Ato pela paz é prejudicado por petistas








Ato pela paz é prejudicado por petistas
Integrantes do PT tentam transformar ato de protesto, no Tortura Nunca Mais, em manifestação pró-Lula

Com fitas verdes, amarelas e pretas, simbolizando o luto da Nação, representantes do PT e de outros partidos, além de sindicalistas e membros de diversas ONGs, protestaram ontem contra a violência que vitimou os prefeitos petistas dos municípios de Campinas – Antônio da Costa Santos –, e de Santo André – Celso Daniel. O evento, realizado no Monumento Tortura Nunca Mais, não apenas alertou a população para o crescimento da violência, como também serviu de palanque para a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão de FHC.

O presidente estadual do PT e prefeito de Camaragibe, Paulo Santana, não se intimidou nem mesmo com a presença de membros de outros partidos – PV/PCdoB/PSDB/PPS/PSB/PSTU. “Não conseguirão nos intimidar com esses atos de violência. Vão ouvir marchas nas ruas. Vão ver a nossa união, e Lula presidente”, gritou. O ex-presidente da CUT Jairo Cabral também defendeu publicamente a candidatura petista. “Problemas como esse só vão acabar quando Lula for presidente.”

O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), tentou minimizar a situação dizendo que o ato era pluripartidário e tinha como principal objetivo sensibilizar a população a combater a violência. “O ato não tem qualquer ligação com o ano eleitoral. Queremos é sensibilizar a sociedade sobre o perigo da violência vir a interferir no processo democrático em nosso País”, argumentou.

Ele acrescentou que as novas estratégias de segurança para os prefeitos petistas precisam ser discutidas com cuidado e “sem pânico”. A prefeita de Olinda, Luciana Santos (PCdoB), também participou do ato e disse que o momento é de “agir com traqüilidade”. “Temo que essas ações venham a semear o medo entre nós. Não gostaria que isso acontecesse. Temos que ter tranqüilidade”, afirmou.

Segundo organizadores, cerca de 600 pessoas participaram do ato. No momento em que o corpo de Celso Daniel estava sendo enterrado em Santo André, os manifestantes fizeram um minuto e silêncio.

Protegido por colete à prova de balas e uma arma, o vereador de Itambé, Manoel Matos (PT), chamou a atenção no protesto. Ele contou que desde o ano passado vem sendo ameaçado de morte. Segundo Manoel, as ameaças começaram após ele passar a investigar a ação de grupos de extermínio na região. “O Ministério Público contabilizou 100 homicídios não-identificados, entre 99 e 2000, em quatro municípios. Ninguém foi preso”, comentou.

O vereador acusa o prefeito de Itambé, Francisco Cordeiro (PMDB), de ser conivente com o crime organizado. “O prefeito é médico e assina a maioria dos laudos dos corpos não-identificados. É uma maneira de subnotificar o número de óbitos”, disparou.

O prefeito Francisco Cordeiro rebateu as acusações, dizendo que é um médico e político honrado. “O vereador Manoel Matos está fazendo essas acusações para conseguir fama política. A população de Itambé não engole essas acusações”.


Brizola recebe convocação para disputar a Presidência
Sob a orientação da executiva nacional do PDT, o diretório estadual da legenda se reúne hoje à tarde para discutir a política de aliança com vistas às eleições presidenciais de outubro. O encontro, que acontece simultaneamente em todas as capitais do País, servirá também para dar forma à candidatura do ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola (PDT) ao Palácio do Planalto. Além de amadurecer a possibilidade do palanque próprio na sucessão presidencial, o PDT em Pernambuco homenageará o presidente nacional do partido – que completa hoje 80 anos – expondo um vídeo sobre sua trajetória. A conversa acontece na sede regional do PDT, na Boa Vista.

“Em outros Estados, nossos companheiros já começaram a manifestar o desejo de ter Leonel Brizola na briga pela Presidência. Seguindo essa linha, nós aqui em Pernambuco vamos investir nisso, embora ele (Brizola) tenha dito que não deseja participar das próximas eleições”, adiantou o secretário-geral do PDT no Estado, Ilo Jorge.


