Britto recompõe Frente Trabalhista









Britto recompõe Frente Trabalhista
Com a adesão do PDT, acertada no sábado, o candidato do PPS garante a Ciro Gomes palanque único no Estado

Depois de obter o apoio do PDT, no sábado, o candidato do PPS ao governo do Estado, Antônio Britto, tomará a iniciativa de ir à sede do PTB para um encontro com o líder do partido no Estado, o deputado estadual e candidato ao Senado Sérgio Zambiasi.

O apoio formal do PTB gaúcho à candidatura de Britto deve ser anunciado até amanhã. Com isso, o ex-governador conseguirá um feito que parecia impossível: reunificar a Frente Trabalhista no Estado e dotar o candidato à Presidência Ciro Gomes (PPS-PTB-PDT) de um palanque único em solo gaúcho.

A reunião com Zambiasi repetirá o gesto de sábado, quando Britto foi ao encontro do líder nacional do PDT, Leonel Brizola, na sede do partido em Porto Alegre. A aproximação com o PTB, depois da adesão de Brizola, é o desfecho previsível da renúncia do candidato pedetista ao Palácio Piratini, José Fortunati. O PTB estava formalmente coligado com o PDT, tendo indicado o candidato a vice na chapa de Fortunati, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, o Barbosinha. A participação dos petebistas na campanha de Britto não representará oficialmente uma coligação, porque isso, pelos prazos da legislação eleitoral, não é possível.

– No sábado, já participamos de um ato conjunto com o PTB em Erechim, mas eu pretendo pedir formalmente ao partido que participe desse grande entendimento – disse Britto ontem à tarde.
O PPS inicia hoje a montagem de um documento para o programa de governo que contemple a adesão do PDT. Segundo Britto, as negociações pelo partido serão conduzidas pelo deputado federal Nelson Proença, presidente do PPS no Estado e coordenador de sua campanha. Ao mesmo tempo, o PPS gaúcho definirá pontos que considera importantes para o plano de governo de Ciro. A previsão é de que os dois documentos – com os planos comuns com o PDT e as propostas para a campanha do presidenciável do PPS – sejam aprovados no dia 24, quando Ciro estará em São Borja e Uruguaiana. A data é simbólica para o trabalhismo: nesse dia, completam-se 48 anos do suicídio do presidente Getúlio Vargas, fundador do PTB, do qual derivou o PDT.

– Sábado, eu disse a Brizola que não estava indo buscar o apoio do PDT. Estava convidando o PDT a participar de uma coligação, mesmo que isso não mais seja possível do ponto de vista formal – disse Britto.

O candidato anunciou que, a partir de agora, PPS e PDT trabalharão de forma integrada na campanha, inclusive na definição dos roteiros do candidato. Britto observou que Zambiasi e José Fogaça – o candidato do PPS ao Senado – já vinham trabalhando em dobradinha informal para o Senado. E considerou superadas todas as divergências com Brizola:
– O que está havendo é um esforço para colocar essas divergências abaixo dos interesses do Rio Grande e do interesse de eleger Ciro.


Como foi a reunião com Brizola
Mesmo sem discutir as propostas apresentadas pelo PDT como condições para fechar o apoio ao PPS, Leonel Brizola e o candidato a governador Antônio Britto confirmaram a aproximação das duas siglas na manhã de sábado.

Foram apenas 55 minutos de conversa a portas fechadas na sala da presidência da sede estadual do PDT, com a participação de líderes dos dois partidos.

Na mesma reunião ficou definido que o coordenador da campanha de Britto, Nelson Proença, e o vice-presidente estadual do PDT, Pedro Ruas, darão início ao trabalho de estruturação do plano de governo conjunto.

Britto foi recebido pela cúpula do PDT com honrarias, mas o tratamento cortês de parte a parte não escondeu o constrangimento de filiados de ambas as siglas. Em alguns momentos, os pedetistas, que estavam em maioria, puxavam aplausos e davam um clima de festa ao reencontro.

Ao deixarem a reunião, Brizola e Britto tentaram evitar lembranças sobre rusgas do passado recente, quando o líder trabalhista chegou a acusar o candidato de ter ludibriado o povo gaúcho ao prometer não disputar a eleição e depois voltar atrás. Ambos protagonizaram um clima de apreço, e o ponto alto do encontro foi o abraço na calçada, na frente do prédio do PDT, já com a equipe de TV do pedetista gravando as imagens. Apesar do aparente entrosamento, Britto admitiu que divergências ainda existem.

Brizola disse que a formatação de um plano de governo conjunto deverá ser a prioridade, mas, para a imprensa, tentou passar a idéia de que o apoio ainda não está completamente definido. Afirmou que caso o entendimento não seja consumado o partido ainda poderá ter candidato próprio, idéia considerada pelos próprios dirigentes pedetistas como mais um balão de ensaio do líder trabalhista.

O entendimento entre PDT e PPS foi fechado no apartamento de Brizola, no Rio, na quarta-feira passada, depois da oficialização da renúncia de José Fortunati à candidatura ao governo do Estado. O interlocutor de Britto foi o deputado estadual Paulo Odone (PPS), casado com uma das sobrinhas da falecida mulher de Brizola, Neuza.


Em protesto, Vieira renuncia à presidência do PDT
O presidente estadual do PDT, deputado Vieira da Cunha, renunciou ao cargo e à liderança do partido na Assembléia Legislativa em razão do apoio da sigla a Antônio Britto (PPS).

Vieira foi um dos maiores críticos da aproximação entre o líder máximo do partido, Leonel Brizola, e Britto.

Vieira vinha se mostrando inconformado com a decisão imposta por Brizola como sendo a melhor saída para o partido neste momento. O deputado chegou a ir ao Rio na quinta-feira para tentar fazer Brizola mudar de idéia sobre o apoio a Britto e afastou-se completamente das reuniões do partido quando viu que seria voto vencido. Ao desembarcar em Porto Alegre junto com Brizola, na tarde de sexta-feira, comentou com alguns colegas de partido:
– Brizola é muito teimoso e eu também.

