Ameaças veladas








Ameaças veladas
Apesar de assegurar que não elevará o tom dos ataques ao adversário José Serra (PSDB) após a queda nas pesquisas, o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência, Ciro Gomes, disse ontem que a campanha do tucano, com quem está tecnicamente empatado no Ibope, é “completamente desonesta” e citou “graves questões que ficaram na vida dele”, fazendo ameaças veladas.

— Tenho os casos do Ricardo Sérgio, de Bierrenbach, tenho quilhões. Conheço Serra de mil anos, conheço todas as graves questões que ficaram na vida dele sem respostas — disse Ciro, ressalvando que não pretende usar a suposta munição.

Ele se referia a Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro da campanha do tucano, e ao ex-deputado federal Flávio Bierrenbach, que trocou pesadas acusações com Serra na campanha para prefeito de São Paulo em 1988, envolvendo denúncias sobre abuso de poder e até mesmo suspeitas de corrupção.

— Mas o que isso acrescenta à sociedade, à educação política, à qualidade da democracia? — perguntou Ciro.

Logo depois, voltou a provocar:

— Como ele pode querer ser presidente do país, vencer uma eleição no meio de uma crise profunda como esta, semeando o ódio? Como vai governar no dia seguinte que for eleito? Ele detonou Roseana Sarney com dossiês, quer me agredir também e, daqui a pouco, Lula que espere — disse.

Ao comentar os ataques feitos a ele no tempo reservado aos tucanos no horário eleitoral gratuito, Ciro criticou o fato de Serra não assinar as inserções que o atacam:

— A campanha é completamente desonesta, tanto que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já o puniu.

‘A calúnia é um travesseiro de penas’
Ciro reconheceu que a tática tucana influenciou no crescimento de Serra nas pesquisas e disse que querem mostrá-lo como um “monstro agressivo e desequilibrado”.

— Como dizia São Tomás de Aquino, a calúnia é como um travesseiro de penas que se joga ao vento na encruzilhada. As penas se espalham. Você cata uma ou outra, mas não consegue recolher todas — disse.

Ciro descartou mudanças nos rumos da campanha.

— Essas fofocas de que haverá mudanças na estratégia de campanha, nada disso vai acontecer.

Sobre a participação de sua mulher, a atriz Patrícia Pillar, nos programas de TV, Ciro disse:

— Patrícia é senhora da oportunidade. Na hora que ela quiser, se ela quiser, vai fazer o que quiser.

O candidato afirmou ainda que, às vezes, é preciso oferecer a outra face e que campanha eleitoral é um momento político sujeito a dissabores que exigem equilíbrio. E, mais uma vez, provocou Serra:

— Há militante que se aborrece. Pelo gosto do militante mais entusiasmado você iria logo na goela do cara, de preferência na canela, sem proteção e com as travas da chuteira. Mas não é assim que se faz.

Ciro disse ainda que nunca alimentou a ilusão de que seria fácil vencer o candidato tucano.

— Nunca alimentei um dia sequer a ilusão de que enfrentar a prepotência, o desmando, o capital estrangeiro, o facciosismo de setores da grande mídia, e mais toda a máquina poderosa do governo, que tem sido usada de forma despudorada, seria tarefa fácil — afirmou.

Ele gravou ontem cenas para o programa de TV na sede da Força Sindical, no Centro de São Paulo.


PT vai tentar um arrastão de votos e já fala em vencer no primeiro turno
SÃO PAULO. O comando da campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma ofensiva com o objetivo de aproveitar a movimentação de votos provocada pelo tiroteio entre José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS) e fazer um arrastão para tentar vencer a eleição ainda no primeiro turno. A estratégia se divide em três frentes: agregar forças políticas, mobilizar os militantes e aumentar a dose de emoção nos programas da TV.

— Adiantamos algumas ações previstas para o segundo turno porque, se der, queremos ganhar ainda no primeiro — disse o secretário de organização do partido, Sílvio Pereira.

Dirceu se reúne com senadores peemedebistas
Anteontem, Lula recebeu o apoio formal do senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Logo após o encontro com Sarney, o presidente do partido, José Dirceu, reuniu-se num hotel de Brasília com os três senadores peemedebistas de Goiás: Iris Rezende, Maguito Vilela e Mauro Miranda. Os três estão descontentes com o apoio do PMDB a Serra e com medidas do governo, mas Miranda foi o único que se comprometeu a declarar apoio a Lula.

