BB investiga operações que envolvem Ricardo Sérgio
BB investiga operações que envolvem Ricardo Sérgio
Para banco, negócio com Marin foi malsucedido
O Banco do Brasil classificou ontem, por meio de nota à imprensa, de "malsucedida" a operação de crédito realizada com as empresas de Gregorio Marin Preciado e informou que a instituição vem investigando o caso. Marin foi sócio do presidenciável do PSDB, senador José Serra (SP), em um terreno, vendido em 1995.
Na nota, o Banco do Brasil lamenta a divulgação da operação. Em janeiro deste ano, auditoria interna do BB abriu inquérito administrativo para apurar possíveis irregularidades no negócio.
Ainda segundo a nota, as operações contratadas pela instituição em 93, que passaram por renegociações, originaram em 95 ações judiciais para execução das dívidas. As ações ainda estão em andamento na Justiça.
Reportagem da Folha publicada ontem mostra que as empresas Gremafer e Aceto, pertencentes ao empresário espanhol, tomaram empréstimos em reais num valor equivalente a US$ 5,3 milhões no BB em 1993 e 1995.
A falta de pagamento e os pesados juros praticados no período multiplicaram rapidamente a dívida, que foi objeto de uma redução pelo BB de, pelo menos, R$ 73,719 milhões. Embora inadimplentes, as empresas ainda foram beneficiadas com mais recursos durante as renegociações.
Ricardo Sérgio
O economista e ex-arrecadador de campanha de FHC e Serra Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor do BB na época em que ocorreu a renegociação da dívida que favoreceu Marin.
Marin tinha um terreno no Morumbi, em São Paulo, em sociedade com o senador José Serra. Em 95, quando o BB tentou arrestar os bens do empresário para pagar parte da dívida, o terreno já havia sido vendido.
Documentos obtidos pela Folha sobre o processo envolvendo as empresas do empresário consideraram as operações "atípicas". Parte do banco era contrária à redução da dívida das empresas.
Os documentos mostram ainda que as operações passaram pelo Conselho Diretor do Banco do Brasil e foram informadas também ao presidente da instituição em 1995, Paulo César Ximenes.
Apesar de lhe faltar dinheiro para pagar o BB, Marin fez doações à campanha de Serra em 94. Ao todo, a Gremafer e a Aceto doaram R$ 62.442,82, segundo a prestação de contas do tucano. No início de 95, as empresas estavam com dívidas de mais R$ 20 milhões. Leia a seguir a íntegra da nota do BB.
A propósito de matéria divulgada hoje (10), pelo jornal Folha de S.Paulo, relativa a operações realizadas com as empresas Aceto Vidros e Cristais Ltda. e Gremafer Comercial Importadora Ltda., o Banco do Brasil lamenta a divulgação de informações sobre operação de crédito malsucedida, pinçada dentre as milhares de operações realizadas pela instituição, o que afeta negativamente a imagem do banco.
O banco informa que as operações contratadas em 1993, e objeto de renegociações posteriores, deram origem à execução judicial promovida pelo banco em 1995, ainda em curso, estando em andamento inquérito administrativo, instaurado por sua Auditoria Interna em janeiro do corrente ano, com vistas à apuração de possíveis irregularidades (o referido inquérito é um dos 85 que tramitaram na instituição no primeiro trimestre).
Para FHC, acusações não prejudicam Serra
Pimenta da Veiga, coordenador tucano, diz que acusações a Ricardo Sérgio podem provocar danos, mas reversíveis
O presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio de seu porta-voz, Alexandre Parola, disse que "não há razão para imaginar que a campanha do senador José Serra tenha sido prejudicada" pela reportagem da Folha que mostra que o Banco do Brasil favoreceu um sócio do pré-candidato do PSDB à Presidência.
FHC disse ainda que não há providências que não tenham sido tomadas há tempos, mas sem especificar quais foram.
Essa foi a principal reação tucana para demonstrar que a candidatura de Serra à Presidência é irreversível e que o PSDB irá com ela até o fim, apesar das acusações que ameaçam contaminar a campanha e da pressão do PFL por uma troca de candidato.