Vieira havia sido o principal defensor da manutenção da candidatura própria do PDT, é claramente contra o apoio a Britto, e agora sente-se desconfortável até mesmo para continuar presidindo a sigla. Na última reunião com Brizola, na sexta-feira, chegou a cogitar a possibilidade de deixar o cargo de presidente. Ontem, alguns de seus companheiros do PDT confirmaram que ouviram de Vieira tal promessa. Desde sexta-feira Vieira está distante do PDT e, no sábado, foi uma das ausências notadas no Aeroporto Salgado Filho na despedida de Brizola.

– Minha posição é minoritária. Perdi e tenho de me afastar – teria dito Vieira a alguns companheiros do PDT.

A partir de hoje, reuniões de militantes e filiados serão realizadas Estado afora para avaliar a situação que deixou sem saída os pedetistas contrários à decisão do líder trabalhista, que vinha se desenhando desde a renúncia de José Fortunati à candidatura ao governo do Estado.

Líderes do PDT, como o presidente do diretório metropolitano, vereador Nereu D’Ávila, admitem que os dias que se seguirão serão de difíceis discussões internas.

– Vamos ter de assumir o papel de bombeiros a partir de agora. Precisamos amalgamar o partido, unir metais – comentou ontem o dirigente, que também era contra o apoio a Britto, mas hoje se diz convencido pelos argumentos de Brizola de que não há outra saída.

Colocado entre os pedetistas defensores da manutenção da candidatura própria, o prefeito de Ijuí, Valdir Heck, deverá convocar uma reunião com os filiados de seu município para esta semana.

– Nosso projeto é muito diferente de tudo o que está aí. Não fomos consultados sobre nada, foi tudo alterado sem ouvir as bases – reclamou o prefeito, que defende a liberação dos filiados do PDT para votarem em quem quiser.

Para convencer os lí deres gaúchos de seu partido, Brizola apresentou um argumento para definir o apoio a Britto: era importante que os candidatos a deputado do PDT tivessem um nome forte ao governo do Estado para apoiar e lhes dar sustentação.

– Não ter a quem apoiar para o governo deixaria os pedetistas iguais a filhotes de perdiz que, quando se assustam, correm cada um para um lado diferente – teria dito Brizola.

Entre os líderes do PDT que aprovaram o apoio ao PPS há uma avaliação de que Brizola poderá ter a maior vitória política desta eleição caso Britto e o candidato a presidente do PPS, Ciro Gomes, vençam a disputa. Brizola se tornaria altamente influente no poder em nível nacional e estadual, posição que não ocupa desde o governo João Goulart.


Troca amigável de bandeiras no Brique
Um ato diplomático improvisado entre o PPS e o PDT simbolizou o início da nova etapa da corrida eleitoral ao Palácio Piratini.

Ontem pela manhã, no Brique da Redenção, em Porto Alegre, o presidente do diretório metropolitano do PPS, Luiz Carlos Melo, entregou ao presidente do diretório metropolitano do PDT, Nereu D’Ávila, bandeiras de Antônio Britto e Ciro Gomes. Houve troca de abraços e promessas de empenho na campanha.

D’Ávila recebeu as bandeiras e classificou o momento como “histórico”. Ele lamentou a renúncia de José Fortunati (PDT) com o argumento de que o melhor seria a candidatura própria. No entanto, salientou que a nova “coalização branca” é uma resposta ao sentimento antipetista de 80% dos prefeitos pedetistas do Estado.

- Já tínhamos a informação de que prefeitos nossos estavam com Britto – justificou D’Ávila.


Eles acham o PT light demais
Candidatos do PSTU e do PCO à Presidência defendem estatização de bancos e expropriação de multinacionais

Os dois candidatos nanicos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso sequer aparecem nas pesquisas de opinião e são desconhecidos da maioria dos eleitores.

O metalúrgico José Maria de Almeida, o Zé Maria, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), e o jornalista Rui Pimenta, do Partido da Causa Operária (PCO), disputam o pleito com um discurso carregado de críticas ao PT, partido ao qual pertenciam.

– O nosso programa é o mesmo da fundação do PT. O problema é que o PT resolveu jogá-lo na lata do lixo. O Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência) aliado com o PL simboliza a morte de um sonho – resume Zé Maria.

De orientação trotskista, baseadas nas idéias do revolucionário russo Leon Trotsky, as propostas do PSTU e do PCO são semelhantes. As duas legendas são originárias do PT, de onde foram expulsos no começo da década de 90.

Ambas defendem a nacionalização de bancos e a expropriação de grandes empresas multinacionais, o rompimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a redução da jornada de trabalho e um salário mínimo de R$ 1,5 mil.

Companheiro de Lula nas lutas sindicais da região metalúrgica do ABC paulista, Zé Maria já concorreu ao Planalto na eleição de 1998, quando fez cerca de 200 mil votos. Convencido de que não tem a menor chance de se eleger, o metalúrgico pretende usar a campanha eleitoral para angariar militantes – principalmente entre os radicais do PT, descontentes com os rumos da campanha de Lula – e fortalecer a presença do partido em sindicatos e na Central Única dos Trabalhadores (CUT), organização em que o PSTU controla 10% dos filiados.

– O processo eleitoral é desigual. Não temos recursos, mas o espaço que vamos ocupar é importante – assegura Zé Maria.

A mesma estratégia será adotada por Rui Pimenta, que pretende consagrar o slogan “Quem bate cartão, não vota em patrão”. Inspirados na palavra de ordem do partido, os discursos de Pimenta não têm poupado de críticas o vice na chapa de Lula, o empresário e senador mineiro José Alencar (PL).

– Quem bate cartão não pode votar num explorador como o José Alencar. Ele é um capitalista e nas fábricas dele os trabalhadores ganham baixos salários – diz o líder do PCO.