Governo não acredita em terrorismo político
Uma possível ação da Frente de Ação Revolucionária Brasileira (Farb), suposta organização clandestina, contra políticos do PT é descartada pelo Planalto. Partido levou dossiê-denúncia ao Ministério da Justiça

SÃO PAULO – O Governo Federal não acredita que a Frente de Ação Revolucionária Brasileira (Farb) seja a responsável pelo seqüestro seguido de morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Embora não ignore a existência da organização clandestina que tem enviando cartas ameaçadoras a diversos militantes do PT e reivindica o assassinato do prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, morto em 10 de setembro, prefere não lhe dar maior atenção. Entretanto, o prefeito de Guarulhos, Grande São Paulo, Elói Pietá (PT), disse ter sido informado ontem pelo comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Bastos, de que a polícia recebeu um telefonema pelo 190 e que um desconhecido afirmou que ele será o próximo prefeito petista a ser assassinado no Estado.

O deputado federal José Genoíno, candidato do PT ao Governo paulista, confirmou ontem que o senador petista José Eduardo Dutra (SE) também recebeu uma carta com ameaças, na semana passada. A prefeita de Alvorada (RS), Stela Farias (PT), também afirmou ter recebido duas ameaças, por telefone, no final de 2001.

DOSSIÊ – No dia 6 de dezembro do ano passado, o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, recebeu da direção do PT o relatório intitulado Violência contra membros do Partidos dos Trabalhadores. O documento, de mais de 30 páginas, contém minucioso balanço das mortes e ameaças sofridas por representantes do partido em todo o País. Foram 94 ocorrências no período de 1997 a 2001.

De acordo com o levantamento, Minas Gerais foi o Estado no qual foi registrado o maior número de ocorrências, num total de 21. Em seguida, estão São Paulo e Bahia, com 15 ocorrências cada um. Em todo o País, foram registradas 15 ocorrências em 1997, seis em 1998, 12 em 1999, 19 em 2000 e 42 só no ano passado. Em 2001, São Paulo registrou 12 ocorrências e Minas 13.

O documento, que além de Nilmário Miranda é assinado pelo presidente do partido, José Dirceu, pelo líder na Câmara dos Deputados, Walter Pinheiro e pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Nelson Pellegrino, diz que ao PT não interessa produzir mártires e que nem sempre as pessoas, alvos de crimes políticos, são ligadas ao partido. Porém, adverte que uma parte expressiva das vítimas do banditismo político pertence ao partido.

Entre os casos, estão o do presidente do diretório municipal do PT de Caruaru (PE), José Ribamar Alves Godim, assassinado com três tiros em outubro de 2000 depois de denunciar ações do crime organizado na região.

Outro caso citado é o da ex-prefeita de Novo Mundo, em Mato Grosso, Dorcelina Folador, assassinada com seis tiros na varanda de sua residência, na presença de seus filhos, em 30 de outubro de 1999. E ainda o do ex-coordenador da campanha eleitoral do PT em Suzano, Manoel de Souza Neto, o Netinho, 43 anos, assassinado na noite de 6 de outubro de 2000.


Petista acusa união da extrema direita com o crime organizado
SÃO PAULO – A onda de ameaças e atentados contra políticos do PT, que culminou com a morte dos prefeitos petistas das duas principais cidades do interior do Estado de São Paulo – Celso Daniel, de Santo André, e Antônio da Costa Santos, de Campinas – é resultado de uma alquimia explosiva gerada pela união do crime organizado com a extrema direita.

Esta avaliação é feita por setores do PT ligados à investigação do crime organizado no Estado de São Paulo e no País.

“A CPI do Narcotráfico mostrou a extensão das ligações da polícia e da política de Campinas com o crime organizado; e Santo André está no centro de uma grande investigação, sobre quadrilhas de roubo de cargas, roubo de caminhões e narcotráfico”, argumenta o deputado federal Padre Roque (PT-PR) que integrou a CPI do Narcotráfico.

Roque avalia que o narcotráfico é o novo braço da extrema direita. “Interessa à eles a corrupção e o fim da democracia”, argumenta. Assim como em Campinas, de acordo com Roque, a região do ABC paulista é sede de uma extensa estrutura do crime que opera em todo o País.

“O crime organizado detém poder político e está incrustado no aparelho de segurança em diversos Estados brasileiros”, alerta o secretário da Fazenda da prefeitura de Londrina (PR) e ex-deputado federal petista Paulo Bernardo.

