Alencar diz que Brasil precisa se preparar para a Alca



O senador José Alencar (PL-MG) disse nesta quinta-feira (27), em discurso no plenário, que o Brasil não deve descartar, em princípio, sua participação na Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas sequer deve pensar naquele bloco antes de resolver dois problemas cruciais para seus setores de produção: custos altos de transporte e embarque de mercadorias e juros inviavelmente elevados para qualquer atividade produtiva.

Segundo Alencar, o Brasil deve enfrentar, sem medo, as negociações para ingresso na Alca mas, antes, precisa se assegurar de que irá negociar bem e de maneira soberana. "Não serão os detentores de diplomas de doutorado que poderão fazer isso. PhDs somente servem para colocar as questões no papel. Para negociar bem, o governo brasileiro precisa chamar os especialistas de cada setor, aqueles que conhecem o Brasil real e seus interesses práticos".

Alencar argumenta que precisamos aprender com os Estados Unidos. Os norte-americanos impõem sobretaxas ao suco de laranja brasileiro, de modo a proteger os laranjais da Flórida, e aos aços especiais para defender "outros laranjais", sem fazer mistério nem segredo sobre sua política.

De acordo com o senador por Minas Gerais, o Brasil não pode negociar abrindo seus mercados, permitindo que os dos Estados Unidos permaneçam fechados. "Vamos negociar soberanamente, exigindo tratamento de igual para igual, sem medo de defender nossos interesses. Os norte-americanos dominarão a Alca apenas se nós o permitirmos", assegura.

Ele afirma ser o Brasil competitivo nos produtos agropecuários, na siderurgia, têxteis e calçados. "É claro que não podemos competir com os Estados Unidos no setor de informática. Com Bill Gates não dá para vencer, nem o Japão consegue".

Alencar compara a posição do Brasil em relação ao Mercosul com a situação dos Estados Unidos no que diz respeito à Alca. "Nós não sufocamos o Paraguai nem o Uruguai, países muito menores, sem medo de negociar conosco no Mercosul. Na Alca, não vamos permitir que os Estados Unidos nos sufoquem com sua hegemonia militar e poder econômico. Vamos aprender a negociar bem", conclui.

Em aparte, o senador Arlindo Porto (PTB-MG) diz que os Estados Unidos são imbatíveis em sua política de preservar seus mercados. "Precisamos fazer como eles, sem escancarar portas e janelas aos produtos estrangeiros, sem continuar a vender toneladas de produtos primários pelo mesmo preço que compramos alguns gramas de produtos de alto valor agregado".

Também em aparte, o senador José Coelho (PFL-PE) afirma que o Brasil não pode continuar a se dar ao luxo de usar o transporte rodoviário em detrimento do ferroviário ou fluvial. "Na Europa, mercadoria é transportada por trem e através dos rios. É assim que se faz".

27/12/2001

Agência Senado


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