Apoio a Collor divide coligação de Ciro









Apoio a Collor divide coligação de Ciro
PPS solicita anulação de acordo ao TRE fora do prazo; PTB se reuniria ontem à noite para discutir o caso

O apoio do PPS e do PTB à candidatura do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) ao governo de Alagoas provocou um racha na campanha do presidenciável Ciro Gomes (PPS).

Enquanto o PPS solicitou no começo da noite de ontem a anulação do acordo com Collor à Justiça Eleitoral no Estado, o presidente do PTB, José Carlos Martinez, iria se reunir ainda ontem à noite com parlamentares alagoanos de sua sigla para discutir o caso.

Segundo o líder do PPS na Câmara, João Herrmann, o recuo teria sido acertado entre as duas legendas. ""Não tomaríamos nenhuma decisão sem a companhia do PTB", declarou ele.

A ""intervenção branca" promovida pelo PPS, entretanto, pode não ser aceita pela Justiça Eleitoral, já que a documentação do partido solicitando o rompimento foi entregue três minutos além do prazo previsto em lei.
A resolução 20.993 do Tribunal Superior Eleitoral prevê que as executivas nacionais dos partidos só podem alterar decisões das convenções estaduais até o fim do prazo para impugnação dos registros de candidatura, que, em Alagoas, terminou às 19h de ontem.

Também de acordo com o TRE alagoano, nenhum comunicado do PTB pedindo a saída da coligação chegou ao órgão até as 20h.

Integrantes da Frente Trabalhista, o PPS e o PTB vinham sendo pressionados por Ciro a intervirem em seus diretórios regionais com o objetivo de desfazer o acordo com o ex-presidente. A avaliação recorrente na coligação é a de que a aliança em Alagoas dá aos adversários do candidato munição para compará-lo a Collor.
Apesar da oposição de seu presidente, o senador Roberto Freire, por meio de uma resolução submetida à Executiva Nacional, o PPS considerou anuladas as decisões da convenção alagoana da sigla sobre a eleição majoritária. Freire era contra a intervenção.

A resolução também deu ao partido poderes para a negociação de outros acordos no Estado. O PPS espera, com isso, a adesão do partido à candidatura de Geraldo Sampaio, do PDT, que também integra a Frente Trabalhista.

""O episódio Collor era o único capaz de nos desestabilizar. Que me desculpe a radicalidade democrática, mas faríamos o que fosse preciso para afastar isso de nosso horizonte. Até intervenção", afirmou Herrmann.

Coordenador-geral da campanha de Ciro, José Carlos Martinez, declarou que seu partido ainda não se definiu sobre o caso.

""Não tenho problema em rever minha aliança com Collor, mas tenho 14 deputados estaduais e três federais que, sem a coligação, não se reelegerão", argumentou.

Na avaliação de Martinez, a melhor solução para o problema seria a desistência do apoio a Collor, mas a manutenção da coligação na eleição proporcional. "Mas nada está descartado", completou.

Desde que a aliança do PTB e do PPS com Collor foi anunciada, Ciro tem demonstrado irritação com os dois partidos. Segundo a Folha apurou, o candidato também reagiu mal às declarações do líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson, a favor de Collor.

Integrante da tropa de choque do ex-presidente, Jefferson defende que ele seja julgado "pelo povo". O PTB indicou o vice na chapa de Collor e tem participado ativamente de sua campanha.


Campanha de Serra muda e terá novo coordenador
Secretário de Governo de FHC será o homem forte em Brasília

Depois de perder o segundo lugar nas pesquisas para Ciro Gomes (PPS), a campanha do tucano José Serra será reformulada.

O atual secretário de Governo, João Roberto Vieira da Costa, o Bob, deve ser o novo homem forte do comitê eleitoral do candidato em Brasília, que pode ainda ganhar o reforço do ministro Euclides Scalco, secretário-geral da Presidência da República.

As mudanças foram decididas em sucessivas reuniões realizadas em São Paulo entre o domingo e a terça-feira passada. Serra pediu ao presidente Fernando Henrique Cardoso que liberasse Vieira da Costa. FHC também deu sugestões para as correções de rumo e deve se integrar mais ao palanque do candidato tucano.

