Arthur Virgílio Filho: coragem na defesa da democracia
"Depois de muito recuar, chegou a hora de este Congresso se impor. Chegou a hora de este Congresso ser digno da representação que ele encarna, de dizer a esta nação que, se ele cedeu, que, se ele recuou, não cederá nem recuará mais. Que nos fechem hoje, mas com o povo que nos assiste ao nosso lado; e não nos fechem amanhã, ingloriamente, com o aplauso do povo brasileiro, como aconteceu em 1937".
As palavras são de Arthur Virgílio Filho (1921-1987), no Plenário do Senado em 1965. Era o dia seguinte à decretação do Ato Institucional nº 2 (AI-2), quando a ditadura militar no Brasil se afastou ainda mais da democracia ao extinguir os partidos políticos e permitir apenas duas legendas (Arena e MDB, governo e oposição). Também acabava naquele momento a eleição direta para presidente, e o discurso que se tornou célebre resume bem a atuação política de Arthur Virgílio na defesa da liberdade política e da justiça social.
Arthur Virgílio nasceu em Manaus, filho do desembargador Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro. Formou-se na Faculdade de Direito do Amazonas, em 1947, mas também exerceu o jornalismo: foi proprietário do jornal A Gazeta, naquele estado. Uma de suas principais batalhas como deputado foi pela criação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Com aprovação do seu projeto de lei, a quase centenária Universidade Livre de Manaós – primeira instituição de ensino superior do país – transformou-se em universidade federal.
Ingressou na vida pública como chefe de gabinete no governo do Amazonas, em 1945, e depois ocupou os cargos de secretário de Finanças e do Interior e Justiça. Seu primeiro mandato começou em 1947, quando foi eleito deputado estadual no Amazonas pelo PSD. Reelegeu-se em 1950 e em 1954, desta vez pelo PTB. Em 1958, foi eleito deputado federal. Na Câmara dos Deputados, logo se tornou vice-líder do PTB e do Bloco Parlamentar de Oposição.
A eleição para o Senado aconteceu em 1962, pouco antes de se tornar líder do PTB. Com o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964, Arthur Virgílio renunciou à vice-liderança da Maioria. Quando o AI-2 instituiu o bipartidarismo, filiou-se ao MDB, do qual se tornou vice-líder no Senado em 1968.
Foi cassado em 1969, pelo Ato Institucional nº 5, e seus direitos políticos foram suspensos até a anistia, em 1979. No governo Sarney, exerceu a presidência do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) de 1985 a 1987.
Em 1987, no Rio de Janeiro, Arthur Virgílio Filho morreu de câncer no dia 31 de março — mesma data em que, 23 anos antes, havia acontecido o golpe militar que derrubou a democracia no Brasil durante mais de duas décadas. Foi sepultado em Manaus e deixou quatro filhos, incluindo Arthur Virgílio Neto, ex-deputado federal, ex-senador e prefeito eleito de Manaus.
19/12/2012
Agência Senado
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