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), para o Ministério da Integração Nacional, que é vetado pelo PSDB da Paraíba.
Por meio de sua assessoria, Gregori, que no sábado jantou no Alvorada com FHC, confirmou ontem a concordância do governo português e disse que fica no cargo até 15 de dezembro. O ministro não queria ir para Lisboa, mas acabou cedendo aos argumentos da mulher, Maria Helena, e às conveniências políticas do Planalto, que precisa do cargo para reacomodar suas forças políticas.

Desde fevereiro, quando ficou sem nenhuma presidência no Congresso (o PSDB comanda a Câmara, e o PMDB, o Senado), o PFL tem demonstrado sua insatisfação criando obstáculos a projetos de interesse do Planalto. Nos últimos dias, o partido obstruiu a votação do nome do secretári o de Comunicação, Andrea Matarazzo, para a Embaixada em Roma.
A título de compensação, ficou acertado que o PFL ficaria com uma das lideranças do governo, todas hoje ocupadas por tucanos.


Empresário já não teme PT, mas apóia FHC
A cientista política Eli Diniz, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), dedica sua vida acadêmica ao estudo do comportamento do empresariado brasileiro.
Já publicou "Empresário, Estado e Capitalismo no Brasil" (Paz e Terra, 1978), "Empresariado e Transição Política no Brasil" (Iuperj, 1984) e "Globalização, reformas econômicas e elites empresariais" (FGV, 2000), entre outros.

Irmã da falecida atriz Leila Diniz, Eli afirma que ninguém deve se iludir com as recentes declarações de empresários se dizendo descontentes com o atual modelo econômico brasileiro e insinuando até mesmo um apoio ao PT nas eleições presidenciais de 2002.
"Os empresários são suficientemente pragmáticos e flexíveis para recompor seu apoio a um candidato de situação do atual governo", diz. Segundo ela, a diminuição da rejeição a Lula "não se traduz em voto a favor do PT".

Seu último estudo, em parceria com o cientista político Renato Boschi, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), captou a insatisfação com o atual modelo econômico por parte de líderes empresariais.
O trabalho mostra que os empresários estão divididos em relação à política econômica de Fernando Henrique Cardoso -ele também um estudioso do empresariado (autor de "Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico", de 1964). Um grupo tem um discurso mais crítico, enquanto outro defende, com ressalvas, o modelo econômico de FHC. Em comum, os dois grupos exibem a certeza de que o processo de desestatização e abertura econômica, deflagrado no início dos anos 90, é irreversível.

O novo estudo de Eli e Boschi, baseado em entrevistas com 30 líderes empresariais, foi apresentado na semana passada, no 25º encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, em Caxambu.

Folha - A um ano das eleições, hoje é mais comum ver empresários reclamando do modelo econômico. Alguns chegam a sinalizar uma aproximação com o PT. Não parece mais provável do que em anos anteriores um apoio ao partido?
Eli Diniz - Eu não tenho elementos para dizer como os empresários votarão. No entanto, seu padrão de apoio político desde o início da Nova República é o de escolha de candidatos de centro-direita. Eles votaram no Collor em 1989, temendo a vitória do Lula, assim como apoiaram Fernando Henrique nas duas últimas eleições. Acho muito pouco provável que haja uma mudança tão grande a ponto de se traduzir em votos para os candidatos de oposição.
O que está havendo atualmente é uma diminuição da rejeição ao Lula. Essa rejeição era muito alta. O argumento das lideranças empresariais, hoje, é que o Brasil mudou tanto de 1989 para cá que já não é mais possível voltar ao que era antes. Mesmo que um partido de esquerda vença, não é mais possível propor mudanças que signifiquem um retorno ao passado. Não dá mais para defender o calote da dívida ou a reestatização das empresas privatizadas. O próprio discurso do PT, que a imprensa chama de "light", incorpora esse aspecto.

