Alckmin irá a FHC defender redução de juros







Alckmin irá a FHC defender redução de juros
Para ele, só mudança da taxa poderá conter queda de arrecadação e aquecer economia

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), voltou ontem a criticar a taxa de juros do País e afirmou que vai procurar o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, para tratar da redução do índice atual, de 19%. "A gente precisa ter mais ousadia e é importante a redução para não entrarmos numa retração econômica", afirmou, após cerimômia no Hospital da Polícia Militar, na capital.
A preocupação de Alckmin é com o desaquecimento da economia, que se reflete na arrecadação do Estado no segundo semestre deste ano. "Temos as contas rigorosamente em dia, mas a arrecadação não é muito boa. Nós precisamos aquecer a atividade econômica."

Termômetro - Alckmin dirá a Fernando Henrique que a economia paulista não esteve bem nos últimos meses: a taxa de desemprego, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) para 2% - antes estimada em 4% - e a menor arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). "O ICMS é um bom termômetro da economia: vamos ter perda de R$ 400 milhões no segundo semestre."
No fim deste ano, a taxa de crescimento do ICMS deve frustrar as expectativas do governo paulista. Essa é a avaliação do coordenador estadual de Arrecadação Tributária, Clóvis Panzarini. "Não podemos fazer previsão de números, mas as perspectivas de crescimento de arrecadação não são boas para o ano que vem", avaliou.

O crescimento do ICMS chegou a 8,3% no primeiro semestre, fato que ajudou o governo Alckmin a enfrentar um cenário crítico provocado, em grande parte, pela crise no setor de energia e pela turbulência na Argentina. De acordo com Panzarini, em setembro o índice registrou queda de 2% e, em outubro, aumento de 0,4%. A média do ano deve fechar em 4%.
O coordenador de Arrecadação Tributária acha necessário que haja um sinal da redução dos juros. "É preciso começar uma trajetória de baixa, para que os agentes econômicos voltem para o mercado", sugeriu. Ele acredita que isso poderia ser feito nas reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom), com a redução de 0,5% a cada reunião, por exemplo.

Panzarini lembra que a taxa de juros está relacionada com a demanda de produtos: se essa taxa é alta, o consumo é baixo e o investimento cai. Tudo na sociedade envolve juros e, com a retenção das compras e da produção, a arrecadação do ICMS também acaba sendo reduzida. "Se não houver crescimento, será preciso cortar gastos", alertou.


PFL vai 'vender' Roseana como nome suprapartidário
Programa a mostrará como ex-simpatizante do PC do B, amiga de petistas e de bom trânsito político

BRASÍLIA - A governadora Roseana Sarney vai usar o programa do PFL que irá ao ar segunda-feira no seu Estado, o Maranhão, para apresentar-se como uma candidata à Presidência suprapartidária, plural, com trânsito em todos os setores, amiga de petistas e ex-simpatizante do PC do B. Com isso, tentará romper as fronteiras do PFL e buscar votos entre os eleitores de outros partidos. Hoje, ela está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
O PFL exibirá programas em todo o País, mas só mostrará o novo perfil no Maranhão. A governadora falará para o partido no Estado e explicará os apoios que tem.

Roseana dirá que começou a carreira no Congresso, que é um retrato do País e onde se aprende a conviver com gente e opiniões diferentes. "Minha vida é suprapartidária por natureza", afirmará. Vai lembrar que o pai, o senador José Sarney, é do PMDB, que tem amigos no PSDB e no PT e ela mesma foi simpatizante do PC do B. No Maranhão, o PC do B participa da frente que sustenta seu governo.
Ontem, Roseana disse que ainda não conversou com a direção nacional do PFL para levar o discurso para fora de seu Estado, mas pretende fazê-lo. Ela explicou que por enquanto investe nas reuniões com governadores de outros partidos, como os do PMDB e do PSDB.

Sobre o momento atual, Roseana queixou-se de que alguns tentam colar seu nome ao passado, ao que ela chama de PFL "arcaico". Quando isso ocorre, contou que gosta de brincar, dizendo que é a legenda que se está transformando no novo. "É por isso que prefiro o PFL, que está mudando de um partido arcaico para um partido transformador", argumentou.