Pimenta da Veiga, atual coordenador político, permanecerá na campanha, mas perde poder.

A área mais atingida da campanha deve ser a de imprensa, que, para a cúpula tucana, não estava funcionando. A reformulação do setor de imprensa é o pretexto para a entrada de Vieira da Costa, mas, na realidade, ele terá amplos poderes sobre todas as atividades do comitê eleitoral.

Vieira da Costa é o "homem de confiança" de Serra, assim como o ministro Sérgio Motta (Comunicações) foi de Fernando Henrique. Ele era seu braço direito já no Ministério da Saúde, onde ocupava a secretaria de Comunicação.

Vieira da Costa deve exercer também tarefas na articulação política, coisa que eventualmente já vem fazendo. O secretário teve papel importante nas articulações de Serra em Minas, por exemplo.

Mas uma outra hipótese ainda não foi afastada: além de Vieira da Costa, o comitê vir a ser reforçado também por Euclides Scalco, que foi coordenador político da reeleição de FHC. Alguns setores da cúpula da campanha de Serra defendem o nome do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.

Difícil. Ele deixou o governo em circunstâncias no epicentro do escândalo do chamado "grampo do BNDES".
Além da mudança de pessoal, haverá modificação na estratégia do candidato. Até a noite de terça, Serra pretendia dedicar os próximos dias para viagens às regiões mais distantes e pobres do Brasil. Agora, deverá concentrar sua atuação no eixo Sudeste-Sul.

A campanha do tucano procura desvincular a reformulação à queda de Serra nas pesquisas. Mas isso fica evidente não só no novo roteiro de viagens (os maiores colégios eleitorais do país), como na agenda montada para preencher os espaços políticos e combater o crescimento de Ciro Gomes (PPS), que tirou de Serra o segundo lugar nas pesquisas.

Na próxima semana, Serra terá em Brasília pelo menos três eventos destinados a ter grande repercussão na mídia: um encontro com "a maioria" dos governadores (nas contas do tucano, são 17 os governadores que o apóiam), um encontro com cem prefeitos de grandes cidades brasileiras e uma reunião com os coordenadores de cada partido na campanha.

Já no sábado, 20, a campanha chegará às ruas por meio de 2.100 outdoors a serem colocados em 30 grandes cidades. O atraso já estava deixando Serra impaciente. Mas o fato é que a campanha, além de desorganizada e compartimentada, sofre com a falta de contribuições financeiras. Todos os setores foram advertidos para promover ajustes.


Tucano ouve as reclamações de aliados
A reunião de emergência da campanha de José Serra realizada ontem em Brasília foi uma tentativa de demonstrar que não há debandada de aliados, apesar da ascensão de Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas, e para que os tucanos ouvissem as queixas dos aliados peemedebistas e pefelistas.

No encontro, Serra disse estar tranquilo em relação à dianteira de sete pontos percentuais de Ciro, segundo pesquisa Ibope divulgada anteontem. Classificou de "onda" e de "oscilações" a perda do segundo lugar.

Para tranquilizar os aliados, o tucano apresentou um levantamento mostrando que todos os principais candidatos tiveram forte crescimento nas pesquisas após os programas de TV dos partidos. Disse que é o que está acontecendo com Ciro agora. Falou que não "está preocupado com pesquisa" e que está animado. "Sou de pegar o osso e não largar, como um buldogue", disse.

O PMDB, porém, cobrou de Serra uma atuação mais imediata para tentar reverter a vantagem de Ciro. "Não dá para aguardar o começo do horário eleitoral em 20 de agosto" para colocar a campanha na rua", disse o presidente do PMDB, Michel Temer.

Os peemedebistas querem que Fernando Henrique Cardoso "vá para a rua junto com o Serra", segundo o líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).

Após a reunião, Serra relativizou a entrada de FHC na campanha: "O melhor que o presidente pode fazer é continuar governando com responsabilidade". Serra mudou ontem a linha de seu discurso, falando menos de economia e mais da área social. "O centro deve ser o debate sobre o problema das pessoas, da economia, nós sabemos como cuidar."

