Azeredo quer Senado "mais ativo" no debate sobre a política externa



As quatro horas de debates com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante audiência pública realizada na terça-feira (6), abriram caminho para a retomada das votações de indicações de embaixadores pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Mas permanecem as divergências em relação à política externa brasileira, segundo informa o presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), nessa entrevista à Agência Senado.

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As votações foram interrompidas, por iniciativa de Azeredo, até que Amorim explicasse aos senadores a posição do governo sobre temas como o programa nuclear do Irã e as relações com países que estariam desrespeitando os direitos humanos. Durante a entrevista, o senador criticou a passividade do governo brasileiro em casos como o da invasão de uma refinaria da Petrobras na Bolívia e admitiu a possibilidade de demora na aprovação de embaixadores para países como a Venezuela, onde ele acredita que os investimentos brasileiros estejam em risco. "Queremos uma discussão na qual o Senado seja mais ativo", afirmou Azeredo.

A seguir, os principais trechos da entrevista. 

Após a audiência pública com o ministro, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional voltará a colocar em votação as indicações de novos embaixadores?

As análises das indicações dos embaixadores serão retomadas já na semana que vem. A comissão sempre foi ágil, nunca houve demora ou atraso da nossa parte. E o que realmente motivou a suspensão foi o acúmulo de indicações e a necessidade de uma discussão maior com o ministro.

Esta foi a primeira vez que se suspendeu a votação de indicações por haver divergências em relação à política externa. Isso mostra uma postura diferente da comissão?

É uma posição, realmente, de valorização da comissão. No sentido de que ela tenha responsabilidade de não só aprovar os embaixadores, mas também de discutir o que os embaixadores vão fazer. Eles são representantes do país. Então, queremos ter uma discussão na qual o Senado seja mais ativo.

No caso, a suspensão deveu-se ao pedido de uma discussão sobre a política externa como um todo. A suspensão seria um exemplo dessa nova postura?

O objetivo é esse, que tenhamos uma participação maior e que o ministro discuta conosco alguns pontos. Acredito que a vinda dele foi interessante, tivemos uma longa discussão, de quatro horas. Foi importante. Nós, da oposição, mantemos alguns questionamentos, mas ele teve oportunidade de se manifestar.

Ainda há divergências?

Sim, algumas divergências permanecem. Como essa justificativa de que a retaliação (em relação ao Irã) não funciona. Então, o que funciona? Chega o momento em que o diálogo não é suficiente. Isso é o que a maioria dos países está pensando.

As divergências são apenas sobre o Irã ou também sobre a política externa em relação à América Latina?

Algumas questões sobre o coronel [Hugo] Chávez também permanecem. Mas o ministro expôs as suas posições, nós expusemos as nossas. O importante é isso, que o ministro saiba que existem divergências e saiba que existe essa demanda por uma participação maior. Ele pôde ver que a criação de embaixadas tem que ser um pouco mais criteriosa, não é uma questão pacífica.

O senhor mencionou uma vez em uma reunião da comissão que, nos Estados Unidos, algumas indicações de embaixadores demoram meses para ser votadas. A Comissão de Relações Exteriores do Senado do Brasil estaria adotando uma postura semelhante à comissão do Senado dos Estados Unidos?

Nós criticamos um certo exagero na política externa. Então, não vamos também exagerar na função da comissão. Uma coisa é a comissão dos Estados Unidos, que são o maior país do mundo e já têm essa questão internacional como uma tradição. Aqui no Brasil não é assim. O Brasil tem atualmente maior relevância, por isso aumenta também a relevância da comissão. As questões internacionais passaram a ter mais consequência dentro do próprio país, no que se refere a emprego, à economia. Mas não é ainda o mesmo patamar da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano. E nem precisa chegar a esse mesmo nível.

Durante os últimos anos, sempre houve certo consenso no Senado a respeito da política externa brasileira. Agora existem algumas divergências. Este pode se tornar, pela primeira vez, um tema de campanha eleitoral, neste ano?

Acredito que isso começa a ter mais importância do ponto de vista eleitoral, sim. No momento em que o Brasil deixa que a Petrobras seja invadida sem uma reação mais forte, não estou falando de guerra, mas de diálogo, isso cria uma instabilidade para os interesses brasileiros em outros países. Estamos vivendo um momento em que o tema de política internacional cresce de relevância, porque o Brasil se tornou mais relevante e isso acaba influenciando o dia a dia das pessoas.

Quase nunca, nas campanhas eleitorais ou nos debates pela televisão, se tocou no tema da política externa. Pode acontecer agora de perguntarem aos candidatos a presidente da República a sua opinião sobre o tema?

Tendo em vista a opinião sobre outros países, se forma uma opinião sobre o próprio Brasil. Então, se o governo brasileiro é conivente com regimes ditatoriais, que cerceiam a imprensa, isso significa o risco de que o mesmo possa vir a acontecer no Brasil. Se um governo é omisso em relação a direitos humanos, significa que isso também pode acontecer dentro do país.

Como a comissão pretende atuar nos próximos meses, levando em conta que este é um ano de eleições?

É um ano atípico. Entretanto, temos um número muito grande de trocas de embaixadores. Temos o desafio de fazer essa discussão, mas ela será feita dentro do tempo necessário. Se houver algum questionamento em relação a algum embaixador, seja pessoal, ou em relação ao país (para o qual ele irá), poderá haver uma demora maior na sua aprovação, sim. Do ponto de vista pessoal, não tem acontecido, porque em geral são diplomatas de carreira. Mas do ponto de vista de país, sim, acredito que pode haver um questionamento maior. Que tipo de questionamento? Algum tipo de garantia de posicionamento do Brasil em relação a determinado país. Em relação à Venezuela, por exemplo, nós queremos garantir que o embaixador brasileiro na Venezuela vá defender realmente os interesses brasileiros.

Marcos Magalhães/ Agência Senado



08/04/2010

Agência Senado


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