Após acordo, Orçamento é aprovado no plenário







Após acordo, Orçamento é aprovado no plenário
O Congresso aprovou na madrugada de hoje o Orçamento de 2002 após acordo entre os líderes do governo e da oposição.
A votação foi simbólica e terminou por volta da 1h10h.
A oposição votou contra o projeto, mas não solicitou a verificação de quórum. O acordo eliminou o prazo mínimo de 24 horas entre a votação na Comissão Mista de Orçamento e no plenário, permitindo que a sessão do Congresso fosse realizada ontem à noite, a partir das 22h.
Além disso, os destaques foram votados em bloco para evitar que a votação se estendesse até a madrugada. A exceção foi o destaque que trata do salário mínimo, votado separadamente. Todos os destaques foram rejeitados.

Em seguida, os congressistas votariam créditos suplementares ao Orçamento deste ano, que não foram analisados pela Comissão Mista de Orçamento à tarde devido à obstrução do PFL.
Para conseguir votar o Orçamento ontem, o governo cedeu e atendeu as condições impostas pelos partidos de oposição. Os governistas foram obrigados a negociar para garantir quórum.
Sem acordo, o governo seria obrigado a manter os deputados da base aliada em Brasília em janeiro para votar a proposta.

"Aqueles que arrotaram que tinham maioria tiveram de se render, porque não conseguiram colocar a tropa aqui para votar", afirmou o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), referindo-se ao deputado Ricardo Barros (PPB-PR), vice-líder do governo, que havia declarado que o governo ia "tratorar" a oposição.
Para fechar o acordo com a oposição, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, foi à Câmara acertar com os líderes dos partidos de oposição o texto da medida provisória que trata da renegociação das dívidas dos pequenos produtores rurais.
A edição da MP era uma das condições da oposição para votar o Orçamento ontem.
A tentativa de acordo começou pela manhã. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), telefonou para os líderes de oposição e do governo abrindo caminho para a negociação. Com o presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio acertou que o Executivo também cederia.

Um dos pontos aceitos pelo governo foi a retirada da receita de R$ 1,4 bilhão prevista no Orçamento com a arrecadação da contribuição previdenciária dos servidores inativos.
O governo concordou com outra condição imposta pela oposição, recuando na questão do Fust (Fundo de Universalização das Telecomunicações). Na madrugada de ontem, o texto do Orçamento foi alterado mudando a natureza do Fust. Previsto inicialmente como investimento, o Fust foi transferido para as despesas com custeio. Assim, os computadores comprados para a rede pública de ensino com verba do Fust seriam patrimônio das empresas de telecomunicações, que venderão o serviço ao governo. Com o acordo, o Fust voltou para a linha de investimento, e os computadores comprados serão do governo.


Distribuição de R$ 84 milhões garante quórum
A distribuição de R$ 84 milhões extras para obras e projetos em redutos eleitorais de deputados e senadores garantiu o quórum na sessão da Comissão Mista de Orçamento que aprovou, na madrugada de ontem, a proposta orçamentária para 2002.
Para conseguir a liberação de recursos extras para pontes, postos de saúde, estradas, obras de saneamento básico e projetos de irrigação, os congressistas precisavam estar presentes à sessão.

O relator do Orçamento, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), atendeu a 27 deputados e senadores com emendas que ele havia rejeitado. As emendas aceitas parcialmente ou integralmente pelo relator já haviam consumido R$ 500 milhões e foram aprovadas em bloco. Questionado sobre a distribuição de recursos, o vice-líder do governo na comissão, Ricardo Barros (PPB-PR), comentou: "Você conhece outra forma de resolver? Aqui é o choro do choro do choro".
O quórum foi 64 deputados e 22 senadores. No momento mais importante, durante a votação do salário mínimo, mantido em R$ 200, votaram 43 deputados a favor e 16 contra. A medida não chegou a ir para o Senado.

A maratona durou 15 horas e foi concluída às 5h de ontem. As bancadas da Bahia e do Ceará tentaram interromper a votação do Orçamento para votar créditos adicionais para obras, como o aeroporto de Salvador (BA) e a barragem do Castanhão. O conflito foi resolvido no corredor. "Estou cumprindo ordens. Tenho ordem para votar o Orçamento hoje", disse Barros, descartando a mudança da pauta de votações.
Para atender aos pedidos, Dória usou uma ""sobra" de R$ 20 milhões, remanejamentos e cancelamentos de dois projetos do Ministério da Justiça que, segundo ele, receberam verba em excesso.
A obra que gerou mais polêmica foi a duplicação da ponte Juazeiro/Petrolina, na divisa da Bahia com Pernambuco. Num discurso emocionado, o senador José Coelho (PFL-PE) convenceu o relator de que a obra deveria receber pelo menos R$ 4 milhões.