— Farei isso na segunda-feira, com toda a pompa, numa cerimônia na Assembléia Legislativa — disse Miranda.

O apoio do senador servirá como uma espécie de piloto para Iris e Maguito.

— Dependendo das reações em Goiás eles também podem embarcar — disse um integrante da coordenação da campanha do PT.

O próximo alvo é o deputado Paes de Andrade, ex-presidente do PMDB, que está articulando apoios a Lula no Ceará e deve divulgar sua adesão nos próximos dias.

O programa de TV deve sofrer pequenos ajustes. O objetivo é dar mais emoção. Assim, as novelinhas temáticas e as propostas de governo devem ceder espaço para as aparições públicas do candidato em ação no meio do povo e para videoclipes dos jingles de campanha e da música “Meu país”, de Zezé di Camargo e Luciano.

Ainda na área de marketing, o comando da campanha decidiu antecipar a veiculação do slogan “Agora é Lula”, previsto para ser usado apenas no segundo turno.

Além disso, o partido traçou uma estratégia para tentar mobilizar militantes em todo o país. Os primeiros alvos estão em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e nas 62 cidades com mais de 200 mil habitantes. É a chamada Operação 65.

— São focos importantes de crescimento rápido — explicou Pereira.

Até o dia 27, o PT deverá realizar mais oito showmícios com Zezé di Camargo e Luciano. O primeiro, em Campo Grande, reuniu 50 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Os próximos acontecerão no Rio (hoje), em Ribeirão Preto, Salvador, Recife, São Paulo, Curitiba, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Manifestações serão voltadas para faixas do eleitorado
Enquanto isso, a cada semana o PT pretende fazer uma grande mobilização nacional, cada uma voltada para uma parcela do eleitorado, como as mulheres, os negros, os jovens e os desempregados.

— Vamos jogar mais responsabilidade para os coordenadores regionais — informou Pereira.

O PT tem ainda uma estratégia voltada para os pequenos municípios, que reúnem mais de 32 milhões de leitores, nos quais Lula tem baixa votação. O objetivo é criar 2.005 comitês populares até o dia 15 de setembro, ou seja, um comitê para cada 20 mil eleitores.


Serra desafia: ‘Não temo nada. Podem atacar’
SANTA LUZIA (MG), RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA. Empolgado com seu crescimento nas pesquisas, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, desafiou ontem seus adversários a produzirem acusações contra ele e disse acreditar que as mudanças no tom da campanha de Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, são influenciadas pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).

— Ciro Gomes está entrando no padrão ACM, que provavelmente será o chefe da campanha dele. Eu não temo nada. Podem atacar — disse Serra em comício ontem à noite em Santa Luzia (MG).

O evento, que contou com as presenças do candidato do PSDB ao governo de Minas, Aécio Neves, da candidata a vice na chapa de Serra, Rita Camata, e da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, atraiu 40 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar.

Serra disse no Rio que seus adversários devem se sentir à vontade para reproduzir, no horário eleito ral, declarações suas. Ele atribuiu a queda de Ciro nas pesquisas ao fato de suas incoerências terem se tornado públicas. Mas o tucano, que vem mostrando imagens de Ciro em seu programa eleitoral com o slogan “Mudança ou problema?”, disse que a queda aconteceria independentemente de sua estratégia:

— Ele (Ciro) disse que o subsídio à agricultura no país era zero. Ora, não é. E todo mundo sabe disso. É de R$ 1,2 bilhão por ano. Evidentemente, o que ele disse não é verdade, mas quem disse isso foi ele. Isso está documentado. Isso acaba aparecendo, não é por nossa causa, não. Não tenho problema algum que reproduzam aquilo que digo. Se outros têm, é problema deles.

Em entrevista ao “Bom dia, Brasil”, da Rede Globo, Serra admitiu rever as inserções na TV que criticam Ciro sem a assinatura do PSDB:

— É uma informação a ser levada em conta. Acho que é uma observação pertinente.

O publicitário Nizan Guanaes, responsável pela estratégia de marketing, disse em entrevista à Rádio Jovem Pan que a tônica dos programas eleitorais não será mudada.