Folha - Mas a insatisfação do empresariado com a política econômica é detectada na sua pesquisa.
Eli - A imprensa tem explorado muito a insatisfação do empresariado como um fator favorável a uma mudança das posições tradicionais. Acredito que os empresários são suficientemente pragmáticos e flexíveis para recompor o apoio e superar suas divergências com o governo. Um dos pré-candidatos do governo [José Serra" já sinalizou que quer ser o candidato da "continuidade sem continuísmo". Esse tipo de proposta pode ter uma abertura entre os empresários. Algumas mudanças importantes da política econômica atual poderão ser sugeridas pelos pré-candidatos da continuidade.

Folha - Qual discurso eleitoral se afina mais com as aspirações do empresariado?
Eli - Os empresários deixam claro que são a favor da estabilidade econômica, mas que ela só não basta. Eles defendem uma política mais agressiva de comércio exterior e uma política a favor da indústria nacional e de incentivo às exportações. O que importa para eles agora é mudar as prioridades. Isso implica mudança da política econômica, hoje simbolizada pelo estilo de gestão de pedro Malan, que deu uma rigidez muito grande à economia. Há um discurso comum de que é preciso abrandar essa rigidez, mas sem abrir mão da estabilização.
O governo até permitiu o crescimento industrial no início deste ano, mas foram medidas conjunturais, sem fôlego. Enquanto não for rompida a vulnerabilidade externa, teremos apenas surtos espasmódicos de desenvolvimento.

Folha - Haveria margem para dar apoio a Ciro Gomes, Itamar Franco ou Anthony Garotinho?
Eli - Não é possível fazer essa afirmação. Essas candidaturas ainda estão muito pouco claras. Até agora, o único partido que apresentou um programa foi o PT. Nem o ministro José Serra nem Tasso Jeressaiti apresentaram claramente suas propostas. A candidatura de Paulo Renato me parece já estar descartada.
Garotinho ainda está tateando. Enfim, é muito cedo para apostar fichas.

Folha - Por que os empresários prejudicados só agora demonstram sua insatisfação?
Eli - Parte significativa desse segmento mais atingido não teve condição de liderar nenhuma frente de resistência empresarial. Muitos tiveram de vender suas empresas ou perderam a projeção e visibilidade política que tinham antes. A análise das entrevistas que fizemos no nosso último estudo [com o cientista político Renato Boschi" mostrou que, apesar de muitos terem se sentido prejudicados, não se formou uma coalizão de perdedores que desse mais visibilidade às críticas.

Folha - Quais setores se dizem mais prejudicados e quais se mostram favoráveis ao atual modelo?
Eli - A avaliação positiva do governo era mais nítida em setores que se reconheceram como beneficiários das mudanças, como entidades de indústrias da construção pesada, da construção naval, de siderurgia e de petróleo. Os setores apontados como os mais prejudicados foram os de autopeças, bens de capital e têxtil.

Folha - O que há em comum entre esses dois grupos?
Eli - Nós observamos uma concordância com relação à importância da estabilização econômica, um legado de Fernando Henrique Cardoso e um modelo que não tem mais volta. Apesar disso, os empresários questionam o que eles consideram perverso: a sobrevalorização do real frente ao dólar e as altas taxas de juros, políticas mais claras do primeiro mandato. A privatização, de forma geral, foi avaliada de forma positiva. No entanto, mesmo o processo de privatização revelou, segundo as lideranças, erros graves de implementação, como ausência de compromissos em termos de investimentos futuros. Os empresários do grupo menos favorável criticaram muito a atuação do BNDES nesse processo.

Folha - Como os empresários viram a ampliação dos grupos estrangeiros na economia nacional?
Eli - Há um consenso crítico da forma como foi feita a abertura comercial. Apesar de favoráveis, as lideranças afirmam que não houve um cuidado de acoplar uma política mais consistente para preparar a indústria para essa abertura. Não houve uma preocupação com o estímulo à exportação, o que gerou uma balança comercial desfavorável. É comum também o argumento da necessidade de rever a participação do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) para permitir uma participação mais equilibrada do país no comércio internacional. A OMC tem favorecido os países hegemônicos, e o Brasil tem condições de explorar melhor seu poder de barganha.