A tentativa de demonstrar que não será abandonado politicamente foi parcialmente bem-sucedida, porque esteve lá o vice-presidente Marco Maciel, pefelista que negou estar abandonando Serra por Ciro, e a cúpula do PMDB. No entanto, faltaram tucanos de peso, como o presidente da Câmara, Aécio Neves, candidato a governador de Minas pelo PSDB, e Tasso Jereissati, ex-governador e candidato ao Senado no Ceará. Aécio e Tasso têm alianças regionais com o PPS de Ciro.


Lula vai a Itamar para assegurar apoio
Candidato do PT telefona a governador mineiro, que sofre assédio de José Serra (PSDB), e combina encontro

Em resposta a assédio de José Serra (PSDB) para conquistar o governador de Minas, Itamar Franco (sem partido), o candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, telefonou ontem para o ex-peemedebista para confirmar o apoio a seu nome na disputa pelo Planalto e elaborar uma agenda de campanha conjunta.
O reatamento das relações entre Itamar e o presidente Fernando Henrique Cardoso e o apoio ao presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB), na disputa pelo governo de Minas, suscitaram dúvidas sobre a aproximação do governador com Serra, com quem ele mantém relações cordiais.

O primeiro contato com Itamar coube ao senador José Alencar (PL-MG), candidato a vice da chapa do petista. Do aeroporto de João Pessoa (PB), ontem pela manhã, o senador ligou para o governador no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte.

Na conversa, Itamar se definiu como um "soldado da candidatura Lula", mas recusou o convite para que fizessem campanha neste fim de semana nas cidades mineiras de Divinópolis e Araxá.
O governador alegou problemas de agenda até a próxima quarta-feira e se dispôs a participar de atos conjuntos com o petista em datas a serem acertadas na semana que vem.

"Definitivo"
Em seguida, Alencar passou o telefone a Lula, que conversou com o governador mineiro. "Não tenho nenhuma dúvida do apoio dele. É definitivo", afirmou o presidenciável petista, já na sua chegada a Recife.
O PT quer a participação de Itamar não apenas na campanha em Minas Gerais, mas em atos que tenham caráter "nacional", inclusive em outros Estados.

Há a possibilidade de o governador ser convidado para lançamentos de programas de governo para áreas específicas.

O PT avalia que Itamar, por ser ex-presidente, ter boa imagem pública e comandar seguidores em diversos Estados, é estratégico para a campanha.

Na próxima quinta-feira, para preparar a agenda comum, devem se encontrar com Itamar o senador Alencar e o prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel.

Em Minas, o PT tem candidato próprio, o deputado Nilmário Miranda, mas o presidenciável do partido não vê problemas no fato de Itamar ter optado pelo presidente da Câmara.

A cúpula petista procurou também ontem o ex-prefeito de Osasco Francisco Rossi (PL). Os candidatos ao governo de São Paulo, deputado José Genoino, e ao Senado, Aloizio Mercadante, pediram apoio à campanha estadual petista e à de Lula.

Francisco Rossi, que manifestava simpatia por Ciro Gomes, disse que não exclui a possibilidade de apoiar os petistas.

"Candidato fraco"
Em comício na noite de ontem, em Recife, Lula criticou o excesso de debates nesta eleição.

"O fato de o governo não ter candidato ou ter um candidato fraco faz com que tentem o máximo de debates para empurrar o candidato que evite as reformas que queremos fazer", disse.


Campanha de Serra não existe no MA e CE
A campanha de José Serra (PSDB) enfrenta dificuldades no Maranhão e no Ceará, onde, apesar de ter palanque, sua campanha ainda não foi efetivada.

O PSDB do Maranhão pode se rebelar e declarar apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se isso ocorrer, o Estado será a primeira unidade da federação onde o presidenciável tucano não terá nenhum palanque de sustentação.

Serra já contava com a oposição dos Sarney -que atribuem a ele a responsabilidade pelo fracasso da pretensão presidencial de Roseana Sarney- e do PMDB local.