Assim como Zé Maria, Pimenta terá dois minutos e 46 segundos diários no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, a partir do dia 20. Quer aproveitar o espaço para difundir seu principal projeto, que é a construção de um partido voltado exclusivamente para os interesses da classe trabalhadora, idéia que, segundo ele, teria sido abandonada pelo PT.

Pimenta recorda que em 1988 sua corrente política já criticava as intenções do PT, fato que rendeu aos integrantes do PCO no início da década de 90 a expulsão do partido, após uma série de críticas ao então senador José Paulo Bisol, hoje secretário do governo Olívio Dutra (PT), na época escolhido como vice de Lula.

– O PT agora saiu de cima do muro. A aliança com o PL mostrou que a escolha do então latifundiário Bisol não foi um acidente, uma manobra ocasional – afirma.

Já o PSTU foi formado por integrantes da Convergência Socialista, que deixaram o PT por defender – antes da cúpula do partido – a mobilização popular pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

Outro ponto em comum dos projetos presidenciais dos nanicos é a pequena estrutura das candidaturas. Enquanto os quatro principais candidatos ao Planalto planejam gastar R$ 146 milhões, as candidaturas de Zé Maria e Rui Pimenta estão estimadas, cada uma, em R$ 200 mil. O maior luxo de que desfrutam é andar de avião, já que não aceitam doações de empresas.

– Os milhões que os outros partidos pretendem gastar só podem ser compostos com dinheiro de bancos e empresas, que depois vão querer o troco – avisa Zé Maria.


Domingo dedicado aos filhos
Candidatos a presidente deixaram agenda oficial e passaram Dia dos Pais com a família

Os candidatos à Presidência da República deixaram os compromissos políticos de lado ontem para passar o Dia dos Pais com os filhos.

José Serra (PSDB) foi o único a cumprir agenda pública, participando de um encontro com representantes de entidades de vítimas da violência, no Rio.

A família de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemorou a data com um almoço em São Bernardo do Campo (SP), longe da imprensa. Mesmo em campanha, normalmente Lula reserva os domingos para ficar com a mulher, Marisa, os cinco filhos e três netos. Lula mantém a família afastada dos holofotes para garantir segurança e privacidade.

Ciro Gomes (PPS) passou o dia em Fortaleza (CE), com os três filhos que tem com a ex-mulher e concorrente ao Senado pelo Ceará Patrícia Gomes (PPS). O candidato deixou uma mensagem em seu site na Internet para homenagear os pais. Nela, Ciro parabeniza aqueles que, independentemente dos interesses consumistas que a data provoca, se dedicam aos filhos e incentivam a convivência familiar.

Anthony Garotinho (PSB) também ficou com a família. Na quinta-feira, o candidato já tinha deixado de lado os compromissos de campanha para participar de uma festa antecipada de Dia dos Pais no colégio do caçula, Davi, três anos, no Rio, onde jogou bingo de bichinhos e desenhou. Garotinho tem nove filhos, quatro naturais e cinco adotivos. O caçula foi adotado quando Garotinho era governador do Estado do Rio.

Serra, que vive a expectativa da chegada do primeiro neto, ganhou da filha Verônica, 33 anos, grávida de quatro meses, turmalinas negras. Segundo a filha, o objetivo é tirar o mau-olhado sobre o pai que, mesmo em tempo de campanha, fala diariamente com ela e com Luciano, 29, por telefone.


Vox Populi mostra Lula e Ciro na frente
Pesquisa aponta empate técnico entre Serra e Garotinho

A uma semana do início do horário eleitoral gratuito, nova pesquisa Vox Populi de intenção de voto para a Presidência mostra o pe tista Luiz Inácio Lula da Silva com pequena vantagem em relação a Ciro Gomes (PPS).

Segundo pesquisa divulgada ontem, Lula está com 34% das intenções de voto, e Ciro, com 29% – a margem de erro é de 2, 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

O candidato tucano José Serra aparece com 12% das intenções de voto e continua tecnicamente empatado com Anthony Garotinho (PSB), que tem 9%. Na pesquisa, feita entre os dias 9 e 10 de agosto, foram ouvidas 2.004 pessoas em 115 municípios brasileiros.

Os principais eventos eleitorais da última semana, que poderiam interferir no cenário eleitoral, foram o debate na TV Bandeirantes entre os presidenciáveis, realizado no último domingo, e a série de entrevistas que os candidatos concederam ao Jornal da Globo (do dia 5 ao dia 8 de agosto).

Mesmo assim, se comparada à pesquisa anterior do Vox Populi – divulgada no dia 4 de agosto com levantamento feito entre os dias 27 e 29 de julho –, esse novo levantamento traz poucas alterações no quadro eleitoral.

Lula, por exemplo, manteve numericamente o mesmo índice de intenção de voto. Analistas de pesquisas dizem que isso pode ser um reflexo da estratégia da coordenação de campanha de formar um cordão de segurança em torno do presidenciável. Os petistas temiam que Lula chegasse ao horário eleitoral em queda.

Ciro, que vinha em trajetória ascendente, oscilou negativamente um ponto em relação à última rodada do Vox Populi. É cedo ainda para concluir se o candidato atingiu ou está para atingir um teto ou se o enfrentamento dele com Serra contribuiu para essa freada.

Serra, cuja tática de criticar Ciro diretamente gerou polêmica no comando de sua campanha, também oscilou negativamente um ponto. Na pesquisa divulgada no dia 4, ele tinha 13% das intenções de voto. Hoje está com 12%.

O mesmo ocorreu com Garotinho, que passou de 10% para 9% do índice de intenção de voto. Essas alterações ocorreram dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 2,2 pontos para mais ou para menos.

No mais recente levantamento do Ibope, Ciro apareceu isolado em segundo lugar, com 27% – seis pontos percentuais atrás de Lula, com 33%. Serra, com 11%, ficou em situação de empate numérico, e não mais técnico, com Garotinho.