"Todo o tráfego do Nordeste para o Sudeste passa por aquela ponte", disse Coelho.
Dória aproveitou uma emenda do deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) para socorrer a ponte, mas o dinheiro era insuficiente. Pediu, então, que o deputado Giovani Queiroz (PDT-PA) cedesse R$ 1 milhão de uma de suas emendas. Queiroz resistiu, mas acabou cedendo. Com remanejamentos, o relator completou o valor para a ponte. No final da sessão, a senadora Marluce Pinto (PMDB-RR) acusou o senador Romero Jucá (PSDB-RR) de ter transferido verba da Aeronáutica para projetos em Boa Vista (RR). "A emenda nem é dele. Ele só foi procurado para assinar", disse. Jucá fez um comentário baixinho ao lado da senadora, mas não ficou sem resposta. "Ridículo é o que você fez", gritou Marluce. A emenda acabou sendo aprovada.


Fica firme, companheiro
A elucidativa observação do presidente da República sobre a retenção de verbas orçamentárias para a prevenção de enchentes -"muitas vezes tem a verba mas não tem dinheiro"- só não nos torna conformados, diante do que aconteceu em vários municípios fluminense, por um pormenor quase à toa. É que havia verba no Orçamento e havia dinheiro nos cofres governamentais, nesses anos todos em que não houve a correspondente liberação pelo governo Fernando Henrique, em obediência à contenção de investimentos públicos decidida pelo FMI.

Utilizando-se as dotações orçamentárias e as liberações levantadas pelo deputado Agnelo Queiroz, na contabilidade do próprio governo, verifica-se que em quatro anos, de 95 a 99, o governo liberou apenas 6% das verbas previstas. O total liberado, R$ 1,08 milhão, não equivale nem a um dia, um só, dos gastos com qualquer das viagens de Fernando Henrique aos Estados Unidos e à Europa.
Exceto duas ou três reuniões em que o Brasil deveria ser representado pelo presidente, embora a inutilidade das reuniões desse gênero porque tudo é previamente assentado, todas as demais viagens foram cavadas pela Presidência e pelo Ministério das Relações Exteriores, assim como as respectivas homenagens. Com uma ou duas viagens das vastas comitivas de convidados, entre os quais até "caso" carioca de ministro foi passar dias amorosos em Paris, estariam completados os R$ 17 milhões previstos e não liberados nos quatro anos.

É ineficaz, também, o costumeiro argumento de relação estrita entre a dotação orçamentária e o recurso financeiro específico. As viagens, por exemplo, são custeadas pela verba de representação da Presidência e da diplomacia. A ser assim, ficaria demonstrada a improbidade de um governo que prevê, no Orçamento, verbas formidáveis para comitivas idem e não as prevê para a prevenção de catástrofes mais do que previstas. Mas nem é preciso chegar a tanto, porque o Congresso concedeu ao governo a possibilidade de deslocar dotações verbas conforme as necessidades. E, além disso, a Presidência conta com reserva para situações emergenciais.
Para que lembrar, diante de mais de 50 mortes, que a pequena parcela liberada, das verbas previstas em quatro anos para prevenir esse desastre, mal se iguala à verba para a compra de frios a serem servidos na Presidência de janeiro a junho? Cabe-nos apenas dizer uns aos outros, como disse ontem Fernando Henrique a uma das vítimas do desastre: "Fica firme, companheiro, você tem sorte de estar vivo".


Deputados usam "sessões solenes" para ganhar votos
Deputados descobriram uma nova forma de agradar a seus eleitores com a proximidade das eleições: realizar na Câmara sessões solenes de homenagens.
A nova fórmula está provocando uma situação inusitada na Casa: o ano nem terminou e já estão marcadas 47 sessões solenes para 2002, incluindo dezembro. O autor do requerimento é o primeiro a ocupar a tribuna de honra e normalmente preside essas sessões sentado no alto do plenário, na cadeira do presidente da Casa.
Isso significa uma exposição em média de três horas na TV Câmara, demonstração de prestígio e elogios na imprensa de seu Estado ou em publicações dirigidas.