Folha - Essa abertura e a presença maior de grandes grupos i nternacionais não desarticulou politicamente as indústrias brasileiras?
Eli - Alguns empresários mais críticos ao governo chegaram a citar essa preocupação. No entanto, os mais afinados têm outra visão do que é uma empresa estrangeira, diferente do modelo antigo. Para esses, a empresa nacional é aquela que gera emprego, produz e se instala aqui, independente se ela tem capital estrangeiro ou não.


Força promove ato em São Paulo para tentar obter reajuste de 15%
A Força Sindical planeja colocar hoje cerca de 10 mil trabalhadores em frente à sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na avenida Paulista (SP), na tentativa de pressionar as empresas a aceitar sua proposta de reajuste salarial.
O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, deve solicitar um encontro com o presidente da Fiesp, Horacio Lafer Piva, para levar as propostas e debater o assunto. A reunião não foi agendada e não tem efeito prático, já que a entidade não possui poder de negociar o reajuste salarial dos empregados do setor.

Mesmo assim, a Força organizou uma frente de batalha: trará trabalhadores do interior, fretou dezenas de ônibus e solicitou o comparecimento das lideranças.
A central quer que os empresários dêem reajuste de 15% para 14 categorias profissionais (cerca de 3 milhões de trabalhadores). Em 2000, quando a economia apresentava crescimento, os sindicalistas conseguiram menos: 10%.

Acordo da CUT
A CUT fechou ontem o acordo coletivo de 41 mil trabalhadores de montadoras que representa. Em assembléia, foi aprovada uma nova proposta, que prevê reposição integral do INPC em 2001 (que deve chegar a 7,7%) e em 2002, além de aumento real de 2% no próximo ano. O pagamento dos 2% ocorrerá se for produzido 1,065 milhão de carros no Estado de São Paulo em 2002.

"A última vez em que fizemos acordo nesses moldes foi no início dos anos 90, com as câmaras setoriais. Foi bom, por isso voltamos a debater esse tipo de proposta", disse Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT).

A Força discorda. Prefere deixar a discussão do acordo coletivo do próximo ano para depois.
Isso porque a central não acredita que exista vantagem nessa proposta fechada pela CUT. "Poderemos negociar no próximo ano um aumento real melhor se as indústrias conseguirem vender mais do que o previsto em 2002", afirmou João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força.
O acordo não vale para o setor de autopeças, por exemplo, que ainda não conseguiu finalizar a negociação salarial com as indústrias do setor.


Tasso testa sua candidatura em São Paulo
O governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) testa hoje a sua pré-candidatura à Presidência da República no Estado de São Paulo, um reduto político do ministro José Serra (Saúde), principal presidenciável tucano. Em palestra promovida pela família Covas, às 20h, no Instituto de Engenharia, Tasso falará de política nacional.
A família do governador Mário Covas, morto em março, distribuiu 400 convites, mas espera a presença de 500 pessoas - entre amigos, políticos e empresários.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e a maior parte do secretariado do Estado estarão presentes no evento. O ministro Paulo Renato (Educação), outro pré-candidato tucano à sucessão presidencial, declarou que vai participar da reunião.
Na semana passada, a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados decidiu participar da palestra de Tasso. "Todos de São Paulo devemos ir homenagear o Tasso, que é uma pessoa querida", disse o líder do Governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

"Vai ser uma reunião de peso. Vamos lá para ouvir o Tasso", disse o presidente da Assembléia Legislativa paulista, deputado estadual Walter Feldman (PSDB).
Segundo o presidente do PSDB do Estado de São Paulo, deputado estadual Edson Aparecido, haverá representantes de todos os setores do partido em São Paulo.
No meio empresarial, Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, são presenças confirmadas.

Família Covas
A palestra será a grande oportunidade de Tasso para seduzir admiradores de Covas, que, no final do ano passado, lançou o nome do cearense à Presidência. "Queremos que os nossos amigos conheçam o Tasso.Temos certeza de que, depois de conhecê-lo, as pessoas vão entender por que ele era o candidato do Mário Covas", disse a advogada Renata Covas Lopes, filha de Mário Covas.
Segundo ela, a família não quer criar constrangimentos para ninguém. "Eu convidei pessoalmente o Serra para o encontro. O objetivo dessa reunião é somar e aglutinar", declarou Renata. Segundo a Folha apurou, Serra não deve comparecer à palestra.

