Frente Trabalhista rompe no RS









Frente Trabalhista rompe no RS
A reunião que tentaria salvar a Frente Trabalhista -da qual fariam parte PDT, PTB e PPS- no Rio Grande do Sul, na manhã de ontem, foi suspensa, o que mostra, na prática, o rompimento do PDT e do PTB com o PPS no Estado, faltando apenas a oficialização da decisão.

A Frente Trabalhista é a aliança que dá apoio, em nível nacional, à candidatura de Ciro Gomes (PPS) à Presidência. A princípio, esse apoio não foi alterado com o rompimento regional.

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, chegaria às 20h de ontem a Porto Alegre para, à noite, participar de encontro do seu partido no qual seria confirmado o lançamento de José Fortunati como candidato próprio.

Já na noite de domingo ficou definida uma reunião das executivas nacionais do PDT e do PTB para hoje, em Brasília, com o objetivo de formalizar a Frente Trabalhista no Rio Grande do Sul, limitada apenas aos dois partidos.

O presidente estadual do PPS, Nelson Proença, recebeu a informação do cancelamento da reunião à meia-noite de anteontem e disse que essa atitude dificulta a formação de uma frente com viabilidade eleitoral no Estado.

O deputado estadual Mário Bernd (PPS) foi enfático. ""Brizola vetou Britto [o ex-governador Antônio Britto, do PPS-RS". Depois, vetou Fogaça [senador José Fogaça, do PPS-RS". Aí, dizem que querem o Fogaça e voltam atrás. Não dá para negociar com o Brizola, mas, no PPS, ele não manda. Não vejo outra alternativa que não seja a de lançarmos a candidatura do Britto, seja com quem for", afirmou.

Britto praticamente definiu sua candidatura na semana passada, o que deve ser oficializado amanhã, possivelmente com apoio do PFL. O prazo que ele deu ao PDT para a celebração de um acordo foi ignorado por Brizola, que não quis se submeter a uma imposição e repetiu sua rejeição à candidatura do PPS.
De acordo com Brizola, Britto não estava ""no pacote" acertado entre os três partidos no momento em que fecharam a Frente Trabalhista. Pelo "pacote", Ciro seria candidato à Presidência, mas, no Rio Grande do Sul, o PDT indicaria o candidato a governador, que não seria Britto.
Documento firmado pelo PDT e pelo PTB reafirma o apoio a Ciro e estabelece que a aliança no Estado será apenas entre os dois partidos.


Serra é cobrado em ato da Força por políticas de FHC
Cerca de 1.500 pessoas aplaudem Lula e contestam tucano

O encontro entre presidenciáveis organizado ontem pela Força Sindical e pela Bolsa de Valores de São Paulo, na capital paulista, foi marcado pela ovação do público ao pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo contestação da platéia em relação ao tucano José Serra.

Enquanto o petista foi aplaudido pelos cerca de 1.500 convidados até mesmo durante a apresentação de seu currículo, Serra, ao contrário do que ocorreu com os outros três presidenciáveis, não foi interrompido por aplausos nem mesmo no momento em que falava sobre suas propostas.

Antes do início do evento, a platéia, composta por trabalhadores, sindicalistas, empresários e políticos convidados pela organização, foi informada de que estavam proibidas as vaias.

"Convidamos essas pessoas para a nossa casa. Queria que vocês tratassem todos com muito respeito, independentemente de votarem neles ou não. Queria que tratassem todos como se fossem seus candidatos", pediu ainda o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

Na fase de perguntas feitas pelo público, também couberam a Serra os momentos de maior tensão do encontro. Pré-candidato do governo federal, ele foi questionado em que suas propostas para combater o desemprego diferiam das feitas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Depois de esperar que cessassem as palmas à pergunta, Serra afirmou que o problema deveria ser resolvido com ""vontade política, competência e teimosia". Foi aplaudido por parte da platéia.