O deputado evangélico Lincoln Portela (PSL-MG) foi rápido. Das 47 sessões solenes marcadas para o próximo ano, 14 foram por meio de seus requerimentos.
Uma prática que ele exerceu neste ano. Portela emplacou sete sessões desse tipo em 2001 e ainda cedeu três datas marcadas para colegas que não tiveram a iniciativa tão antecipada. Grande parte das sessões dele é dedicada a igrejas evangélicas, sua base eleitoral.
O exemplo foi seguido por Glycon Terra Pinto (PMDB-MG), que em três anos de mandato nunca havia apresentado um pedido para a realização de sessão solene. Para o próximo ano, já marcou cinco para homenagear a Igreja Batista da Lagoinha, a Igreja Batista Getsmani e a Igreja Batista da Floresta, entre outras.
"Essa pressa mostra que o deputado quer um espaço no ano eleitoral. Não sou contra a Câmara fazer homenagens, mas devia haver um critério", afirmou o líder do PT, Walter Pinheiro (BA).

No requerimento da sessão em homenagem à Igreja do Evangelho Quadrangular, em 13 de novembro, os deputados Mário de Oliveira (PST-MG) e Josué Bengtson (PTB-PA) apresentaram extensa lista de pedidos ao presidente, Aécio Neves (PSDB-MG).
Solicitaram a instalação de microfones no plenário para que um quarteto cantasse canções sacras, estacionamento para 15 ônibus, entrada no plenário de 29 cadetes com uniformes de gala e entrega de medalhas ao presidente da Igreja Quadrangular: o próprio Oliveira. O pedido foi negado.
Se a Câmara atendesse pedidos como esse, uma outra sessão solene poderia ter virado um show. No requerimento que apresentou para homenagear os 40 anos do programa do apresentador Raul Gil, Magno Malta (PL-ES) pediu a instalação de microfones para que o homenageado cantasse uma música de autoria do apresentador. A Câmara negou.

Mas as homenagens não se restringem somente às igrejas. Neste ano, por exemplo, houve sessão solene em homenagem à revista "A Liahona", publicada pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a ex-governadores, a dias comemorativos, ao Colégio Piracicabano e à Fazenda Canaã.
Algumas homenagens viraram tradição. Todos os anos, por iniciativa do deputado Paulo Paim (PT-RS), a Câmara faz sessão solene em homenagem ao Dia Nacional de Combate ao Racismo.
A Câmara já não consegue realizar homenagens em casos de fatos imprevisíveis. O deputado Fernando Gabeira (PT-RJ) tentou marcar uma sessão em homenagem às vítimas do World Trade Center. Não havia mais data.


PFL "faz bom trabalho" no MA, diz Tasso
O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), afirmou que a presidenciável do PFL, Roseana Sarney, está fazendo "um bom trabalho" no governo do Maranhão, apesar de o Estado gerenciado por ela ainda liderar a maioria dos indicadores de pobreza do país, conforme o Censo 2000.
Respondendo se não via contradição no fato de Roseana ser a governadora mais bem avaliada do país (segundo pesquisa Datafolha realizada em dez Estados) e o Maranhão apresentar indicadores sociais ruins, Tasso disse anteontem que "é preciso ver como esses indicadores estavam em 1995 [quando Roseana assumiu a administração do Estado]".

Segundo o governador do Ceará, "os resultados não são imediatos. O trabalho de educação de base, por exemplo, só começa a aparecer anos depois. Tenho certeza de que o Estado melhorou".
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a renda do chefe de família do Maranhão está 56% abaixo da média nacional. Os dados mostram ainda que metade dos chefes de família do Estado ganha no máximo R$ 150.
Tasso disse não estar surpreso com o desempenho de Roseana nas pesquisas. Ele afirmou que alertou o PSDB sobre a possibilidade de a governadora subir nas pesquisas, mas não foi ouvido.
Roseana é a segunda colocada nas pesquisas de intenção de votos para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, atrás apenas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tasso não quis comentar o desempenho do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), nas pesquisas mais recentes. O governador, que desistiu de disputar a vaga de candidato tucano à Presidência, confirmou que seu nome continua à disposição do partido, se a candidatura de Serra não "decolar".
Aliado do governador no plano estadual, o presidenciável do PPS, Ciro Gomes, deu como definitiva a saída de Tasso da disputa pelo Planalto. Em uma entrevista a um jornal de Fortaleza, Ciro disse que FHC só optaria pelo governador do Ceará "numa situação de extrema necessidade".