Os principais argumentos dos covistas -sejam eles simpáticos ou não à candidatura Serra- para participar da palestra são quatro: seria grosseiro não aceitar a um convite da viúva de Mário Covas, Lila; Tasso Jereissati é uma liderança nacional tucana; a presença na palestra não significa apoio à candidatura de Tasso; e o PSDB precisa de união interna.

Boicote
Os defensores de Serra estão divididos em relação ao encontro. Há quem pregue o boicote. Ontem, o secretário estadual do Planejamento, André Franco Montoro Filho, 57, tentou convencer o irmão, o vereador paulistano Ricardo Montoro, a não participar.
Filhos do governador paulista Franco Montoro (1983-1987), que morreu em 1999, ambos defendem a candidatura Serra.

"O Tasso disse em entrevista que o encontro representa o lançamento da candidatura dele aqui em São Paulo. Se confirmar que é lançamento, não irei. Ou irei com uma camisa escrita: Serra", afirmou o secretário.
"Não acho que, na origem, signifique lançamento. Eu sou Serra e vou", respondeu Ricardo Montoro. Minutos antes, em entrevista, ele definiu o encontro como "um gesto de carinho da família Covas em relação a Tasso".
O secretário disse que tem uma desculpa para faltar à palestra: "Estarei trabalhando para defender o projeto de Orçamento de 2002 [que está parado no Legislativo por decisão judicial"".
Na quarta-feira, deputados federais tucanos promoverão um encontro de apoio a Serra, em Brasília. Objetivo: demonstrar que o ministro da Saúde é o preferido no meio político.


Alckmin nega ter declarado apoio a ministro
O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) negou ontem ter um acordo para apoiar a candidatura do ministro José Serra (Saúde) à sucessão: "Eu nunca declarei isso para ninguém, e não há nenhum acordo", disse.
Alckmin queixou-se enfaticamente da divulgação da existência desse acordo. Ele defende que a definição do candidato tucano fique para março ou abril de 2002.

"Eu leio todo dia no jornal que eu vou apoiar o Serra, e eu nunca declarei isso. Tenho dito que não é hora de decidir quem é o candidato. É hora de abrir o debate dentro do partido", disse. "Não é hora de excluir nomes. É hora até de incluir nomes. Vamos ouvir o ministro Paulo Renato, o que ele pensa, quais as suas propostas e definir o candidato apenas no ano que vem", afirmou.
Mas declarou ainda que Serra é "um bom nome" à sucessão presidencial.


Serra elogia Saúde, distribui beijos e evita abordar 2002
Apontado como um dos nomes do PSDB à sucessão presidencial e até hoje o tucano com melhor desempenho nas pesquisas de opinião sobre 2002, o ministro José Serra aproveitou ontem a cerimônia de entrega do título de cidadã paulistana à coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, para divulgar suas ações à frente da Saúde.
Durante o evento, que aconteceu apenas um dia antes da homenagem preparada pela família do governador Mário Covas ao também presidenciável tucano Tasso Jereissati, governador do Ceará, o ministro recebeu ainda manifestações públicas de a poio de Zilda Arns, indicada para o prêmio Nobel da Paz.

Em discurso feito para uma platéia de cerca de 1.500 pessoas, segundo avaliação dos organizadores, Serra foi aplaudido quando anunciou ter duplicado as verbas para a pastoral em sua gestão. O ministro também mencionou a entrega de equipamentos a entidades filantrópicas e a criação do programa de saúde da família.
"O que estamos fazendo hoje é levar a medicina mais avançada, mais de ponta, para as pessoas que não podem pagar", declarou.