Ao dizer na semana passada que considerava um equívoco a candidatura do deputado Roberto Rocha (PSDB) a governador, Serra reforçou a irritação de tucanos maranhenses contra ele. Seu objetivo era buscar a neutralidade dos Sarney, que queriam o apoio do PSDB local ao seu candidato a governador, José Reinaldo Tavares (PFL). O comando da campanha de Serra tentou "rifar" Rocha para fechar um acordo de neutralidade com os Sarney, mas esbarrou na resistência dele e dos outros dois deputados federais tucanos do Estado, opositores do clã.

Ontem reunião do PSDB local discutia a possibilidade de apoio a Lula. PSDB e PT locais têm bom relacionamento.

Ceará
A campanha de Serra ainda não existe no Ceará. Não foi escolhido sequer o coordenador no Estado ou, no caso, os coordenadores, já que o PMDB também planejava ter uma pessoa na coordenação.

Serra ainda não foi citado nos palanques pelos candidatos a governador Lúcio Alcântara (PSDB) e Sergio Machado (PMDB). No material de campanha dos dois também não há referência a ele.

No caso do PSDB local, que mantém uma coligação branca com o PPS, Ciro Gomes (PPS) é muitas vezes citado, principalmente por causa da presença nos palanques da deputada estadual Patrícia Gomes (PPS), ex-mulher de Ciro e candidata ao Senado.

Para o presidente do PSDB regional, Carlile Lavor, "a dificuldade é montar um projeto para dois palanques antagônicos".


Ciro se isola em 2º, diz Vox Populi
O candidato Ciro Gomes (PPS) está isolado em segundo lugar na disputa à Presidência, de acordo com pesquisa do instituto Vox Populi feita sob encomenda do "Correio Braziliense" e divulgada ontem no site do jornal.

Na pesquisa -realizada nos dias 13, 14 e 15-, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 34% das intenções de voto, Ciro, 24%, José Serra (PSDB), 16%, e Anthony Garotinho (PSB), 11%. Dos entrevistados, 5% disseram que votariam em branco ou nulo e 10%, que não sabem em quem votar.

Numa comparação com a pesquisa anterior -dos dias 3 e 4-, Ciro subiu de 17% para 24%, Lula caiu de 38% para 34%, Serra se manteve em 16%, e Garotinho foi de 13% para 11%. A margem de erro da última pesquisa é de 1,9 ponto percentual. A da anterior era de 2,2 pontos.

O isolamento de Ciro em segundo já havia sido mostrado por pesquisa Ibope feita nos dias 12, 13 e 14 e divulgada anteontem.
Em relação à pesquisa Ibope feita nos dias 4, 5, 6 e 7, Ciro passou de 18% para 22%; Lula, de 34% para 33%; Serra, de 17% para 15%; e Garotinho, de 12% para 10%.


Para aliados, queda de juros ajuda Serra
Presidenciável do PSDB afirma que a medida não é eleitoreira; más notícias teriam provocado queda em pesquisas

O comando da campanha presidencial de José Serra (PSDB) julgou benéfica para o candidato a queda da taxa de juros básica da economia de 18,5% para 18% ao ano. No entanto, tentou tirar o caráter eleitoral da decisão.
Segundo a Folha apurou, outra medida foi comemorada pela aliança PSDB-PMDB: a liberação de R$ 1,2 bilhão para os ministérios, beneficiando projetos que dariam voto em ano eleitoral e a pasta dos Transportes, sob controle peemedebista. Os R$ 220 milhões dados aos Transportes eram cobrados pelo PMDB.

A queda dos juros, a liberação de verbas e a promessa de maior participação do presidente Fernando Henrique Cardoso na eleição são sinais positivos que devem dar mais fôlego à candidatura de José Serra, aproximando mais o governo da campanha tucana, como cobravam aliados.

A Folha apurou que na última semana Serra defendeu em conversas reservadas com FHC a diminuição dos juros, para tentar criar expectativa positiva em relação ao futuro da economia e, assim, ajudá-lo eleitoralmente.

O candidato culpa as notícias econômicas ruins pela perda do segundo lugar nas pesquisas para o candidato Ciro Gomes (PPS).

Serra, porém, negou ter pressionado FHC: "Imagine! Se tivesse viés político, teria baixado os juros em março, em abril, em maio, até para ter efeitos nesta época. O cuidado é com o equilíbrio macroeconômico. Agora, é uma boa decisão. Todo mundo queria que os juros caíssem. Agora que caíram, vamos aplaudir", declarou.
FHC afirmou por meio de seu porta-voz, Alexandre Parola, que soube da decisão do Copom "ex-post" -após o fato.