— Vamos continuar fazendo propostas, gastando 96% do nosso tempo com o programa de governo. Agora, não temos sangue de barata. Toda vez que se faltar com o respeito ao senador José Serra, ao presidente da República, a alguma instituição, respostas serão dadas — afirmou.

Nizan disse que se sentiu ofendido quando Ciro chamou um conterrâneo dele de burro, durante entrevista a uma emissora de rádio na Bahia:

— Não há baixaria. Estamos apenas documentando e mostrando as coisas.

Animado, mas cauteloso, o publicitário frisou que não é hora do clima de já-ganhou. Segundo ele, a subida nas pesquisas é uma lição para os que apostaram no já-perdeu:

— Os ataques podem explicar por que Ciro caiu. Mas o crescimento de Serra vem do apoio que tem do governador Geraldo Alckmin em São Paulo, de Aécio Neves em Minas, de Jarbas Vasconcelos em Pernambuco e da melhor e a mais clara proposta de emprego.

Para Nizan, a proposta de criar oito milhões de empregos foi o que alavancou a opção por Serra entre as pessoas de mais baixa escolaridade.


Serra quer rever índice de correção da energia
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, admitiu ontem rever o indexador (IGP-M) para os aumentos de preços da Light escolhido pelo Conselho Nacional de Desestatização, quando foi ministro do Planejamento, em 1997. A privatização da Light ocorreu 20 dias depois de Serra deixar o cargo. O candidato disse, durante entrevista ao “Bom dia, Brasil”, da Rede Globo, ontem, que, se eleito, vai negociar a modificação do índice.

— Acontece que se escolheu um índice que, ao longo do tempo, teve um desempenho mais acentuado do que os outros. Teria refeito esse contrato, procurando um outro índice. Naquela época, não tinha como prever.

Acho que vou mexer nisso. Você pode renegociar vendo um outro índice. Você tem que respeitar o contrato, mas pode negociar — afirmou.

Candidato critica tarifas de energia dolarizadas
Serra voltou a criticar a dolarização da tarifa elétrica por causa da Usina de Itaipu Binacional, dividida entre o Brasil e o Paraguai. Ele prometeu que vai refazer o contrato:

— Fez-se no contrato que a tarifa seja ajustada ao dólar. Sobe o dólar, não tem nada a ver com os custos de Itaipu, sobe a tarifa e contamina todo o resto. Vou mudar isso aí. Vamos refazer o contrato com o Paraguai.

Serra volta a defender novos fornecedores de trigo
Na tentativa de garantir a redução do preço do pão, caso seja eleito, Serra defendeu a suspensão, mesmo que temporária, da preferência da Argentina no fornecimento de trigo ao Brasil. Hoje, cerca de 90% do trigo comprado pelo Brasil vêm da Argentina. O candidato propôs que, a partir de janeiro, a tarifa de importação de trigo de outros países seja zerada, isenção atualmente concedida à Argentina. O país hoje cobra tarifa de 20% sobre as exportações de trigo e farinha de trigo para o Brasil. Na semana passada, o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, anunciou que o governo está negociando com a Argentina o fim da tarifa. O imposto cobrado dos outros países que exportam trigo para o Brasil é de 11%.

— O peso lá (na Argentina) caiu e o trigo deveria ter ficado aqui mais barato. Se você está num mercado de livre comércio, tem que ter alguma vantagem. Não apenas inconveniências. No período da entressafra, você pode zerar tarifa também para o resto do mundo — disse.

O candidato tentou justificar o fato de, quando líder do PSDB na Câmara, em 89, ter declarado que era contra a Rodovia Norte-Sul e ter tentado barrar recursos para a obra:

— Fui contra porque o Brasil vivia uma superinflação, com todas as contas públicas desarrumadas. O país ia iniciar um investimento de longo prazo e não tinha cabimento naquele momento fazer isso. Hoje, a produção de grãos de Goiás deve ter triplicado ao longo daquele período. Hoje, ela (a rodovia) já tem justificativa econômica.

“Sem eleições, a taxa de juros vai cair”
Serra afirmou, ainda, que o nervosismo das eleições está influenciando na cotação do dólar. Ele calcula que, no ano que vem, com o superávit comercial que o Brasil vem tendo e sem as eleições, a taxa de juros vai cair.

— Começaram a cortar linhas de crédito para o Brasil, pela incerteza eleitoral. Não fosse isso, a gente estaria crescendo de 3% a 4%. No ano que vem, esse fator não vai estar presente. O dólar vai cair depois da eleição. O que tem segurado a economia é a taxa de juros alta — disse.


