Avaliação de Armínio irrita candidatos à sucessão
Avaliação de Armínio irrita candidatos à sucessão
Declarações do presidente do Banco Central provocaram reação em cadeia
Em dia de terremoto no mercado financeiro, com alta do dólar e queda nos títulos da dívida externa brasileira, a receita para conter as incertezas ditada pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, provocou reação imediata dos candidatos à Presidência da República. ''Os fundamentos da economia estão bons, mas isso pode mudar. É esta a dúvida que paira no ar'', afirmou Armínio, criticando a falta de clareza dos candidatos sobre o que farão.
''É muito comum durante a campanha os candidatos prometerem tudo e acaba ficando a impressão de que tudo é viável, ao mesmo tempo e já'', disse o presidente do Banco Central. Irritado, o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se a comentar as declarações. ''Ele não pode fazer promessas, nunca foi candidato a nada'', disse, sugerindo que Armínio se limite a cumprir o mandato ''direitinho''.
Para o candidato, não há dúvidas sobre o motivo das oscilações do mercado financeiro. ''A situação econômica do país não está boa. Nós tivemos um superávit comercial, mas não porque o Brasil aumentou as exportações, e sim porque diminui as importações em 21%.'', afirmou Lula, que conversou por quase duas horas com 50 jornalistas estrangeiros.
O candidato do PPS, Ciro Gomes, rebateu as acusações. ''Vou mandar minha proposta de governo para o Armínio Fraga ver, com começo, meio e fim'', disse. ''Comigo, haverá mudanças definitivas. Não é possível que esse país seja sangrando diariamente pela especulação financeira'', declarou. O concorrente ao Planalto do PSB, Anthony Garotinho, também reagiu às críticas. ''A nossa proposta econômica é muito clara. Vai haver mudança, sim'', afirmou. ''Se o Armínio está com dificuldade de enxergar minhas propostas, vou mandar óculos com grau bem afinado e mandar para ele'', ironizou.
O único candidato a consentir com a avaliação do presidente do Banco Central foi o tucano José Serra. ''Eu concordo com o Armínio. Tem candidato que é contra o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e outro se recusa a trabalhar com a fixação de metas de inflação'', afirmou.
Para Lula, as oscilações do mercado têm outra explicação. ''Me cheira mais a mutreta e especulação. Tem
gente querendo ganhar dinheiro com isso'', acusou Lula. O candidato lembrou que nunca houve reação semelhante do mercado, mesmo quando, no segundo turno das eleições de 1989, alcançou 47% nas intenções de voto.
''Em vez oferecer juros altos e patrimônio público para ser privatizado, nós queremos oferecer aos investidores estrangeiros mercado, infraestrutura e mão-de-obra qualificada'', disse Lula, que prometeu recuperar o poder aquisitivo do salário mínimo em quatro anos. ''Inflação baixa interessa mais ao catador de lixo do Rio do que aos empresários e investidores estrangeiros'', disse.
BRASÍLIA - O Ministério Público Federal pediu ontem à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar as denúncias de pagamento de propina na privatização da Companhia Vale do Rio Doce.
Os autores do pedido, os procurador Luiz Francisco de Souza e Alexandre Camanho de Assis, basearam-se em reportagens publicadas na imprensa. Dizem respeito à suposta participação do economista Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, no esquema de corrupção. Ele teria cobrado comissão do empresário Benjamin Steinbruch, do Grupo Vicunha, que liderou a compra da Vale, em 1997. Ricardo Sérgio atuou na montagem do consórcio vencedor.
O ofício dos procuradores foi enviado ao superintendente da PF em Brasília, delegado Euclides da Silva Filho. O Ministério Público pediu à polícia que intime inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso para depor. Na lista também constam os nomes do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e do ministro da Educação, Paulo Renato Souza.
Em entrevista à revista Veja na semana passada, Paulo Renato confirmou que foi avisado por Benjamin Steinbruch sobre o pedido de propina feito por Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco do Brasil. Sérgio teria exigido R$ 15 milhões para ajudar o consórcio de Steinbruch no leilão da Vale. O episódio também foi confirmado por Luiz Carlos Mendonça de Barros. O ministro disse ontem não ter nenhuma informação nova sobre o assunto e evitou comentar a possibilidade de parte da propina ter sido efetivamente paga por Ricardo Sérgio.