Polarização não beneficiou Serra e Ciro
O bate-boca verificado nos últimos dias entre os candidatos José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS) não beneficiou nenhum dos dois. É o que indica a nova pesquisa do Instituto Vox Populi.
De acordo com os resultados, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, se mantém estável na dianteira, com 34% das intenções de voto. Ciro Gomes, que vinha conseguindo crescer de maneira significativa desde o início de julho, perdeu o ritmo e agora está estável. Depois de chegar a 30% em outra pesquisa do mesmo instituto, realizada no dia 1º de agosto, agora caiu para 29%. José Serra não conseguiu decolar, obtendo apenas 12% do total. Anthony Garotinho, do PSB, ficou com 9%.

– Já havia sido observada uma interrupção na seqência de crescimento dos votos de Ciro Gomes
– lembra a especialista Fátima Pacheco Jordão.

A queda de Serra é pouco significativa do ponto de vista estatístico. Mas, vista de uma perspectiva mais longa, é ruim para o candidato do PSDB. No comitê de Ciro, o resultado foi visto como a consolidação no segundo lugar.


Freire veta ACM em comício em Petrolina
O presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), vetou a participação do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) no comício do candidato a presidente da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS-PTB-PDT), em Petrolina, Pernambuco, no sábado à noite.

Também foi cancelada uma caminhada que Ciro faria em Juazeiro, Bahia, no outro lado do Rio São Francisco.

Freire, que no início resistiu ao apoio do PFL a Ciro, afirmou que o veto foi uma resposta à “agressão” de ACM ao PPS da Bahia durante a visita do candidato ao Estado a convite dos pefelistas. Na oportunidade, o ex-senador disse que o PPS local chegaria em uma Kombi ao hotel onde estava Ciro.

– Ele não queira se intrometer no nosso palanque. É evidente que seria intromissão. Eu não me intrometi no (palanque) dele – disse Freire antes do comício.

O presidente do PPS afirmou reconhecer que o processo de adesão de setores do PFL tem importância eleitoral para Ciro, mas acrescentou que em alguns Estados, como a Bahia, essas adesões exigem um processo de acomodação política complexo.

– Ele (ACM) tem de saber que vai apoiar Ciro no seu palanque, e nós, do PPS, vamos apoiá-lo no nosso – completou.

Ontem, ACM negou o veto.

– Nunca houve veto. Nem eu aceito veto. Não é minha terra, por isso não fui.

Segundo ACM, ele mesmo teria cancelado a caminhada em Juazeiro.

– Não quis que ele (Ciro) fosse a Juazeiro para não atrapalhar a festa de Petrolina.

Comício em Pernambuco teve caráter pluripartidário.

O prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho (PPS), que organizou o comício para Ciro, disse que foi procurado pelo deputado Jorge Curi (PFL-BA) para fazer uma carreata em Juazeiro. Mas eles concluíram que não haveria tempo, porque Ciro chegaria às 18h, para fazer um comício às 21h. Ficou acertado, então, que haveria apenas uma caminhada, suspensa depois.

O comício de Petrolina foi uma festa pluripartidária. No palanque, Coelho pediu votos para Ciro, para candidatos do PPS e para o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que apóia o tucano José Serra, mas abriu o palanque do partido no Estado. Compareceram ao evento três prefeitos pertencentes ao PMDB, um filiado ao PFL e um do PSB.

Após o comício, Ciro acusou o publicitário Duda Mendonça, que coordena a propaganda do petista Luiz Inácio Lula da Silva, de ter tentado montar um ato de entidades do movimento negro contra a sua candidatura.


Estudantes realizam passeata contra Collor
Praia de Alagoas foi tomada por opositores ao candidato

“Câncer de Collor mata.” Com essa frase em uma faixa preta e um caixão à frente, milhares de estudantes do Movimento Caras-Pintadas realizaram ontem, na Praia de Pajuçara, em Maceió (AL), a primeira grande passeata contra o candidato a governador de Alagoas Fernando Collor (PRTB).

Os estudantes vestiam camisetas pretas com o slogan “Cadeia Nelle” e gritavam palavras de ordem, como “Xô, Satanás!”. Eles relembraram o movimento Fora Collor, que, há 10 anos, reuniu cerca de 15 mil pessoas em uma passeata na Avenida Paulista, em São Paulo, para pedir a cassação do então presidente da República.

O coordenador do movimento, Marcos Calheiros, presidente da Federação de Grêmios Estudantis de Alagoas (Fegreal), disse que, a partir de agora, a juventude alagoana estará nas ruas e pretende mobilizar os adultos em uma corrente contra Collor. No trecho dos Sete Coqueiros, na mesma praia, estudantes mobilizados pelo comitê de Collor realizaram um show em homenagem ao Dia dos Estudantes, com distribuição de brindes e o sorteio de 20 bicicletas.

O presidente da União Maceioense dos Estudantes Secundaristas (Umes), Cláudio Vidal, assumiu a coordenação do ato pró-Collor e chamou de “estudantes profissionais” os líderes dos caras-pintadas. Ele acusou os opositores de serem massa de manobra do governador Ronaldo Lessa (PSB), candidato à reeleição. As duas manifestações contaram com o apoio da estrutura de Collor e de Lessa.

Em cima do trio elétrico que animava a “juventude collorida”, estavam o locutor oficial de Collor (o radialista Carlos Bina) e a advogada Laureta Medeiros, da assessoria jurídica do ex-presidente, além de candidatos da Frente Popular Trabalhista distribuindo lanches para estudantes que seguravam bandeiras e vestiam camisas de Collor.

Por pouco, não houve um confronto entre os cara-pintadas e os colloridos. A cavalaria da PM foi usada para abrir caminho no meio da avenida para a passeata dos caras-pintadas passar. Houve provocação dos dois lados, mas a polícia conseguiu manter a paz.

De cima do trio elétrico, o locutor de Collor gritava:
– Chega de jaleco! Chega de frescura! – referindo-se a Lessa, que, desde que assumiu o governo, usa uma jaqueta de campanha, em protesto contra os baixos indicadores sociais do Estado.