À tarde, o deputado Pimenta da Veiga, que chefiará o comitê eleitoral de Serra, aproveitou o anúncio dos nomes de parte da equipe que integrará a campanha para assumir a defesa do pré-candidato. "Serra tem um conceito moral inatacável. Essas tentativas não irão a lugar nenhum."
Segundo Pimenta, as tentativas para inviabilizar a candidatura de Serra decorrem do fato de ele ter saltado de cerca de 7% para 19% nas pesquisas de opinião, em um curto espaço de tempo.
Dano certo
Pimenta admitiu que as acusações "certamente" provocarão danos à campanha e que Serra talvez perca alguns pontos nas pesquisas. Mas acredita que isso será revertido com o tempo, por ainda faltarem cinco meses para a eleição e porque Serra e o comitê teriam condições de dar explicações sobre todas as acusações.
Pela primeira vez, Pimenta falou como comandante efetivo da campanha. Estava ao lado do engenheiro Milton Seligman, que será o secretário-executivo do comitê. Funcionalmente, Seligman estará abaixo de Pimenta, mas é o homem da confiança de Serra.
Há cerca de um mês a equipe de Serra estava insatisfeita com a campanha. A avaliação era que ela estava "acanhada", enquanto a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parecia cada vez mais profissional. Serra centralizava tudo.
Daí a decisão de acelerar a estruturação do comitê e a definição das funções de cada integrante da campanha tucana.
Na próxima quarta-feira, o PSDB vai inaugurar o escritório que a partir de junho servirá de comitê eleitoral. Pimenta e Seligman despacharão diariamente no local. Já está acertada também a contratação do publicitário Nizan Guanaes, que ficará encarregado da criação dos programas de TV do candidato.
O publicitário Nelson Biondi continuará no comando da parte estratégica, reunindo e analisando pesquisas quantitativas e qualitativas para balizar o trabalho de Nizan. Bia Aydar será encarregada do setor de eventos, enquanto o jornalista Henrique Caban cuidará da infra-estrutura.
O nome do tesoureiro de campanha deve sair em junho, mas já está sendo discutido. A campanha terá pelo menos dois conselhos políticos. Um com Pimenta, José Aníbal (SP) e José Richa (PR), e o outro com os tucanos e mais os nomes que o PMDB indicar, quando formalizar a coligação com o PSDB.
Os dois partidos marcaram suas convenções para o dia 15 de junho para a homologação da candidatura de Serra, pelo PSDB, e a do vice-presidente, pelo PMDB. O registro da chapa está marcado para 20 de junho. "O PSDB estará com Serra até o dia 6 de outubro, o dia da vitória", disse Pimenta.
Serra quer empresários contra "factóides"
Em encontro no Rio, tucano pede "votos, mobilização e suporte material" a cerca de 40 convidados
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, pediu ontem a um grupo de empresários do Rio que ajudem sua campanha com "voto, mobilização para neutralizar os factóides e suporte material".
Serra esteve reunido com cerca de 40 convidados em almoço na casa do empresário Olavo Monteiro de Carvalho, do grupo Monteiro Aranha, em Santa Teresa (região central do Rio de Janeiro).
Segundo um dos participantes do encontro, que pediu para não ser identificado, a mobilização pedida por Serra foi entendida pelos empresários como um esforço para neutralizar os efeitos de noticiário sobre supostas cobranças de propinas por parte de Ricardo Sérgio de Oliveira, caixa de sua campanha ao Senado em 1994.
Os pedidos de Serra foram feitos quando um dos empresários perguntou o que o pré-candidato precisava deles. O tucano também fez, de acordo com as informações obtidas pela Folha, um apelo ao s empresários para que eles dêem testemunhos contra as análises que vêm sendo feitas por vários bancos estrangeiros em relação ao Brasil.
Os bancos vêm recomendando a seus clientes que reduzam os investimentos no país por causa do crescimento do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas.
O pré-candidato do PSDB disse que o que os bancos vêm fazendo "é pura especulação" e "não têm justificativa concreta".