Comparação - No programa do PFL no Maranhão, ela afirmará que nenhum partido é dono da razão e em todos há gente que honra o que faz e gente que não. "O papel de cada geração é mudar o mundo à sua volta e minha tarefa é dar continuidade a esse trabalho." Roseana dirá que fez bastante no Maranhão, mas ainda há muito a fazer.
Ela vai se comparar a governadores que acha bem-sucedidos, para falar dos problemas. "Tasso Jereissati (PSDB) e Ciro Gomes (PPS) fizeram governos criativos e modernos no Ceará, Jorge Viana (PT) faz um governo sério no Acre e César Borges (PFL) dá continuidade a administrações vitoriosas na Bahia", dirá. "Só que eles também não conseguiram resolver todos os problemas de seus Estados."

Segundo Roseana, serão necessários anos, muitas administrações, insistindo no mesmo rumo e trabalhando duro para tirar o atraso histórico de algumas regiões. E concluirá: "Você maranhense, que tem sido parceiro na minha luta, eu convido a continuar comigo."


Ampliada quebra de sigilo de empresa citada no caso Jersey
Lavicen, acusada de ‘acobertar pagamento de propina’, agora terá dados fiscais investigados

A Justiça decretou a quebra do sigilo fiscal da Lavicen Construções e Locações de Máquinas de Terraplanagem, apontada pelo Ministério Público Estadual como “empresa fantasma utilizada para acobertar pagamento de propina” nas obras do Túnel Ayrton Senna, na zona sul de São Paulo. Promotores que investigam existência de valores em nome do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) na Ilha de Jersey, suspeitam que recusos supostamente desviados do Ayrton Senna e de outras obras viárias teriam abastecido contas do pepebista no exterior.
O acesso aos dados fiscais da Lavicen – referentes aos exercícios de 1995 a 2000 – foi autorizado pela Corregedoria da Polícia Judiciária. Na mesma sentença, foi ordenada a quebra do sigilo bancário da Lavicen e das empreiteiras Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO) e Constran Construções e Comércio, que formaram o consórcio responsável pelas obras do túnel. O rastreamento vai abranger movimentações realizadas entre janeiro de 1993 e dezembro de 1996, período em que Maluf foi prefeito.

À Polícia Financeira de Jersey, promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado informaram que as obras do túnel teriam sido superfaturadas e comissão de 15% teria sido paga. Segundo eles, ao valor inicial do projeto – R$ 150 milhões –, acrescentou-se correção que “culminou com custo final aproximado” de R$ 750 milhões. “Claras evidências, como utilização de índices de correção superiores ao devido e fraudes nas medições parciais da obra, tornaram praticamente certo o superfaturamento que acarretaram enriquecimento indevido da ordem de R$ 96 milhões”. A Justiça considera que “os fatos são relevantes e justificam” a quebra do sigilo.

CDHU – O advogado Ricardo Tosto, que defende Maluf, rebateu suspeita de superfaturamento das obras e desvio de verbas. “Não tem o mínimo cabimento”, disse. Tosto mandou um recado: “Podem investigar à vontade a Lavicen que ela não tem qualquer vínculo com o dr. Paulo; a Lavicen é responsabilidade exclusiva das contratantes.”
O advogado lembrou que a obra foi realizada pela Empresa Municipal de Urbanização (Emurb). “Acusar Maluf equivale a querer colocar o governador como réu nas ações sobre obras da CDH U”, comparou Tosto. Ele se referia à Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano do Estado, que teve 130 contratos rejeitados pelo Tribunal de Contas.
A CBPO e a Constran negam irregularidades nas obras do túnel e deverão recorrer.


Procurador recorre contra Eduardo Jorge
A Procuradoria da República em São Paulo requereu anulação da decisão judicial que mandou excluir dos registros criminais o nome do ex-secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Por meio de recurso encaminhado ao juiz Casem Mazloum, da 1.ª Vara Criminal Federal, o procurador José Ricardo Meirelles pediu "o prosseguimento das investigações" e do inquérito da Polícia Federal instaurado para apurar o destino dos recursos desviados do Fórum Trabalhista de São Paulo.