Em um segundo momento, o tucano foi questionado, novamente sob aplausos, sobre o destino dos recursos da CPMF (o imposto sobre os cheques), contribuição inicialmente prevista para reforçar a área da saúde.
"O que foi posto com uma mão foi tirado com a outra", declarou ele, referindo-se ao deslocamento de recursos da Saúde para a Previdência. ""Mas não falta remédio gratuito", completou, para ser interrompido por um coro, aos gritos, vindo da platéia. "Falta."

"Espera aí. O problema não é faltar, mas chegar às pessoas", afirmou Serra, para em seguida defender a criação de um sistema de controle maior sobre a distribuição de remédios.

Logo no início do evento, o tucano criticou indiretamente Lula por declaração feita pelo petista de que as exportações deveriam ocorrer depois de resolvido o problema da fome no país. ""É uma política econômica errada", disse Serra sobre o assunto.
O presidenciável do PSDB, único a chegar atrasado ao evento, prometeu criar um cursinho pré-vestibular para aumentar a competitividade dos alunos sem acesso ao ensino privado.

Aproximação
Último pré-candidato a discursar, Lula foi aplaudido desde o momento em que entrou no local do debate. O ex-presidente da Força e deputado federal pelo PL Luiz Antônio de Medeiros foi um dos incentivadores das palmas.

Historicamente contrária à CUT, central sindical ligada ao PT, a Força Sindical apoiou várias reformas propostas pelo governo de Fernando Henrique, entre elas, a da Previdência.
Agora, entretanto, a entidade vem se aproximando do PT. Na semana passada, o presidenciável se reuniu com Paulinho na casa de um dirigente petista. Conseguiu do líder sindical a promessa de apoio, caso Ciro Gomes (PPS) não chegue ao segundo turno.

Filiado ao PTB, partido que apóia a pré-candidatura de Ciro, Paulinho vem sendo citado como um dos possíveis candidatos à vaga de vice na chapa encabeçada pelo ex-ministro.
O presidente da central sindical aproveitou seu lugar à mesa com os presidenciáveis para declarar seu apoio público a Ciro.

"Todos os candidatos terão votos na Força. Tem gente aqui que vai trabalhar para todos os candidatos. Eu vou fazer campanha para o meu, Ciro Gomes."

O pré-candidato do PPS foi o primeiro a falar. Acompanhado da atriz Patrícia Pillar, fez questão de se referir à platéia sobre a doença da namorada, que passa por tratamento contra um câncer de mama. ""Minha companheira, que depois de um mês e meio de quimioterapia, está de volta aqui conosco", afirmou ele.
Ciro criticou a globalização, a adesão do Brasil à Alca nos moldes propostos até agora e se recusou a falar sobre a hipótese de rompimento da aliança que o apóia diante do impasse na escolha do pré-candidato da coligação ao governo do Rio Grande do Sul.

O segundo a participar do evento foi o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB), que afirmou ter desistido de uma reeleição ""quase certa" ao governo do Estado pela disputa presidencial em nome de uma "missão".

Diante da platéia composta por trabalhadores, nem mesmo o presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, Raymundo Magliano Filho, resistiu à tentação de agradar. Assim como Lula e Ciro, dirigiu-se ao público como "companheiros e companheiras".


Pré-candidatos trocam farpas durante evento
Apesar de a organização do evento da Força Sindical e da Bolsa de Valores de São Paulo ter criado um esquema para evitar o encontro -e uma possível saia justa- entre os presidenciáveis, todos eles aproveitaram o momento para criticas mútuas.

O primeiro a atacar foi Ciro Gomes (PPS), que se referiu, assim como tem feito em muitas outras ocasiões, à inexperiência administrativa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Acho uma temeridade ele, sem experiência, ter como primeira experiência ser presiden te", afirmou o ex-ministro da Fazenda.

Na avaliação do pré-candidato do PPS, a declaração de Lula sobre a possibilidade de alterar as alíquotas do Imposto de Renda para percentuais entre 5% e 50% pode ser interpretada como produto dessa inexperiência.
Anthony Garotinho (PSB) criticou Ciro ao comentar suas próprias mudanças de partido ao longo da carreira pública. ""Não sou daqueles que nasceu no PDS e depois foi para a esquerda", disse, em referência ao presidenciável do PPS, que foi do PDS -partido que deu sustentação ao regime militar (1964-1985).
José Serra (PSDB) pediu ao público que prestasse atenção, antes de votar, no passado dos pré-candidatos.