Paulo Renato afirmou que só depende de um acerto na agenda para depor na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, responsável pela apuração das denúncias de propina na privatização da Vale. ''Não vejo problema algum em ir ao Senado, mas a data ainda não foi marcada'', informou, acrescentando que vai se
encontrar esta semana com o presidente Fernando Henrique para conversar sobre o caso.
O ministro, que chegou a disputar com José Serra a indicação do PSDB para a corrida presidencial, negou que o escândalo possa prejudicar a campanha tucana. ''Serra é o nosso candidato para ganhar a eleição'', garantiu, descartando a troca de nomes na chapa. ''Até agora, todas as pesquisas são favoráveis, a situação dele hoje é melhor que a de Fernando Henrique em maio de 1994'', comparou. ''Além do mais, a disputa eleitoral só começa mesmo em julho.''
Paulo Renato participou, na Casa da Leitura, em Laranjeiras (Zona Sul do Rio), da cerimônia de abertura das comemorações pelos 10 anos do Programa Nacional de Incentivo à Leitura.
Ministro justifica exoneração
BRASÍLIA - O ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., justificou ontem em detalhes a demissão do diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Jorge Guilherme Francisconi. Sem explicações, a exoneração de Francisconi havia sido anunciada sexta-feira. Segundo o ministro, Francisconi mandara publicar no Diário Oficial uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Conatran) sem consultá-lo. A resolução do Conselho Nacional de Trânsito sobre instalação de radares só valeu um dia. O ministro se disse surpreendido pela publicação da Resolução 131, ''quando negociava ajustes no texto''. Não foi o único problema: o texto foi enviado ao Diário Oficial assinada pelo ex-secretário-Executivo José Bonifácio Andrada, que deixou o cargo no dia 4 de abril.
Cabral não tem pressa com CPMF
BRASÍLIA - Está longe de acabar a polêmica sobre o prazo para a aprovação do projeto que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). O relator da proposta no Senado, Bernardo Cabral (PFL-AM), não facilitará as coisas para o governo. Defende que o texto seja ''analisado com lupa'' pelos parlamentares. Hoje, apresentará aos líderes da Casa as justificativas para não permitir a mudança nos prazos regimentais. O líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), calcula que se tudo caminhar nos trâmites normais a CPMF só sairá do Congresso em setembro. Os prejuízos de arrecadação vão superar R$ 5 bilhões.
Também está na CCJ a proposta de emenda constitucional do senador Geraldo Mello (PSDB-RN), que reduz de 90 dias para 30 o prazo entre a promulgação e a vigência da cobrança de uma contribuição. Faz parte da estratégia governista para evitar que a retomada da cobrança da CPMF só possa ser feita três meses após a aprovação da emenda, como assegura a Constituição. Cabral já elaborou relatório derrubando a proposta.
Argumenta que a atitude abre um precedente perigoso de desrespeito à Constituição.
Candidato do PSB não chora na TV
Brasília - O pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho, apresentará quinta-feira seu programa eleitoral ''sem de rramar uma lágrima''. O publicitário responsável pelo programa, Elísio Pires, afirma que o candidato não irá chorar nos dez minutos que tem direito à propaganda gratuita no rádio e na televisão. O coordenador de campanha, deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ) afirma que Garotinho apresenta naturalmente um lado emocional e ''não precisa criar um personagem como fizeram os outros candidatos''. Para mostrar seu lado emotivo, Garotinho não poupará a família. ''Sua imagem mais forte e recorrente é com a esposa Rosinha e seus filhos'', afirma Elísio Pires. A última vez que apareceu em programas eleitorais, em uma inserção de 30 segundos, o candidato também apresentou os familiares.
Além disso, Garotinho posará em frente à bandeira do Brasil para apresentar suas propostas de governo. O vice-presidente do PSB e coordenador do programa do partido, Roberto Amaral, afirma que ele falará sobre os temas centrais escolhidos para a campanha: saúde, combate à violência e geração de empregos. ''A retomada do crescimento também poderá ser abordada'', afirma Amaral.
Durante o programa, Garotinho também falará de sua gestão como governador do Rio de Janeiro. ''Mas não ficará muito no tema, porque isso é assunto para a candidata Rosinha Matheus'', explica Elísio. A equipe de produção aproveitou o bom tempo do fim de semana no Rio para gravar as últimas imagens.