Ao ordenar a retirada do nome do ex-assessor do distribuidor judicial no caso do fórum, Mazloum determinou à PF que, "com os elementos constantes dos autos (comunicações telefônicas), não submeta o paciente (Eduardo Jorge) a medidas coercitivas ou constrangimentos previstos em lei para investigados ou indiciados". Para Meirelles, a decisão "de forma inequívoca, proíbe que Eduardo Jorge seja investigado". Segundo ele, "quando pretendeu impedir 'medidas coercitivas' ou 'constrangimentos', não estendida aos demais investigados, (o juiz) efetivamente impediu o prosseguimento do inquérito".

Mazloum observou não ter decretado o fim do inquérito. Ele disse que não vai recuar. O recurso será encaminhado ao Tribunal Regional Federal. "O inquérito serve para a busca de elementos de prova, a partir dos indícios colhidos", diz o procurador. "A Constituição confere ao Ministério Público poderes para desenvolver diretamente investigações criminais."


Morre Vilmar Faria, amigo e assessor do presidente
Chefe da Assessoria Especial morreu de madrugada, em Brasília, de hemorragia digestiva

O chefe da Assessoria Especial da Presidência, Vilmar Faria, de 60 anos, foi enterrado ontem à tarde no Cemitério Morumby, em São Paulo. Ele morreu de madrugada, em Brasília, vítima de hemorragia digestiva, decorrente de um aneurisma. O presidente Fernando Henrique Cardoso, que era amigo de Faria há 37 anos, participou da cerimônia. “Ele foi meu aluno no Chile. Era um homem discreto e competente, um intelectual comprometido com as mudanças do Brasil”, disse.
O presidente contou que ele, a primeira-dama Ruth Cardoso e o novo embaixador do Brasil na Itália, Andrea Matarazzo, jantaram na terça-feira com Faria. “Falamos sobre planos para o futuro.” Fernando Henrique disse que o assessor entregaria ontem a ele um estudo sobre a pobreza no País. “O Brasil perdeu um eventual futuro ministro da Educação.” Este é o terceiro amigo que colaborava com o governo que o presidente perde. Em abril de 1998, morreram o ministro Sérgio Motta e o deputado Luís Eduardo Magalhães.

“É uma perda enorme, pessoal e política para nós. Ele era o principal assessor do presidente”, afirmou o ministro da Saúde, José Serra, que também foi ao enterro. “Vilmar era um dos melhores analistas de dados e pesquisas sociológicas do Brasil.” Para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, “o presidente perdeu um conselheiro de confiança, um homem muito ponderado.”
O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, destacou a participação de Faria na elaboração dos planos de governo do PSDB em 1994 e 1998.

A atuação do professor Vilmar Faria no governo foi elogiada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. “Ele soube fazer a passagem da academia ao governo sem sacrificar a qualidade e o sentido de sua reflexão intelectual, dando ao mesmo tempo um sentido de direção prática à sua atuação.”
Fernando Henrique embarca hoje à tarde para o Rio onde participará de palestra na Escola Naval e do Encontro Nacional de Empresários e Associações de Comércio Exterior. À noite volta a São Paulo e amanhã entregará cartões do Bolsa-Escola em Osasco.


Malan vai depor no dia 6 na CPI do Proer
BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Pedro Malan, prestará depoimento, como convidado, na CPI do Proer no dia 6, segundo o presidente da comissão, deputado Gustavo Fruet (PMDB-PR). Malan falará na condição de testemunha, o que o isenta da obrigatoriedade de fazer um juramento e diminui a possibilidade de ele passar por algum constrangimento.


Serra faz palestra para empresários em Minas
BELO HORIZONTE – O ministro da Saúde, José Serra (PSDB), fala a empresários mineiros hoje na Federação das Indústrias (Fiemg), uma semana depois da visita do governador Tasso Jeressati (CE) ao local. Ao contrário de Tasso, que foi festejado pelos mineiros como preferido na disputa do PSDB, Serra não participa de nenhum evento partidário.