Padre Roque lembra que as investigação da CPI do Narcotráfico no Paraná resultaram no afastamento de mais de 300 delegados de 1ª classe da Polícia Civil, por suspeitas de ligações com o crime organizado. “O Paraná chegou a ficar sem delegados para comandar o aparelho policial.”
Na região de Campinas setores policiais e políticos chegaram a ser indiciados, mas as investigações não foram levadas adiante.

“É hipocrisia ignorar. O narcotráfico e o crime organizado financiam campanhas eleitorais milionárias e estão dentro do Congresso, nos municípios, em diversos níveis da vida pública”, afirma.


José Dirceu acusa PFL de “instigar ódio ao PT”
SÃO PAULO – O PT elegeu ontem seu alvo preferencial na disputa pela Presidência. No velório do prefeito de Santo André, Celso Daniel, o presidente do partido, deputado José Dirceu (SP), responsabilizou o PFL da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, por “provocar o ódio contra petistas”. A referência foi indireta, mas não deixou margem para dúvidas.

Dirceu também chamou os adversários de mercadores da morte. “Tem gente fazendo programa de TV no horário partidário instigando o ódio e a violência contra o PT. São mercadores da morte e da violência”, afirmou o deputado. Ele não mencionou explicitamente o PFL. Mas, indagado pela reportagem se a citação era dirigida ao partido de Roseana, foi taxativo: “Cada um que deduza o que quiser.”

Na semana passada, o PFL usou comerciais na TV para fazer críticas veladas ao pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. Estreante no time dos presidenciáveis, Roseana explorou imagens de quebradeiras na Argentina, na tentativa de associar a eventual vitória da oposição à instabilidade econômica e social pela qual passa o país vizinho.

Além disso, a governadora disse que o sucessor de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) não pode ser o presidente da República do Maranhão, da República de São Paulo, da CUT ou do MST.
Para Dirceu, há publicitários ansiosos por alimentar o ódio no País contra o PT. Na sua opinião, a estratégia foge da legalidade. Sem citar nomes, fez uma acusação ao publicitário do PFL, Nizan Guanaes, que deu declarações à imprensa comparando o PT ao Taleban e dizendo: “Vamos bombardear Cabul”.

Ao culpar o crime organizado pelo assassinato de Celso Daniel, o deputado afirmou que a simples existência do PT é a garantia de que o Brasil não enfrentará crise semelhante à da Argentina, caso chegue ao poder. “O PT é o partido da paz, que resolve os problemas do ponto de vista institucional”, argumentou.

Depois de perder dois prefeitos assassinados em apenas quatro meses e dez dias - além de Celso Daniel, houve a morte de Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, em Campinas -, a cúpula do partido endureceu o discurso. Mais: pôs a insegurança pública no centro dos debates de campanha, atacando também o Governo Federal e o de São Paulo, ambos comandados pelo PSDB.

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), informou que não fará qualquer comentário a respeito das declarações de Dirceu.


Lula acredita que há “gente grossa” envolvida no crime
SÃO PAULO – Provável candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem estar “convencido” de que o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), não foi um incidente, e que “possivelmente há gente grossa envolvida no crime”.

“Estou convencido, mas não tenho provas, de que você (Celso Daniel) não foi vítima do acaso e que não foi um incidente. Possivelmente sua morte foi planejada. Tem gente grossa por detrás disso”, declarou Lula, ao falar em um palanque montado em frente ao Paço Municipal de Santo André.

Muito emocionado, o petista discursou ao lado do vice-prefeito, João Avamileno, que hoje assume o comando da cidade, e de outros líderes do partido. Enquanto falava, foi interrompido por palmas no momento em que o corpo era colocado sobre um carro de bombeiros, antes do início do cortejo.
Lula elogiou o prefeito assassinado, referindo-se a ele como talvez “o mais competente do ponto de vista técnico e o melhor planejador do PT nos últimos tempos”.

Lula e o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), se reunirão hoje com o presidente Fernando Henrique, em Brasília. Vão cobrar medidas para resolver o problema da segurança pública no País. “Estamos preocupados com o Brasil, porque o crime está vencendo a batalha e vivemos uma guerra civil”, afirmou Dirceu.