O encontro durou cerca de duas horas. Serra apresentou sua plataforma de governo e reafirmou o propósito de criar um Ministério do Comércio Exterior.
Desconhecido
De acordo com o deputado federal Márcio Fortes (PSDB-RJ), que participou do almoço, o encontro serviu, principalmente, para que Serra se tornasse mais conhecido pelos empresários do Rio. "Serra ainda é desconhecido no Rio. É conhecido apenas como homem público", disse Fortes.
O deputado disse ainda que, quando falou em "factóides", Serra se referia a reportagem em que a Folha revelou, ontem, que Ricardo Sérgio, quando diretor do Banco do Brasil, ajudou o empresário Gregorio Marin a obter do banco uma redução de dívida de pelo menos R$ 73,719 milhões.
Na época, Marin era sócio de Serra em um terreno no Morumbi (zona sul de São Paulo). "Não existe nada. Serra nunca fez nenhum negócio", disse Fortes.
Entre os presentes ao encontro estavam Eduardo Eugênio Gouvêia Vieira, presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Kati Almeida Braga (do Banco Icatu), Artur Sendas (dono da rede de supermercados Sendas), Carlos Mariani (do Grupo Mariani), Eduardo Viana (presidente da Bradesco Seguros) e Daniel Klabin (Grupo Klabin), entre outros.
Também participou do encontro o deputado federal Ronaldo Cezar Coelho (RJ), ex-secretário de Saúde do Rio.
Serra não falou com os jornalistas ao entrar nem ao sair da casa de Monteiro de Carvalho.
Tasso minimiza onda de denúncias contra Serra
"Qualquer candidato vai sofrer uma grande onda de boatos e denúncias" como a que o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, está enfrentando agora, afirmou ontem o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB).
Tasso fez a declaração ao comentar a informação, dada pela Folha ontem, de que Ricardo Sérgio de Oliveira teria ajudado um empresário que já havia sido sócio de Serra em um terreno.
O ex-governador definiu como "aliados da onça" os tucanos que teriam, segundo rumores oriundos de Brasília, dito que ele seria o responsável pelas denúncias publicadas na revista ""Veja" envolvendo o ex-caixa de campanha de Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira.
"Se alguém comentou isso é de uma irresponsabilidade, de uma leviandade, que só faz prejudicar, não a mim, mas a própria candidatura", afirmou Tasso.
A hipótese de que Tasso tivesse qualquer envolvimento na divulgação da denúncia surgiu porque o irmão dele, Carlos Jereissati, confirmou ter feito uma doação à campanha de Serra ao Senado, em 1994, por meio de Ricardo Sérgio, não declarada na prestação de contas da campanha.
O ex-governador foi enfático e repetiu várias vezes que a candidatura de Serra é irreversível e que está afirmada e consolidada. "Não existe nada que possa vir a mudar isso", disse.
Ciro e Dirceu
O pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PPS) não quis falar sobre o caso Ricardo Sérgio ontem.
"Por favor, poupe-me desse constrangimento. Isso é assunto para delegacia de polícia", disse.
Já o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), afirmou que há indícios de tráfico de influência na ajuda do Banco do Brasil a empresas de Gregorio Marin em 1995, quando Ricardo Sérgio era diretor do banco. "É um indício de que pode ter havido tráfico de influência. Senão, seria muita coincidência", disse.
PSB tenta enquadrar ações de Garotinho
O objetivo é evitar falas e ações do pré-candidato, considerado impulsivo, que possam prejudicar a campanha
Líderes do PSB e estrategistas da campanha do presidenciável Anthony Garotinho tentam convencê-lo a limitar sua fala à apresentação de propostas para o país. Eles acham que Garotinho é muito impulsivo e centralizador, o que o faz ter atitudes prejudiciais à candidatura. O desgaste provocado com a renúncia do vice, Paulo Costa Leite, é um exemplo.
Escolhido por Garotinho, sem consulta ao partido, Costa Leite deveria trazer uma imagem de credibilidade à chapa em função de sua atuação como presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça). A indicação acabou provocando um efeito contrário, após a divulgação de que ele foi funcionário do SNI (Serviço Nacional de Informações) no regime militar.