Roseana mistura futebol, caridade e festa
A governadora Roseana Sarney (MA), presidenciável do PFL, entra em campo amanhã para dar o pontapé inicial de uma partida beneficente de futebol entre jogadores famosos nascidos no Maranhão e amigos do vereador Albino Soeiro (PFL). Kléber, campeão brasileiro pelo Atlético-PR, e Anaílson, vice-campeão pelo São Caetano, participam do jogo.
Será a segunda vez neste ano que a pré-candidata usa o futebol como estratégia de marketing. A primeira foi no jogo pelas Eliminatórias da Copa em que o Brasil venceu a Venezuela por 3 a 0 e se classificou para o Mundial.

O jogo será realizado no estádio Nhozinho Santos, em São Luís, e a entrada é um quilo de alimento não-perecível. De acordo com a organização, pelo menos 30 mil pessoas devem participar do evento. O marketing não se resume à partida. Hoje à noite, os jogadores e outros esportistas recebem das mãos de Roseana a maior honraria do Estado: a medalha do mérito Timbira.
Além de Kléber e Anaílson, serão condecorados o atacante Dill (São Paulo), o goleiro Clemer (Flamengo) e os meias Sandro Hiroshi (São Paulo), Wamberto (Ajax-Holanda), Paulo César (Vasco), Jackson (Internacional) e Válber (Yokohama-Japão).
Roseana deve aproveitar a solenidade para fazer lobby pela convocação de maranhenses para a seleção brasileira de futebol.

Torcedora do Sampaio Corrêa, Roseana ajudou o futebol maranhense com o projeto "Nota na Mão" durante três anos. Os torcedores trocavam cupons fiscais por ingressos para os jogos. Em contrapartida, os clubes recebiam apoio financeiro do governo. O projeto foi suspenso devido a denúncias de má aplicação dos recursos por parte dos dirigentes dos clubes.

"Gatos"
Alguns jogadores homenageados estiveram envolvidos em casos de fraude. Em 1999, o Maranhão ficou conhecido por ser o estado de origem de alguns "gatos"- gíria futebolística que designa os jogadores com idade oficial menor do que a verdadeira.
Naquele ano, reportagens da Folha revelaram que jogadores utilizaram documentos com idades falsas. Entre eles estava o meia-atacante do São Caetano Anaílson, à época do Rio Branco. Ele participou da seleção brasileira sub-17, que havia conquistado o Mundial de 97. O jogador tinha documen tos com data de nascimento de 8 de março de 80.
Na verdade, nasceu dois anos antes, na cidade maranhense de Carolina (hoje Estreito), em 8 de março de 1978.

Com a fraude, o Brasil ficou ameaçado de não participar da Olimpíada de Sydney, em setembro de 2000, e da Copa do Mundo do Japão e da Coréia, neste ano.
Jackson, do Inter, também esteve envolvido em outro caso de adulteração. Ele já foi "gato" e se arrependeu. O jogador "rejuvenesceu" quatro anos ao tirar uma certidão de nascimento com dados falsos, mas acabou desistindo da operação.
Ele nasceu em 23 de julho de 1973, na cidade de Codó (a cerca de 350 km de São Luís). De acordo com a certidão adulterada, o meia teria nascido no mesmo dia e mês, mas no ano de 1977.


Procuradoria quer renda do livro de Cacciola
O procurador Artur Gueiros, do Ministério Público Federal no Rio, disse que a Procuradoria da República vai requerer, tão logo acabe o recesso do Judiciário, no dia 7, o sequestro dos direitos autorais do ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola referentes ao livro "Eu, Alberto Cacciola, Confesso - O Escândalo do Banco Marka", recém-lançado pela editora Record. O requerimento pedirá à juíza da 6ª Vara Federal do Rio a inclusão dos direitos entre os bens do ex-banqueiro tornados indisponíveis pela Justiça. "Toda renda que surja em nome dele terá de ser usada para ressarcir a lesão que ele causou à União", disse Gueiros. O advogado de Cacciola, José Carlos Fragoso, disse que o contrato entre seu cliente e a Record prevê a doação dos direitos autorais a instituições de caridade.