Benedita lidera disputa estadual
Cinco semanas depois de assumir o governo do Rio de Janeiro, a petista Benedita da Silva é a preferida do eleitorado fluminense para continuar no cargo por mais quatro anos. Pesquisa do Instituto Vox Populi exclusiva para o Jornal do Brasil mostra que a governadora conta com 37% das intenções de voto. Em segundo lugar está Rosinha Matheus, do PSB, mulher do ex-governador Anthony Garotinho, com 21%. É seguida pelo ex-prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira, do PDT, com 11%. O senador tucano Arthur da Távola tem 9% do eleitorado, e a candidata do PFL, Solange Amaral, 2%. O levantamento foi realizado nos dias 9 e 10 de maio. O instituto fez 1186 entrevistas em 31 municípios do Estado. A margem de erro é de 2,8%.
Além de contar com a dianteira na corrida pelo governo do Rio, Benedita foi aprovada no primeiro mês de governo. Para 46% dos entrevistados, sua gestão é positiva. Um em cada quatro eleitores, contudo, considera ruim a atuação da governadora. E mais da metade do eleitorado (58%) acredita que até o fim do ano, quando acaba o atual mandato, Benedita terá bons resultados a mostrar. Para outros 25%, terminará a administração com balanço negativo.
A sondagem mostrou que as chances de Benedita cairiam consideravelmente se Garotinho renunciasse à disputa pela Presidência e decidisse tentar voltar ao Palácio Guanabara. O nome do ex-governador foi lembrado espontaneamente por 14% dos entrevistados. Nessa hipótese, Benedita ficaria em segundo, com 6%.
Rosinha foi citada por 5% dos eleitores. Jorge Roberto por 4%.
A simulação espontânea revelou que 1% dos eleitores votariam no prefeito do Rio, Cesar Maia para governador. O mesmo percentual foi alcançado pelo deputado estadual Sérgio Cabral, do PMDB, e pelo prefeito de Duque de Caxias, o tucano José Camilo Zito. Benedita, Rosinha e Jorge Roberto não comentaram a pesquisa. ''Estou feliz com a largada'', comemorou Solange Amaral. ''Nem me lancei e estou tecnicamente empatado com Jorge Roberto'', avaliou Távola.
Artigos
Educação científica
José Monserrat Filho
Para viabilizar nova estratégia de desenvolvimento, é preciso estender aos pobres o acesso à internet, à telefonia e à tecnologia, disse Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento e organizador do 14º Fórum do Instituto Nacional de Altos Estudos (6 a 9 de maio, no BNDES, RJ). O Brasil, a seu ver, deve ''universalizar o ensino médio e democratizar as tecnologias genéricas do conhecimento como a internet e as telecomunicações'' e também ''levar o conhecimento a todos os setores econômicos, inclusive à agricultura e a toda a sociedade, para evitar a exclusão social e o novo tipo de exclusão, o digital''. Não por acaso, um dos temas centrais do evento foi ''O Brasil e a Economia do Conhecimento''. Assim, a nova economia do conhecimento dramatiza ainda mais a questão das crescentes desigualdades sociais no Brasil. O país terá dificuldades talvez insuperáveis de entrar nessa desafiante fase da história sem incorporar seu povo ao mundo da informação e a um nível cultural muitíssimo mais alto do que o atual.
Temos sempre adiado o enfrentamento desse problema. Quantas vezes já ouvimos que primeiro há que crescer o bolo para só depois reparti-lo? Pois parece que agora não dá mais para adiar uma solução. Urge uma resposta abrangente e eficaz, ou o país todo pode se dar muito mal, com sério ônus inclusive para as elites, que até hoje quase nada fizeram nesse sentido. Essa resposta pode ter muitos nomes. Eu a chamo de Programa Nacional de Educação Científica, o que implica uma visão mais larga e ambiciosa, capaz não só de abarcar e modernizar as formas tradicionais de ensino, cada vez mais questionadas, mas também e sobretudo os novos recursos disponíveis hoje - programas de TV e rádio, filmes, museus, exposições, folhetos, livros, revistas, cartazes, vídeos, CDs, sistemas multimídia, peças de teatro etc. - para mudar rápida e qualitativamente os padrões de conhecimento e capacitação dos milhões de brasileiros marginalizados.