Colunistas

PINGA-FOGO - Inaldo Sampaio

Violência em pauta
Coube ao deputado federal Fernando Ferro ser o porta-voz da executiva nacional do PT em Pernambuco no ato convocado para condenar o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Ferro repetiu o recado dado em todo o País: as ameaças e atentados contra políticos do PT, que culminaram com a morte também do prefeito Antônio da Costa Santos, de Campinas, “é o resultado da união do crime organizado com a extrema direita, resíduo da ditadura militar”.

Esta avaliação é a mesma feita por setores do PT ligados à investigação do crime organizado no País. E Ferro foi o vice-presidente da CPI do Narcotráfico do Congresso Nacional. Ele adianta que o PT irá “exigir”, agora, a criação da Comissão Permanente contra o Crime e o Narcotráfico, proposta nascida na CPI “mas abafada pelo Governo FHC”. E garante que não seria coincidência a morte dos dois prefeitos:. “É articulação criminosa praticada por uma rede que tem seus tentáculos no meio empresarial, no Judiciário, na polícia”, afirma.

A partir de agora, a violência entra de vez no vocabulário eleitoral no País. Difícil será separar o joio do trigo, a intriga da denúncia comprovada, o oportunismo da verdade.

Ato falho
O que mais se ouviu, ontem, no ato contra a violência convocado pelo Partido dos Trabalhadores, no Monumento Tortura Nunca Mais, foi a pergunta: por que PFL, PMDB, PPB, PTB não estavam presentes já que a violência atinge a sociedade brasileira como um todo? O ex-presidente da CUT, Jairo Cabral, e o prefeito de Camaragibe, Paulo Santana, se encarregaram de responder: fizeram campanha aberta para Luiz Inácio Lula da Silva.

Embaixo das unhas
O deputado Pedro Eurico (PSDB) exigiu, ontem, providências do vice Mendonça Filho (PFL) na apuração de casos de torturas em Mirandiba. Ele entregou dossiê com fotos e detalhamento de torturas atribuídas a policiais militares. Uma das mais freqüentes: enfiar espinhos de mandacaru embaixo das unhas dos torturados, contou.

Palanque ideal
Luciano Siqueira (PC do B) não perde a esperança de um único palanque das oposições no Estado. “Não dá para a gente continua r solto por aí falando, falando”, garantiu ao deputado federal Djalma Paes (PSB) no ato do PT contra a violência. “E a conversa terá de ser depois do Carnaval”, adiantou Luciano.

Assassinato muda agenda de vice-prefeito
A agenda de ontem do vice Luciano Siqueira previa audiência com o capitão Edson Sardano, secretário de Combate à Violência Urbana de Santo André. Em férias no Recife, retornou às pressas com a morte de Celso Daniel.

PSB arruma chapa em Glória do Goitá
Djalma Paes marca para o próximo final de semana a escolha do candidato a deputado estadual na sua base eleitoral. Adianta que poderá ser um “nome novo”, mas escolado na política. Em Iguaraci, porém, já está tudo pronto.

Mais agilidade
Vinte e dois anistiados políticos entregaram ontem no Palácio do Governo ofício pedindo a agilização do pagamento de 93 indenizações a ex-presos políticos no Estado. O Governo pagou até agora apenas 29 indenizações e a comissão especial tem outros 311 processos para analisar até junho.

Sem mandantes
Fará 15 anos, no próximo dia 21 de fevereiro, que o advogado e vereador de Surubim, Evandro Cavalcanti, foi assassinado. Até agora estão presos três executores e dois agenciadores do crime. Mas nenhum mandante foi julgado até agora: um está indiciado e os outros dois continuam em “lugar incerto e não sabido”.

A executiva estadual do PT ainda deve uma comunicação oficial, como havia prometido, sobre as contratações de uma consultoria e uma empresa de informática pela Prefeitura do Recife. O assunto foi deixado de lado com a morte do prefeito de Santo André. De lado, mas não esquecido.

João Paulo (PT) deverá tomar mais cuidado a partir de agora com seus seguranças: terá de dizer adeus àquele “jeito de ser” despachado, indo tomar banho de mar sem acompanhante e andando pelos bairros no próprio carro. O jeitinho já incomodava há muito tempo o coronel José Ramos, chefe da Assistência Militar da PCR.