Artigos

Com medo de ser feliz
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Há duas semanas, o jornal britânico "Financial Times" publicou texto cujo título chocava: "Equilíbrio alemão trabalho/vida é bom demais para durar".
Se os alemães conseguem equilibrar tão bem a necessidade de trabalhar com a de viver bem, por que diabos não pode perdurar?
Afinal, os alemães que têm emprego trabalham menos horas por ano que seus companheiros europeus, com exceção de suecos e de holandeses (que, aliás, também têm um primoroso balanço entre viver e trabalhar, mais viver que trabalhar, como deveria ser a meta de qualquer ser humano decente).
Continua o jornal britânico: "Os empregos são muitos seguros, com os empregadores relutantes em dispensar empregados por causa dos custos envolvidos. Quando o fazem, os trabalhadores estão protegidos por generosa seguridade social".

Apesar de todo esse protecionismo, ao contrário do que gostam de apregoar os neoliberais da ala da enganação, a produtividade do trabalhador alemão é superior à do britânico, embora o reinado de Margaret Thatcher tenha feito um rapa na proteção ao assalariado de seu país.
Por que, então, o sistema não pode durar? O "FT" usa imagem de Hans-Joachim Hass, economista-chefe da BDI, a confederação dos empregadores (reacionária a mais não poder): é como uma ilha cujas praias estão sendo lenta mas firmemente comidas pela erosão. Acaba em cinco anos, prevê Hass.

É evidente que o modelo alemão (assim como o holandês e o dos países nórdicos) tem excessos. Mas não é preciso jogar a criança fora junto com a água do banho.
Se o sistema, mesmo na visão crítica, ainda aguenta pelo menos cinco anos sem que a sua "praia" seja invadida pela erosão, por que não usá-los para corrigir os excessos, em vez de conformar-se com a perspectiva de que o que é bom (para o assalariado) não pode durar?


Colunistas

PAINEL

Lanterna paulista
São Paulo é, proporcionalmente, o Estado com o menor volume de investimentos federais previstos no Orçamento de 2002, que está em discussão no Congresso. O governo FHC pretende aplicar em SP R$ 15,60 por habitante no próximo ano.

Norte na frente
Roraima é o primeiro lugar na tabela de investimentos do governo federal de 2002. O Orçamento aplica R$ 734,96 por habitante no Estado - 47 vezes mais do que deve ser repassado para SP. Em seguida, aparecem os Estados do Acre (R$ 407,22) e do Amapá (R$ 394,96).

Discurso e prática
Segundo o governo, a destinação de investimentos foi feita de acordo com a demanda social, numa tentativa de reduzir desigualdades. Mas o Maranhão, com a menor renda per capita do país, está em 22º lugar no ranking, recebendo um terço do destinado ao DF, que detém a maior renda per capita.

Carta na manga
Técnicos do "ministério do apagão" enviaram a FHC estudo que mostra que, se o índice pluviométrico continuar alto até março, o racionamento poderá ser extinto antes da eleição. Mas o tucano preferiu não divulgá-lo agora, quando a chuva provoca mortes e destruição no Rio.

Conto natalino
José Roberto Arruda aproveitou o fim de ano para tentar se reconciliar com o eleitor. O ex-senador enviou cartões de Natal nos quais faz um mea culpa: "O erro que cometi me impediu de continuar trabalhando por Brasília no Senado. Mas guardo comigo as lições do episódio".

Réveillon eleitoral
Roseana Sarney vai passar a virada do ano com a família, "rezando ao lado" de seu pai. Em seguida, por volta da 1h, a governadora do Maranhão percorrerá as tendas de shows populares nas praias de São Luís.

Corrida televisiva
Anthony Garotinho conseguiu no TSE antecipar de maio para janeiro a exibição dos comerciais de TV do PSB. Seguindo a estratégia do PFL de Roseana, o governador do Rio acha que conseguirá, com a exposição, subir mais uns pontos nas pesquisas para a Presidência.

Para inglês ver
O argumento usado pelo PSB para convencer o TSE a antecipar as inserções foi o de que precisava "melhor divulgar as conclusões do Congresso Nacional do partido", realizado no início de dezembro. Mas a estrela dos comerciais será mesmo o presidenciável fluminense.

Briga por espaço
A disputa eleitoral no Maranhão está por trás da rebelião da base de Roseana Sarney na Assembléia Legislativa. Os deputados -que derrubaram nove vetos da governadora- estão incomodados com o fato de que 60% dos 26 gerentes da administração do MA concorrerão a deputado estadual em 2002.