"Ele [Garotinho" disse que não sabia [do envolvimento de Costa Leite com os militares", mas, de qualquer maneira, o fato de não ter consultado as instâncias partidárias antes de indicar Costa Leite deixou-o vulnerável", disse a deputada Luiza Erundina (SP).
Assessores de Garotinho consideram, porém, que o fato de Costa Leite ter saído do PSB sem atirar no candidato e antes da convenção de junho favorece o pré-candidato. Avaliam que em agosto, quando começa a campanha no rádio e na TV, ninguém mais se lembrará de Costa Leite.
Os estrategistas minimizam a repercussão eleitoral do uso ilegal de material da prestação de contas do governo na campanha. Eles reconhecem o equívoco, mas acreditam que, até agosto, isso também estará esquecido.
Para eles, o caso da aposentadoria especial de R$ 9.600, concedida a Garotinho no último dia de seu governo, é pior do que tudo isso junto. Atinge o eleitorado do Rio, de onde, segundo o Ibope, ele saiu com 88% de aprovação e 41% de intenções de voto. A má repercussão do caso o fez voltar atrás.
A partir deste fim de semana, segundo orientação de assessores, Garotinho não mais se envolverá em discussões com o PT. Caberá ao PSB e à candidata do partido ao governo estadual, Rosângela Matheus (mulher de Garotinho), responder aos ataques petistas.
A nova estratégia já foi usada pela direção estadual do PSB, que publicou ontem no "Jornal do Commercio" extrato das contas do último dia do governo Garotinho, na qual mostra um saldo de R$ 736 milhões. O PT acusa Garotinho de ter deixado um déficit orçamentário de R$ 1 bilhão.
"Não queremos mais bater boca com o PT, até porque esperamos estar unidos no segundo turno", afirma o cientista político Roberto Amaral, responsável pelo programa de governo do PSB.
Há deputados do partido que acham que Garotinho deveria ter assessores para responder a assuntos mais políticos, a exemplo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O problema é a ausência de quadros políticos e técnicos no PSB.
"Lula tem experiência e um programa já construído, ao contrário de nós, que estamos na primeira eleição e ainda não terminamos nossas propostas", diz Amaral.
A falta de programa e a impulsividade de Garotinho o deixa, para assessores, sem linha de campanha definida e o leva a lançar factóides, como a criação do Ministério da Casa Própria e do Proar, plano de ajuda às empresas aéreas nos moldes do Proer (Programa de Reestruturação dos Bancos).
Com ou sem Lula, Brasil não é boa opção para investir, diz jornal de NY
O diário econômico "The Wall Street Journal", dos EUA, trouxe ontem na sua página de opinião uma análise pouco animadora sobre a sucessão eleitoral brasileira.
Não importa quem for eleito o próximo presidente do Brasil, pois todos vêm defendendo as mesmas idéias -contrárias ao liberalismo de mercado-, diz o diário econômico nova-iorquino.
A análise cita os relatórios de bancos que rebaixaram a recomendação de investimentos em títulos da dívida brasileira devido à notícia de que o candidato "radical e popular", Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lidera as pesquisas de intenção de voto.
"O mercado está certo ao temer uma Presidência ocupada por Lula", diz o "WSJ". O candidato baseou sua carreira "na defesa das idéias do Fidel Castro" e "recentemente tem deixado clara a sua admiração por Hugo Chávez".
Entretanto, ressalta o diário nova-iorquino, "com todos os candidatos atacando o liberalismo de mercado, com um debate público sem idéias modernas e construtivas, somando-se a dívida pública que incha sob a pressão das altas taxas de juros, pode ser que a sensação de fatalismo seja lógica."
Para convencer os mercados de que o país pode cumprir seus compromissos e crescer, o Brasil vai ter de levar adiante os avanços pró-mercado feitos no governo Fernando Henrique Cardoso, receita o "WSJ". Mas, mesmo que Lula não ganhe, suas idéias parecem destinadas a dominar a política brasileira, conclui o jornal.
