Brasil não dispõe de políticas de inclusão de autistas no mercado de trabalho
O engenheiro de telecomunicações Gustavo Adolfo de Medeiros, com mestrado na área de inteligência artificial e neurociência computacional pela Coppe - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia -, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o maior e um dos mais conceituados da América Latina, foi apresentado na audiência da CAS como pesquisador. Só quem o conhecia, sabia da sua condição. "Sou autista leve, de alta funcionalidade ou desempenho", declarou-se.
Apesar do currículo invejável - é fluente em inglês, com noções de francês e alemão, com dois trabalhos publicados em revistas estrangeiras -, o seu relato demonstrou a inexistência de políticas públicas que possam garantir a inclusão de pessoas como ele no mercado de trabalho e a falta de profissionais capacitados no diagnóstico e no tratamento de autistas.
Primeiro enfrentou dificuldades para diagnosticar suas diferenças. Ele se considerava normal e as informações que detinha sobre o autismo não pareciam se adequar ao seu caso. Com o insucesso na profissão e as sucessivas demissões, a tia que já cuidara dele ajudou-o a investigar a fundo o que prejudicava sua carreira, apesar da qualificação acadêmica, e os seus relacionamentos com as pessoas, inclusive os amorosos.
Favorável à aprovação do anteprojeto de lei federal, Gustavo contou uma de suas experiências mais dramáticas. Passou em dois concursos públicos, um deles para o Banco do Brasil. "Os meus avaliadores fizeram de tudo para eu ser aproveitado em setor tecnológico. Mas a norma da instituição me obrigava a ficar pelo menos um ano em agência. Para isto, eu tinha que ser bastante sociável", lembra ele.
Só após essa dispensa e uma extensa lista de médicos e psicólogos despreparados, tratamentos equivocados, inclusive com antipsicóticos, Gustavo conseguiu um neurologista com doutorado em Neuropsiquiatria que diagnosticou sua condição de autista. Ele continua sem emprego e diz que não quer ajuda governamental, como pensão ou outro benefício previdenciário. "Quero tirar meu dinheiro do suor do meu rosto, como todo mundo", enfatizou. "O autista não é fardo para a sociedade, a menos que achem que Einstein e Newton o eram. O austista oferece uma forma diferente de pensar e ver o mundo", complementou.Cíntia Sasse / Jornal do Senado
23/11/2010
Agência Senado
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