Artigos

iPTu - a carta da Prefeitura
ROBERTO MACEDO

Recebi carta da Prefeitura informando que, se aprovado na Câmara Municipal o projeto que atualiza a Planta Genérica de Valores dos imóveis da cidade e institui o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo, um imóvel de minha propriedade estaria isento do imposto. Com isso a carta mostra outra distorção do projeto, da qual, aliás, não tinha conhecimento, e agradeço a informação. E são muitas as demais distorções que existem - e recomendam a rejeição da proposta na sua formulação atual.
Antes de prosseguir, cabe um resumo dessas distorções do iPTu, a versão petista do imposto. A idéia de progressividade se aplica à renda e à riqueza em geral. Não há, contudo, uma correlação perfeita entre propriedade imobiliária e renda ou riqueza. Há pessoas, como viúvas e aposentados, que têm um imóvel como único patrimônio de valor, ao mesmo tempo em que sua renda é baixa, enfrentando dificuldades para se sustentarem, num quadro que seria agravado pelo iPTu, com sua falsa roupagem de social. Há, também, pessoas pobres que, não tendo propriedade, vivem em imóveis alugados, inclusive cortiços, cobrados pela área e valor total, com o imposto rateado entre os inquilinos.

Na outra ponta, há pessoas de renda e patrimônio elevados, mas sem preponderância de imóveis, e que não seriam tão taxadas como se imagina. E o que é pior: há quem tenha um grande número de imóveis de pequeno valor, como quitinetes, flats e outros de pequeno porte, seguindo a regra que manda pulverizar investimentos para reduzir riscos. Esses mais ricos escapariam da tributação, ou a transfeririam aos inquilinos se o limite de isenção fosse atingido.
Nas empresas, a tributação mais elevada e progressiva estimularia movimentos de mudança para fora da cidade e, de um modo geral, haveria repasse do acréscimo a preços, afetando consumidores de todos os níveis de renda. Nesse caso, o imposto tende a ser transferido, perdendo também aqui, como no caso dos inquilinos, sua característica de incidência direta sobre a propriedade e seu dono.

E mais: o limite de isenção - imóveis com valor venal até R$ 65 mil - é muito alto, deixando de fora gente que pode e quer pagar, como uma leitora que me enviou mensagem reclamando da isenção. Isso além de alienar cerca de 1,6 milhão de imóveis e seus proprietários da condição de contribuintes.
Aliás, a carta da Prefeitura conclui assim: "Fique de olho no que é feito com o dinheiro público." Ora, quem não paga não se interessa e também fica enfraquecido no seu direito de reclamar. E, vendo o dinheiro gasto em cartas como essa, a própria Prefeitura mostra dinheiro jogado pelo ralo. Qual foi o serviço efetivamente prestado que justificaria o gasto? Não sem razão, portanto, a carta está sendo questionada judicialmente.

Poderia prosseguir com as distorções, mas vamos à mostrada pela própria Prefeitura com sua epístola aos candidatos a isentos. O imóvel em questão é uma garagem no prédi o onde resido, com escritura e IPTU independentes do apartamento a que serve. O cadastro da Prefeitura é baseado no registro de imóveis, e essa distorção que apresenta, ao não juntar ao imóvel principal o que é acessório, daria uma isenção injustificável, e a quem poderia e quer pagar. Deve haver muitos casos semelhantes, e haverá estímulo adicional a que garagens tenham escrituras independentes.
A epístola repete o velho evangelho, afirmando que "quem tem mais capacidade de contribuir paga mais imposto, quem tem menos paga menos"... Conforme demonstrado, até mesmo de forma epistolar pela própria Prefeitura, no caso do iPTu essas proposições não são verdadeiras em geral. Como tal, são teses que não passariam pelos crivos acadêmicos, e imagino o desconforto de colegas que por eles passaram e estão hoje a defendê-las.