Ennio Candotti, criador das revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, já abordou o tema, ao comparar a situação da população inglesa e da brasileira diante de fatos graves da C&T atual, como o caso da ''vaca louca'' no Reino Unido. Entre nós, a maioria absoluta do povo não tem base mínima para se situar ante os efeitos do avanço científico e tecnológico. Como discutir divulgação científica no Brasil sem frisar esse dado, em geral esquecido ou ignorado? Como ampliar a democracia no país sem levar em conta esse brutal déficit cultural? Vamos seguir falando com a mesma classe média ou vamos abrir ao máximo o público alvo de nossos planos e projetos? Quando pensaremos no ''povão'', o grande excluído? Daí a idéia de um Programa Nacional que vise e mobilize a todos, governo e sociedade em todos os níveis, numa campanha sistemática, diária, entusiástica, com alvos claros e animadores para o país inteiro - algo como as campanhas do Betinho contra a fome. Daí também a idéia de Educação Científica, que une o termo mais amplo para designar difusão e compreensão do conhecimento (educação) com a forma de conhecimento mais complexa e essencial do nosso tempo, a científica.
Ainda não dispomos no Brasil de uma grande e profunda pesquisa sobre as relações entre ciência e público (povo). Tal pesquisa deve ser o passo inicial no rumo da elaboração de um Programa Nacional de Educação Científica. O empenho atual do Ministério da C&T pela inovação tecnológica nas empresas seria ainda mais vigoroso se viesse acompanhado de um esforço geral de educação em C&T, envolvendo o grosso da população de Norte a Sul do país.
Isso com certeza poderia criar inusitada e emocionante atmosfera nacional, de participação e criatividade, elevando corações e mentes de uma multidão de brasileiros a um novo patamar de confiança no país.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Comparações sem serventia
Considerando o pensamento mais ou menos consensual de que o raio dificilmente cai duas vezes no mesmo lugar, para ilustrar a dificuldade de situações repetirem-se à imagem e semelhança umas das outras, valem muito pouco ou quase nada as comparações que vivemos a fazer nos períodos eleitorais entre campanhas passadas e aquelas em curso.
No caso brasileiro pós-redemocratização o cacoete - do qual ninguém escapa - talvez guarde relação com a mesmice do plantel de homens e idéias de um cenário político que, se não se mantém estático, evolui a passos de cágado.
À exceção do fortalecimento da presença feminina nas lides da política - ainda bastante aquém do satisfatório - os personagens de que falamos são quase os mesmos há 15 anos. Uns sobem, outros descem na escala de intensidade de luz dos holofotes sobre eles, mas, no fundo, estamos falando sempre dos mesmos.
Daí, talvez, a ilusão de que o exame de situações já vividas possa servir, não como exemplo, mas de fórmula
para êxitos ou fracassos. Tomemos uma das mais batidas dessas comparações: se Lula já perdeu três vezes porque não inspira confiança no eleitorado, noves fora, perderá de novo.
Isso porque o país é o mesmo e o PT também. Ocorre que as experiências malsãs e Duda Mendonça - nessa ordem - amadureceram o conteúdo e adocicaram a forma de Lula. Tanto que ele teve o bom senso de escolher um porta-voz como André Singer, rapaz de fino trato, capaz de reduzir o número de declarações dadas pelo candidato que têm o condão de deixar as cabeças bem pensantes do PT de cabelos em pé.
Embora a essência possa ter sofrido uma viravolta de 180 graus, nada nos autoriza a concluir que os eleitores já não se sintam bastante mais seguros apenas pelo fato de Lula transmitir a impressão de que percebeu à sua volta uma realidade mais elaborada que aquela pautada apenas pelo embate sadomasoquista entre ricos satânicos e pobres angelicais.
Já é um avanço para quem se dispõe a lidar com as complexidades de uma nação.
Do lado dos tucanos, as comparações sempre dizem respeito às posições de Fernando Henrique nas pesquisas, nas eleições de 1994 e 1998, e os índices conferidos agora a José Serra. Abstraindo-se a evidência absolutamente determinante de que são personalidades inteiramente diferentes, resta-nos a análise das circunstâncias.
