Articulista da Folha reconhece que não há só escândalos no Congresso



"O Parlamento não é só escândalos", afirmou a jornalista da Folha de S.Paulo, Eliane Cantanhêde, durante o debate sobre produção legislativa, na manhã desta sexta-feira (7), na conferência internacional sobre o 1º Censo do Legislativo Brasileiro. Com a experiência de 30 anos acompanhando o dia-a-dia do Parlamento brasileiro, a jornalista ressaltou a importância dos trabalhos no CongressoNacional e afirmou que a atividade do Legislativo não se restringe aos temas cobertos pela imprensa brasileira nos últimos anos.

- O Congresso Nacional é um mundo além de escândalos, Plenário e lutas políticas. É aqui que os interesses do cidadão são discutidos. Para que uma lei seja aprovada, é necessária uma série de discussões no âmbito das comissões técnicas, que promovem amplos debates sobre temas de grande relevância para a sociedade. Mas a imprensa não noticia - disse.

Para ela, os veículos de comunicação, que enfrentam problemas financeiros, passaram a focar escândalos no noticiário, corroborados pela sucessão de crises ocorridas na história recente, desde o movimento das Diretas-Já. A seu ver, esse foco dado ao Legislativo pela mídia levou para a população uma imagem distorcida do Parlamento.

Para ilustrar sua dedução, Eliane contou que, um dia, ao vir ao Congresso, estacionou seu carro no anexo de um ministério próximo - a única vaga disponível nas proximidades. Ao seguir a pé até o Palácio, foi questionada por turistas sobre o que de importante estava acontecendo naquele dia no Parlamento, já que havia tantos carros parados em torno do prédio. Ela respondeu que se tratava apenas do trabalho normal, relatou. Os turistas não se conformaram com a resposta. Para eles, narrou Eliane, não era possível haver tanta gente trabalhando no Congresso, uma vez que sempre viam na televisão o Plenário vazio e notícias sobre "funcionários-fantasma".

- No Congresso trabalha-se muito. Se não fosse assim, eu teria jogado trinta anos de minha vida fora. Aqui há muita gente séria - disse.

A jornalista manifestou preocupação com as novas gerações de políticos, em virtude da imagem desgastada do Congresso.

- Os grandes juristas e oradores, que eram freqüentes no Legislativo, agora preferem ser advogados. Os integrantes dos movimentos estudantis têm agora a imagem de que político é bandido. Quem está vindo para o Parlamento representar a população? - indagou.



07/04/2006

Agência Senado


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