Aluno de escola pública de Paulínia vence concurso de arte e vai à França



Garoto de 15 anos, da EE General Porphyrio da Paz, pintou a natureza brasileira e superou 400 concorrentes

Ele desafiou seus limites, a falta de habilidade artística e decidiu fazer o melhor. Quebrou a cabeça, esboçou desenhos e técnicas de pintura dezenas de vezes no decorrer do ano passado. Estava difícil, mas não desistiu. Por fim, o garoto Guilherme de Almeida, de 15 anos, da Escola Estadual General Porphyrio da Paz, em Paulínia, a 118 quilômetros da cidade de São Paulo, acabou vencendo o prêmio Museu de Arte Jovem, promovido pela Rhodia do Brasil. A vitória no concurso lhe rendeu uma viagem cultural à França, a ser realizada em maio, com acompanhante.

Apesar de muitos parentes serem da área artística, Guilherme jamais se interessou pela pintura, preferia o teatro. A mãe é professora de artes, o pai, serigrafista, e a avó materna, atuante em ações voluntárias e atividades artesanais.

Guilherme nasceu em Itaú de Minas, no sul de Minas Gerais. Aos 10 anos, foi morar com a avó, na Praia Grande, litoral paulista. “Ela dizia que eu seria o grande artista da família, mas nunca acreditei nisso”, lembra o menino.

O segredo

Como era muito apegado à avó, quando ela faleceu, em 2005, o garoto sofreu grande choque emocional. Adquiriu hipertireoidismo, problemas cardíacos e emagreceu. Mãe e filho foram morar em Paulínia.

Na nova casa, como vivia a maior parte do tempo praticamente sozinho, quase se afundou em depressão. Foi quando ganhou um livro de presente: O Segredo, de Rhonda Byre. Também assistiu ao filme com o mesmo nome. Depois disso, ele conta, sua vida começou a mudar.

Aprendeu a reconhecer seu valor e seu potencial como ser humano. “Com a leitura, aprendi que somos educados para aceitar os fatos ruins como normais. Mas devemos fazer o inverso, pois somos os senhores de nossos pensamentos”.

A nova percepção da vida e de seu próprio poder só lhe trouxe benefícios. Na escola, despertou interesse por Física e Química, disciplinas antes detestadas. E, mesmo sem habilidades, inscreveu-se para o concurso Museu de Arte Jovem. Naquele momento, ele diz que pensou: “Eu vou pintar a tela para ganhar”.

Na Escola Estadual General Porphyrio da Paz, no ano passado, Guilherme cursava o 1º ano do ensino médio à noite e, à tarde, freqüentava as aulas do projeto no próprio colégio.

Quem ministrava o curso voluntariamente era o professor de artes do Porphyrio da Paz, Daniel Bruno Silva. As aulas, de quatro horas semanais, ocorreram de março a novembro do ano passado e integravam dez alunos.

Diversidade brasileira

Diversidade brasileira foi o principal tema do treinamento e do trabalho final individual previsto no concurso. O professor explorou inúmeras possibilidades teóricas e práticas da abordagem. Ele enalteceu as características das obras dos artistas brasileiros e estrangeiros que se inspiravam na paisagem e no meio ambiente para produzir, entre eles Tarsila do Amaral.

A turma visitou o Zoológico da cidade e pintou quadros lá mesmo, ao ar livre. Os alunos foram à Unicamp e apreciaram uma exposição sobre fauna e flora brasileiras. Num quadro, criaram mapas do Brasil e borboletas tridimensionais, exibidos num espaço de arte de Paulínia.

Cada estudante desenvolvia o seu estilo. “Desde o início, destaquei que a vivência com a arte é mais importante que qualquer outra coisa. É uma experiência para a vida toda”, informa o professor.

No caso de Guilherme, o educador observou que suas dificuldades artísticas eram ultrapassadas ao longo do tempo. “Quando ele dizia que queria vencer, aceitou os desafios. E teve muita persistência”.

Macaco no galho

Pesquisar, na Internet e no acervo de sua casa (com mais de 100 livros sobre arte), conteúdos como perspectiva e profundidade virou rotina no dia-a-dia do garoto. Atlas da Fauna Brasileira (Editora Melhoramentos), Florestas e Árvores (mesma editora) e Panorama do Meio Ambiente (Comed) foram algumas das publicações bastante utilizadas.

O professor solicitou aos alunos que conhecessem melhor a riqueza da floresta amazônica, o clima tropical e suas cores, para abordar na pintura.

“A arte da pintura exige equilíbrio e é necessário dosar a força da mão no quadro”, afirma a mãe Miriam, também professora de artes. Ela lembra que em muitas ocasiões, de tanto treinar as pinceladas em casa, o filho chegou a sentir enjôos.

“No começo ficava nervoso, porque não conseguia fazer direito”, lembra o garoto. Ao comentário, a mãe responde: “Esse é o primeiro sinal de artista: é chato e não gosta do que faz”.

Pintando o mundo melhor. Foi esse o título que Guilherme deu à sua obra. Nela, destaca arara, tucano, jacaré, boto cor-de-rosa, onça, capivara, macaco preguiça, serpente, tamanduá, lontra, tartaruga, beija-flor, rã e outros animais. Os bichos estão sobre as árvores da floresta amazônica “com cores bem próximas do original”. Na parte exterior do quadro, ainda integrante do trabalho, aparece uma janela e o próprio autor pintando a obra. Há também carteiras de sala de aula. Fora da natureza colorida, tudo é cinza. “Nesse espaço, só as canetinhas são coloridas, porque a arte é o caminho para enxergar outro mundo. Minha mensagem é que a arte saia da escola e construa um mundo melhor”, declara o adolescente.

Em maio, quando for à França, levará a mãe. E já se prepara: comprou guia de conversação para viagens pelo exterior.

Para obter o primeiro lugar Guilherme disputou o concurso com 400 alunos de 12 a 17 anos da rede pública de quatro cidades: Jacareí, Paulínia, Santo André e São Bernardo do Campo. A análise e aprovação das pinturas passou por um júri composto por professores de educação artística, especialistas em artes plásticas e representantes da Rhodia.

Por Viviane Santos, da Agência Imprensa Oficial

(C.C.)



01/12/2008


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