Brasil pode optar pela não-retaliação aos EUA na questão dos subsídios ao algodão, diz representante do MRE



O Brasil poderá optar pela não-retaliação aos Estados Unidos caso eles cumpram a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) que, no último dia 2 de junho, deu ganho de causa ao Brasil com relação à queixa que havia formulado contra a política norte-americana de subsídios aos produtores de algodão. A sinalização foi feita nesta quarta-feira (18) pelo coordenador-geral de contenciosos do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Luciano Mazza de Andrade, e endossada pelos demais especialistas no setor.

Eles participaram de uma audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) realizada para discutir ações do governo brasileiro após a decisão tomada pela OMC em favor ao Brasil.

Em sua exposição, Luciano Mazza explicou que no próximo dia 20 será decidido o montante que o Brasil terá direito a receber dos Estados Unidos como indenização, além da modalidade de uma eventual retaliação. No entanto, como enfatiza o representante do Itamaraty, o importante é que os Estados Unidos cumpram suas obrigações com relação ao mercado internacional de algodão e adaptem seu programa de subsídios às regras da OMC.

- O objetivo a ser alcançado é o cumprimento dessas obrigações. Se pudermos chegar a esse objetivo sem retaliar, acho que atingiremos um resultado mais adequado e satisfatório - afirmou Luciano Mazza.

A mesma opinião tem o diretor de Programa da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Helinton José Rocha. Para ele, o mais desejável, neste momento, é que os EUA reconheçam seus erros e mudem suas atitudes com relação aos subsídios irregulares ao algodão daquele país.

- Se algum benefício maior puder ser gerado, que seja para toda a sociedade e para todo o setor (de algodão brasileiro), que precisa ser beneficiado por toda essa luta - opinou Helinton.

Benefícios

Converter a retaliação em benefícios diretos ao setor brasileiro de algodão. Essa é a posição do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Rodrigues da Cunha, para quem o Brasil, depois da difícil vitória obtida na OMC, não pode simplesmente deixar de tomar uma atitude. Após fazer um balanço das dificuldades enfrentadas pelos produtores de algodão no Brasil, Haroldo Cunha defendeu a recuperação da rentabilidade do setor.

- O setor não está conseguindo sobreviver. Precisamos pensar um pouco mais proativamente para que possamos efetivamente ocupar um maior espaço no mercado e, assim, trazermos mais divisas e empregos para o país - destacou Haroldo Cunha.

Outro a defender a recuperação do mercado brasileiro de algodão foi o consultor externo da Abrapa, Hélio Tolini. Para ele, toda essa questão suscita um outro tema: o crescimento econômico dos países em desenvolvimento. Mesmo sendo contrário a uma retaliação, ele acredita que o Brasil precisa negociar em torno da vitória conquistada.

- Se não houver uma negociação boa para o Brasil que compense não retaliar, o país perde respeito, pois depois de tudo o que ganhou, não pode simplesmente desistir - afirmou Hélio Tolini.



18/06/2008

Agência Senado


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