Última palavra
Tasso Jereissati vai encomendar pesquisa no Ceará para definir quem será o candidato dos tucanos à sua sucessão no Estado. Os senadores Lúcio Alcântara e Luiz Pontes, o ministro Martus Tavares (Planejamento) e o secretário estadual Raimundo Viana estão no páreo.

Regime de urgência
A Assembléia do Sergipe vai gastar R$ 144 mil para pagar seus 24 deputados por seis sessões extraordinárias que devem ocorrer até final do ano. Cada um embolsará R$ 6.000. Entre os nove projetos da pauta está o que prevê reajuste salarial de 20% para secretários de Estado.

Raspa do tacho
O governador José Ignácio (PTN-ES) tentou aprovar ontem projeto enviado às pressas à Assembléia que permite a privatização do banco do Estado. Mas uma mobilização feita pelo sindicato dos bancários e pela oposição impediu a votação, que deverá ficar para o início de 2002.

TIROTEIO

Do vice-presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ao negar que tenha sido marcado um encontro entre Anthony Garotinho (PSB-RJ) e o ex-governador Leonel Brizola (PDT):
- O governador do Rio de Janeiro nos causa náuseas.

CONTRAPONTO

Ver para crer
O ministro da Integração Nacional, Ney Suassuna, visitou anteontem as regiões atingidas pela chuva no Estado do Rio.
Quando chegou a Petrópolis -onde 39 pessoas morreram- Suassuna constatou que havia muito lixo acumulado nas encostas dos morros. Para ele, o lixo está relacionado à enchente.
Antes de ir embora, Suassuna telefonou para um jornal carioca para falar sobre o assunto:
- Aqui é o ministro Suassuna. Gostaria de falar com alguém que esteja trabalhando na cobertura da enchente.
A telefonista deu risada e falou alto, a ponto de Suassuna ouvir:
- Chefe, tem um doido na linha dizendo que é ministro. O que é que eu faço?
Ela desligou. Suassuna ligou de novo e afirmou:
- Eu não sou louco não, minha senhora. Sou o ministro.
Dessa vez, ele a convenceu e conseguiu ser entrevistado.


Editorial

MORATÓRIA E CRESCIMENTO

Uma das lições da crise argentina é a de que sem crescimento não há política econômica eficaz. O que deveria ser um truísmo é, na prática, de difícil entendimento para economistas, sobretudo os do FMI, que invariavelmente receitam políticas recessivas para solucionar crises de balanço de pagamentos (cujo sintoma é a crise cambial).
Sem crescimento, a Argentina chegou à moratória. E a moratória levará a Argentina de volta ao crescimento? Em princípio, sim. Ao contrário de pacotes ortodoxos de estabilização, como o que vem sendo implementado no Brasil desde o Plano Real, a moratória permite a imediata redução das taxas de juros.

Nesse sentido, paradoxalmente a estabilização argentina é inflacionária. Desde o início já se tem a consciência de que, sem crescimento, recuperação do emprego e talvez até algum déficit público, não há saída organizada da crise. A emissão de uma nova moeda sem conversibilidade é, aos olhos da ortodoxia, a definição clássica de política inflacionária.
No entanto, a economia argentina está com deflação e elevado grau de capacidade ociosa. O volume de pesos em circulação no país caiu 33% ao longo deste ano. Há, portanto, espaço para gerar uma demanda que reanime o parque produtivo do país.

Mas é nesse ponto que ressurgem as maiores dificuldades. A economia foi gravemente atingida e desnacionalizada. Crescer, nessa base, significa importar mais. Importações que se tornam ainda mais caras num contexto de moratória de pagamentos sobre compromissos externos.
Em tese, abre-se enorme espaço para a substituição de importações. De fato, isso ocorre, mas lentamente (como se vê no Brasil desde 1999). O estrangulamento externo ao crescimento portanto continua, apesar da folga trazida pela moratória.

Para que a Argentina não volte a patinar na estagnação, com inflação, restam duas opções, que na prática podem ser combinadas.
O Estado intervém pesadamente (como fez nas crises externas clássicas de balanço de pagamentos do começo do século passado) e/ou a comunidade financeira internacional colabora por meio de programas de apoio multilateral.


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12/28/2001


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