Garotinho critica o apoio de Sarney a Lula
ITAQUAQUECETUBA (SP). O candidato à Presidência pelo PSB, Anthony Garotinho, criticou ontem o apoio do ex-presidente José Sarney ao petista Luiz Inácio Lula da Silva. Dizendo que “não quer ganhar a qualquer preço”, ele ironizou:

— Vejo Lula, que chamava Sarney de grileiro, apertando a mão dele na primeira página dos jornais. Não sei o que mudou. Será que Sarney devolveu as terras e deixou de ser grileiro ou Lula passou, agora, a conviver com grileiro?

Garotinho disse ainda que a mídia trama para que o tucano José Serra ganhe de Lula no segundo turno.

— Vocês queriam de qualquer jeito colocar no segundo turno Lula com Serra porque vocês sabem que Lula não ganha de Serra. Lula é o candidato da oposição para perder. Os meios de comunicação estão comprometidos com o candidato do governo, vocês querem ganhar a eleição levando Lula e Serra para o segundo turno — acusou, embora levantamentos de entidades como o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio (Iuperj) mostrem que a cobertura eleitoral feita pelos meios de comunicação está equilibrada.

Mais uma vez Garotinho disse, quando perguntado por um repórter sobre o acordo do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que se for eleito vai rever os termos da negociação mas negou que isso signifique calote na dívida.

— Seja sério, você está fazendo a pergunta que o seu patrão mandou fazer. Caloteiro é o governo. Eu paguei toda a dívida do Rio — respondeu o ex-governador.

Na sede do Movimento dos Sem-Terra Urbanos (MSTU), em Itaquaquecetuba, Garotinho subiu num caminhão usado como palanque e prometeu criar o Fundo Nacional da Habitação, que teria R$ 6 bilhões, ou um terço dos R$ 18 bilhões do FGTS, para construir 500 mil casas populares por ano, segundo ele.

Garotinho participou de carreata em direção ao Centro de Itaquaquecetuba, acompanhado da filha Clarissa e de candidatos a deputado. Depois foi para Guarulhos, onde caminhou pelo calçadão. Ele voltou a acusar os meios de comunicação de serem responsáveis por seu baixo desempenho nas pesquisas.

— Meus adversários hoje não são Lula, Serra nem Ciro. Meu adversário são os banc os, que financiam os jornais e as emissoras de televisão. Eu sou o único candidato que tenho me colocado frontalmente contra o sistema financeiro. Essa gente é poderosa. Eles querem qualquer um. Lula já se sentou com eles, já cedeu aos caprichos deles. Serra é o candidato preferido deles e Ciro também. O candidato que os banqueiros não querem é Garotinho — afirmou.

Mesmo dizendo-se vítima, ele afirmou ter certeza de que estará no segundo turno porque diz ter “números excepcionais em pesquisas internas”.


Minirreforma tributária sairá mesmo por MP
BRASÍLIA. Diante do fracasso do esforço concentrado para desobstruir a pauta de votações da Câmara, o presidente Fernando Henrique terá que editar duas medidas provisórias possivelmente amanhã. Uma delas vai dar uma segunda chance às empresas que queiram renegociar as dívidas com a Receita Federal e não o conseguiram por intermédio do Refis (Programa de Recuperação Fiscal).

Governo dá prazo para pagamento de impostos
Será dado um prazo de 150 meses (12 anos) para as empresas pagarem os impostos em atraso. Além disso, elas terão 40% de desconto nas multas que incidiram sobre os atrasados até 30 de março. O chefe da casa Civil, Pedro Parente confirmou a edição das MPs.

— Temos que reconhecer que estamos no calor da campanha — disse Parente.

A outra medida, a da minirreforma tributária, acaba com a cobrança em cascata do Pis/Pasep e, no prazo de 14 meses, sobre a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). A alíquota do Pis/Cofins, que é de 0,65%, passará para 1,65%, mas poderá variar de produto a produto. Já a alíquota do Cofins, que é de 3%, deverá ser ampliada para 8%, mas a medida só começará a vigorar no fim de 2003. Esse aumento das alíquotas das contribuições é necessário porque a cobrança passará a ser feita em apenas uma etapa de produção e compensada nas demais.