Disputando espaço com Tasso, Serra não perdeu nenhuma oportunidade de ligar seu nome ao de Zilda. Elogiou o trabalho da coordenadora da pastoral, disse ter levado a indicação dela ao Nobel até a sede da organização do prêmio, em Oslo (Noruega), e chegou a chorar enquanto ela discursava.
Mesmo dizendo atuar de forma suprapartidária, Zilda não poupou palavras de admiração ao ministro, a quem se referiu como "querido": ""O Brasil inteiro agradece pelo tanto que o senhor fez".

Bom candidato
"A pastoral é suprapartidária e eu, pessoalmente, também. Mas gosto muito de dizer o que sinto e de dar a César o que é de César", disse Zilda, para quem Serra seria um "bom candidato" à Presidência. "Sem dúvida ele seria um bom candidato pela garra que tem e pelo que tem feito. Mas isso não quer dizer que seja o único bom candidato", afirmou.

De acordo com a assessoria da pastoral, 80% dos R$ 16,5 milhões em recursos anuais da organização são originários de convênios com o Ministério da Saúde.
Apesar de se recusar a falar sobre política, Serra comemorou os elogios que recebeu de Zilda.
"Vejo isso como um agrado porque ela é uma pessoa superqualificada em matéria de saúde pública no Brasil. Para mim, é um estímulo importante", declarou.
"É muito bom que ela tenha essa opinião", completou o ministro, referindo-se ao fato de a coordenadora da pastoral tê-lo descrito como um "bom candidato".

Em campanha
Cercado por agentes da Polícia Federal, Serra se comportou como candidato à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Atendendo a pedidos, beijou crianças e idosos, posou para fotografias, recebeu bilhetinhos e cumprimentou quase todos com quem cruzou pelo caminho.
Um pouco sem jeito, custou a entender quando uma mãe lhe pediu que beijasse o filho, deficiente físico. "Ele é seu fã", repetiu a mãe, insistentemente, até que Serra finalmente erguesse a criança e lhe atendesse o desejo.


Garotinho lança Erundina para o governo do Estado, mas ela hesita
O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), defendeu a candidatura da deputada federal Luiza Erundina ao governo paulista.
Ontem, no congresso do partido em São Paulo, o presidenciável disse que o PSB tem vários políticos qualificados a disputar o Estado em 2002, mas Erundina "está no coração do povo mais humilde, que vai decidir a eleição".

Antes que a deputada pudesse responder, Garotinho acrescentou: "Não nos diga não agora. Deixe que o povo leve o seu nome e só então tome sua decisão".
Pouco depois, Erundina não respondeu se aceita o convite. A deputada disse que enfrentou "muita dificuldade" na última eleição que disputou, e que precisaria avaliar o apoio do PSB a sua candidatura, pois não tem "mais tempo para fazer aventuras".
Após reafirmar que vai disputar a Presidência em 2002, Garotinho não quis comentar seu atrito com a vice-governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), a quem havia acusado de envolvimento no desvio de R$ 500 mil de projetos sociais no Rio: "Essa questão está encerrada". Segundo ele, o conflito com Benedita não prejudicará sua campanha ao Planalto.

Garotinho e Erundina trocaram elogios, mas enquanto ele defendia a importância de projetos sociais como o "cheque-cidadão" implementado no Rio, a deputada disse que "políticas compensatórias" são insuficientes para combater a pobreza e criticou o projeto de renda mínima do PT: "Não basta a renda mínima. Tem que ser renda máxima".


Artigos

O irmão de Ali Babá
CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Todo mundo conhece a história de Ali Babá. Numa deformação bem própria de nossa cultura, nós o associamos aos 40 ladrões como se ele fosse um deles. Na realidade ele roubou mesmo, só que roubou de ladrões e mereceu os cem anos de perdão de praxe.
Mas todos nos esquecemos do irmão dele, que era rico, enquanto Ali Babá era pobre. Chamava-se Cassim, Casimiro ou nome equivalente a isso, não importa. Esse irmão começou a invejar a fortuna que Ali Babá trazia para casa. Acompanhou-o até a caverna dos ladrões, aprendeu a senha famosa ("abre-te, sésamo!"), mas, lá dentro, depois de encher sacos e sacos com ouro e jóias, esqueceu-se da senha para fechá-la.
Dizia: "Fecha-te, sesmo; fecha-te isso e aquilo" -e nada acontecia. Os ladrões voltaram, viram o estrago, mataram e esquartejaram o irmão de Ali Babá.