Um cara-pintada reagiu gritando:
– Fora Collor, saia daqui com sua gangue collorida. Alagoas é terra de homens de bem. Vá se candidatar no sul do país, no inferno ou em Miami, de onde você nunca deveria ter saído.

Collor, por meio da assessoria, disse que não considera a passeata dos cara-pintadas como uma manifestação legítima porque desde o início da semana passada que a imprensa vem denunciando a manipulação de estudantes para tentar denegrir a sua imagem de homem público.


Serra defende reforma no Código Penal
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, defendeu ontem uma reforma radical no Código Penal Brasileiro – que inclua o fim da liberdade condicional para condenados por crimes de tráfico, seqüestro e homicídio –, para reduzir a impunidade e inibir a criminalidade.
– Ouvi casos de criminosos que têm uma pena de 16 anos, cumprem um, saem da cadeia e acabam cometendo crimes de novo – argumentou.

Serra reuniu-se no Rio com entidades que representam familiares de vítimas de crimes e apresentou parte do programa para a área de segurança. Ele propôs a criação de um sistema penitenciário federal e a implementação do trabalho nas cadeias. Depois do encontro, Serra acrescentou mais duas medidas à lista: a obrigatoriedade do exame de DNA para todos os corpos não-identificados ou restos mortais que entrarem no Instituto Médico Legal (IML) e a criação de um banco de dados nacional sobre pessoas desaparecidas.

Serra recebeu o apoio da autora de novelas Glória Perez, mãe da atriz Daniella Perez, assassinada em dezembro de 1992. Daniella completaria 32 anos ontem.


PSDB e PMDB discutem desembarque de Jereissati
Apoio a Ciro desagrada a tucanos

Decididos a agir para estancar a sangria na candidatura presidencial do senador José Serra, os estrategistas do PSDB e do PMDB começam a discutir a melhor forma de operar o desembarque oficial do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), da campanha tucana.

Serristas dos dois partidos e ex-tassistas do PSDB estão certos de que Jereissati engajou-se, irremediavelmente, na candidatura do amigo e parceiro no projeto estadual, Ciro Gomes (PPS). Por isso mesmo, preferem tê-lo, oficialmente, no time adversário a vê-lo figurar como uma espécie de quinta coluna.

– Precisamos tomar uma providência urgente porque é um absurdo o Serra estar amarrado a ponto de não poder entrar no Ceará – cobra um governador.

Os aliados de Serra não se conformam com as dificuldades que enfrentam, decorrentes das críticas públicas de Jeressati ao governo federal e ao presidenciável do próprio partido. Como a avaliação geral é de que a atuação do presidente Fernando Henrique Cardoso no episódio em nada ajudou para eliminar as diferenças, fala-se em escalar um novo interlocutor para negociar os termos do desembarque.

Queixoso do afastamento dos companheiros da coordenação da campanha presidencial, o vice-presidente nacional do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), diz que é preciso agir rápido até para preservar um eventual segundo turno.

– Está muito claro para nós que a posição de Tasso, pró-Ciro, é uma coisa definida que só ganha força com o crescimento da candidatura do PPS. O que lamentamos é que esta situação não está cerceando em nada a atividade política do Tasso no Ceará – observa Goldman.


Caso Celso Daniel pode sofrer reviravolta
Seqüestrador teria ligações com Sérgio Gomes da Silva

A possível vinculação dos assassinos do prefeito de Santo André Celso Daniel com pessoas que comandavam uma rede de corrupção na prefeitura do município pode provocar uma reviravolta nas investigações do assassinato.

O ladrão de bancos e seqüestrador Dionísio de Aquino Severo, que foi morto, admitiu ao delegado Romeu Tuma Júnior ter participado da operação de captura do prefeito petista. Dionísio é ligado ao empresário Sérgio Gomes da Silva – conhecido como Sombra – que estava junto com Celso Daniel quando ele foi seqüestrado.

Dionísio afirmou ainda – em depoimento firmado diante de sua advogada Maura Marques – que tinha o que falar sobre o seqüestro de Daniel, mas só o faria em juízo para resguardar sua vida. Mas não teve tempo. No dia 10 de abril, menos de uma semana depois de ter sido preso em Maceió, foi morto a facadas por um grupo de encapuzados no Centro de Detenção Provisória de Belém na zona leste de São Paulo.

O delegado Tuma Júnior, afastado das investigações sobre a morte do prefeito a pedido do PT, confirmou de forma indireta ter ouvido relato de Dionísio sobre sua participação no seqüestro de Celso Daniel:
– Não posso negar que ele tenha dito isso, até porque outras pessoas foram testemunhas da conversa, mas não falo a respeito do inquérito sobre a morte de Celso Daniel porque ele está sob segredo de Justiça.

No depoimento que prestou à polícia, Dionísio afirmou ainda ter relações com o empresário Sérgio Gomes da Silva desde 1989, já tendo inclusive namorado a ex-mulher de Gomes de nome Adriana. Gomes é suspeito de ser peça importante no suposto esquema de corrupção na prefeitura de Santo André e recentemente teve seu sigilo bancário quebrado por ordem judicial. Em seu depoimento, Dionísio disse ainda ter freqüentado festas na casa de empresários de ônibus de Santo André que têm ligações com Sérgio e seu grupo.

Ouvida sobre a mesma questão – a suposta participação de Dionísio no seqüestro de Daniel – a advogada do criminoso explicou que, por uma questão de ética profissional, não poderia dar detalhes da conversa com o antigo cliente:
– Mas ratifico na íntegra as palavras do doutor Tuma.

A se confirmar a hipótese, ela jogaria por terra a conclusão do inquérito policial, segundo a qual Celso Daniel foi escolhido aleatoriamente como vítima de um seqüestro tendo sido morto depois por equívoco de um integrante da quadrilha, menor de idade, que compreendeu mal uma ordem para libertá-lo.