— O presidente deverá, sim, editar uma medida provisória sobre o PIS nos próximos dias — disse o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG),

No meio da tarde Aécio foi ao Palácio do Planalto comunicar ao presidente o fracasso do esforço concentrado e debater as medidas provisórias sobre os temas que não foram votados. Ele informou que o governo deixou para depois das eleições a discussão com o sucessor de Fernando Henrique sobre a prorrogação da alíquota de 27,5% do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). Em outubro, o presidente vai enviar ao Congresso um projeto de decreto legislativo nesse sentido, caso haja concordância do presidente eleito.

— O novo presidente deve opinar sobre a continuidade ou não da alíquota de 27,5% — disse Aécio.

O governo já esperava que dificilmente haveria acordo para votar o projeto de conversão da medida provisória 38 que está obstruindo a pauta da Câmara. Por isso, há vários dias, vinha negociando com o relator da MP, Armando Monteiro (PMDB-PE), uma saída que não fosse tão ampla como queriam os parlamentares e nem tão restrita como exigia o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel.


Artigos

Mutirão e cidadania
Eugênia Loureiro e Rubem Corveto

Quando a governadora Benedita da Silva assumiu, encontrou, entre muitos problemas, o Conjunto Habitacional Sepetiba, a 70km do Centro do Rio, desprovido de condições de moradia. Para ali foram quatro mil famílias, removidas de favelas. Obras semiparalisadas, falta de equipamentos comunitários e embargo por liminares e ações do Ministério Público compunham o quadro de precariedade.

Os moradores tinham recebido um termo de ocupação pelo qual cada família pagaria um real (!) pela casa.

Isso propiciou farta distribuição de termos em duplicidade, acarretando conflitos entre as famílias.

Uma falsa promessa de entrega de casas, logo após a posse, levou ao local centenas de pessoas. Desesperadas, cerca de 320 famílias ocuparam unidades em construção. Diante da situação crítica, optamos pela desocupação das casas, transferindo as famílias para acampamento provisório. Em julho, elas foram autorizadas a ocupar lotes individuais, com infra-estrutura básica. Dois banheiros e lavanderia coletiva foram construídos pela própria comunidade, sob orientação da Cehab.

Uma moradia digna deve contemplar infra-estrutura básica e serviços essenciais como transporte, lazer, cultura, saúde, educação, acesso ao mercado de trabalho e documentação adequada. Por isso, para a construção das novas casas, trabalhamos em parceria com órgãos do estado e da União, universidade e ONGs.

Parte dos recursos foi garantida pelo governo do estado; o restante virá através de projeto já encaminhado à Caixa, para conclusão das unidades ainda este ano.

A obra será em regime de ajuda mútua, com participação das famílias, o que reduz custos e ajuda a integrar a comunidade. No sistema, em convênio com a Coppe/UFRJ, a construção é parte de um processo de treinamento de mão-de-obra, com uma cooperativa de montagem de uma fábrica de tijolos administrada pelos próprios mutirantes. Máquinas e equipamentos foram fornecidos pela Obra Social O SOL.

Já enviamos à CEF projetos para mais de duas mil casas; estamos lançando um programa de financiamento para funcionários do estado, com parceria da CEF, e propondo a criação do Fundo Estadual da Moradia, com participação da sociedade num verdadeiro plano estadual de habitação. Sem descontinuidade, com transparência e respeito à coisa pública.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Cresce a incerteza
Uma terceira pesquisa confirmou a ocorrência de intensa e brusca movimentação de votos nos primeiros oito dias do horário eleitoral. Além de conferir um papel maior do que o estimado à programação, tais movimentos aumentam a taxa de incerteza sobre os desdobramentos, que dependerão muito da reação de Ciro Gomes. Hoje mesmo Patrícia Pillar volta a seu programa.

Grande é o desafio do tucano José Serra, de crescer mais vinculando-se a um governo desgastado. Não menor é o de Ciro, de tornar-se mais agressivo quando perdeu pontos exatamente por isso. E tendo que atirar contra dois adversários ao mesmo tempo. Voltamos agora a um momento de alta imprevisibilidade.