O diário afirma que Serra é visto como sendo uma escolha melhor para o crescimento e a estabilidade do que Lula. "Mas é igualmente verdadeiro que as perspectivas de um governo Serra ser bem-sucedido não são animadoras: a sua habilidade de efetivamente gerenciar o fraturado sistema político brasileiro é suspeita. Ele não é muito bem quisto pelos líderes do que deveria ser a sua coalizão. Mesmo dentro de seu partido ele não parece ser muito popular."
"A perspectiva é um pouco sombria. O protecionismo pernicioso que a administração Bush apresenta está fazendo ressurgir os piores sentimentos nacionalistas e isolacionistas no Brasil."
Nesse cenário, "as perspectivas de bons investimentos nesse país subdesenvolvido diminuem a cada dia, com ou sem Lula".
Ciro tenta capitalizar insatisfação com Serra e flerta com FHC e PSDB
O pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, deseja virar uma espécie de "plano B" das alas do PSDB insatisfeitas com o pré-candidato do partido, o senador paulista José Serra. Para tanto, tem sinalizado que, eleito, governaria com o PSDB e acena até para o presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem já fez críticas duras.
Ciro fez chegar a FHC que não promoveria uma caça às bruxas, tentando rever decisões do atual governo. Um dos maiores temores do presidente é o chamado "efeito Menem" -em referência a Carlos Menem, ex-presidente da Argentina, que ficou temporariamente preso depois de ter deixado o cargo. FHC é réu em mais de uma centena de ações.
Para Ciro, Serra dificilmente será substituído por Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, ou Aécio Neves, presidente da Câmara. No entanto, o presidenciável acha que as acusações contra o arrecadador de fundos eleitorais dos tucanos Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-presidente do Banco do Brasil, poderão enfraquecer Serra e fazê-lo patinar nas pesquisas de intenção de voto.
Assim, crê Ciro, Serra poderá ser abandonado informalmente por parcelas do PSDB. Dois deputados tucanos confirmaram à Folha que Ciro faz incursões de boa vizinhança no PSDB.
No Planalto
Já FHC gostou da mensagem de Ciro de que não o perseguirá. O presidente teme o poder de estrago de Ciro, que foi do PSDB e até hoje tem relações com dirigentes tucanos, como seu amigo Tasso.
A Folha apurou que o presidente elogiou Ciro, achando "madura" sua atitude de ter pedido ao ministro Pedro Malan (Fazenda) números sobre contas externas para não destoar da posição brasileira em um debate em Nova York com investidores estrangeiros.
Apesar de pessoas próximas ao presidente avaliarem ser improvável um encontro entre Ciro e FHC, o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), crê que isso "está na hora de acontecer".
O petebista Jefferson, membro da aliança PPS-PTB-PDT em apoio a Ciro, tem boa interlocução com FHC. "Há muita diferença entre ser inimigo feroz e adversário", afirma.
Além do PTB, dirigentes do PPS têm simpatia pela inflexão na campanha de Ciro, estimulando-o a bater duro em Serra e a poupar FHC, fazendo críticas ao governo, não à pessoa do presidente.
Exemplo: enquanto tenta capitalizar méritos do Plano Real, por ter sido ministro da Fazenda na implantação do projeto, Ciro acusa Serra de ter boicotado o plano de estabilização.
Dirigentes do PPS recomendaram a Ciro tentar ocupar o espaço que o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem tentando conquistar, o de uma alternativa segura. Lula tem dado sinais de que, se conquistar o Planalto, buscará governar em aliança com o PSDB. Ciro também.
O trabalho de aproximação com o PSDB e o presidente é feito de forma discreta, para não parecer incoerente, pois Ciro já afirmou que FHC é leniente com a corrupção, entre outras críticas, e para não desagradar ao PDT de Leonel Brizola, político que detesta o atual presidente.
