Ao lembrarem os 30 anos das Diretas Já, senadores ressaltam caráter pacífico do movimento
Considerado o movimentos popular mais importante da história brasileira, a campanha pelas Diretas Já, que levou milhões às ruas do país em 1984, foi tema de homenagem no Plenário do Senado na manhã desta segunda-feira (24). Trinta anos depois, os participantes da sessão ressaltaram o caráter pacífico das manifestações da época, diferentemente do que tem marcado os recentes protestos populares.
- Em vez de manifesto violento, marcado por atos de vandalismo, como hoje tem sido frequente nas nossas regiões metropolitanas e em outros países, como Argentina e Venezuela, esse movimento histórico das diretas, genuinamente brasileiro, além de politizado e objetivo, foi acima de tudo pacífico, uma festa legítima da democracia e do pluralismo - destacou a senadora Ana Amélia (PP-RS).
Na opinião dela, a rebeldia e o desejo de eleger pelo voto direto contagiaram de modo positivo todas as classes sociais do país.
- Naquele momento, a democracia venceu o medo, dando lugar à liberdade e à autonomia, valores fundamentais em nossa sociedade - disse.
Thelma de Oliveira, ex-deputada federal e mulher do deputado Dante de Oliveira, autor da proposta de emenda à Constituição com o objetivo de restabelecer as eleições diretas para a Presidência em 1984, disse ser importante lembrar aquele movimento:
- A maior mobilização democrática no nosso País ocorreu sem um único ato sequer de violência, de vandalismo, e reuniu milhares de pessoas. Mas, por quê? No nosso entendimento, aquela vontade, aquele desejo nasceu do coração do povo, que uniu de políticos a artistas e fez com que todos fôssemos para as ruas - avaliou.
Ao assinalar que as manifestações na luta pela democracia no início dos anos 1980 deve servir de ensinamento aos jovens de hoje, o deputado Luiz Pitiman (PSDB-DF) chegou a fazer um apelo ao Judiciário e ao Executivo:
- Não cortem, não radicalizem. A população quer se manifestar. Se foi possível fazer isso em 1984, com equilíbrio, com controle, não vamos, hoje, já com a nossa participação, impedir que essa mesma população possa também se manifestar - aconselhou.
Ponto de partida
A homenagem desta segunda-feira partiu da iniciativa do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que traçou um histórico do movimento pelo fim da ditadura e recordou o comício que serviu de ponto de partida para a mobilização popular.
- Em 12 dias, usando apenas panfletos, cartazes e um comercial na TV conseguimos reunir mais de 60 mil pessoas - afirmou.
Para o senador, foi um comício memorável, que convocou a mídia nacional a participar de forma efetiva do movimento.
- O sucesso do comício de Curitiba foi essencial para que a mobilização nacional tivesse sucesso e arrastasse multidões para as praças do pais com o grito de "Eu quero votar para presidente!” - recordou.
Cobranças
Para Alvaro Dias, o esforço valeu a pena, apesar do desencanto atual com a democracia, devido principalmente aos grandes escândalos envolvendo atos de corrupção.
- É certo que aqueles que assumem compromissos durante a campanha eleitoral, que carregam bandeiras para empolgar a população e depois as rasgam, comprometem a esperança do povo. Mas não há razão para a desesperança. Há razão, sim, para uma reação disciplinada e organizada para vencer as falcatruas, os escândalos e a incompetência que grassam neste país - apontou.
Para o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), não é difícil constatar que parte das demandas do povo naquela época foi conquistada. Todavia, o Estado brasileiro ainda não teria da resposta a "muitos anseios legítimos da população".
- A promulgação da nova Constituição brasileira demorou quatro anos. A eleição de um presidente pelo voto direto, cinco. A estabilização da moeda, dez. A redenção da porção mais atroz da miserabilidade, vinte e tantos anos, num processo que ainda hoje não se completou. Até quando ficarão sem atendimento as expectativas tão claramente expostas na Praça da Sé, na Candelária, no Anhangabaú, na Esplanada dos Ministérios? – indagou, referindo-se a comícios históricos realizados durante a campanha pelas diretas.
Na opinião do parlamentar, os movimentos de junho demonstram claramente que a população não se contenta apenas com a democracia. Quer também a garantia daqueles direitos inscritos na Constituição de 1988.
– Essa mensagem não é complexa, nem difícil de entender. A hora é esta. Tal como naquela época, é hora de mudar. Estamos chegando ao fim de um ciclo e é importante que, neste momento, as eleições presidenciais se prestem a um grande debate sobre o futuro do Brasil – finalizou.
24/02/2014
Agência Senado
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