À atuação de Patrícia deve ser creditada a decolagem de Ciro no fim de junho, quando o PSDB, num erro de cálculo, conseguiu impedi-lo judicialmente de aparecer nos programas regulares do PDT e do PTB. Com Patrícia no ar, dizendo que, como ela, o eleitor gostaria mais de Ciro quanto mais o conhecesse, “o ciro saiu pela culatra”, como já brincou o senador Sarney. Veio uma fase de superexposição que a transformou na principal figura feminina da campanha, até que foi recolhida para poupar a imagem. Está de volta agora, mas não estamos mais em junho nem o candidato está sendo proibido de falar. Pelo contrário, tem falado mais do que deveria. O efeito-Patrícia também é incerto agora, por mais carismática e encantadora que seja a atriz e mulher de Ciro.

Outro recurso será o uso de munição pesada contra Serra. O próprio Ciro dizia ontem, em seu site, que nunca fez uso de informações que teria sobre a vida pregressa do adversário. A sanha de alguns aliados é grande, mas não se sabe até onde o candidato está disposto a ir na guerra pelo segundo lugar. Serra conseguiu feri-lo, mas valendo-se de atitudes e palavras do adversário.

As pesquisas qualitativas trouxeram explicações interessantes sobre a mudança no quadro. Uma delas, a de que Serra cresceu mais por causa das propostas de seu programa, como a da geração de empregos, e menos em decorrência dos ataques a Ciro. Este agora será impiedoso com o governo e a ele vai associar Serra o tempo todo. Isso ninguém fez ainda e deve produzir a lgum efeito.

Demoramos, mas vamos reagir, dizia ontem uma alta figura da campanha, enquanto o candidato, para não dar o braço a torcer na queda, garantia o contrário. Mas das mudanças é que tratavam ontem seus aliados, de ACM a Brizola, de Tasso a Roberto Jefferson.

A incerteza aumenta não só porque vem aí o fogo cruzado, mas porque ninguém sabe como o eleitorado vai reagir.Para uma campanha que diz combater a mentira, o site de Serra pecou ontem, dizendo que subiu ao segundo lugar no Ibope. Continua em terceiro, mas em empate técnico com Ciro.

Garfada no Fust e em outros fundos
A dívida pública acaba de comer os recursos de todos os fundos específicos que não foram aplicados até o fim de 2001. Entre eles, R$ 1,04 bilhão do Fust (Fundo de Universalização das Telecomunicações), dos quais R$ 393 milhões deixam de ir para o combate à exclusão digital, através da informatização e da conexão das escolas públicas à internet. Outros R$ 199 milhões deixam de ser aplicados na informatização das instituições de saúde e R$ 126 milhões em equipamentos para órgãos de segurança.

Outros fundos, como os de apoio à pesquisa e ciência e tecnologia, também foram confiscados. É o que diz a Medida Provisória 59, publicada dia 15. Destina todo o saldo do ano passado, de todos os fundos e rubricas não comprometidos com restos a pagar, à amortização da dívida pública.

Galope preocupante
As doenças sexualmente transmissíveis deram um salto, reconheceu o Ministério da Saúde. Sem incluir Aids, calcula-se em 30 milhões os casos de DSTs no país, entre as quais desponta a HPV, que já contaminaria hoje 10% das mulheres brasileiras. Assintomática no homem, a doença se propaga silenciosamente entre as que não se protegem sexualmente.

No Rio, o deputado Fernando Gabeira constatou há dias a gravidade do problema entre as cidadãs que ele, sempre politicamente correto, chama de “profissionais do sexo” da Vila Mimosa (antigo Mangue). Esteve lá em campanha e jantou com elas. Agora está apresentando projeto para transformar o Hospital São Francisco, ali da região, em centro de referência no tratamento das DSTs.

A MINIRREFORMA tributária vem por MP mesmo. Em outra, acolhendo sugestão do relator, deputado Rubem Medina, o Planalto proporá a ampliação do número de empresas que podem usar o Simples para recolher impostos. Numa terceira, deve reabrir os prazos para o Refis (refinanciamento da dívida pública das empresas).

ALIADOS de Ciro Gomes passaram pelo Congresso satanizando a imprensa, que teria metade da culpa pela queda do candidato. A outra deixam para Serra.

ARTISTAS e intelectuais do Rio, que manifestam apoio a Lula hoje, vão lançar também manifesto contra a impugnação da candidatura do governador Jorge Viana, do Acre, em processo de lisura duvidosa que o TSE agora vai julgar.


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08/29/2002


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