A eventual participação de Dionísio no seqüestro deixaria, ainda, Sérgio no centro das suspeitas. Além das relações com Sérgio e do namoro com a ex-mulher do empresário, no primeiro mandato de Daniel na prefeitura (1992-1996), Dionísio foi segurança do prefeito, cuja equipe foi selecionada e comandada por Gomes. Com a saída de Daniel da prefeitura, Dionísio se transferiu para Santos, mesma cidade para onde também se transferiu o ex-secretário de Assuntos Municipais de Santo André Klinger de Oliveira, o braço direito de Gomes, também sob investigação do Ministério Público.

No dia 17 de janeiro deste ano, um dia antes do seqüestro de Daniel, Dionísio foi resgatado de forma cinematográfica da Penitenciária de Guarulhos em um helicóptero. A dois cúmplices e ao filho de 17 anos, Dionísio teria confidenciado que a fuga fora organizada para que ele participasse de uma “grande operação”. Essa informação foi confirmada por um membro da equipe de Tuma Júnior.


Artigos

O socorro
Paulo Brossard

A turbulência de julho, que foi uma espécie de fenômeno sísmico financeiro na América Latina, aliás, ainda inconcluso, abriu os olhos de algumas entidades norte-americanas e internacionais impondo-lhes a evidência de uma realidade que pode ser resumida em duas palavras: o fato de os EUA deterem uma terça parte da riqueza do mundo não lhes dá tranqüilidade quando o sul do continente entra em convulsão econômica e social.

O caso mais difícil até agora é o da Argentina, que não tem condições para aceitar as regras oferecidas ou impostas, pouco importa. Basta lembrar que onde havia fartura, há fome, onde havia orgulho, hoje reside desespero, e esses ingredientes não são bons conselheiros. Os governantes ou seus técnicos podem desejar a composição que lhes seja apresentada, mas a sociedade portenha a repudia e isto basta, pelo menos por enquanto. Após a bancarrota argentina foi a vez do Uruguai, tamanha a sucção de recursos estrangeiros lá depositados, socorrido praticamente ex-officio; depois dos inomináveis insultos ao Brasil feitos pelo secretário do Tesouro dos EUA, no curso de uma semana, o FMI ofertou-lhe US$ 30 bilhões com o prazo de 15 meses. Ninguém poderá negar a mudança súbita e expressiva e ninguém a atribuirá a generosidade, simpatia, solidariedade ou humanidade, sentimentos que não habitam as entranhas das entidades estatais e muito menos as instituições financeiras. A meu juízo, no momento em que o Brasil engrossou a zona cinzenta da crise aberta pela Argentina e a que o Uruguai fora acolherado, o problema mudou de figura e exigiu providências imediatas, antes que fosse tarde. Aí está a meu ver a causa e explicação do novo empréstimo, o mais vultoso já feito pelo FMI, de US$ 30 bilhões, acertado com o nosso país.

Não posso participar das alegrias que o aumento “espetacular” da dívida nacional terá trazido ao Brasil

O certo é que a avença chegou como algo triunfal. Parece ter entrado no calendário cívico nacional. O dólar baixou, embora permaneça na casa dos R$ 3, o “mercado” sorriu, as ações de alguns bancos subiram na bolsa e esta respirou aliviada. Enfim, as manchetes otimistas encheram as primeiras páginas dos maiores jornais e dos noticiários radiofônicos e de televisão. Foi uma festa. Lembrava o Penta. Pessoas ilustradas de várias origens fizeram laudações à efeméride e uma delas, saindo de seus hábitos, não hesitou em chamar de “espetacular” o empréstimo pelo qual o Brasil era endividado em mais US$ 30 bilhões, deve quitá-lo em 15 meses, dezembro de 2003.

Lamento dizer que, na minha ignorância, não consigo entrever as maravilhas do acordo. Enquanto “socorro” posso entender que ele veio a tempo de aliviar as cólicas financeiras e cambiais dos que, faz oito anos, deste país fazem gato e sapato. Como “socorro”, mas é preciso convir que “socorro” está ligado a desespero; quem está de braços e pernas quebrados, com obstrução urinária, pedra no rim, insuficiência cardíaca e falta de ar aceita o “socorro” qualquer que ele seja, na esperança de algum alívio. Mas “socorro” não é solução. Solução será para os governantes que, depois de terem multiplicado a dívida nacional, interna e externa, após anos de malfazer, estarão longe do governo quando o empréstimo se vencer. Fico a perguntar-me se o erário terá recursos ordinários para que os recrutas não sejam dispensados, antes do prazo regular, por falta de dinheiro para sua alimentação, se a usura oficializada voltará a ser crime, se o desemprego vai declinar, se a fúria fiscal será contida, se a asfixia da atividade econômica vai cessar, se o crime organizado refluirá em favor do “Estado democrático de direito”... Fiquemos por aqui. Aí estão algumas das razões pelas quais, honestamente, não posso participar das alegrias que o aumento “espetacular” da dívida nacional terá trazido ao Brasil como se fora um outro Penta!


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Diplomas no Mercosul
O acordo firmado no Mercosul para a validade dos diplomas nas áreas de Medicina, Agronomia e Engenharia não foi bem entendido. Resultado de um exaustivo trabalho de análise técnica, o acordo prevê, nesta primeira fase, validade apenas no campo acadêmico (magistério, pesquisa científica), e não para o exercício profissional nas áreas citadas. A validade dos diplomas para a área acadêmica dependerá de uma série de exigências. Em cada país, três instituições de ensino superior interessadas em participar desse intercâmbio precisam oficializar junto ao órgão competente a disposição de harmonizar seu currículo da área escolhida ao das universidades dos outros países. Chile e Bolívia estão integrados no programa.

Cada país deverá criar um organismo que ficará encarregado de supervisionar didaticamente as instituições inscritas no programa. “No caso do Brasil, a Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, subordinada ao Ministério da Educação, que já faz o trabalho de supervisão universitária, poderia assumir essa responsabilidade”, sugere o ex-ministro Carlos Chiarelli, presidente do Grupo de Universidades do Mercosul, que, nos últimos dois anos, coordenou o trabalho técnico do acordo que foi firmado esta semana pelos quatro países para a validação dos diplomas na atividade acadêmica para as áreas de Medicina, Agronomia e Engenharia.