Como não há bons argumentos, parte-se para a ofensa, como no caso de chamar de "tubarões" os empresários que se manifestam em contrário e de "mesquinhos" outros que se opõem à idéia. Não se reconhecem as graves injustiças que estariam sendo cometidas a pretexto de uma justiça social míope, assentada que é num imposto inadequado para essa finalidade, e sem abrir espaço para corrigir distorções como as apontadas. Quem levou o projeto à Câmara quer que aceitemos que o iPTu é ótimo, e ponto final.
Por não ver a idéia bem sustentada, mas defendida dessa forma, estou sendo levado a acreditar que é uma proposta demagógica, que no espírito da luta de classes joga quem tem contra quem não tem, a partir de informações equivocadas sobre cada lado, e procurando faturar politicamente para futuros embates eleitorais. É o velho PT pegando pesado, com uma aparência de leveza que só engana os incautos.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

Os portões que não foram
Na década de 40, quando vim morar no Rio, a Barra da Tijuca era um lugar quase campestre, seu único acesso conhecido era a Avenida Niemeyer. Teve até uma marchinha carnavalesca, que fez sucesso e dizia assim: "Na Barra da Tijuca/ eu fui tarrafear/ veio uma onda maluca/ me atirou no quebra-mar." Era isso, tinha até quebra-mar; e os namorados iam pescar siri, de puçá, no alto da ponte que escalava o canal.
Depois, no pós-guerra, com a brutal expansão da cidade do Rio, a moradia na Barra da Tijuca virou uma opção para os mais ricos, que tinham carro (nesse tempo também tudo era importado). Encomendou-se ao grande Lúcio Costa um plano urbanístico para o novo bairro; veio o plano e era, como de se esperar, maravilhoso. Mas aí entrou areia, quero dizer, entraram os especuladores, perverteram o plano e, do projeto de mestre Lúcio Costa, ficaram apenas aquelas torres redondas à beira-mar. E aí, como o resto do Rio, com o crescimento sem ordem e sem lei, a Barra se desumanizou; multiplicaram-se desordenadamente os edifícios, altíssimos, com seus apart-hotéis. E os grandes supermercados, que nas grandes cidades do resto do mundo se localizam nos arredores distantes das megalópoles, se instalaram por lá, achando talvez que ali ainda eram "arredores", ocuparam vastas áreas com as suas instalações. E a Barra foi crescendo, Quem queria comprar apartamento novo, a opção era a Barra. Os mais se instalavam a meio caminho, naqueles grandes prédios aristocráticos à saída de São Conrado. No governo Carlos Lacerda, abriu-se o túnel Dois Irmãos - hoje Zuzu Angel - mais outro túnel, o falso; duplicaram-se os acessos. E mais acesso, mais gente - lá nave vá.

Hoje, realmente, morar na Barra é um martírio, quase uma impossibilidade para quem trabalha na cidade. Engarrafamentos tremendos até dentro dos túneis e viadutos, ninguém chega mais de lá pra cá em menos de uma hora, hora e meia e vice-versa. E isso para quem tem carro; de ônibus é ainda muito mais penoso.
Pois é no meio desse caos, no aperto desse nó gordio, que alguém (ou alguéns?) não faz muito tempo apareceu com uma idéia alucinada: fechar com portões de ferro todas as entradas da Barra da Tijuca! Já pensaram, nossos amigos e inimigos, mesmo os que não moram na cidade do Rio? Trancar pra que - se o grande problema do bairro é sair e entrar? Os imensos shoppings, de centenas de lojas, que já se multiplicam, de onde iriam tirar a freguesia? Só os da Barra? Não iria dar. As velhas cidades européias mantêm a tradição de suas antigas portas; Paris, por exemplo: já morei perto da Porta de Versailles, mas de tal porta só havia mesmo a lembrança. Qual o maluco que pretenderia fechar o acesso de Paris? Mas se eles, na Barra, tivessem mesmo cometido essa loucura, já pensaram no atropelo sem fim dos engarrafamentos, a polícia em cada portão, examinando os papéis de cada carro, a cara de cada possível suspeito? Só louco mesmo.