Tirar o viés eleitoral da queda de juros é uma forma de tentar acalmar o mercado financeiro, que, se continuar a avaliar que a motivação é apenas política, voltará a desconfiar da decisão, o que ocorreu ontem. Após o anúncio da queda dos juros, o dólar subiu.

"Ajuda, ajuda, ajuda [a campanha de Serra"", disse o presidente do PMDB, Michel Temer. "A decisão teve motivação econômica, devido à responsabilidade com o país. Mas, se os aumentos do gás de cozinha e da gasolina podem atrapalhar eleitoralmente, uma decisão [a queda de juros" que ajuda a evitar a recessão é claro que pode ajudar", disse o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Geddel Vieira Lima (BA).

Após se reunir com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o presidente do PSDB, José Aníbal, disse que a queda dos juros "demonstra confiança no país". Aníbal disse que Fraga não tratará de acordo de transição de governo nas conversas com a oposição.


Mercadante não vê ação pró-Serra em decisão do BC
O deputado Aloizio Mercadante (SP), um dos principais economistas do PT, atribuiu a redução da taxa básica de juros de 18,5% para 18% ao próprio cenário econômico, afastando eventual motivação eleitoral a favor do presidenciável tucano, José Serra.

"Da economia, dificilmente virão boas notícias para Serra", afirmou Mercadante. Aliados da candidatura do tucano consideram que a redução da taxa de juros favorece a campanha do governista Serra e vinham cobrando do governo medidas econômicas mais simpáticas.

Para Mercadante, a redução teve dois motivos econômicos principais. O primeiro foi o aumento da meta de inflação para o próximo ano de 3,25% para 4% e a modificação da margem de 5,25% para 6,5%. Segundo o petista, isso dá mais espaço para o governo atuar na política econômica.

O outro fator, segundo Mercadante, são os indicadores de retração da economia, como estoques elevados nas indústrias e diminuição das vendas.

O petista ressaltou, no entanto, que as medidas vão aumentar a pressão na taxa de câmbio, o que vai exigir maior controle do governo, porque permanece a turbulência externa. "A redução não representa nada se o governo não conseguir administrar o câmbio."

Hoje Mercadante se encontra com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, como acertou na última semana. Ontem Fraga se reuniu com o presidente do PSDB, José Aníbal.

Em Recife, Lula afirmou, sobre a queda da taxa: "Acho ótimo baixar a taxa de juros. Há muito tempo defendo isso. Só espero que não seja mais uma medida eleitoreira".


Garotinho vê apoio de bancos a Ciro
O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, disse ontem em Belo Horizonte, onde fez palestra para empresários, que o presidenciável Ciro Gomes (PPS), o único que tem crescido nas pesquisas de intenções de voto, é o "plano B do sistema financeiro".

A crítica de Garotinho foi feita após ser indagado se Ciro poderia ser o "plano B do presidente FHC": "Eu não sei se do Fernando Henrique, mas do sistema financeiro, com certeza. Dos que ganharam até agora, com certeza. Do Fernando Henrique, eu não sei, mas pode vir a ser. Por enquanto, ele é o plano B do sistema financeiro, que quer que o país continue da forma como está."

Antes disso, Garotinho já havia criticado Ciro ao comparar sua candidatura "puro-sangue e independente" com as dos rivais. "O Ciro dizia que o PFL havia estragado o governo Fernando Henrique. Há várias declarações dele nesse sentido, no passado. Agora ele recebe apoio do PFL."

Ele não poupou também o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano José Serra: "O Lula, que a vida inteira meteu o pau nos empresários, arrumou um empresário para ser vice. O candidato do governo está enfrentando uma crise porque tem vergonha de ser candidato do governo. Não assume que é candidato do governo".