"Devemos ver" quem fez mais, quem tem mais experiência, o que fez em outras áreas, quem é que enrola ou não e, principalmente, com quem anda", afirmou o tucano.

Luiz Inácio Lula da Silva começou sua fala criticando os adversários. "Aqui no encontro" todo mundo falou dos pobres. Porque na hora de pedir voto, pede-se para o povo", declarou, sob aplausos e risos da platéia.

Custos
Segundo a assessoria de imprensa do evento, o custo do encontro de ontem foi estimado em R$ 100 mil, pagos por sindicatos ligados à Força Sindical e por patrocinadores. Entre as despesas, camarins separados para os presidenciáveis.
Já o ato de amanhã, em comemoração ao Dia do Trabalho, foi avaliado em R$ 2,5 milhões.


Frente de Ciro não consegue acordo no RS
A reunião para tentar salvar a Frente Trabalhista (PPS, PDT e PTB) no Rio Grande do Sul, ontem, foi suspensa, o que mostra na prática o rompimento do PDT e do PTB com o PPS no Estado.

A Frente Trabalhista é a aliança que dá apoio à candidatura de Ciro Gomes (PPS) à Presidência. Apesar da ruptura, PDT e PTB reafirmaram seu apoio a Ciro.

O presidente do PDT, Leonel Brizola, chegaria às 20h de ontem a Porto Alegre para participar da reunião em que José Fortunati seria lançado candidato ao governo. No domingo ficou definida uma reunião das executivas do PDT e do PTB hoje, em Brasília, com o objetivo de formalizar uma aliança dos dois partidos no Estado.

O deputado estadual Mário Bernd, do PPS, foi enfático: "Brizola vetou [Antônio] Britto. Depois, vetou [José] Fogaça. Aí dizem que querem o Fogaça e voltam atrás. Não dá para negociar com o Brizola, mas no PPS ele não manda. Não vejo outra alternativa que não seja a de lançarmos a candidatura do Britto", declarou.


PT tomou decisões incorretas, diz Malan
O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse que o PT tem dado "passos" na direção correta, mas afirmou que o partido tomou várias decisões "incorretas" no passado que ainda não foram revistas. Sem citar a sigla PT, Malan disse que "o maior partido de oposição do país" acabou sendo alvo de uma avaliação negativa dos bancos de investimento americanos Merrill Lynch e Morgan Stanley Dean Witter porque não deixou claro se mudou mesmo.

O ministro disse, porém, que ainda não havia sido informado da reavaliação. O banco rebaixou a sua classificação sobre a dívida brasileira porque o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, aumentou sua liderança nas pesquisas eleitorais.

"Todos os analistas vão fazer projeções para o futuro. Eles são responsáveis por recursos que não são seus", disse o ministro. Malan apenas ressalvou que a pesquisa eleitoral mais importante é a que acontecerá com as eleições em outubro.

"É uma justificativa equivocada para o rebaixamento [a vantagem de Lula" porque as pesquisas de opinião vão sair ao longo de vários meses. A economia não pode ser gerida sob a influência da pesquisa da véspera", comentou.

Ele lembrou que o PT participou da organização de um plebiscito em junho de 2000 sobre a possibilidade de o país deixar de pagar as dívidas externa e interna.
Segundo Malan, o mercado precisa saber que os contratos serão respeitados. "É legítimo que os observadores sejam mais esclarecidos mesmo", disse.

O ministro disse que tem notado "mudanças" nas posições do PT, mas explicou que decisões formalizadas em várias instâncias do partido ainda não foram revistas. Como sinais de mudança, Malan citou uma entrevista do deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), publicada pelo jornal "Valor Econômico" na última semana. Nela, Mercadante diz que a queda dos juros não é uma questão de "vontade política".