Desde criança tenho pena do irmão dele. Costumo esquecer senhas, caminhos, nomes de pessoas e, sobretudo, números de telefone. Compreendo o drama que o tal Cassim ou Casimiro viveu. Outro dia, deu um troço no meu computador, queria fechá-lo, no desespero, a solução final foi desligá-lo da tomada e chamar um técnico.
Recursos que o irmão de Ali Babá não teve.

A moral da história é óbvia: roubar é coisa fácil. E cada vez mais fácil. O difícil, às vezes, é esconder o roubo. Mas nem sempre. Os casos mais notórios da nossa vida pública repetem monotonamente a aflição de Cassim ou Casimiro tentando fechar a caverna do tesouro, mas se esquecendo da senha mágica.
Mas nem todos são distraídos como eu e como o irmão de Ali Babá. Num caderninho ou na agenda eletrônica, levam o nome salvador.
Muitos conseguem entrar e sair. Ganham nas instâncias finais. Depois de saquearem a maravilhosa caverna do erário, alegam que enriqueceram na iniciativa privada.


Colunistas

PAINEL

Porta da rua
FHC está sendo aconselhado pelo PSDB a dar um ultimato à cúpula do PMDB: o partido deve entregar imediatamente os cargos ou parar de ameaçar deixar o governo em janeiro.

Saída de ocasião
Praticamente sem chances de fazer o vice da base governista em 2002 e sem um nome forte para disputar a eleição, a direção do PMDB voltou a aproximar-se de Itamar. Se o mineiro afinar o discurso com a cúpula do partido, será o candidato.

Diálogo aberto
Na terça-feira, após se reunir com Michel Temer (presidente do PMDB), Itamar vai ser recebido pela bancada do PMDB paulista. Quércia e o deputado Lamartine Posella vão colher assinaturas para uma moção de apoio à sua candidatura.

Febre temporã
Após a aprovação do projeto que amplia o 13º salário para ex-congressistas, os líderes do PT e do PSB adoeceram e sumiram da Câmara. Miro Teixeira (PDT), mesmo doente, foi ao Congresso: "Segui a máxima do doutor Ulysses: em certos casos, só com atestado de óbito".

Testemunho de vida
Resposta do líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson, a Ciro Gomes (PPS), que comparou políticos a cocô de galinha: "Partindo dele, que é um dos maiores políticos do Brasil, é um pensamento para ser respeitado".

Política de resultados
A Executiva do PFL não acha necessário haver prévias entre os candidatos dos partidos aliados, embora defenda publicamente a idéia. As pesquisas do início de 2002 serão as verdadeiras prévias, dizem os pefelistas.

Sem firula
De Henrique Alves (PMDB-RN), sobre FHC ter convidado Michel Temer para a viagem à Europa: "O convite é honroso, mas é mais urgente para o Nordeste a indicação de Ney Suassuna à Integração Nacional".

Proteção federal
Principal testemunha do escândalo do Fundo de Amparo ao Trabalhador no MS, Cristiane Ruiz foi incluída no programa de proteção a testemunhas do Minis tério da Justiça após reclamar de ameaças. O caso do FAT envolveu nomes importantes do governo Zeca do PT.

Pressão documentada
A testemunha, cujo depoimento ao Ministério Público relacionou os desvios do FAT ao financiamento de cinco campanhas a vereador pelo PT, gravou uma conversa na qual um emissário do governo a pressionou para que recuasse da acusação.

Brasil à margem
Estudo da Global Entrepreneurship Monitor para o Sebrae mostra que o Brasil tem o mercado mais informal do mundo. São 4,5 milhões de empresas formais e 15,7 milhões de informais. Uma expressão foi criada no exterior para definir esse tipo de situação: "o abrasileiramento do mercado de trabalho".