Esse acordo consta do Protocolo de Ouro Preto, que definiu o Mercosul e, inclusive, já foi aprovado pelos legislativos de todos os países-membros do bloco. O ex-ministro reconheceu que a validade dos diplomas para o exercício profissional é tema delicado e até polêmico neste momento de aguda crise econômica que cria enormes dificuldades ao mercado de trabalho em todos os países do bloco. Por isso, essa etapa já foi “sobrestada”, ilustrou Carlos Chiarelli, usando linguagem diplomática.


JOSÉ BARRIONUEVO

Tarso busca dissidentes do PDT
Tarso Genro (PT) não perdeu tempo para buscar possíveis dissidentes do apoio anunciado sábado pelo PDT à candidatura de Antônio Britto (PPS), seu principal adversário, com quem polariza a disputa no Estado. Ontem à tarde, o candidato do PT deu uma entrevista coletiva ao lado de Sereno Chaise, vice-presidente do Banrisul, ex-presidente do PDT, hoje no PT, que organiza o cerco que será feito a partir de hoje aos insatisfeitos com a aliança anunciada por Brizola.

– Nos sentimos liberados, a partir deste momento, para buscar contatos diretos com dirigentes, prefeitos e militantes pedetistas. O PDT tem uma enorme tradição de defesa do setor público e é incompatível do ponto de vista político, ideológico e administrativo com uma coalizão política de defesa de um projeto neoliberal, como o de Antônio Britto.

Sem divulgar qualquer nome de novos adeptos, Tarso foi claro ao anunciar que não terá pruridos em procurar os insatisfeitos, prometendo espaço no seu governo:
– Atentos às críticas que o próprio Brizola já fez ao governador Antônio Britto, achamos que o lugar político da militância do PDT é conosco. A partir de hoje, procuraremos em todas as cidades do Rio Grande esses quadros para somarem uma frente em defesa do RS no primeiro turno. Vamos consolidá-la no segundo turno. Uma frente em defesa da base produtiva do Estado, do aprofundamento das decisões públicas e da continuidade do processo de recuperação do setor público.

Zambiasi e Fogaça fazem parceria
Unidos agora com o acoplamento da Frente Trabalhista à candidatura de Antônio Britto, José Fogaça (PPS) e Sérgio Zambiasi (PTB) fizeram juntos longo roteiro pelo Alto Uruguai. Duas provocações ao PT: “Se o PT ganhar, muda o cavalo mas o relho é o mesmo” (Zambiasi); “O Rio Grande é do homem gaúcho, é da mulher gaúcha, é do povo gaúcho, não pertence a um partido” (Fogaça).
Fogaça passou o Dia dos Pais em sua residência em Porto Alegre com a mulher, Isabela, e os quatro filhos.

Fórum Social provoca polêmica
Presidente do PPS, o deputado Nelson Proença reagiu às críticas do vice-governador Miguel Rossetto ao fato de Antônio Britto ter dito que manterá o Fórum Soci al Mundial, porém mais plural. Proença diz que, se o PPS vencer, o FSM será mantido “porque não somos iguais ao PT, que mandou a Ford embora e acabou com o projeto Mãos Dadas, provocando prejuízos aos gaúchos só porque essas não eram obras suas”.

Acrescenta que “se encontrássemos outros programas bem-sucedidos implementados pelo governo do PT, nós também manteríamos”, o que reconhece ser uma tarefa difícil.
Coordenador da campanha de Tarso Genro, José Eduardo Utzig entende que a promessa de Britto é apenas marketing.

– A chance de ser cumprida é a mesma de 1994 quando prometeu não vender a CRT.

PPB reúne mais público
Com o lançamento de candidatos em todas as regiões, o PPB pretende ampliar de 11 para 15 o número de deputados estaduais e aumentar a representação federal. Na noite de sábado, em Tapera, o PPB fez seu maior comício nesta fase da campanha no lançamento de Celso Bernardi para governador, Hugo Mardini para vice e Irineu Orth, hoje segundo suplente da bancada federal, para deputado estadual. Quatro candidatos a federal compareceram no parque de exposições: Júlio Redecker, João Augusto Nardes, Francisco Turra e José Otávio Germano. Também no sábado, em Cruz Alta, no almoço, um grande público participou do lançamento de Pedro Westphalen a deputado estadual.

Frente Trabalhista define programa
Representantes da Frente Trabalhista (PDT-PTB-PPS) se reúnem quarta-feira para iniciar a elaboração de um programa conjunto com metas a serem executadas por Antônio Britto, se for eleito governador. Brizola indicou Pedro Ruas, que assumiu a presidência do PDT, Britto indicou Nelson Proença, presidente do PPS, e Sérgio Zambiasi confia esta tarefa a Cláudio Manfrói, seu candidato a suplente e presidente estadual do PTB.

• Mudança – Com a renúncia de Vieira da Cunha da presidência estadual do PDT, Brizola indicou Pedro Ruas, vice-presidente, para assumir o comando da comissão provisória nesta fase de transição. Sábado, antes de retornar ao Rio, Brizola conversou longamente com Ruas no aeroporto, passando as instruções.

Mirante
• A deputada federal Yeda Crusius (PSDB) participa hoje de comício em São Paulo com a presença de dona Ruth Cardoso e Rita Camata. Yeda fundou o PSDB Mulher em nível nacional e hoje comanda o Instituto Teotônio Villela.

• Lançamento do livro PT na Encruzilhada, do filósofo Denis Rosenfield, ocorre hoje, na Livraria Porto no Shopping Iguatemi. A partir das 19h.

• Foi lançada ontem, em Canoas, a candidatura a deputado federal do ex-secretário Marco Maia (PT). Além da parceria com Paulo Paim, que concorre ao Senado – cujo espaço ocupa no entorno de Canoas –, Maia faz dobradinha com Ronaldo Zülke, Ivar Pavan, Milton Zuanazzi, Maristela Maffei, Raul Pont, Ivo Fioroti, Paulo Ritter, Daniel Ramos, Fabiano Pereira, René Ceconello, Pedrinho Correa, Mara Feltes e Milton Kampfer, candidatos a estadual. O ex-secretário da Administração tem vaga assegurada.