Lei fiscal pode causar demissões em Estados
Decisão do STF que proíbe cortes salariais obriga governos a buscarem alternativas para diminuir gastos
O governo avalia que alguns Estados e municípios poderão ter de demitir funcionários para se ajustarem aos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa seria uma das consequências da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) tomada anteontem ao suspender três dispositivos da lei.
Um dos dispositivos permitia a redução da jornada de trabalho com redução proporcional de salários para adequação aos limites. Até o fim do ano, Estados e municípios terão de gastar no máximo 60% da receita anual com pessoal.
De acordo com um estudo do Tesouro Nacional, no final de 2001 três Estados estavam acima do limite no Poder Executivo: Minas Gerais (63%), Alagoas (53%) e Rio Grande do Sul (50%).
O limite de 60% é dividido entre os Poderes: 49% para o Executivo, 6% para o Judiciário, 3% para o Legislativo e 2% para o Ministério Público. Um levantamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em 20 Estados (AC, AL, AP, PA, PB e RN não informaram) indica que oito deles ultrapassam os limites no Poder Legislativo (RR, PI, SE, MG, RS, DF, GO e MT).
No Judiciário, estavam fora do limite: Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Os dados são para os 12 meses fechados em agosto de 2001.
A LRF prevê que o ajuste aos limites com despesas de pessoal também seja feito pelo corte de 20% dos cargos em comissão e pela demissão de servidores estáveis e não-estáveis. A demissão de estáveis depende de projeto de lei em tramitação no Congresso.
O STF ainda pretende rever o dispositivo que estabelece os limites de gastos por Poder. Segundo o chefe da Área de Assuntos Fiscais do BNDES, José Roberto Afonso, é importante que esses limites sejam fixados em lei complementar porque, caso contrário, eles ficarão sujeitos aos "sabores" das conjunturas políticas e econômicas locais.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, disse que a suspensão pelo STF do dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal que limita a programação de empréstimos do setor público ao total de investimentos não aumentará o endividamento de Estados e municípios.
Segundo ele, o dispositivo já está na Constituição e a LRF tem vários outros mecanismos que controlam o endividamento do setor público. Na opinião dele, o artigo não é importante porque tanto faz pedir empréstimo para fazer obras ou para gastos com educação, por exemplo.
Na prática, os dois tipos de gastos modificam o resultado das contas públicas. Bier disse que o STF apenas corrigiu uma falha de redação da LRF.
PSDB entra no TRE contra Maluf
O diretório estadual do PSDB entrou com duas representações no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) contra o pré-candidato do PPB a governador, Paulo Maluf, por propaganda eleitoral antecipada.
O PSDB diz que Maluf expôs propostas de governo no programa "Raul Gil Tamanho Família", da TV Record, em 22 de abr il. O presidente estadual do PPB, Jesse Ribeiro, disse que Geraldo Alckmin (PSDB) aparece na TV como "garoto-propaganda do partido usando veículos do Estado".
FHC não chama Suassuna para ministério
O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) esteve ontem durante uma hora e meia com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada, e saiu sem ser convidado para voltar ao cargo de ministro da Integração Nacional, que deixou há um mês. "Não houve essa decisão nem tampouco esse convite", disse.
Ele disse que continua pré-candidato a governador, mas não descartou uma possível volta ao governo -afirmando não saber de onde surgiu a informação de que voltaria.
Artigos
Patos e patos mancos
Clóvis Rossi
MADRI - Dias atrás, especialista de uma firma de investimento norte-americana deu entrevista à Folha na qual anunciava o apocalipse no Brasil à medida que ficasse claro que Luiz Inácio Lula da Silva seria o novo presidente da República.
Subiria o risco-país, os juros também, o real despencaria etc. e tal. Detalhe: o analista dizia que tudo aconteceria antes mesmo que Lula assumisse. Ou seja, haveria uma espécie de "fuzilamento preventivo".
Parece que o cenário previsto pelo economista está se realizando com muita antecedência. Lula continua sendo o líder em todas as pesquisas, mas é preciso muita fé (dos petistas) ou má-fé (dos especuladores de plantão) para apostar desde já na vitória do candidato do PT.