"Expressões que eu uso há anos ["Não existem mágicas"" estão sendo usadas agora pelo deputado", disse. Mas Malan afirmou que os sinais de mudança ainda são tênues. "Essas coisas não se resolvem com uma entrevista."

O ministro citou o apoio de Lula ao protecionismo francês na área agrícola e as decisões da direção do PT sobre a necessidade de uma reforma radical na Lei de Responsabilidade Fiscal.
O ministro não quis revelar o seu voto nas eleições para presidente, mas lembrou uma entrevista dada à Folha em janeiro na qual classifica José Serra como "um grande quadro político" do país.


Tucano é aplaudido por empresários
Duas horas antes do encontro da Força Sindical, o presidenciável tucano, José Serra, foi aplaudido por empresários ao defender a política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso aliada a um aumento das taxas de crescimento econômico do país.

Em discurso para cerca de 800 empresários da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), cujo tema era "Que Brasil Queremos, Que Brasil Teremos", Serra foi interrompido mais de cinco vezes por aplausos da platéia. Durante a exposição, o tucano defendeu os principais instrumentos de política econômica do atual governo: o ajuste fiscal, o câmbio flutuante e as metas de inflação.

"São três aspectos básicos e de identificação com o governo e com a política econômica. Isso é manter basicamente a casa arrumada e o Brasil no rumo."

Ultimamente Serra vinha fazendo um discurso mais crítico ao governo de FHC, principalmente na área econômica. O objetivo era também criar uma identidade própria. O presidenciável já divergiu publicamente do ministro da Fazenda, Pedro Malan. Na semana passada, Malan pediu mais "afinidades eletivas" do candidato do governo, sem citar Serra.

O discurso de ontem foi uma consequência dos conselhos do marqueteiro Nizan Guanaes, que acredita que o presidenciável do PSDB deve aliar mais sua imagem à do governo.

Como pontos de mudança, Serra citou um crescimento maior da economia e a queda da taxa de juros. "Nos anos 90 tivemos políticas sociais decentes. Mas não tivemos crescimento dinâmico da produção e do emprego. A prioridade era outra. Era a estabilidade. Agora temos que ter o ciclo virtuoso de políticas sociais e mais emprego. Crescimento agora é crucial", afirmou.

Ao defender a reforma tributária, criticou a proposta do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de criar alíquotas progressivas de 5% a 50% do Imposto de Renda de Pessoa Física.

"Imaginar que se resolve problema tributário com o Imposto de Renda de Pessoa Física é equívoco técnico. Não se arrecada mais e fomenta sonegação."

Para os empresários, o tucano defendeu uma legislação do trabalho mais flexível. Mais tarde, no encontro com sindicalistas, Serra não tocou no assunto. "Tem de haver uma mudança na legislação que permita a flexibilização. Toda vez que [o governo] ameaça fazer, parece que está acabando com a classe operária", disse.

O tucano encerrou o discurso pedindo aos ouvintes que "meditassem" sobre a experiência de cada pré-candidato e que fizessem a escolha certa para "manter o país no rumo". Disse aos empresários que a crise na Argentina e na Venezuela foram "resultado de processos eleitorais com promessas infinitas e críticas impiedosas."


Tasso afirma que Serra é competitivo
O ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB) afirmou ontem, em Nova York, que a candidatura de seu colega de partido, o senador José Serra, está consolidada e já demonstrou ser competitiva.
"Para mim, a candidatura de Serra é a que tem as melhores propostas", disse o ex-governador, em entrevista à TV Bloomberg.

Tasso disputou com Serra a vaga de pré-candidato a presidente pelo PSDB e, até essa entrevista, não havia feito elogios abertos a ele. Apenas afirmava que iria apoiar sua candidatura por ser "soldado do partido".
Para Tasso, uma das vantagens de Serra é a "afinidade" com o presidente Fernando Henrique Cardoso, mesmo apresentando propostas diferentes. "Quando se fala em continuidade de uma política não significa seguir todas as linhas", afirmou.

Tasso descartou a possibilidade de uma reaproximação entre PSDB e PFL. "Já está claro que não haverá mais aliança."