Líder mundial
No Brasil, existe uma empresa para cada oito brasileiros. Nos EUA, a proporção é de uma empresa para cada dez americanos. Na Suécia, a proporção é de uma por 50. No Japão e na Irlanda, não passa de uma por cem.

Ex-tucano no limbo
Deputados do ES estão preocupados com a repercussão dos escândalos envolvendo o governador José Ignácio. Há cinco meses ele não é recebido por ministros em Brasília. O Estado perde verbas e prestígio político.

CPI inacabada
Após ganhar prazo de 40 dias para concluir os seus trabalhos, a CPI das Obras Inacabadas nunca mais teve quórum. A oposição diz que o governo está boicotando a investigação.

Tamanho do prejuízo
Augusto Nardes (PPB), membro da CPI, diz que, se os trabalhos tivessem andado normalmente, teriam sido identificadas facilmente 2.000 obras inacabadas. Que custaram R$ 30 bi.


TIROTEIO
Do deputado Emerson Kapaz (PPS), sobre a eleição de 2002:
- Sei quem é o candidato dos sonhos do FHC para a Presidência: o Lula. É o modo pelo qual ele imagina ser possível voltar nos braços do povo em 2006.


CONTRAPONTO
Campanha quente
Anthony Garotinho (PSB) fazia uma pregação religiosa num campo de futebol em Belém (PA), há cerca de 15 dias, quando houve um princípio de incêndio no palco.
Alguém havia enrolado os fios da aparelhagem de som com uma fita adesiva de má qualidade, que esquentou e queimou.
Garotinho, que sempre anda acompanhado por dois ajudantes-de-ordens do Corpo de Bombeiros carioca, falava para cerca de 20 mil pessoas. Imediatamente um dos ajudantes, um major, aproximou-se e deu proteção a Garotinho.
O governador virou-se para ele e perguntou:
- O que é que você está fazendo aqui?
- Estou cuidando do senhor! - respondeu o major.
Garotinho então falou alto:
- Mas você não é bombeiro? Então você tem que ir para o outro lado, apagar o fogo!


Editorial

O CAMPO DO FUTURO

O Brasil vai para a nova negociação comercial no âmbito da Organização Mundial do Comércio com o objetivo prioritário de pressionar pela liberalização do setor agrícola.
Se for comparada ao veio nobre do comércio internacional, a linha de ação do Itamaraty pode soar estranha, uma vez que a diplomacia brasileira despende suas energias num setor que agrupa bens de reduzido valor agregado e baixa incorporação tecnológica. Mas é de fato a melhor, se não for a única, carta que o país tem por enquanto. O agronegócio já respondeu, no ano passado, por 36% das exportações brasileiras, um montante de US$ 19,7 bilhões.

É urgente para o país aumentar seu superávit comercial para reduzir em boa medida a sua dependência de financiamento externo. Dessa forma, propugnar pela ampliação de mercados para a agricultura brasileira faz todo o sentido.
O agronegócio, que já é muito competitivo internacionalmente, pode gerar divisas de imediato se os países europeus e os Estados Unidos reduzirem a formidável proteção que estendem a seus agricultores.
Claro que seria ingênuo ter ilusões de que os ricos cederão à pressão de um país como o Brasil. Mas as dificuldades não podem justificar a adoção de uma postura acomodatícia.
Da mesma forma, eventuais concessões na área agrícola não devem ensejar acomodação nem no governo nem nos setores produtivos nem nos partidos políticos. Os ganhos adicionais que podem advir de uma boa negociação agrícola devem servir apenas para facilitar a transição para uma economia capaz de exportar bens de maior valor agregado.

Para isso, é indispensável pensar em políticas indústrias e de exportação, sem falar na reforma tributária. Ou seja, o modo como o país vai competir no exterior vai depender fundamentalmente da atuação do governo e do Congresso Nacional.
Como há renovação política nessas duas instâncias no ano que vem, é imperativo que o assunto seja abordado com a importância que merece nos debates eleitorais.


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10/22/2001


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