O diabo é que o tal de mercado não quer saber de fatos. Usa qualquer coisa para especular ou para fazer terrorismo eleitoral. Pior: no caso do Brasil, até há fatos que explicam a aposta contra o país (vulnerabilidade externa, excessivo endividamento, anemia na atividade econômica etc.). E não adianta dizer que o governo Fernando Henrique Cardoso é culpado por tais deficiências.
O jogo não segue nem lógica nem decência. Basta lembrar a frustrada tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, para saber que pouco valem, para certa gente, valores como regras democráticas, respeito ao direito de escolha de cada sociedade etc.
Por isso mesmo, suspeito que os assessores dos candidatos presidenciais deveriam começar desde já a trabalhar em um plano econômico de emergência para enfrentar a difícil situação que o tal de mercado vai criar daqui até a posse.
Afinal, vença ou não, o lógico é supor que Lula continuará liderando as pesquisas por mais um bom tempo. A pressão, portanto, vai se acentuar, e qualquer um que seja finalmente o eleito pagará o pato. Ou, pior ainda, já no início do governo, será um "pato manco", como os norte-americanos chamam governantes sem força.
Colunistas
PAINEL
Mudar o foco
A cúpula da Polícia Federal orientou informalmente a superintendência de SP a buscar elementos que justifiquem uma investigação contra Lula (PT).
Café requentado
A partir da orientação de Brasília, um grupo de policiais passou a reavaliar documentos relacionados a denúncias feitas no passado contra o presidenciável do PT. Como a aquisição de um imóvel em São Bernardo do Campo (SP), assunto que foi levantado na campanha de 98.
Como os romanos
Comentário irônico de José Martinez (PTB), após a exposição de Lula no encontro de presidenciáveis promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria): "Lula foi falar com os empresários mais ricos do país vestido a caráter. Estava lindo naquele terno Giorgio Armani".
Versão ministerial
Paulo Renato (Educação) disse que emissários de José Aníbal o procuraram com pedido de desculpas do tucano pelo tom dos ataques feitos ao ministro após a eclosão do caso Ricardo Sérgio. A imprensa teria superdimensionado as declarações do presidente do PSDB.
Ataque dos clones
O celular de Eduardo Suplicy (PT) foi clonado pela sétima vez desde janeiro de 2001. E o de Roberto Requião (PMDB), depois de clonado, foi roubado.
Decisão judicial
Byron Queiroz, presidente do Banco do Nordeste do Brasil, , foi condenado a pagar R$ 120 mil por crime de calúnia contra a analista de finanças do TCU Regina Gondim. Ele atacara a servidora em razão de uma auditoria que denunciou irregularidades no BNB. Cabe recurso.
Obstáculo de campanha
Geraldo Alckmin (PSDB) recusou-se a discursar ontem, em cerimônia nos Bandeirantes, por um motivo inusitado: acabara de quebrar um dente.
Prognóstico tucano
José Serra e a cúpula do PSDB avaliam que o tucano deva cair nas próximas pesquisas em razão do caso Ricardo Sérgio e da queda de popularidade do governo. Mas dizem estar confiantes na recuperação: "Não há motivo para desespero".
Criar fatos
O comando da campanha de Serra montou uma agenda positiva para tentar mudar a pauta política, centrada no caso Ricardo Sérgio. Na próxima semana, será inaugurado o comitê central do presidenciável. Na outra, a idéia é fazer um ato para anunciar a aliança com o PMDB.
Reclamação empresarial
O PNBE enviará carta ao Supremo a fim de protestar contra a possível revogação do artigo da Lei de Responsabilidade Fiscal que prevê teto para gastos com funcionalismo.
Picada de escorpião
Paulo Costa Leite, ex-vice de Anthony Garotinho (PSB), disse ao presidenciável que as revelações sobre o seu passado partiram da Abin. Que é a sucessora do SNI, onde Leite trabalhou.
Canetadas jurídicas
Na época de SNI, o codinome de Costa Leite era "Peninha".
Espaço sindical
O PC do B passou a reivindicar a segunda vaga de candidato a senador na chapa de José Genoino (PT) na eleição paulista. A primeira é de Aloizio Mercadante (PT). O indicado é Wagner Gomes, da Executiva da CUT.