Paulo Rubem (PT) está há 15 dias afastado das atividades políticas porque está mudando de residência. Por isso, diz, não se pronunciou sobre a contratação de consultoria pela Prefeitura do Recife. Mudou de apartamento, mas ficou no mesmo domicílio eleitoral.

A CUT confirma para o próximo dia 29 debate no Sindicato dos Jornalistas sobre as mudanças na CLT com a participação dos senadores Roberto Freire (PPS), Carlos Wilson Campos (PTB) e José Coelho (PFL). O debate será às 10h com entrada aberta ao público. Para a CUT, a proposta do Governo não deixa de ser uma violência contra o trabalhador.


Editorial

SITUAÇÃO INADMISSÍVEL
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A cada crime mais estarrecedor que ocorre no País, proclama-se que foi atingido o máximo tolerável e que é preciso, afinal, fazer alguma coisa, dar um basta aos seqüestros, à violência em geral. Fazem-se declarações e discursos indignados. Tomam-se algumas providências mais teatrais que práticas. E, daí a alguns dias, um novo crime, ainda mais frio, covarde e espantoso, vem pôr a sociedade numa situação de ainda maior insegurança, impotência, desespero. É o que sentimos neste momento com o seqüestro e o assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, o segundo prefeito do PT assassinado no espaço de cinco meses. O primeiro foi o de Campinas, Antônio da Costa Santos, morto numa suposta tentativa de assalto, ainda não esclarecida. No espaço de dez dias, são dois seqüestros com morte no Estado de São Paulo.

O caso de Celso Daniel envolve ainda mais incertezas e dúvidas que o de Costa Santos. Seqüestrado na última sexta-feira à noite, quando deixava um restaurante em companhia de seu amigo, o empresário Sérgio Gomes da Silva, a vítima foi encontrada no domingo pela manhã, pela polícia, numa estrada secundária a 78km de São Paulo, próxima à Rodovia Régis Bittencourt. O empresário não foi levado pelos bandidos. Nesse ínterim, pessoas supostamente responsáveis pelo seqüestro fizeram contatos com exigências para a libertação da vítima, com o senador Eduardo Suplicy e, posteriormente, com o governador do Estado, Geraldo Alckmin. A polícia trabalha com várias hipóteses para desvendar o crime, sem excluir a priori a de motivação política.
Não só de mistérios o caso se cerca. Concretamente, há tempo, além dos assassinatos e atentados cometidos contra integrantes do PT, líderes do partido vêm recebendo cartas com ameaças de morte (há dois meses, Celso Daniel recebera carta ameaçadora). O contato com Alckmin foi feito quando a vítima já estava morta, o que faz pensar em despistamento. Sem excluir outras hipóteses, como a de obter resgate, a de que o prefeito foi levado, mas o alvo seria o empresário, entre outras, pode-se pensar consistentemente em crime político. O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que se mostra muito preocupado com o caso, exclui essa motivação. Ele passou para a Polícia Federal a elucidação do crime e afirmou que, de agora em diante, os casos de seqüestro serão atribuição da PF. Aquelas cartas e os atentados levam líderes do PT, de outras agremiações e da sociedade à hipótese de crime político.

A reação de FHC e de outras autoridades está à altura da gravidade do caso. O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, disse que trata-se de “uma situação inadmissível”. Mas é preciso cuidar para que não se repita, mais uma vez, o que descrevemos de início. É preciso que os governos Federal e estaduais abordem e resolvam, com seriedade e eficácia, o gravíssimo problema da violência cada vez mais ousada, descarada e impune. Impõe-se a solução de impasses sem fim, como o desaparelhamento humano e material das polícias; a promiscuidade entre policiais e bandidos; a negativa das polícias de obedecer aos governos, preferindo manter um inadmissível e acintoso corporativismo, e acobertar os crimes de seus componentes (com raríssimas exceções).

É necessário, ainda, que nos conscientizemos, sociedade e governo, de que estamos voltando ao extremismo, ao terrorismo, à bandidagem e crimes que não se podia nem noticiar, nos momentos mais negros da ditadura. Deu muito trabalho restaurar a democracia em nossa pátria. Não vamos retroceder. Todos os partidos têm o direito de fazer sua propaganda e de conquistar legitimamente o poder nas urnas.


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01/22/2002


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