Alvaro Dias quer que Ministério Público esclareça denúncias de tráfico de influência na Casa Civil



Em pronunciamento nesta terça-feira (14), o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) anunciou que encaminhará representação à Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o Ministério Público apure as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil da Presidência da República.

VEJA MAIS

Em sua ultima edição, a revista Veja acusa Israel Guerra, filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, de intermediar contrato entre uma empresa de transporte aéreo que presta serviço aos Correios. De acordo com a reportagem, Erenice chegou a ter encontro, mediado por seu filho, com o dono da empresa. Mas a ministra-chefe, que sucedeu no cargo a candidata do PT à Presidência, Dilma Roussef, já anunciou que processará a publicação. O episódio também será apurado por uma Comissão de Ética do Executivo.

Na representação, também assinada por representantes do PSDB na Câmara dos Deputados, Alvaro Dias cobra a apuração dos crimes de tráfico de influência, formação de quadrilha, concussão, prevaricação e improbidade administrativa, "possivelmente praticados sob a égide da ministra-chefe da Casa Civil, em conjunto com familiares, assessores públicos e amigos".

- A Casa Civil é emblemática. Vai se consagrando como uma espécie de fortaleza inexpugnável da imoralidade na administração pública brasileira, morada de alguns dos grandes escândalos dos últimos anos, uma espécie de subterrâneo escuro do governo Lula - afirmou.

Alvaro Dias disse que os escândalos ocorridos no atual governo acabaram consagrando a impunidade no país, sobretudo após a ocorrência do "Mensalão", em 2005. Ele lamentou que, passados cinco anos das denúncias de compra de apoio político na Câmara dos Deputados, muitos dos 40 acusados pelo crime ainda não tenham sido julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

- As manobras protelatórias, os expedientes da lentidão processual e objetivos de natureza eleitoral empurram o julgamento para o próximo ano, para depois das eleições de 2010. E essa sensação de impunidade que transforma o Brasil no paraíso da corrupção vai estimulando a repetição da prática delituosa - afirmou.

Alvaro Dias disse ainda que Erenice Guerra é a ministra mais forte do governo Lula e que o cargo que ela ocupa é o segundo mais importante na hierarquia do Executivo, abaixo apenas do presidente da República. Segundo o senador, à época da denúncia de dossiê formatado na Casa Civil para atingir a oposição na investigação de gastos em cartões corporativos, "Erenice protegeu o governo com muita lealdade e competência".

- A partir dessa blindagem das autoridades, ela passou a ocupar lugar de maior destaque no governo Lula, nomeou quem quis nomear, foi cogitada para ser ministra do TCU [Tribunal de Contas da União]. O recuo se deu porque a repercussão não foi favorável, mas ela foi premiada como ministra da Casa Civil - afirmou.

Alvaro Dias disse ainda que é preciso investigar as atividades desenvolvidas por uma outra empresa do filho de Erenice, que desenvolve investigação particular, monitoramento de sistemas de vigilância e segurança privada. Para o senador, é preciso verificar a eventual ocorrência de escutas ilegais, "já que estamos no tempo das escutas ilegais, da afronta à Constituição e da ameaça ao Estado de Direito".

O senador ressaltou ainda que "a criminosa e reiterada espionagem possibilita o abastecimento de dossiês, mediante a busca de informações sigilosas através do crime de quebra ou de violação dos sigilos fiscal e bancário, especialmente de pessoas ligadas à Oposição, como decorrência do aparelhamento do Estado, o Estado policial, para bisbilhotar a vida alheia, invadir a privacidade das pessoas e afrontar direitos consagrados constitucionalmente".

Opositores

Em aparte, o senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) parabenizou Álvaro Dias pelo discurso, mas lamentou a ausência, em Plenário, dos demais opositores do governo, que da tribuna são "candidatos a falar mal de Lula e Dilma, mas chegam em seus Estados e ficam calados". Roberto Cavalcanti ressalvou que existem casos que "merecem e necessitam de apuração", mas que não se pode fazer prejulgamento a partir das denúncias.

Em resposta, Álvaro Dias disse que a mentira é usada como arte para sustentar a popularidade de Lula. Disse ainda que o atual governo adota um comportamento de "psicopata", que não se responsabiliza por suas ações, em uma rotina de "cumplicidade e facilitação do crime".

- A consagração da desmoralização, no Brasil, faz com que jornalistas sérios, formadores de opinião influentes, se considerem inúteis, porque há uma anestesia que faz dormir a consciência nacional, e a indignação vai se tornando supérflua, ou a indignação nunca é do tamanho do crime praticado - afirmou.

Já o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ressaltou que Erenice Guerra já se colocou à disposição da Comissão de Ética que apura as denúncias. Disse ainda que a própria ministra e o presidente Lula são "os primeiros a querer ter isso muito claro", referindo-se à elucidação das denúncias de tráfico de influência na Casa Civil.

Depois de ouvi-lo, Álvaro Dias disse que um "governo sério" teria imposto o afastamento do acusado até o final das investigações. Ele disse que não cabe à oposição pedir o afastamento de Erenice Guerra, tendo em vista que essa é uma atribuição exclusiva do presidente da República. Segundo ele, à oposição resta pedir a responsabilização criminal dos envolvidos nas denúncias.

- Acreditar em comissões nomeadas pelo próprio governo é acreditar no Papai Noel do governo Lula - afirmou.



14/09/2010

Agência Senado


Artigos Relacionados


Alvaro Dias quer que a Polícia Federal investigue denúncias de tráfico de influência

Dilma e Erenice não precisarão explicar ao Senado denúncias de tráfico de influência na Casa Civil

Alvaro Dias pede convocação da ministra da Casa Civil para esclarecer denúncias de corrupção

Ministério Público suspeita de tráfico de influência em pagamentos da ANP a usineiros

Alvaro Dias quer ouvir envolvidos em denúncias do Ministério da Agricultura

Alvaro Dias quer ouvir Negromonte no Senado sobre denúncias no Ministério das Cidades