Redução tem "cheiro eleitoral", afirma Ciro
O presidenciável do PPS, Ciro Gomes, afirmou que a redução da taxa de juros, determinada ontem pelo Copom, tem um forte "cheiro eleitoral". "Parece-me que tem um cheiro eleitoral muito forte, porque, dentro do modelo deles [modelo econômico do governo", é uma atitude que vai, infelizmente, afrouxar a inflação e gerar problemas mais graves para o fechamento das contas externas do país", disse Ciro ontem, em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, no UOL News.

Questionado se a medida foi tomada para beneficiar a candidatura do tucano José Serra, Ciro disse que seria "um tiro no pé".

O candidato do PPS ainda fez críticas a Serra, acusando-o de estar desesperado ao compará-lo ao ex-presidente Fernando Collor de Mello. "Isso nada mais é que desespero, o que é lamentável para um homem como ele, que pretende ser presidente do Brasil, e, perdendo o argumento das propostas, parte agora para agressões pessoais", disse.

Isolado em segundo lugar nas intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada anteontem, Ciro afirmou que continua tendo uma "opinião muito cética" em relação às pesquisas eleitorais.

Garotinho
Já Anthony Garotinho, candidato do PSB à Presidência, considerou "adequada" a decisão do Banco Central de reduzir os juros.

"Era o adequado. Você não pode baixar três pontos de uma vez, senão você provoca um desacerto na economia. Mas tem de fazer uma projeção em uma direção. Não pode fazer a política da gangorra, como o próprio governo fez em alguns períodos", afirmou.

Segundo Garotinho, a redução de meio ponto percentual havia sido pedida por ele na última segunda, em palestra a empresários de São Paulo: "Eu disse que havia espaço para que essa posição fosse adotada imediatamente".


Collor deve ter apoio de mulher de ministro
O ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) deu um passo decisivo na conquista da base do PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso em Alagoas.

A prefeita de Arapiraca, a tucana Célia Rocha, recebeu ontem Collor para uma reunião. Ela é mulher do ministro da Integração Nacional, Luciano Barbosa, do PMDB.

""O grupo da prefeita tende a apoiar Collor", disse o coordenador de comunicação da prefeitura, Yale Fernandes. ""O grupo está tomando esse caminho, que ainda não foi oficializado."

Fernandes disse que Célia Rocha levou empresários e outros eleitores de Arapiraca para ouvirem o plano de Collor. O assessor admitiu que a adesão a Collor, que renunciou em 92, poderia ""causar constrangimento".
Luciano Barbosa assumiu o ministério em junho, indicado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele era secretário de Finanças de Arapiraca. "Sempre fui independente eleitoralmente", disse Barbosa, que diz não apoiar Collor: "Ela [Célia] é do PSDB. Eu sou do PMDB" .


ACM pede "empenho" pró-candidato do PPS
Empolgado com o crescimento do candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, nas pesquisas eleitorais, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) recomendou "mais empenho" por parte dos 380 prefeitos, 41 deputados estaduais e 23 federais da Bahia que seguem sua orientação política de apoiar o candidato do PPS. "Pedi para que todos eles não medissem esforços para dar a Ciro Gomes uma grande votação na Bahia. Acho que ele terá mais de 3 milhões de votos no Estado", disse ACM, que há pouco mais de 40 dias anunciou oficialmente o seu apoio ao candidato do PPS.

"Nós vamos ter um presidente nordestino no ano que vem. Ciro Gomes vai disputar o segundo turno com Lula e o vencedor, certamente, será Ciro." Segundo ACM, a desorganização dos partidos que apoiam José Serra tem minado a candidatura tucana.

"Na Bahia, por exemplo, os partidos que dão sustentação à candidatura de Serra (PSDB e PMDB) são inexpressivos, não têm força política. Quem não tem o povo, quem não tem eleitores, não pode esperar muita coisa de um candidato que também é antipático aos nordestinos", disse.


Artigos

Fim da história, história sem fim
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Talvez nada seja mais eloquente a respeito da degradação da América Latina, após uma década de liberalismo, do que a corrente que circula pela internet pedindo doações, com um simples clique, para as crianças famintas da Argentina.

Justo a Argentina, que, há três gerações, era um dos países mais ricos do mundo. Justo a Argentina, país em que até as crianças que pediam esmolas nas ruas e/ou nos restaurantes se vestiam decentemente.