• Um grupo de aproximadamente 50 profissionais da área tecnológica lança site de apoio à candidatura de Estilac Xavier a deputado estadual, hoje, às 18h30min, no Graphite Pizza Bar (geocities.yahoo.com.br/estilac13001).


ROSANE DE OLIVEIRA

De volta ao começo
Se era para acabar a novela nos braços de Antônio Britto, o ex-governador Leonel Brizola poderia ter poupado o seu PDT dos capítulos constrangedores protagonizados nos últimos meses. Brizola pode estar convencido de que mudar de idéia é sinal de amadurecimento, mas seus eleitores terão dificuldade para entender o comportamento errático do líder. Por enquanto, o PDT só perdeu.
Perdeu credibilidade por apoiar um candidato que nos últimos meses o próprio Brizola satanizou. Perdeu a chance de indicar o vice de Britto e de amarrar uma aliança para a eleição municipal de Porto Alegre, em 2004, na qual indicaria o cabeça-de- chapa. Perdeu a oportunidade de entrar na coligação de cabeça erguida. Corre o risco, agora, de perder filiados entre os descontentes com a forma como José Fortunati foi sacrificado e com a decisão imposta de cima para baixo, sem que se tivesse coragem para discuti-la em um congresso ou convenção.

Quem mais perdeu foi o vereador José Fortunati. Seria ele o candidato a prefeito da Frente Trabalhista, projeto sepultado com a renúncia.

Os líderes do PPS se comprometem a tratar o PDT com respeito e fazer o que estiver a seu alcance para impedir que o “acordo em torno de um programa” pareça rendição. Toda a boa vontade do mundo pode não ser suficiente para apagar a impressão de que o PDT capitulou, sim, ante o resultado das pesquisas.

Os compromissos que Brizola quer incluir no programa são questionáveis como elementos capazes de justificar a guinada. Plano de desenvolvimento para a Metade Sul e plano de construção de moradias todos os planos de governo têm – está no discurso até dos candidatos nanicos. Com ou sem exigência do PDT, entraria no plano que está sendo elaborado sob coordenação da advogada Hilda de Souza.

A duplicação da BR-386 é uma idéia fantástica – desde que alguém descubra de onde sairá o dinheiro para uma obra bilionária. Sequer se pode pensar em entregar a duplicação para a iniciativa privada e depois cobrar pedágio. Porque o pedágio já é cobrado no trecho em que a duplicação seria mais dispendiosa – a serra, entre Lajeado e Soledade.

Resta o compromisso com as escolas de tempo integral. Trata-se de outra idéia louvável, com a qual Britto certamente se comprometerá, não para estendê-la a todo o Estado, mas restrita a uma dúzia de pontos específicos – e miseráveis – do Estado.


Editorial

O NÓ PREVIDENCIÁRIO

O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão deu a conhecer na última semana alguns números inquietantes. Ao abrir em Brasília o seminário Balanço da Reforma do Estado no Brasil, Guilherme Dias revelou que o número de servidores federais em atividade apresentou uma redução de 567 mil, em 1995, para 456 mil, este ano. Apesar disso, a folha de pagamento do pessoal da União, computados ativos e inativos, praticamente dobrou no período, saltando de R$ 37,7 bilhões para R$ 74 bilhões. Esse incremento traduz, de um lado, o peso das aposentadorias e, de outro, o impacto da reestruturação dos planos de carreira.

Alguém poderá indagar como, já que não houve reajuste linear de vencimentos do funcionalismo nos últimos oito anos, as despesas se ampliaram de forma tão pronunciada. A resposta é simples: quando um funcionário estatutário completa seu tempo de serviço, vai para casa levando vencimentos integrais. Ora, como a fonte de receita para custear tal dispêndio não se altera, o déficit governamental só tende a crescer, expandindo o rombo do sistema de seguridade social. O consultor privado Nelson Rogieri calculou, não faz muito, o montante de todos os compromissos a serem pagos aos beneficiários das três instâncias da federação nos prazos contratados. O cômputo chega a espantosos R$ 2 trilhões.

Os descompassos que se observam no sistema só serão superados
pela adoção de medidas heróicas

Ora, essa soma é nada menos do que 40 vezes o superávit primário das contas públicas no exercício de 2002, estimado em R$ 50 bilhões. Se estes recursos fossem empregados unicamente na área de seguridade, seriam necessárias quatro décadas para saldar as obrigações globais mencionadas. O maior fator de desequilíbrio em tal campo são as aposentadorias integrais do setor público. É evidente que ninguém pode atropelar direitos adquiridos, pois a própria Constituição os garante. Mas é também óbvio que os megadescompassos financeiros que hoje se observam na Previdência somente serão superados através de medidas heróicas.

Há muito se conhecem as anomalias de um modelo que, aos empregados celetistas, assegura no máximo 10 salários mínimos de aposentadoria ao cabo de 35 anos de trabalho, enquanto que, aos contribuintes da máquina estatal, preserva proventos intocados. Repita-se: não se trata de satanizar uma classe, mas de impedir que a disparidade de ganhos coloque em risco o futuro de todos os trabalhadores e da própria economia. A noção da gravidade desse cenário é antiga. Basta lembrar os projetos de reforma administrativa que o Executivo submeteu ao Congresso em anos recentes, desvirtuados todos por pressões corporativas.

Eis aí um quadro a que não podem ficar alheios os aspirantes ao Planalto. Pois cedo ou tarde perceberão que, sem a aprovação de uma contribuição sobre os vencimentos dos funcionários inativos e a instituição da previdência complementar na administração pública, as despesas nessa rubrica aumentarão desmesuradamente, prejudicando pela base todos os esforços para a obtenção de austeridade fiscal.


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08/12/2002


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