Na primeira eleição, os tucanos entraram na disputa de crista baixa. Tantas eram as incertezas, que firmaram a convicção de que sem o PFL não poderiam se eleger. Dizia-se de FH, também, que era um candidato pesado, mas não pela capacidade de criar atritos nem pela falta de simpatia.
Os problemas atribuídos a ele, na época, eram seu suposto desprezo por qualquer coisa que tivesse conotação popular, incluindo aí o povo. O fato de ser um intelectual contava hipoteticamente pontos contra. Havia muitos obstáculos, imaginava-se, a superar, entre eles a ausência de unanimidade sobre os resultados efetivos do Plano Real. Este deu certo e os aliados jogaram todos os seus esforços na correção daquilo que era visto como defeito do candidato.
Como a eleição de 1998 foi quase um referendo, pulemos para a situação presente. Agora, o tucanato entrou na disputa absolutamente senhor de si, mas baseado não na firmeza em torno do próprio candidato, mas na suposição de que os adversários teriam desempenho tão ruim, que bastaria mostrar os ganhos obtidos pela opção oito anos por FH, que estaria tudo resolvido.
Com isso, fizeram, em relação ao candidato, o movimento oposto: puseram-se a falar mal dele nas preliminares e continuam a fazê-lo agora que se inicia o jogo principal. Frustrados na expectativa de que o sucesso viria por gravidade, afrouxaram no quesito unidade e lealdade. Por essas e por outras é que não adianta ficar dizendo que FH tinha menos que Serra nas pesquisas, por que a mera constatação de fatos passados não constrói futuro algum.
Entre outros motivos porque não há repetição histórica que dê certo pela simples aplicação da lei da inércia. A Lei de Murphy é mais forte e implacável com o descuido dos incautos.
Caixa-baixa
Apreensivos, os parceiros preferenciais do PSDB, os pemedebistas, andam detectando um certo grau de autismo nas avaliações e movimentações dos tucanos. Os consideram pouco antenados para os perigos e necessidades da vida eleitoral.
Exemplo foi a preocupação causada pelo entusiasmo com que Serra relatou aos companheiros de aliança o resultado do jantar de adesões oferecido a empresários em São Paulo, dias atrás: R$ 800 mil.
Os pemedebistas acharam pouco e preferiam ter ouvido cifras na casa do milhão para cima.
Editorial
TÚNEL SEM LUZ
Não foi por acaso: na manhã ensolarada de domingo a Passeata da Paz lançou, ao longo da praia entre o Arpoador e o Leblon, 20 mil pessoas carentes de segurança. O comparecimento foi um apelo da sociedade às autoridades, tendo como pano de fundo a ênfase de violência acentuada pelos fatos que reforçaram sua legitimidade nas 48 horas anteriores.
Por duas vezes na semana, saques a motoristas e tiroteio nas ruas da Zona Sul contribuíram para adensar o clamor por segurança numa cidade cada vez mais ameaçada pela violência indiscriminada. Os assaltantes contam com a difusão do medo para o sucesso da operação, que ganha a marca de fatalidade superior à capacidade policial.
Na madrugada de sábado, oito bandidos repetiram a operação clássica do túnel. A Avenida N.S. de Copacabana deu, na manhã do domingo, mais uma contribuição - um policial e um bandido mortos - ao sucesso da Passeata da Paz com um apelo de urgência a decisões e atos das autoridades. O chefe de Polícia Civil anunciou o reforço do policiamento preventivo no túnel.
A segurança no Rio usa um cobertor curto para proteger a sociedade: o reforço de um bairro implica desproteção de outro. Os cidadãos não percebem correspondência entre as palavras e as ações das autoridades.
As soluções tendem a ser paliativas por falta de preparo, recursos e equívoco de acreditar que seja possível equacionar a questão do crime organizado com uma concepção policial que ficou para trás e não responde às necessidades.
A passeata revelou o teor de impaciência da sociedade e exaustão da confiança. A mensagem é de que, ao ver dos cidadãos, a questão está próxima de escapar ao controle. Há indícios de nova etapa no crime mas não na concepção de organização policial. As eleições estaduais caminham nos Estados onde a sociedade é vítima da violência, no sentido de se tornarem o tema de maior importância política na eleição.
Os candidatos precisam apresentar novo perfil voltado para a segurança, que é dever do Estado.
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05/14/2002
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