Hoje, informa a corrente, já são 15,4 milhões os argentinos que vivem abaixo da linha de pobreza -contra 11,7 milhões um ano antes.

Hoje à noite, aliás, haverá debate no Parlamento Latino-Americano (Memorial da América Latina) -cuja idéia-força é "Argentina em crise - Solidariedade, tarefa de todos".

Um quarto de século atrás, até participei de grupos de solidariedade à Argentina (e a outros países sul-americanos), mas a devastação que puxava a solidariedade era de outra natureza: tratava-se de ditaduras selvagens, que sempre geram um cortejo de exilados e perseguidos (para não mencionar os mortos).
Em plena vigência da democracia, ver a Argentina precisar de novo de solidariedade ultrapassa os piores pesadelos. Ainda mais que a Colômbia, o Paraguai, o Peru, o Uruguai, a Venezuela e o Equador também precisam (para não falar do Brasil).

Que desgraçada é a história da América Latina. Depois do mergulho nas trevas das ditaduras, nos anos 60 e 70, acreditava-se que a democracia seria o sétimo de Cavalaria, que viria resgatá-la. Não foi (o que não anula, pelo amor de Deus, os méritos da liberdade recuperada).

Depois, vendeu-se o neoliberalismo como a nau em que a região navegaria rumo ao paraíso. Foi o contrário: a América Latina está de novo descendo aos infernos. Houve até quem dissesse que o triunfo do capitalismo seria o fim da história. Não para a América Latina, que vive uma história sem fim (e sempre triste).


Colunistas

PAINEL

De fato tucano
A queda de meio ponto na taxa de juros decidida ontem não satisfez José Serra (PSDB) nem Pedro Malan (Fazenda). O candidato defendia redução de um ponto. O ministro queria mantê-la no mesmo patamar. O Planalto optou pelo meio-termo.

Recurso povão
A campanha de Serra decidiu priorizar grandes eventos com a presença de artistas populares para atrair público e alavancar a candidatura do senador. O primeiro comício da nova fase será no sábado, em Cascavel (PR), ao lado de Chitãozinho e Xororó.

Nome genérico
Material da campanha presidencial tucana distribuído no comitê de Brasília chama o candidato de "Zé" Serra. É uma tentativa do marketing de popularizar o presidenciável.

História do Brasil
Com a queda de Serra nas pesquisas, FHC voltou a ser comparado em Brasília a JK. Só que dessa vez por adversários. O mineiro, lembram, não conseguiu fazer seu sucessor no Planalto.

Greve relâmpago
A Federação Única dos Petroleiros ameaça parar hoje por duas horas unidades da Petrobras, em protesto contra condições de segurança na empresa. A entidade quer a contratação de 2.000 concursados.

Baixaria no ar
Em entrevista à rádio Metrópole, de São José do Rio Preto (SP), Paulo Maluf (PPB) reagiu a uma pergunta provocativa do locutor da seguinte forma: "Estão dizendo por aí que você é pederasta. Você é pederasta?".

Tema delicado
O locutor perguntara ao candidato do PPB ao governo de SP se era verdadeiro o bordão do "rouba, mas faz". Ao final da entrevista, Maluf voltou à carga: "Você ainda não me respondeu aquilo que eu perguntei, sobre suas preferências sexuais".

Guerra de guerrilha
O QG de Ciro está alarmado com a informação de que muros de SP serão pichados no fim de semana com a frase: "Ciro é Collor". O comando cirista atribui a operação ao PSDB de Serra.

Mar revolto
Lula e a cúpula do PT estão preocupados com o crescimento de Ciro, mas consideram que ainda não é necessário mudar a estratégia de polarização com Serra e o governo. Querem esperar alguns dias para ter certeza de que não é mais uma onda (tipo Roseana e Garotinho).

Ex-aliado
Rafael Greca, ex-ministro de FHC, e mais três deputados federais do PFL (são cinco) estão embarcando na campanha de Ciro. Contrariando Jaime Lerner, que está fechado com Serra.

Bolsa e eleição
O Ibope passou a oferecer ao mercado, inclusive o financeiro, pesquisas diárias e sigilosas feitas por telefone (tracking) sobre a sucessão presidencial. O custo pode chegar aos R$ 400 mil.