Ligeiramente grávida
Ao analisar o caso de uma costureira, o TST resolveu uma velha controvérsia jurídica. Decidiu que a descoberta de gravidez após a extinção do contrato de trabalho não tira da gestante o direito à estabilidade provisória no emprego. Basta a prova médica de que a concepção tenha ocorrido no curso do contrato.
TIROTEIO
Do deputado João Paulo, líder do PT na Câmara, sobre FHC ter dito que os dados do Censo provam que a década de 90 não foi perdida em termos sociais:
- O IBGE provou que em termos de concentração de renda a década de 90 foi perdida. Em vez de brigar com números, FHC deveria aproveitar o fim de governo para mudar esse modelo econômico concentrador.
CONTRAPONTO
Ruído de comunicação
O presidenciável Ciro Gomes (PPS) esteve em Brasília dias atrás para falar sobre economia internacional na Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Ciro dissertou sobre suas propostas de incentivo à exportação e de geração de empregos.
Na platéia, dezenas de deputados de todas as tendências políticas se aglomeravam para ouvir o presidenciável.
Quando acabou o discurso, um dos primeiros a elogiá-lo foi Jair Bolsonaro (PPB), deputado de direita e defensor da pena de morte. Em seguida, foi a vez de Haroldo Lima (PC do B), comunista histórico, destacar pontos positivos do discurso de Ciro.
Um dirigente do PPS que acompanhava Ciro percebeu a contradição e ironizou:
- Um dos dois não entendeu o jeito empolado de o Ciro falar. É impossível que o Bolsonaro e o Haroldo tenham aprovado o mesmo discurso!
Editorial
RISCOS ALTERNATIVOS
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em entrevista publicada ontem no "Valor", sugeriu que, diante dos sinais de fraqueza da demanda, pode cortar a taxa de juros. Embora Fraga tenha ressaltado que a demanda mais fraca reduz a inflação esperada -um discurso alinhado aos cânones da política de metas de inflação-, a declaração deixou a impressão de que o baix o dinamismo da economia ganha espaço nas preocupações da autoridade monetária.
Alguns poderão denunciar como "eleitoralismo" a nova ênfase sugerida pelo BC. Até porque a projeção média do mercado é de que a inflação caminha para fechar 2002 com alta de 5,5% -exatamente a taxa máxima admitida pelo BC. Assim, haveria muito pouco espaço para cortar os juros sem pôr em xeque o cumprimento da meta.
Mas, sem entrar no mérito da motivação do BC, uma menor rigidez antiinflacionária poderia ser considerada saudável. Desde o começo do ano o BC reduziu a taxa de juros básica em apenas meio ponto percentual, frustrando a expectativa de um corte bem maior. Essa rigidez, justificada pela zelo em cumprir a meta de inflação, contribuiu para a estagnação do crédito e portanto para o quadro de demanda fraca com o qual agora o BC afirma se preocupar.
Cortar os juros agora em maio será possivelmente mais arriscado, do ponto de vista do controle da inflação, do que teria sido nos primeiros meses do ano. A recente alta do dólar tende a se traduzir, mais à frente, em alguma pressão sobre os preços. Além disso, nas últimas semanas houve um aumento do risco-país atribuído às nações emergentes.
No caso do Brasil, essa alta foi um pouco mais expressiva. Há quem atribua isso sobretudo ao receio de mudanças na política econômica no futuro governo. Decerto o temor de uma vitória de Lula pode pesar em algumas avaliações. Mas muitos analistas do mercado associam o maior nervosismo, em grande medida, aos resultados frustrantes da atual política econômica, que vem mantendo a economia pouco dinâmica e as contas externas, vulneráveis.
Como se sabe, um dos pilares da atual política econômica é o compromisso do BC em perseguir metas de inflação. Já nas próximas semanas essa política estará sob tensão, entre o risco de descumprir a meta de inflação e o risco de abortar a incipiente retomada da economia.
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05/11/2002
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