Depois de ter descartada sua pré-candidatura ao Planalto, Tasso foi um dos grandes incentivadores da candidatura de Roseana Sarney (PFL), ex-governadora do Maranhão, e o único tucano a defendê-la das denúncias de envolvimento em irregularidades.


PFL discute seu rumo em jantar em Brasília
A cúpula do PFL se reuniu ontem à noite no Palácio do Jaburu para discutir a eleição presidencial. A direção do partido está dividida, mas é hostil a uma aliança com José Serra (PSDB). A maioria do partido, segundo pesquisa interna, prefere que a legenda seja liberada para fazer alianças nos Estados.

Para o jantar, o vice-presidente Marco Maciel convidou governadores e ex-governadores, prefeitos de capitais, líderes no Congresso e a cúpula. A ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney enviou sua posição por meio do presidente do PFL, Jorge Bornhausen: opinou que o partido deve apoiar uma candidatura na eleição. Ela prefere Ciro Gomes (PPS).

A mesma posição é defendida por Antonio Carlos Magalhães (BA). Para ele, o fato de Silvio Santos aparecer em segundo na pesquisa CNT mostra que a candidatura Serra não está consolidada: "O Serra cai por qualquer fenomenozinho, apesar do esforço que o governo faz por ele". Mas acha cedo para tomar uma decisão. "O PFL será decisivo. A quem ele se aliar, vai crescer bastante."

Bornhausen considerou a inclusão do nome de Silvio na pesquisa da CNT, presidida pelo pefelista Clésio Andrade, "uma coisa muito mais pessoal do que partidária". O PFL não crê em uma candidatura Silvio.


Tucano defende política de Malan
O presidenciável tucano, José Serra, mudou ontem o discurso em relação à política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso e defendeu explicitamente a manutenção de três pontos: metas de inflação, ajuste fiscal e câmbio flutuante.

"São três aspectos básicos e de identificação com o governo e com a política econômica. Isso é manter basicamente a casa arrumada e o Brasil no rumo", afirmou Serra, em discurso para cerca de 800 empresários da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil).

Serra, que já divergiu publicamente do ministro da Fazenda, Pedro Malan, vinha fazendo um discurso mais crítico ao governo de FHC, principalmente na área econômica. Na semana passada, Malan chegou a pedir mais "afinidades eletivas" do candidato do governo, sem citar Serra.

O objetivo das críticas era também criar uma identidade própria do pré-candidato. O discurso de ontem foi uma consequência dos conselhos do marqueteiro de FHC, Nizan Guanaes, que defende que o presidenciável alie mais sua imagem à do governo.

Além da política econômica do governo atual, Serra defendeu um maior crescimento econômico e a queda dos juros, por meio de um comércio exterior mais "agressivo". Foi aplaudido em cinco momentos pelos empresários.

Duas horas depois, em discurso na Força Sindical, o tucano foi contestado pela platéia, principalmente sobre a destinação dos recursos da CPMF.

Para os empresários, o tucano defendeu uma legislação do trabalho mais flexível. Mais tarde, no encontro com sindicalistas, Serra não tocou no assunto. "Toda vez que [o governo" ameaça fazer, parece que está acabando com a classe operária", disse.

No almoço com os empresários, o tucano criticou a proposta do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de criar alíquotas progressivas de 5% a 50% do Imposto de Renda de Pessoa Física.

Serra encerrou o discurso pedindo aos ouvintes que "meditassem" sobre a experiência de cada pré-candidato e que fizessem a escolha certa para "manter o país no rumo". Disse que as crises na Argentina e na Venezuela foram "resultado de processos eleitorais com promessas infinitas e críticas impiedosas".

À noite, Serra participou de jantar a favor de sua candidatura. Organizado pelo ex-senador Pedro Piva para cerca de 400 empresários, o convite custava R$ 2.500.


Artigos

A lenda Serra
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - É inacreditável ter prosperado uma dessas lendas que, de vez em quando, assolam a política brasileira e são reproduzidas sem que se pare para pensar na lógica mínima da coisa.