Pequeno detalhe
A divulgação da tabela dos salários dos magistrados, pelo STF, teve má interpretação. Tribunais achavam que já estavam livres para dar aumento aos seus juízes, mas o Supremo adverte: quem não tiver recursos disponíveis ainda precisa conseguir a suplementação orçamentária.

Nova direção
Rosa Cunha, chefe do Detran do Pará, vai dirigir o Departamento Nacional de Trânsito.

Golpe publicitário
O slogan de José Eduardo Dutra, candidato do PT ao governo do SE, "Pois Zé", foi pirateado. Em Aracaju, apareceram outdoors assim: "Pois Zé, o Sergipe precisa de João". O candidato do PFL ao governo é João Alves.

Visita à Folha
Orestes Quércia, candidato do PMDB-SP ao Senado, visitou ontem a Folha.

TIROTEIO

De José Aníbal (PSDB), sobre Roberto Freire (PPS) dizer que Serra é um candidato nascido a fórceps que deformou:
- Freire está contaminado pela grosseria do seu candidato. Aborto da natureza é a aliança de antigos comunistas com a tropa de choque de Collor.

CONTRAPONTO

Marcação cerrada
O deputado estadual Antônio Mariano (PFL-PE) foi visitar a festa da padroeira de Tabira, cidade no sertão pernambucano, no início de 1993. Queria agradecer a grande votação que tivera na região no ano anterior.
Logo que chegou ao local, Mariano parou em um barraca de comida típica e foi abordado por um de seus eleitores. Por mais de três horas, o homem não largou do pé do político, fazendo elogios ao deputado sem parar e pedindo favores.
Já cansado, sem conseguir livrar-se do eleitor, Mariano foi aconselhado pelo prefeito da cidade a presentear o sujeito com alguns trocados.
Ele entregou o dinheiro e já esperava a despedida quando o eleitor retrucou:
- Vamos àquela barraca, deputado, que eu tenho muita vontade de pagar uma cerveja para o senhor. Agora posso realizar meu sonho de muitos anos!


Editorial

O MOMENTO POLÍTICO

A julgar pelos resultados da pesquisa Ibope divulgada terça-feira, perdurou o movimento de ascensão do candidato à Presidência Ciro Gomes. O ex-governador do Ceará ocupa o segundo lugar.

Já surgem especulações acerca de um segundo turno sem Lula. Embora esse cenário não seja descartável, a queda do petista, até aqui, não foi capaz de retirá-lo do primeiro lugar nas pesquisas (com diferença superior a dez pontos percentuais sobre o segundo colocado); tampouco o fez baixar do patamar próximo a um terço da preferência do eleitorado, percentual obtido no pleito de 1998.

A principal questão suscitada pelas pesquisas mais recentes é a dúvida quanto à consolidação eleitoral do candidato governista. No primeiro semestre, José Serra superou uma série de divergências para firmar-se como candidato da situação e obter o endosso da cúpula do PMDB. Esse processo foi facilitado pela subida de Serra nas pesquisas de intenção de voto, passando a impressão, naquele momento, de que ele seria o pólo oposto ao petismo de Lula.

Tendo agora sido ultrapassado por Ciro Gomes, José Serra volta a lidar com problemas de respaldo político que dizem menos respeito, ao menos por ora, a questões internas a sua aliança. Embora Ciro exiba face oposicionista, parte das forças que o sustentam provém de grupos sociais conservadores que apoiaram a eleição e o governo de Fernando Henrique Cardoso -o que se reflete, no terreno partidário, no apoio que Ciro obtém do PTB e de lideranças do PFL. Parte dessa elite conservadora, preocupada sobretudo em evitar a vitória de Lula, poderá se convencer a apoiar a candidatura de Ciro Gomes caso a trajetória do ex-governador do Ceará nas pesquisas se mantenha.

Decerto a fase decisiva do processo sucessório começa apenas em 20 de agosto, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Até lá, porém, é provável que o país assista a uma intensa batalha pelo respaldo político e financeiro do conservadorismo entre as candidaturas de José Serra e de Ciro Gomes.


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07/18/2002


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