Não, barristas-bairristas, não se pode medievalizar uma megalópole, agredindo um dos mais democráticos direitos humanos, que é o de ir-e-vir. E se acham que se trancando todos lá dentro, se garante a segurança, é outra loucura. Os ladrões vão se trancar com vocês, e aí é que fazem a festa. Em família.
O Rio, como São Paulo, como todas as grandes cidades do Brasil (e do mundo) padecem do crescimento excessivo, provocado pelo êxodo rural; o campo fica cada vez mais pobre e deserto e as grandes cidades são poderosos ímãs, atraindo a gente rural com o sonho de desfrutarem também os confortos e deleites da vida urbana. Com a esperança de trabalho mais fácil e algum dinheiro (qualquer dinheiro) que os liberte da incerteza e da miséria. E não será se trancando em guetos, atrás de grandes portões, que os ricos moradores dos bairros aristocráticos vão se defender dos pobres que os invadem. Mesmo porque pobre anda a pé, não passa pelos portões. Desce morro sobe morro, abre veredas e, quando os ricos dão fé, já foram invadidos. Em massa. E tudo trancado dentro!


Editorial

O que realmente importa para o PT

Em 1978, surgiu na região do ABC paulista um movimento sindical que se contrapunha às limitações que, desde o Estado Novo, o Estado impunha às relações entre patrões e empregados. O que esse grupo de militantes sindicais queria, em suma, era liberdade tanto para a organização gremial como para negociar com os empregadores, sem a intermediação dos "pelegos" e a tutela do Estado. O movimento, que se originou no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, se fortaleceu na luta sindical e nas greves e se transformou no embrião do que hoje é a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Partido dos Trabalhadores (PT).
A lembrança da gênese daquilo que foi conhecido como "sindicalismo autêntico" aumenta a perplexidade de todos quantos assistiram ao tumulto armado na Câmara dos Deputados pelos sindicalistas da CUT e deputados do PT para impedir a aprovação, na terça-feira, do projeto de flexibilização das relações trabalhistas. O projeto - que estava para ser votado quando redigíamos este editorial, no final da tarde de ontem -, afinal, é um ensaio de abertura para a livre negociação, proposto com cautelas que preservam os direitos básicos dos trabalhadores, por definição inegociáveis. E, abrindo as portas para a livre pactuação das condições de trabalho, o projeto é, também, um estímulo ao fortalecimento dos sindicatos, pois quanto mais representativas forem as agremiações, melhores os acordos que elas obterão.

A CUT e o PT não abandonaram as teses da livre negociação e da reorganização da estrutura sindical, como se pode comprovar pela leitura de recentes declarações de muitos de seus líderes. Não se encontrará aí, portanto, a explicação para sua radical oposição ao projeto do governo. O que mudou foram as circunstâncias políticas. O PT, preocupado exclusivamente com a vitória nas eleições presidenciais do próximo ano, usa todas as oportunidades para enfraquecer o governo, que considera seu maior adversário eleitoral, derrotando suas propostas, sejam elas quais forem, independentemente dos benefícios que possam trazer para os grupos afetados por elas.

A prova de que é isso e exclusivamente isso que explica a atitude do PT, apoiado pela CUT - as outras centrais sindicais apóiam o projeto -, está nas cínicas declarações do deputado José Genoíno, até então considerado o mais lúcido e ponderado dos representantes do PT no Congresso: "O resultado do painel eletrônico de votação não importa: a batalha política nós já ganhamos e produzimos boas imagens para a campanha."
Milhares de empregos formais estão ameaçados pela rigidez da CLT, que não permite, por exemplo, o desmembramento das férias, o pagamento parcelado do 13.º salário, a não ser em duas vezes, e o pagamento mensal da participação nos lucros ou resultados. Essa rigidez, numa situação de retração da economia - ou mesmo de simples dificuldades setoriais -, significa ou o desemprego ou a informalidade, sempre em prejuízo do trabalhador. Na melhor das hipóteses, como observou o presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, Joseph Couri, que reúne 156 mil pequenas e microindústrias, com 913 mil empregados, são feitos acordos à margem da lei, com os empregados abrindo mão de alguns direitos em troca da preservação do emprego.

O projeto de flexibilização das relações trabalhistas remediaria boa parte dessas situações, dando a milhões de trabalhadores, para os quais os direitos previstos na CLT não passam de miragem, direitos concretos.
Mas não é com isso que a CUT e o PT - e atrás deles embarcou o PMDB - estão preocupados. Produzir "boas imagens para a campanha" e "ganhar a batalha política" tornou-se mais importante do que atender aos reais interesses dos trabalhadores e contribuir para a modernização das relações do trabalho.


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11/29/2001


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