Refiro-me à especulação de que José Serra vá abandonar a disputa presidencial. É lenda ou é falta de assunto, mas, em qualquer caso, não tem o menor parentesco com a realidade.

Piores são os motivos alegados para que Serra desista. Primeiro motivo: o PFL apoiaria qualquer candidato tucano, menos Serra.

Muito bem. E daí? O PFL jamais elegeu um presidente da República, não tem votos em São Paulo e em Minas Gerais, dois dos três maiores colégios eleitorais do país e, mesmo no Rio de Janeiro, o outro grande cesto de votos, depende de um Cesar Maia, que muda de partido como quem muda de camisa.

Só um cretino trocaria de candidato para ficar com o apoio do PFL. E o pessoal do PSDB pode ter todos os defeitos que você, leitor, quiser lhes pespegar, mas cretinos não são.

Acena-se também com Tasso Jereissati e com Aécio Neves como substitutos de Serra. Ótimos nomes. Pena que Tasso, enquanto era pré-candidato, fosse chamado, no próprio partido, de "Traço" Jereissati, dada a sua anemia nas pesquisas.

Aécio, por sua vez, jamais disputou uma eleição majoritária na danada da vida. Quem é que garante que ele, magicamente, pularia para 20 e poucos por cento das intenções de voto se não pode apostar nem sequer na sua eleição para governador de Minas Gerais?

O leitor que quiser pode apontar mil e um motivos para substituir Serra: é mera continuidade de FHC, não foi capaz de vencer o mosquito da dengue, é careca, torce para o Palmeiras etc. etc.

Mas usar o argumento do apoio pefelista e acenar com os dois nomes citados é falta do que fazer.


Colunistas

PAINEL

Aval jurídico
O departamento jurídico do SBT discutiu com o do PFL na semana passada a legalidade de uma eventual candidatura de Silvio Santos à Presidência. A conclusão foi a de que, como o apresentador não exerce cargos de direção na emissora, está apto a disputar a eleição.

Prazo legal
Segundo a legislação, se tivesse algum cargo na direção do SBT, para ser candidato Silvio Santos precisaria ter se desincompatibilizado da função pelo menos seis meses antes da eleição.

Exemplo recente
O projeto Silvio Santos é hoje apenas uma forma de o PFL aumentar seu cacife na mesa de negociação da sucessão presidencial e mostrar a fragilidade de José Serra. Mas, a exemplo da pré-candidatura Roseana -que tinha a mesma função originalmente-, pode ganhar corpo.

Baú da felicidade
Dirigentes do PFL, liderados pelo deputado Marcondes Gadelha (PB), irão procurar Silvio Santos na próxima semana, quando ele voltar do exterior. Dirão que o dono do SBT é o único nome capaz de derrotar Lula na eleição presidencial.

Carinho governista
Moreira Franco (PMDB) fará acenos ao PFL no programa de TV partido, a ser exibido na quinta-feira. O ex-assessor de FHC defenderá o retorno do partido à aliança governista. A citação do PFL foi combinada com Michel Temer (PMDB-SP).

Dúvida cruel
Caso Serra não deslanche nas pesquisas eleitorais até o mês de junho, o PMDB avalia que ficará mais difícil aprovar na convenção a coligação com os tucanos.

Sem acordo
Em uma tentativa de salvar a Frente Trabalhista, a cúpula do PPS propôs a substituição de Antônio Britto por José Fogaça como candidato ao governo do RS. Leonel Brizola não aceitou. Não abre mão de lançar o pedetista José Fortunati ao cargo.

Lei do camarão
A bancada de senadores do PDT enviou um documento a Brizola no qual pede que, caso fracasse a aliança com Ciro Gomes, o partido não tenha candidato à Presidência. A fim de liberar as coligações nos Estados.

Teoria da relatividade
Nelson Jobim participa de um grupo de estudos de lógica matemática em seu gabinete no STF. Com ajuda de um quadro-negro, Jobim, Gilmar Mendes e alguns advogados discutem a aplicação dos princípios matemáticos na teoria do Direito.

Cálculo tucano
As aulas de matemática de Nelson Jobim já começaram a dar resultado. No julgamento da verticalização das coligações, o qual, segundo a oposição, teria favorecido Serra, o ministro citou a teoria dos cálculos.

Atração e repulsão
Do líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), sobre o veto da cúpula do partido aos nomes de Rita Camata (ES) e de Pedro Simon (RS) para a vice de Serra: "Não é veto. O problema é a falta de afinidades eletivas".

25ª Hora
No evento dos presidenciáveis da Força Sindical, ontem, Anthony Garotinho (PSB-RJ) narrou histórias de pessoas miseráveis que teria atendido com seus programas sociais no Rio. Equipes dos outros candidatos ironizaram: "Parece programa de TV evangélico na madrugada".

No ar
Jô Soares (Globo) inicia hoje um ciclo de entrevistas com os presidenciáveis. Os primeiros serão Ciro Gomes e Enéas.

Visita à Folha
Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de José Cláudio Manesco, da Christo, Manesco & Associados.

TIROTEIO

De João Antônio Felício (CUT), sobre o sorteio de prêmios a ser promovido pela Força Sindical no 1º de Maio:
- No mundo todo, o 1º de Maio é um dia de protestos e de reivindicações. Não tem nada a ver com o bingão promovido pela Força Sindical com dinheiro de empresários.

CONTRAPONTO

Atenção seletiva
No evento com os presidenciáveis promovido ontem pela Força Sindical, José Serra (PSDB) iniciou seu discurso com críticas à "antecipação exagerada" do início da corrida eleitoral. Parte da platéia entendeu como crítica indireta aos próprios organizadores do evento, que reuniram presidenciáveis para falar sobre emprego faltando ainda mais de um mês para as convenções partidárias.
Mas Serra logo disse que estava contente em poder debater "idéias" e por estar ao lado da "competentíssima" jornalista Monica Waldvogel, convidada pela Força para mediar a palestra. O senador então virou-se para o representante da central que estava na mesa e perguntou:
- Você não concorda?
Distraído, o sindicalista hesitou. Serra ironizou:
- Acho que ele só concordou a respeito da competentíssima Monica Waldvogel.


Editorial

O ÁRBITRO DAS ELEIÇÕES

É difícil compreender, em seu conjunto, as decisões recentes do órgão máximo da Justiça Eleitoral. Por vezes, o colegiado se vale da interpretação elástica da lei. Em outras ocasiões, opta pelo formalismo estreito. O uso de métodos interpretativos diversos seria compreensível se o seu resultado fosse uma maior harmonização das normas que regem as eleições. Mas também não é isso o que vem ocorrendo.

Tome-se a opção do TSE de verticalizar as coligações partidárias. Nada havia na lei eleitoral ou na Constituição que dissesse expressamente que as alianças entre os partidos na esfera estadual não pudessem ser incoerentes com as firmadas no âmbito nacional. A conclusão dos ministros que instituíram a nova norma foi, portanto, além do formalismo.

Instituída a verticalização, o TSE, ato contínuo, produziu um entendimento que na prática se choca com o princípio da harmonização das candidaturas. Permitiu que partidos que não tiverem candidato a presidente da República possam coligar-se à vontade nos Estados, a chamada "coligação camarão" (sem cabeça). Com a verticalização, o TSE buscava consolidar o caráter nacional das legendas. Mas, permitindo a "coligação camarão", o tribunal forneceu grande incentivo ao regionalismo.

Para completar, o presidente do tribunal, ministro Nelson Jobim, disse que a corte não terá como coibir as coligações brancas. Trata-se da situação em que partidos que não podem coligar-se oficialmente nos Estados entram em acordo e lançam uma "chapa" comum. A coligação branca anula o espírito da interpretação que produziu a verticalização.

A atuação do TSE, assentada num emaranhado legal incoerente, deveria servir para lançar um debate sobre qual a melhor maneira de regular eleições no Brasil. Quais devem ser os limites e qual deve ser o caráter institucional do órgão que arbitra os contenciosos eleitorais? É um tema de reforma política que o Congresso deveria tomar para si.


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04/30/2002


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